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5.2 Aprendizado na construção do Habitus do Chorão

5.2.1 Afonso Machado

A formação do habitus do músico de Choro e do bandolinista à luz da experiência dos agentes do campo do Choro, para uma compreensão da existência da “escola musical do Choro” o item “formação” fez parte dos formulários de entrevista semiestruturada da presente pesquisa. O habitus do músico teve na constituição familiar com seus processos formativos seu elemento decisivo para o desenvolvimento de sua carreira musical. Um exemplo desta constatação constou no depoimento do professor e bandolinista Afonso Machado75:

Comecei a tocar por volta de 1972. Um dia encontrei nos guardados da casa um bandolim de uma tia-avó. Meu pai era violonista amador e tocava muito bem o repertório brasileiro. Meu objetivo, quando comecei, era poder tocar junto com ele. (MACHADO, 2014)76

Segundo Machado, o ambiente musical que tinha em casa foi importante na sua formação musical: “Além do meu pai, Raul Dodsworth Machado, minha avó era pianista clássica, e a maior parte dos membros da família tinha e tem dons musicais diversos” (MACHADO, 2004).

75 Nasceu no Rio de Janeiro em 3 de maio de 1954. Compositor e arranjador, é integrante e fundador do conjunto Galo Preto e da extinta Orquestra de Cordas Brasileiras. Com o Galo Preto produziu e gravou quatro discos que são considerados pela crítica como obras-primas da música instrumental brasileira. Obteve indicação para o prêmio Sharp como melhor conjunto instrumental de 1993. Acompanhou em shows e gravações alguns dos maiores compositores e intérpretes da música brasileira, como Cartola, Radamés Gnattali, Elton Medeiros, Chiquinho do Acordeom, Nelson Cavaquinho, Raphael Rabello, Paulo Moura, Hermeto Pascoal e Elza Soares. Com a Orquestra de Cordas Brasileiras também gravou três discos que ganharam três prêmios Sharp como melhores trabalhos instrumentais dos anos de 1991 e 1992. Tem se apresentado em todas as principais cidades do Brasil e, no exterior, participou de turnês com recitais e oficinas sobre música brasileira na América do Norte em 1986 e na Europa em 1991, 96, 97, 98, 99 e 2000 (SÁ, 2005).

76 Depoimento do professor bandolinista Afonso Machado (Afonso Dodsworth Machado, Rio de Janeiro, 03 de maio de 1954) ao autor em entrevista realizada em 11 de abril de 2014.

A escassez de cursos de bandolim e de métodos deste instrumento tal como era executado na música popular brasileira, ou seja, no Choro, Machado descreve os métodos que utilizou em sua iniciação musical:

Não havia professores de bandolim na época que comecei. Aprendi ouvindo os grandes da época (Jacob, Luperce, Déo, Joel e Rossini Ferreira), e tornei-me amigo dos três últimos, que muito me ajudaram na minha iniciação. E além de ouvi-los, tive a chance de vê-los tocando e conversar muito com eles. Em meus estudos de técnica usei métodos de bandolim estrangeiros (Cristófaro – indicado pelo Déo) e também métodos de violino (MACHADO, 2014).

Além dos métodos de bandolim estrangeiros utilizados em seus estudos musicais, a iniciação de Afonso Machado teve referenciais de bandolinistas experientes que o ajudaram em seu percurso formativo. Os capitais culturais herdados no convívio familiar no qual seu pai era músico amador cavaquinista e violonista, assim como sua avó pianista dedicada à música clássica nos revelam a assimilação de duas vertentes musicais constantes no campo do Choro. O fato de ter crescido ouvindo música em casa e ter contato com a música popular brasileira por intermédio de seu pai sedimentou sua escolha artística e motivou seu desenvolvimento também pela interação e contato direto com bandolinistas.

