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O choro de Jacob do Bandolim (1918-1969)

No documento Vibrações das culturais da Escola do choro (páginas 167-184)

“As origens do choro, eu afirmei aqui, que o musicólogo202 afirmou que o vocábulo se origina de “Xôlo”, um concerto vocal com danças dos Capres da Contra-costa, e que por confusão com o parônimo Português passou a grafar-se choro. Outro musicólogo203 chegou a assegurar que advém de Chorus, latim. Aceito, entretanto a versão dos chorões remanescentes com quem tenho permanente contato. Choro – pode significar um grupo de instrumentos: flauta, violão, cavaquinho, bandolim,

200 À esquerda: os violonistas Carlinhos, Ronaldo do Bandolim, César Faria, Jorginho do Pandeiro, Raphael Rabello (ao centro), Albino Pinheiro, Dino 7 Cordas, Dininho e Walmar Gama de Amorim (cavaquinho). 201 Jacob Pick Bittencourt, mais conhecido como Jacob do Bandolim (Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1918 —

Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1969) foi um músico, compositor e bandolinista brasileiro de choro. 202 Supomos que Jacob esteja se referindo ao musicólogo Renato Almeida (CORTES, 2004).

clarinete, oficleide, etc. ou, o ato de se reunirem para tocar, exemplo: fui a um choro... ou ainda melodia de compasso dois por quatro e que se caracteriza por frases sentimentais ou modulações inesperadas, e se por vezes alegre, deve-se ao andamento que lhe é imprimido, mas na sua feitura um daqueles requisitos há de ser satisfeito, isto é, a frase sentimental ou a modulação inesperada. Um famoso choro, dos mais saltitantes que é o Um a Zero de Pixinguinha, ao tocarmos lentamente, notaremos como é lastimoso o fraseado do quarto e quinto compasso da primeira parte. Taí o sentimento imprimido ao choro, taí a cobrança do tributo, exato. Da polca, originária da Europa, dançante e modulada, originou-se o choro. No Brasil, as três raças tristes, cobraram o seu tributo tornando-a mais lenta e melodiosa, porém, dançante ou não, continuaram conhecidas como polcas, não há quem encontre em impresso ou disco dos mais antigos o vocábulo choro, todas eram polcas, mas como emocionavam quem as tocava ou ouvia, eram denominadas músicas de choro, de fazer chorar. Cadernos em meu poder, organizados em manuscritos em fim do século passado confirmam esta certiva, posteriormente é que às próprias composições indistintamente se passou a chamar de choro. Os primeiros divulgadores: Joaquim Antonio da Silva Calado, nascido em 1848 e falecido em 20 de março de 1880, flautista, foi quem primeiro se valeu do violão e do cavaquinho para apresentar choros, e dada sua condição de protegido passo imperial, pois era Cavaleiro da Ordem da Rosa a mais almejada condecoração do Império e catedrático do Imperial Conservatório de Música, impunha às polcas interpretação lenta e modulada que por todos era aceita e imitada. [...] Quero afirmar aqui o seguinte, que eu devo muito desses ensinamentos ao Almirante204, e depois todos eles confirmados por grandes chorões a quem eu conheci como Candinho e outros mais (JACOB DO BANDOLIM: 1967 apud CORTES, 2004, p.6)205.”

A importância de Jacob como “ponto de inflexão na história do Choro” se deu de diversas formas. Na tese de doutorado do professor Gabriel Sampaio Souza Lima Rezende “O problema da tradição na trajetória da Jacob do Bandolim: comentários à história oficial do Choro” (2014), foram apontadas duas dimensões do trabalho desenvolvido por Jacob. Na primeira, ele mobilizou e organizou grande parte de seus esforços no campo da música popular na defesa de uma “tradição” em sua narrativa artística como músico, radialista, pesquisador, compositor, assim como também uma espécie de “advogado” da música popular brasileira instrumental, em especial do Choro. Em derivação à esta questão, ao propor tecer comentários à história da música brasileira; organizou as formas atuais de se narrar a história do Choro.

