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PREFÁCIO

2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO, GEOMORFOLÓGICO E TECTÓNICO

2.4. GEOMORFOLOGIA E OROGRAFIA

Na parte portuguesa da bacia hidrográfica do rio Tejo encontram-se alguns dos principais sistemas montanhosos do País, onde nasce grande parte

dos afluentes (Ocresa, Zêzere, Nabão, Almonda, Alviela, Maior, Sever, ribeira de Nisa), que são determinantes no controlo da climatologia. Desempenham, por isso, papel importante na frequência e distribuição das chuvas na região. No Quadro 2.4 podemos ver as principais serras e a sua altitude máxima.

QUADRO 2. 4

Sistemas montanhosos da bacia hidrográfica e altitudes máximas

SISTEMA MONTANHOSO ALTITUDE MÁXIMA

(m) Estrela 1991 Gardunha 1223 Lousã 1204 Alvelos 1080 Malcata 1075 Vermelha 0967 Montejunto 0664 Aire 0679 Ossa 0650 Arrábida 0500 Sintra 0529 S. Mamede 1025

Relacionado com os sistemas montanhosos referidos, origina-se uma bacia de forma assimétrica, caracterizada por uma vasta planície. O relevo enquadrante eleva-se, na margem direita, na serra da Estrela, a cerca de 2000 m, enquanto na margem esquerda é, no geral, menos acentuado, com desenvolvimentos de uma série de colinas de altitude média não superior a 200 m.

A jusante de Vila Nova da Barquinha, o Vale do Tejo define um alinhamento geomorfológico de disposição acentuadamente rectilínea, na direcção NNE-SSW, sugerindo um controlo estrutural, por uma fractura ou conjunto de fracturas com aquela orientação.

Verifica-se assimetria, neste troço do rio Tejo, relativamente à localização dos terraços fluviais: na margem direita, estão escalonados a montante de Alpiarça, enquanto a jusante se escalonam na margem esquerda (DAVEAU, 1980), sugerindo movimentações diferenciais, que originaram balançamentos

controlados por um acidente tectónico localizado ao longo do rio (CABRAL, 1995).

Na margem esquerda do Tejo, a sueste de Almeirim, a serra do mesmo nome destaca-se na paisagem aplanada, com relevo de cerca de 170 m, de provável origem tectónica (CABRAL, 1995). À semelhança, na margem direita, destaca-se da paisagem planáltica a elevação de Santarém, com cotas de 100 m a 110 m, que segundo CARVALHO (1968) foi elevada tectonicamente após a formação dos calcários.

Os depósitos calco-argilosos cenozóicos da margem direita, um dos domínios geomorfológicos da Bacia do Baixo Tejo, definem uma superfície tabular aplanada, em forma de planalto, com altitude média de 100 m (BARBOSA, 1995), por onde toda a rede de drenagem com origem nas exsurgências do Maciço Calcário Estremenho, e através dos vales pouco escarpados de orientação predominantemente NW-SE, desagua no Tejo. Os terraços quaternários desenvolvem-se em plataformas de inundação, à altitude média de 5 m para o Q3; e acima de 25 m para o Q2.

Os depósitos pliocénicos da margem esquerda do Tejo, segundo domínio geomorfológico de acordo com BARBOSA, definem uma superfície de acumulação, mais ou menos aplanada a diferentes cotas que decrescem para jusante, variando os máximos, de 300 m, na região de Abrantes, para cerca de 70 m, na região de Lisboa-Setúbal. A rede de drenagem nasce quase exclusivamente, no Maciço Paleozóico, com excepção de alguns casos ocorrentes no Terciário; possui orientação, no geral, N-S; porém, há inversão para E-W no final do percurso, em algumas situações, como acontece com o rio Sorraia. Na margem esquerda podem ser seguidos os terraços fluviais desde o Q4 ao Q1, que se desenvolvem entre os 10 m e os 90 m.

2.5.TECTÓNICA

O vale do Baixo Tejo caracteriza-se por uma complexidade estrutural profunda, com evidências da presença de acidentes tectónicos numa zona de falhas, dispostas ao longo do vale, que limitam a SE o “Fosso Lusitânico” (RIBEIRO, 1981). O mesmo autor refere que o “Fosso Lusitânico”, depois de estar submetido a tracção durante a génese do Fosso Mesozóico, sofreu inversão tectónica no Cenozóico, passando a ocorrer elevação do antigo fundo

da depressão tectónica, relativamente ao bordo, que ao deprimir-se gerou a Bacia do Tejo.

As fases tectónicas, que estão na base da estruturação terciária da Península Ibérica são da responsabilidade da orogenia pirenaica (BARBOSA, 1995) e tiveram início no Paleocénico médio/superior (SRIVASTAVA et al.,1990; in DE RUIG et al., 1991). Os principais momentos de transmissão de esforços, escalonados no tempo, remobilizam famílias de falhas preexistentes do orógeno hercínico (RIBEIRO et al., 1979).