Na constituição do habitus formativo do bandolinista brasileiro, destacamos o trabalho do professor Afonso Machado em seu “Método do Bandolim Brasileiro” (1986) direcionado para o ensino do bandolim, e que tem sido justamente considerado um seguro reforço para bandolinistas que se iniciam no instrumento.

Dividido em três partes, Machado tratou objetivamente dos pontos básicos indispensáveis num método de bandolim: afinação, postura, exercícios de adaptação ao instrumento, escalas e arpejos em todos os tons, mudanças de posição (até a sétima posição) e acordes básicos. Na última parte apresenta doze músicas com digitação para bandolim, além de uma “discografia do bandolim brasileiro”, assim referido pelo autor (1986:84). No que tange ao desenvolvimento técnico da mão direita, Afonso Machado apresenta trinta e oito pequenos exercícios (entre dois e quatro compassos para cada um) intitulados “Exercícios rítmicos para a mão direita com diversas variações de palhetadas” (1986:17) onde se verifica uma preocupação um pouco mais concreta neste sentido. Não se trata, entretanto, de um direcionamento claro com o objetivo de atingir a meta sugerida pela escola italiana (SÁ, 2005).

A atividade musical de Afonso Machado tem sido referência no ensino- aprendizado musical quanto à forma de se tocar bandolim no Brasil. Assim, seu método tem

se aliado às formas de difusão e documentação dos aspectos técnicos musicais e culturais da prática do Choro no bandolim.

5.2.2 Izaías de Almeida

Os primeiros estudos musicais do bandolinista Izaías de Almeida nos descreve o apoio paterno na sua iniciação musical ouvindo as emissoras de rádio de sua época e posteriormente tendo seu referencial de estudo teórico pelo exemplo de seu pai músico e clarinetista.

Meu contato com a música, surgiu de um cavaquinho que ganhei de meu avô materno quando tinha apenas oito anos de idade e daí passei a tirar melodias que ouvia nas emissoras de rádio, numa afinação que nem me lembro mais, só sei que foi uma adaptação por mim criada para facilitar as passagens dos agudo para os graves e vice versa. Meu pai que era clarinetista, e tinha uma leitura invejável à primeira vista, inclusive transportando de um tom para outro, notou essa “musicalidade”, e resolveu me ensinar solfejo pelo abominável “Bona”. Era solfejo noite e dia, fora as lições da “Teoria Musical” de Samuel Arcanjo. A sua intenção era me transformar num violinista, fazer concurso numa orquestra sinfônica, e para tanto me presenteou com um bandolim (não existiam violinos nacionais e o preço era exorbitante). O bandolim naturalmente viria preencher a lacuna de um violino, já que sua afinação é similar. Junto com o bandolim veio um método para violino “Bernardo Ferrara – primeiras lições” (ALMEIDA, 2014)77.

No relato do bandolinista Izaías de Almeida destacamos o árduo trajeto formativo no aprendizado de solfejo, onde o músico não dispunha de uma educação musical escolar na qual inserisse o estudo de seu instrumento em contexto de ensino formal. Tal disposição o estava conduzindo ao violino, por ser um instrumento de maior oferta quanto a metodologias, professores, publicações, oportunidades de desenvolvimento artístico e exercício profissional. O bandolim, por possuir a mesma afinação do violino lhe fora presentado por seu pai juntamente com um método de violino, o que nos revela o direcionamento intencional para a aplicação do bandolim como degrau no estudo posterior do violino.

77 Conforme entrevista concedida por meio de e-mail enviado ao autor, em 09/04/2014, Izaías Bueno de Almeida nasceu em Tucuruvi, São Paulo, no dia 07 de junho de 1937. Bandolinista filho do clarinetista de orquestra Benedito Bueno de Almeida, irmão do violonista Israel de Almeida (Israel Bueno de Almeida - São Paulo, 1943 - violão de 7 cordas e cavaquinho), começou a tocar bandolim aos 10 anos de idade. Fonte: http://dicionariompb.com.br/izaias-do-bandolim/dados-artisticos, acesso em 23/05/2017 às 15:17 horas.