O papel reservado à trajetória de Jacob do Bandolim na narrativa sobre a história do choro é o de ter “lapidado” o choro. Isso se refere tanto à sua intervenção na dimensão das práticas musicais propriamente ditas, quanto à luta que lhe dava substância, que era travada no campo das construções histórico-discursivas e se

204 Henrique Foréis Domingues (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1908 — Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 1980) foi cantor, compositor e radialista brasileiro, também conhecido por Almirante. Seu codinome na Era de Ouro do Rádio era: "a mais alta patente do Rádio". Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Almirante_(compositor), acesso em 08/06/2017 às 15:36 horas.

205 Trecho do depoimento de Jacob ao MIS – Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, realizado em 24 de Fevereiro de 1967, onde o bandolinista lê e comenta um pequeno texto de sua autoria sobre as origens do choro, constate na contracapa de seu LP Na Roda de Choro (1960).

voltava para a “recuperação” e “conservação” da “verdadeira tradição do choro”. O estudo sobre Pixinguinha aponta nessa direção, na medida em que revela a posição central que a questão do trabalho ocupava na transição para a ordem burguesa- capitalista no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que seu impacto no terreno das formas de sociabilidade abria profundas fraturas com o passado colonial/imperial. Nesse sentido, as ações de Jacob do Bandolim podem ser interpretadas como o avanço de uma determinada ética do trabalho entre os músicos de choro. Evidentemente, isso não era um fim em si mesmo, de modo que as repercussões das investidas de Jacob faziam-se sentir com vigor no plano sonoro-musical. (REZENDE, 2014)

Com o intuito de difusão de uma identidade para o Choro que existia no seio de relações sociais determinadas e que poderiam ter um fim com a dissolução destas, a trajetória de Jacob do Bandolim foi decisiva para o fortalecimento de uma identidade sonora musical. O processo de “elevação estética” do produto musical proveniente da racionalização das práticas musicais em torno do Choro provocou alterações no sentido e na natureza dessas práticas.

[...] “o choro, enquanto atualização de uma potência, perde espaço para uma concepção relativamente estável de usa identidade sonora, alcançada através da fixação da performance. Nesse sentido, as gravações de Jacob se tornaram referências obrigatórias no processo atual de aprendizado do choro.” (REZENDE, 2014).

As falas dos agentes do Choro nas entrevistas realizadas comprovam o papel do “aprendizado de ouvido” na assimilação da linguagem do Choro. As gravações de Jacob do Bandolim tem sido referência no processo de aprendizado não só do bandolim como dos instrumentos que compõem o conjunto de Choro: cavaquinho, violões de 7 e 6 cordas e percussão. Seu legado tem referenciado a forma de se tocar o Choro por meio de sua discografia e seu resgate cultural, fruto de sua pesquisa e meticuloso trabalho de documentação de dados sobre sua história na música popular brasileira. De acordo com o pesquisador e cavaquinista Sérgio Prata, em seu artigo “Os vários Jacob’s” (2009)206, o trabalho do “Jacob pesquisador” representou uma de suas destacadas representações, contribuições ao Choro e seu legado à posteridade:

Tivemos também o Jacob pesquisador, estudioso da história do choro, um dos primeiros a entender esse gênero musical como um patrimônio cultural do povo brasileiro que devia ser preservado e divulgado. Já em 1939, Jacob começou a recolher discos de cera e partituras, editadas ou em cadernos manuscritos, para formar um arquivo pessoal, reunindo a obra de Ernesto Nazareth, Chiquinha

206 PRATA, Sérgio. Os Vários Jacobs, ensaio cedido para publicação no projeto Músicos do Brasil: Uma Enciclopédia, patrocinado pela Petrobras através da Lei Rouanet. Copyright © 2008-2009 - Sérgio Prata – Todos os direitos reservados. Disponível em: www.musicosdobrasil.com.br

Gonzaga, Candinho Trombone, Eduardo Souto e Anacleto de Medeiros, dentre outros.