A orientação da fracturação e a deformação dos estratos parecem evidenciar a existência de dois episódios tectónicos distintos. Um, mais antigo, onde a fracturação segue orientação predominante, NW-SE, e outro, mais recente, onde a fracturação segue a orientação NE-SW. Esta última coincide com a direcção do troço actual do Tejo e com a orientação da falha de Benavente. Estes episódios tectónicos resultam da convergência entre a Eurásia e a África que, durante o Paleocénico-Oligocénico, se orientava segundo NNE- SSW, rodando a direcção de convergência, durante o Miocénico, para NNW- SSE (TAPPONNIER, 1977). No Miocénico final dá-se a “inversão tectónica” com alteração de regime tractivo para compressivo (CARVALHO et al., 1983; RIBEIRO, 1988; RIBEIRO et al., 1990/92).

No Neogénico, as falhas do vale inferior do Tejo ter-se-á movimentado com uma componente vertical de tipo inverso ou upthrusting, com descida relativa do bloco oriental, aumentando progressivamente o desnivelamento vertical de NNE para SSW, com componente horizontal de movimentação em desligamento esquerdo (CABRAL, 1995).

No Pliocénico, os deslocamentos verticais foram reduzidos e concentraram-se na região de Pinhal Novo, que funcionou como “depocentro” naquele período, possivelmente em relação com halocinese na estrutura diapírica profunda aí existente (CABRAL, op. cit., p.185).

A disposição simétrica de balançamentos em relação ao curso do rio sugere deslocamentos verticais “em tesoura” numa estrutura orientada NNE- SSW, com predomínio evidente do abatimento do lábio ESE, entre Alpiarça e o Barreiro.

O estudo das sondagens hidrogeológicas permitiu, quando os furos eram próximos, revelar acidentes tectónicos imperceptíveis à superfície (Quadro 2.5, Fig. 2.5). Detectou-se um acidente tectónico em Pinhal Novo, definindo um alinhamento de orientação NNE-SSW, paralelo ao actual leito do rio, que se desenvolve de Alcochete a Benavente, seguindo possivelmente para Norte, passando a W de Ulme; para sul, atinge Setúbal. O acidente referido poderá ser

o mesmo que CABRAL (1995) descreve, com orientação NNE-SSW, a passar por Alcochete, Montijo, Pinhal Novo e Setúbal que, segundo ele, estabelece a fronteira oriental das importantes deformações alpinas da cadeia orogénica da Arrábida.

Com a mesma orientação e passando pelo Seixal (Ponta dos Corvos) e Poceirão foram detectados nas sondagens outros acidentes.

Confirmamos a existência de acidentes tectónicos de orientação NE-SW em Alverca, já observados à superfície e indicados na cartografia geológica.

Na margem direita do Tejo parecem desenvolver-se fracturas de orientação NW-SE a convergirem para a Bacia de Rio Maior, definindo um “graben” entre Cartaxo e Santarém. São as falhas do Cartaxo, Almeirim- Santarém, Setil-Cruz do Campo. Outras falhas de menor importância e de orientação diferente foram detectadas em Alcoentre e ribeira de Alcobertas.

QUADRO 2. 5

Furos com localização próxima que permitiram detectar desníveis anómalos explicáveis pela ocorrência de fracturas

FALHA FUROS DESNÍVEL

(m) Pinhal Novo-Benavente 10/454; 51/454 29/443; 92/443 88/443; 22/443 9/418; 7/418 5/419; 6/419 27/405; 26/405 260 (Miocénico) 52 (Miocénico) 261 (Miocénico) 116 (Miocénico) 115 (Miocénico) 40 (Aluvião) Ponta dos Corvos 72/442; 96/442 80 (Miocénico) Apostiça (Lagoa) 27/453; 11/453 15 (Miocénico)

Alverca 40/404; 11/404 35 (Miocénico)

Alverca (2ª falha) 41/404; 46/404 46/404; 39/404 47 (Miocénico) 52 (Miocénico) Ciborro (Lavre) 1/421; 2/422 187 (Miocénico)

Canha 3/434; 10/434 61 (Miocénico)

Canha 2/419; 8/420 29 (Miocénico)

Gamoal 17/434; 22/434 85 (Miocénico)

Craveiras do Norte 20/434; 17/434 129 (Miocénico)

Coruche 6/406; 8/406 84 (Miocénico)

Setil-Cruz do Campo 26/377; 12/377 176 (Pliocénico) Santarém 30/353; 10/353 44 (Miocénico)

Alenquer 8/363; 9/363 51 (Paleogénico)