5.2.3 Ricardo Maciel

A iniciação musical do bandolinista Ricardo Maciel foi marcada pela significativa presença de seu pai o bandolinista Joventino Maciel78 desde sua infância. Embora Maciel não tenha estudado em escolas de música, o convívio familiar com seu pai assim como as rodas de Choro em sua casa contribuíram para sua formação musical, embora não a reconheça em sua fala:

Jorge Cardoso: Como e quando iniciou o bandolim?

Ricardo Maciel: Nasci escutando bandolim tocado pelo meu pai. Aos 08 (oito) anos de idade, ouvindo o LP Vibrações, aprendi a tocar o choro Cadência. Até então escondido de meu pai, que tinha um enorme ciúme de seu bandolim e jamais me deixaria, com apenas 08 (oito) anos, pegar no instrumento. Aproveitava as vezes que ele saía de casa para tocar.

Jorge Cardoso: Em que tipo de escolas de música estudou? Ricardo Maciel: Nunca estudei em escola de música.

Jorge Cardoso: O que foi importante para você na sua formação musical?

Ricardo Maciel: No meu caso o convívio com a música desde a infância. Eu deixava de brincar para assistir meu pai tocando nas rodas de choro que aconteciam em nossa casa. Sempre fiquei encantado ao ver meu pai, todos os dias, sentado em frente à Tv assistindo o jornal e tocando bandolim ao mesmo tempo. Acredito não ter a formação musical a que se refere à pergunta, uma vez que nunca cheguei a estudar música em escola alguma. (MACIEL, 2014)79

78 Ricardo Maciel é filho do bandolinista Joventino Maciel (03/05/1926, RJ + 1993, RJ). Nascido na cidade de Campos, RJ, o compositor e bandolinista Joventino Maciel morou boa parte de sua vida em Rio Bonito, também no Estado do Rio, e conviveu com os grandes chorões de sua época, como Jacob do Bandolim e Pixinguinha. O nome de Joventino foi eternizado na roda com a gravação de seu choro "Cadência" por Jacob do Bandolim no histórico LP "Vibrações", lançado em Outubro de 1967. Na contracapa do disco, Jacob comentou o seguinte sobre a música e o compositor: "Inédito. Admirável a inspiração e o talento dêsse instrumentista. Compõe com extrema facilidade como provarei em futuras gravações."

Fonte: http://quintaldochoro.blogspot.com.br/2009/06/homenagem-joventino-maciel.html, acesso em 23/05/2017 às 15:36 horas.

79 Entrevista concedida ao autor em 09/04/2014 por Ricardo Souza Maciel, nascido em Tanguá, Rio de Janeiro em 19/07/1978.

5.2.4 Déo Rian 80

Dentre os bandolinistas brasileiros, a iniciação do bandolinista carioca Déo Rian foi marcada pela significativa presença de dois mestres do bandolim brasileiro: Jacob do Bandolim e Luperce Miranda. Déo residia em Jacarepaguá, sendo vizinho de Jacob do bandolim com quem manteve amizade e frequentava sua casa dos anos de 1962 a 1969 (ano da morte de Jacob). Foi aluno de bandolim de Luperce Miranda por seis meses81 e frequentava as rodas de Choro de seu bairro82 tendo estudado música com o clarinetista Moacyr Arouca83.

Tive a felicidade de privar da amizade do grande Jacob do Bandolim e aprendi informalmente com esta convivência: olhando-o tocar nas rodas que promovia, perguntando sobre eventuais dúvidas e acatando as sempre pertinentes observações do "mestre". Jacob foi muito importante na minha carreira de chorão.

Formalmente, meus professores foram Moacyr Arouca que, curiosamente, sendo grande clarinetista, ensinou-me bandolim, e Luperce Miranda, bandolinista que tocava com extrema velocidade, técnica até hoje jamais igualada. (Depoimento de Déo Rian concedido ao site www.bandolim.net em 2009)84

O início de seu aprendizado se deu “tocando de ouvido” para depois tocar por música, ou seja de uma forma recorrente de aprendizado relatado pelos entrevistados.

