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PREFÁCIO

3. ENQUADRAMENTO HIDROCLIMATOLÓGICO

3.2.2. EXCEDENTES HÍDRICOS

3.2.2.1. ESCOAMENTO SUPERFICIAL

O estudo do regime dos cursos de água necessita de numerosas medições, escalonadas no tempo e no espaço, e a sua interpretação deve basear-se em períodos de observação longos e numa rede densa de estações.

A medição do escoamento superficial é feita, normalmente, em locais seleccionados da rede hidrográfica, onde são instaladas escalas limnimétricas, limnígrafos ou descarregadores. Esses locais, designados por estações hidrométricas (Fig. 3. 4), que, em Portugal, são da responsabilidade do Instituto

da Água (ex-DGRAH) e da EDP, encontram-se distribuídos pela rede hidrográfica do Tejo com a densidade de 1 estação por 469 km2 (DGRAH, 1986).

QUADRO 3. 15

Estações hidrométricas da rede hidrográfica do Tejo ESTAÇÃO CURSO DE ÁGUA ÁREA (km2) CAUDAL MÉDIO ANUAL (m3/s) CAUDAL ESPECÍFICO (l/s/km2) PERÍODO DE REGISTOS Tramagal Tejo 62 348 261,27 4,2 1976/90 Almourol Tejo 67 490 343,55 5,1 1976/90 Omnias Tejo 68 425 361,84 5,3 1976/90 Coruche Sorraia 5870 31,60 5,4 1976/80

Pte. Vila Formosa r. Seda 652 3,25 5,0 1979/89

Moinho Novo r. Sor 634 3,28 5.2 1979/89

Pte. Sto Estêvão Almansor 981 4,36 4,4 1976/90

Canha r. Canha 497 2,28 4,6 1979/90

Pavia r. Tera 610 1,84 3,0 1976/89

Agroal Nabão 611 3,80 6,2 1979/90

Fábrica Matrena Nabão 1010 8,77 8,6 1976/90

Pte. Panasco r. Nisa 109 0,94 8,6 1981/90

CNFT T. Novas Almonda 45 2,79 62,2 1978/90

Pte. Nova Almonda 102 3,61 34,7 1976/90

Pernes Ribeira Alviela 173 4,03 23,3 1978/90

Pernes Canal Alviela 173 0,20 1,1 1978/90

Pte. Freiria Maior 184 1,73 9,4 1976/90

Pte. Barbancho Alcobertas 235 1,71 7,3 1980/90 Penedos Alenquer Alenquer 6 0,04 6,7 1980/90

Pte. Barnabé Alenquer 114 0,59 5,2 1981/90

Pte. Alenquer Alenquer 119 0,92 7,7 1982/90

Pte. Ota Ota 56 0,27 4,8 1979/90

Pte. Canas Trancão 104 0,93 9,0 1979/90

Pte. Pinhal Loures 79 0,96 12,0 1978/89

Rio Maior Maior 28 0,82 29,1 1978/89

Pte. Couraça r. G. Pipa 114 0,68 5,9 1982/90

Pte. Resinga r. Póvoa 42 0,79 18,7 1978/89

Monforte r. Avis 136 0,84 6,2 1976/89

Couto de Andreiros r. Raia 244 1,60 6,8 1976/89

Foram inventariadas 53 estações: 14 com registos superiores a 30 anos, 4 com registos entre 30 e 20 anos, 4 com registos entre 20 e 10 anos, 16 com registos entre 10 e 5 anos e 15 com menos de 5 anos de registos. Para o estudo, só conseguimos reunir os únicos dados disponíveis na biblioteca do Instituto da Água, de 29 estações, referentes a 13 anos de leituras consecutivas (1979 a 1990) (Quadro 3. 15). Entre 1953 e 1972, apenas conseguimos obter séries completas, com registos regulares, na estação de Vila Velha do Ródão, extinta após a construção da barragem de Castelo do Bode. Os registos desta estação foram desprezados porque não coincidiam com o período abrangido

pelas outras e, também, porque representavam o regime hidrológico do Zêzere antes da regularização.

No rio Tejo, consideramos as estações de Tramagal, Almourol e Omnias, cujos registos (1979 a 1990) representam o regime hidrológico do rio, regularizado em consequência da construção das albufeiras espanholas e portuguesas. O Tejo, que mostrava um regime hidrológico bastante irregular, com caudais máximos na época das chuvas e baixos caudais na estiagem, passou a apresentar caudais com certa regularidade.

A estação do Tramagal controla uma área a montante de 62 348 km2; registou um caudal médio anual de 261,27 m3/s (1976/90), com mínimo de 46,88 m3/s (1976/90) e máximo de 696,36 m3/s (1976/90).

A estação de Almourol, a jusante da do Tramagal e situada após a confluência do rio Zêzere, controla uma área de 67 490 km2 e regista para o mesmo período um caudal médio anual de 343,55 m3/s (1976/90). O Tejo sofre um incremento de caudal, quase exclusivamente devido ao Zêzere, de 82,28 m3/s, correspondentes a cerca de 31 %, com mínimo de 72,79 m3/s (1976/90) e máximo de 890,31 m3/s (1976/90). Pela localização, as estações do Zêzere (Agroal e Matrena) apenas permitem controlar o caudal de um dos seus afluentes, o rio Nabão. Para uma área a montante de 611 km2, registou-se em Agroal um caudal anual médio de 3,8 m3/s (1979/90) enquanto em Matrena, perto da foz, foi de 8,77 m3/s (1976/90) − muito aquém do aumento verificado no Tejo após a confluência do Zêzere, o que leva a admitir que a contribuição deste, a montante da confluência do rio Nabão, seja bastante importante.