Em 1952 inova e lança o primeiro álbum fonográfico brasileiro, “Jacob revive músicas de Ernesto Nazaré" (Álbum BP-1; discos: 80.0900, 80.0901, 80.0902, 80.0903; RCA Victor), reunindo quatro 78rpm numa caixa, recuperando a obra de um dos pioneiros do choro. Quando faleceu, Jacob deixou um acervo inigualável com cerca de 10.000 itens, dentre discos 78rpm, LPs, fitas magnéticas, livros, catálogos, fotos e dezenas de cadernos de choros manuscritos dos antigos chorões, que hoje estão sob a guarda do MIS/RJ e do Instituto Jacob do Bandolim. (PRATA, 2009)

Jacob como pesquisador, foi responsável pelo resgate e preservação da obra de vários nomes como Ernesto Nazareth, Candinho do Trombone, Eduardo Souto, Albertino Pimentel, Joaquim Callado e João Pernambuco (CORTES, 2006). O aprendizado musical de Jacob foi referenciado por esse trabalho que desenvolveu durante toda sua carreira e que foi registrado em gravações das quais boa parte foram incorporadas ao repertório do Choro.

O estudo do repertório dos velhos chorões, os quais Jacob procurou gravar em seus discos, constitui também um fator importante em seu aprendizado, pois foi uma atividade que realizou com dedicação durante praticamente toda sua carreira, e que se refletiu claramente em suas escolhas estilísticas de interpretação. (CORTES, 2006)

O arquivo de Jacob foi incorporado ao acervo do MIS – Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974 com um acervo composto de milhares de peças, incluindo discos, partituras, fotos e matérias jornalísticas. Segundo consta na descrição da sessão “acervo” do site oficial de Jacob do Bandolim207, no total temos 5.976 músicas, sem considerarmos as partituras existentes nos Cadernos de Partituras, que estimamos algo em torno de 1200 músicas. De acordo com Prata (2005), do falecimento de Jacob aos dias de hoje, foram lançados cerca de 16 LP’s e 19 Cd’s (CORTES, 2006).

Jacob era filho único do capixaba Francisco Gomes Bittencourt e da polonesa Raquel Pick, que administrava uma pensão situada na rua Joaquim Silva, nº 97, Lapa, zona do baixo meretrício carioca. Segundo o artigo de autoria de Nelson Menda, “O judeu Jacob do bandolim”, publicado na Revista Shalom208 (2003), a mãe de Jacob buscava manter seu único filho a salvo das más influências do meio em que vivia. A música para Jacob seria uma atividade caseira, diante das restrições para se brincar na rua. A preocupação materna com a formação de seu filho motivou a matrícula de Jacob nas melhores escolas cariocas. Os motivos assim foram descritos por Menda (2003):

207http://jacobdobandolim.com.br/acervo.html, acesso em 06/06/2017 às 15:57 horas.

Jacob nasceu em 14 de fevereiro de 1918 e morou, até casar, na “pensão” administrada por sua mãe, na Rua Joaquim Silva 97, Lapa, zona do baixo meretrício carioca, em uma construção sólida que, resistindo à ação do tempo, ainda ostenta, até hoje, seus belos traços arquitetônicos. Baixo meretrício por que, na época áurea da prostituição no antigo Distrito Federal, ao tempo em que a cidade sediava a Presidência da República, o Senado, a Câmara de Deputados e representações diplomáticas das mais prestigiadas nações, o Rio de Janeiro fervilhava e as francesas jogavam na primeira divisão, deixando para as polacas o atendimento à clientela mais humilde. A mãe de Jacob se esforçou ao máximo para preservá-lo das possíveis más influências do meio em que vivia. Em casa, mantinha o pequeno Jacozinho trancafiado no quarto a maior parte do tempo. Preocupada com o futuro do filho único, matriculou-o nas melhores escolas, procurando cercá-lo de cuidados e atenções, como uma boa e dedicada iídishe mame. (MENDA, 2003)

O despertar de Jacob para a música se deu da janela de seu quarto, onde era obrigado a permanecer por horas. Ao ouvir o som de violino em frente à sua casa onde fazia ponto um senhor francês, cego, pediu à sua mãe um violino.