Jorge Cardoso: Como e quando iniciou o Bandolim?

Déo Rian: Tocando de ouvido em 1959, em seguida por música

80 Déo Cesário Botelho, nome artístico Déo Rian (26/02/1944, Jacarepaguá, Rio de Janeiro), bandolinista amigo de Jacob do bandolim e que frequentou sua casa de 1962 a 1969. É também economista aposentado da EMBRATUR. Foi aluno do bandolinista Luperce Miranda. Substituiu Jacob do Bandolim no Conjunto Época de Ouro, ao entrar para o grupo em 1970. Déo tocou e gravou com Jacob do Bandolim, Paulinho da Viola, Joel Nascimento, Clara Nunes, Raphael rabello e com seu filho Bruno Rian, dentre outros. Suas gravações incluem: Sempre Jacob (Kuarup, sem data), Choros de Sempre (Odeon/EMI, LP 1980; CD 1995), Delicatesse (em duo com o violonista Raphael Rabello) (RCA, 1993), Choro em Família (Kuarup Discos, 1996), Gotas de Ouro (Revivendo, 1999), Inéditos de Jacob do Bandolim Vol. 1 (Eldorado, 1980) e Inéditos de Jacob do Bandolim Vol. 2 (Instituto Jacob do Bandolim/Rob Digital, 2007) (KOIDIN, 2011).

81 Déo Rian estudava com Luperce Miranda no mesmo período em que também estudou o bandolinista Elismar Holanda Pontes (03/04/1933, Várzea Grande - CE + 25/04/2004, Fortaleza-CE), professor de bandolim do autor desta pesquisa e do bandolinista pernambucano Marco Cesar de Oliveira Brito (30 de Julho de 1960, Pesqueira/PE).

82 “Outra reunião musical tradicional do bairro que contou com a frequência assídua de Déo foi o Retiro da Velha Guarda, na casa do funcionário da Casa da Moeda João Dormund, que contou com o talento precoce do bandolinista a partir de 1962. No mesmo ano, estreou como músico profissional na Rádio Mauá, como integrante do regional de Darly do Pandeiro.” Fonte: http://www.casadochoro.com.br/?q=D%C3%A9oRian acesso em 24/05/2017, às 16:12 horas.

83 Moacyr Arouca foi tenente do Exército que era amigo do pai de Déo Rian, mas não tocava bandolim, e sim clarinete. Fonte: http://www.casadochoro.com.br/?q=D%C3%A9oRian acesso em 24/05/2017, às 16:11 horas. 84 Entrevista disponível em http://www.bandolim.net/deo-rian-fala-de-sua-trajet%C3%B3ria-como-bandolinista

Jorge Cardoso: Em que tipo de escolas de música estudou? Déo Rian: Com professores particulares.

Jorge Cardoso: O que foi importante para você na sua formação musical? Déo Rian: As rodas de Choro com excelentes Chorões85.

A herança familiar na qual Déo Rian teve acesso à música é descrita como um ambiente de Choro no qual seus familiares eram músicos amadores. Além do contexto familiar, seu bairro Jacarepaguá possuía a tradição de rodas de Choro, além de ser o bairro escolhido por Jacob do Bandolim para residir e realizar memoráveis saraus em sua residência com a presença de famosos músicos de Choro da música popular brasileira.

Julie Koidin: Porque você ama o Choro?