Após a confluência dos rios Almonda, Alviela e ribeira de Ulme, o caudal médio anual registado em Santarém (Omnias) foi de 361,84 m3/s (1976/90), com mínimo de 95,7 m3/s (1976/90) e máximo de 1074,08 m3/s (1976/90), para uma área de 68 425 km2 a montante.

O caudal médio anual no Almonda (estação de Ponte Nova) é de 3,61 m3/s (1976/90), para uma área de 102 km2. No Alviela (estação de Pernes), é de 4,02 m3/s (1978/90), para uma área de 173 km2.

O caudal médio anual do Sorraia, após receber as ribeiras afluentes em Coruche, foi de 31,6 m3/s (1976/80); os caudais nas ribeiras de Seda, Sor e Tera foram, respectivamente, de 3,25 m3/s (1979/89), de 3,28 m3/s (1979/89) e de 1,84 m3/s (1976/89).

Em Santo Estêvão, no rio Almansor, o caudal médio anual foi de 4,36 m3/s (1976/90). Na ribeira de Canha, um dos afluentes, registaram-se 2,28 m3/s (1979/90).

Assim, podemos considerar que o caudal médio anual no Tejo, a montante de Santarém, foi, entre 1976 e 1990, da ordem dos 324 m3/s (155 mm). ALMEIDA (1977) admitiu um escoamento anual de 150 mm na Bacia do

Baixo Tejo. Segundo o Atlas do Ambiente, está compreendido entre 100 mm e 200 mm.

O caudal médio anual nos afluentes da margem esquerda, para o mesmo período, aproxima-se de 36,9 m3/s (31,6 + 4,36 + 0,94), ou seja, 167 mm (36,9 m3/s / 6960 km2 x 106); é de 24,6 m3/s (8,77 + 3,61 + 4,025 + 0,2 + 1,73 + 1,71 + 0,917 + 0,27 + 0,933 + 0,96 + 0,68 + 0,79), ou seja, 347 mm nos afluentes da margem direita.

SARAMAGO & MIRANDA (1994), numa estimativa grosseira do escoamento global médio anual (superficial + subterrâneo) resultante da precipitação na Península de Setúbal (PS), chegam ao valor global de 150 hm3 que, divididos pela área total (1500 km2), representam cerca de 100 mm. Apesar de reconhecerem que o escoamento subterrâneo predomina em relação ao superficial, consideraram que a sua soma não excede os 130 mm anuais.

a) APROVEITAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUPERFICIAIS

É no rio Tejo e seus afluentes que se situam algumas das principais barragens espanholas e portuguesas para aproveitamento hidroeléctrico, agrícola e consumo público. A irregularidade do regime dos caudais do Tejo e a necessidade de promover, com as suas águas, a rega de terrenos com aptidão agrícola (sendo, ao mesmo tempo, possível a produção de energia eléctrica e o abastecimento) levaram à construção de várias barragens, com especial incidência em Espanha. Contam-se 141 (DGRAH, 1986), cabendo a Portugal 22, com a possibilidade total de armazenamento de 2700 hm3, para um armazenamento global de 13 300 hm3 na totalidade da bacia hidrográfica. ALMEIDA (1977) considera terem sido referidas, em 1970, 850 barragens particulares de rega, com uma capacidade de armazenamento inferior a 60 000 m3 (0,6 hm3).

O abastecimento doméstico assenta, em muitos casos, nas águas superficiais. Aponte-se o exemplo da barragem de Castelo do Bode que, além de constituir importante recurso hidroeléctrico, é a principal fonte de abastecimento de água a Lisboa.

No quadro 3. 16 podemos seguir, para as mais importantes barragens portuguesas, a relação entre os volumes afluentes e libertados em 1976/77. A análise do quadro permite evidenciar, relativamente ao rio principal, a importância dos afluentes quanto a volumes drenados. Assim, se tomarmos como referência os volumes lançados pelos empreendimentos para fins hidroeléctricos (ou outros), relativamente aos volumes escoados pelo rio

principal, que é da ordem dos 12 300 hm3/ano, verificamos que o Zêzere é dos afluentes com maior contributo, o qual permitiu aproveitamentos da ordem dos 2530 hm3/ano (1976/77). Seguem-se-lhe, no mesmo período, o Ocresa, com 673 hm3/ano, e o Divor com 0,6 hm3/ano. Na margem esquerda, do pouco que é possível aproveitar, só o Sorraia, através das ribeiras afluentes, permitiu cerca de 300 hm3/ano.

QUADRO 3. 16

Volumes afluentes e lançados nas principais barragens da rede hidrográfica do Tejo no período de 1976/77 BARRAGEM AFLUENTE VOLUME AFLUENTE (1976/77) (hm3/ano) VOLUME LANÇADO (1976/77) (Hm3/ano) UTILIZAÇÃO Hidroeléctrico (H) Consumo Público (CP) Agrícola (A) Fins Multiplos (FM) Idanha

Penha Garcia Pônsul 71,70 30,20 FM CP

Santa Luzia Unhais 136,58 131,25

H Cabril

Bouça

Castelo do Bode Zêzere

2179,08 3164,53 1876,08 1885,97 2530,52 H H H, CP Marateca Pisco Pracana Ocreza 727,95 672,45 CP, R H Toulica r. Aravil H, CP Fratel Belver Tejo 12 12 424,37 299,80 H H Aç. Racheiro Aç. Poio

Aç. Póvoa r. Niza

H, CP H, CP H, CP Magos r. Magos A Montargil r. Sôr 314,11 253,76 FM Maranhão r. Seda 580,00 522,01 FM Divor r. Divor 5,32 0,59 FM