[...] na calçada em frente à sua casa fazia ponto um senhor francês, cego, que ganhava a vida tocando um velho e surrado violino. Jacozinho gostava de escutar, fascinado, os belos sons que o bem manejado arco do ceguinho conseguia extrair das quatro cordas do instrumento. Pediu à mãe um violino. Já estava com 12 anos e, em breve, completaria a maioridade judaica. Dona Sara, que não sabia dizer não ao filho, juntou suas parcas economias e comprou-lhe o almejado presente. Por total desconhecimento ou falta de recursos, esqueceu, porém, de contratar um professor para ensinar ao filho os segredos e as manhas do novo brinquedo. Jacob achou mais fácil dedilhar as cordas do violino como se fosse um violão, desprezando o arco, muito complicado de usar por um menino da sua idade. (MENDA, 2003)

A ausência de um professor de violino levou Jacob, aos 12 anos de idade, quando ganhou o instrumento, a tocar o instrumento com os grampos de cabelo de sua mãe. Jacob arrebentava muitas cordas do instrumento ao tocar daquela forma. Até que um dia, uma das melhores amigas de Dona Rachel, a também polonesa Sofia, desabafou: “esse garoto tem

talento, mas não para o violino, Rachel. Vou oferecer-lhe um outro tipo de instrumento”. Assim, as duas senhoras foram à tradicional “Guitarra de Prata”, e nessa loja

especializada na venda de partituras e instrumentos musicais, Sofia comprou um bandolim de fundo abombado, modelo napolitano, para seu afilhado Jacob. Com o uso de uma palheta como artefato para tocar o bandolim, de mesma afinação do violino, a questão foi resolvida. Segundo o depoimento de Jacob ao MIS - Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1967: era um modelo "cuia", estilo napolitano, e segundo o próprio: " ...aquilo me arrebentou os dedos todos, mas eu comecei...".

No período do ginásio tocava gaita de boca, mas, por influência de um vizinho francês que tocava violino, pediu um para a mãe. Como o arco do violino era pesado, utilizou um grampo de cabelo para tocar o instrumento, arrebentando assim muitas cordas. Consequentemente, passou para o bandolim que resolveu o problema, por ser um instrumento com a mesma afinação e executado com o uso de uma palheta. (CORTES, 2006)

Segundo a dissertação de mestrado “O estilo interpretativo de Jacob do Bandolim” do professor e bandolinista Almir Cortes(2006) com base no depoimento de Jacob ao MIS(1967), ele não teve professores em seu processo de aprendizado de música. A janela de sua casa era o veículo do qual entravam as sonoridades de sua época de aprendizagem musical. Aos 13 anos, ouviu o primeiro Choro de autoria de Luiz Americano chamado “É do que há”. Dentre seus contatos iniciais com a atividade musical, frequentava a loja de instrumentos musicais “Casa Silva”, onde costumava palhetar os bandolins. As casas ou lojas de instrumentos musicais no Centro da cidade do Rio de Janeiro eram pontos de encontro de músicos e aficionados musicais, permitindo a interação cultural.

Não teve professor, sempre foi autodidata. Tentava repetir no bandolim trechos de melodias cantaroladas por sua mãe ou por pessoas que passavam na rua. Aos 13 anos, da janela de sua casa, escutou o primeiro choro, É do que há - composto e gravado pelo famoso Luiz Americano -, tocado no prédio em frente, onde morava uma diretora da gravadora RCA Victor. "Nunca mais esqueci a impressão que me causou", afirmaria Jacob, anos mais tarde. Raramente saia à rua. Seu negócio era ir à escola e ficar em casa tocando bandolim. Costumava frequentar a loja de instrumentos musicais Casa Silva, na rua do Senado, n° 17, onde, para variar, ficava palhetando os bandolins. (PRATA, 2009)

A profissionalização dos músicos de Choro com a participação da rádio, contexto no qual Jacob iria trabalhar durante quase toda sua carreira musical, o fez apresentar-se com um grupo musical formado por amigos em 20.12.1933. O Rio de Janeiro apresentava uma relevante presença da cultura portuguesa e Jacob chegou a tocar violão em acompanhamento de fados209, fato que segundo seu depoimento, “quase o fez abandonar o bandolim”.