Déo Rian: Fui criado no meio do choro, minha família é toda de chorões, meus tios, os irmãos de meu avô, os tios de minha mãe, meu avô, meu bisavô. Como eu, meu filho foi criado dentro do choro, quando eu ensaiava com o grupo, lá em casa, desde pequeno ele ouvia choro. Em Jacarepaguá, onde nós morávamos, tinha roda de choro no açougue e nos bares. Eles sempre diziam: “Vamos dar um treino”. Era o jeito de se dizer vamos fazer uma roda de choro. Fui criado nesse ambiente. Na casa de minha vó de vez em quando tinha um pessoal tocando. O choro para mim é insubstituível, é imortal, para mim é o melhor gênero, é uma paixão, sem dúvida.

Julie Koidin: Com que idade você começou o bandolim, ou houve outro instrumento antes?

Déo Rian: Comecei aprendendo a tocar cavaquinho, mais ou menos com dez anos. Eu tocava de ouvido com meu tio, com a afinação de Ré, Sol, Si, Ré. Meu tio colocou um cavaquinho na minha mão com essa afinação, mas aí um amigo do meu pai que tocava violino – o violino tema mesma afinação do bandolim – afinou meu cavaquinho com a mesma afinação do bandolim. Foi nesse cavaquinho afinado em bandolim que aprendi a tocar choro, mas de ouvido. Mais tarde é que fui estudar bandolim. Comecei a estudar bandolim com 15 ou 16 anos – aí é que eu fui estudar por música (KOIDIN, 2011).

Os estudos de bandolim de Déo Rian com o bandolinista Luperce Miranda foram citados no segundo depoimento de Jacob do Bandolim ao Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro. No dia 10/03/1967, numa sexta-feira, o bandolinista Luperce Miranda prestou seu depoimento ao MIS que gerou uma contestação de Jacob, o "direito de resposta”, que ocorreu em 13/03/1967, ou seja, na segunda-feira. Segundo o e-mail86 enviado pelo

85 Entrevista concedida ao autor e enviada por e-mail em abril de 2014.

86 E-mail datado de setembro de 2004 e encaminhado à lista de discussão “O malho” pelo pesquisador Alexandre Dias em 18 de setembro de 2004. O assunto tratado foi se "Jacob foi aluno de Luperce"? O pesquisador Jorge Mello havia transcrito a fita com o "direito de resposta" de Jacob, citando este depoimento que acabou passando despercebido pela autora do livro "Luperce Miranda, o Paganini do bandolim", Marília Trindade Barbosa.

pesquisador Jorge Mello ao autor, Jacob87 também exigiu que este depoimento fosse anexado ao de Luperce88. Presentes ao segundo depoimento estavam Jacob(JB), o presidente Ricardo Cravo Albin (RCA), os conselheiros Mario Cabral(MC), Mozart de Araújo(MA), Helio Marins David(HMD) e como representante da imprensa, o jornalista (de O Globo) Oromar Terra(OT). Segundo a transcrição do pesquisador Jorge Mello, Jacob afirmou não ser um professor de bandolim nem tampouco ter sido aluno de Luperce Miranda, a razão pela qual solicitou seu direito de resposta.

Esta questão de eu guardar os segredos de Luperce, que eu lhe disse agora a pouco, enquanto não estávamos gravando, é pelo seguinte: você teria afirmado que eu estaria aqui com a preocupação de denegrir a figura de Luperce Miranda. Não, absolutamente! Eu fui contestado! Está havendo aqui uma inversão da cronologia dos fatos: Jacob do Bandolim veio depor no dia 24 de fevereiro e afirmou que era autodidata. Chega no dia 10 de março o sr. Luperce Miranda e diz que o sr. Jacob não era autodidata, que aprendeu com ele. É isso o que há, exclusivamente, mais nada! Então parece-me que o direito e contestação é inicialmente meu. Então não há absolutamente intenção aqui de denegrir Luperce Miranda, eu continuo me dando com Luperce Miranda. Vou afirmar mais uma vez, agora bem recentemente, mandei-lhe dois alunos; Déo Cesário (Deo Rian) e Elismar. Estão lá, aprenderam com ele, ficaram seis meses com ele lá. Porque é que eu vou mandar aluno pro sr. Luperce Miranda? Se eu não tivesse admiração por Luperce, porque iria mandar aluno para ele? (Trecho do segundo depoimento de Jacob do Bandolim ao MIS, em 13/03/1967)

Em sua resposta ao jornalista Oromar Terra do jornal “O Globo”, Jacob confirmou que enviava alunos de bandolim à Luperce Miranda, que também era professor de bandolim naquela ocasião. Dentre os alunos indicados a Luperce por Jacob do Bandolim, temos dois agentes abordados na presente pesquisa: Déo Rian e Elismar Holanda Pontes, bandolinista cearense que foi professor do bandolinista (e também professor) Marco César e do autor desta pesquisa.

87 Segundo o pesquisador Jorge Mello, Jacob era membro do Conselho Superior de Música Popular Brasileira, o mesmo que organizava e realizava os depoimentos

88 De acordo com o levantado pelo pesquisador Jorge Mello, o depoimento de Luperce ocupou um rolo inteiro e a metade (um lado) de outro. A réplica de Jacob começou então a ser gravada nesta sobra. Como este depoimento acabou por se estender mais do que o previsto, a continuação foi gravada em outra fita, complementada com uma entrevista a respeito do show Rosa de Ouro. Jorge Mello citou ser este segundo depoimento a parte a qual a autora Marília Trindade Barbosa afirmou não ser possível encontrar no MIS.

5.2.5 Bruno Rian89

O aprendizado do bandolim teve em seu pai Déo Rian sua principal referência musical, além de ter tido acesso às rodas de Choro e apresentações de seu pai desde sua infância. Bruno Rian herdou também o sobrenome artístico do pai, buscou estudar música com músicos de formação formal e a não-formal do Choro como citou em sua fala.

Jorge Cardoso: Como e quando iniciou o bandolim? Aos 10 anos de idade

Bruno Rian: Em que tipo de escolas de música estudou? Estudei teoria musical/percepção/harmonia particularmente com o Professor Doutor Luis Otávio Braga e com o Professor Doutor Josimar Carneiro. Os estudos de bandolim se deram informalmente com meu pai o também bandolinista Déo Rian.

Jorge Cardoso: O que foi importante para você na sua formação musical?

Bruno Rian: A convivência direta com a música, especificamente com o Choro, através da influência natural familiar. (MORGADO BOTELHO, 2014)90

Bruno fornece mais detalhes sobre seu aprendizado no bandolim tendo a referência paterna como orientação artística:

Como disse no item B.2 deste questionário, aprendi bandolim com meu pai Déo Rian. No entanto, meu aprendizado não se baseou na relação direta professor/aluno. Escolhi o bandolim por livre e espontânea vontade, tentando reproduzir aquilo que via e ouvia meu pai tocar. Tecnicamente, procurava “imitar” o posicionamento das mãos dele sobre o instrumento; meu pai, bandolinista que estudou em métodos estrangeiros de bandolim baseados na escola italiana - por sua vez, corrigia-me quando observava alguma falha ou erro de posicionamento de alguma das mãos. Meu aprendizado no bandolim se desenrolou via convivência pai/filho: através da imitação, de perguntas sobre a técnica a ser empregada ao instrumento, indicação de exercícios em métodos estrangeiros de bandolim a qualquer dia, a qualquer hora. (MORGADO BOTELHO, 2014)

Ao ser indagado como eram as aulas que dava a seu filho Bruno, Déo Rian descreveu a técnica de Jacob do Bandolim:

“Jacob feria as cordas do bandolim com movimentos circulares de palheta, usando a primeira e a segunda articulações do dedo polegar e a segunda articulação do dedo indicador. É o que faço até hoje e que passei também para o meu filho Bruno Rian91.”

89 Bruno Morgado Botelho, bandolinista de nome artístico Bruno Rian (28/05/1981 – Rio de Janeiro – RJ), filho

No documento Vibrações das culturais da Escola do choro (páginas 88-124)