Em 20.12.33, se apresentou pela primeira vez, ainda como amador, na Rádio Guanabara, com um grupo formado por amigos, o Conjunto Sereno. Apresentou o choro "Aguenta Calunga", de autoria de Atilio Grany, flautista paulista, gravado pelo próprio autor naquele mesmo ano. Jacob não gostou do seu desempenho e resolveu praticar mais. Nessa época, ainda tocava de ouvido. Certa vez, na mesma Casa Silva, um conhecido intérprete de guitarra portuguesa, Antonio Rodrigues

209 Em 05.05.34, Jacob se apresentou no Programa Horas Luzo-Brasileiras, na Rádio Educadora e no mesmo dia à noite, no Clube Ginástico Português, ao lado do guitarrista Antonio Rodrigues e dos cantores de fado Ramiro D' Oliveira e Esmeralda Ferreira. Jacob ficou surpreso com o interesse dos fadistas por seu violão. Além disso comparecia a saborosas bacalhoadas e conheceu famosos artistas portugueses como a cantora Severa e o guitarrista Armandinho. Boa comida, reconhecimento, experiência, mas nada de cachê. A fase fadista durou pouco. O bandolim chamava por Jacob. (PRATA, 2009)

ouviu Jacob tocando violão. Provavelmente, os baixos acentuados da sua "levada" de choro impressionaram o fadista, que o convidou para acompanhá-lo ao violão em suas apresentações. (PRATA, 2009)

O habitus de músico em conexão com a música portuguesa no Rio de Janeiro trouxe à Jacob uma referência estilística na forma de tocar o bandolim. O formato de seu bandolim como uma espécie de “mini guitarra portuguesa”, tem sido uma marca do modelo de instrumento usado pela quase totalidade dos bandolinistas brasileiros no Choro. Embora tenhamos referências sobre a origem do formato do bandolim de Jacob nas dissertações e teses de Sá (1999 e 2005), Cortes (2006) e Rezende (2014), não podemos afirmar que Jacob “criou” este modelo de bandolim, atualmente utilizado pela maioria dos bandolinistas brasileiros. O flautista e pesquisador Leonardo Miranda, em contato com o autor da presente pesquisa, acredita que pela pouca idade de Jacob (que frequentava as lojas de instrumentos musicais ainda vestido com a farda de estudante) não seria possível naquela ocasião já ter definido um conhecimento que permitisse definir para si um novo modelo para seu instrumento. Deduzimos então que é possível que outros instrumentos idênticos ao de Jacob tenham sido fabricados por lojas de instrumentos musicais no Rio de Janeiro. Nessa época, constatamos que a maioria das lojas de instrumentos musicais eram de propriedade de luthiers portugueses. São exemplos as lojas: “A Rabeca de Ouro”210, “Cavaquinho de Ouro” e “Guitarra de Prata” 211 e “Ao bandolim de Ouro”212.

Esta convivência com guitarristas portugueses pode ter influenciado sua futura interpretação como solista. Segundo bandolinistas brasileiros entrevistados por Paz (1997), Jacob teria se aproximado mais de uma interpretação ou execução que lembra algumas vezes os guitarristas de fado portugueses. Em sua discografia (PAZ, 1997, p. 130) consta uma única gravação realizada com uma guitarra portuguesa, a música Elza (A. F. Conceição – Xavier Pinheiro). É fato que Jacob apesar de ter iniciado o aprendizado num bandolim de “cuia”213, posteriormente adotou um bandolim com fundo chato, mais próximo do formato da guitarra portuguesa. (CORTES, 2006).

210 A loja “A Rabeca de Ouro” instaurou uma tradição de nomes e de estabelecimentos musicais e de sociabilidade ainda vigente na cidade do Rio de Janeiro; no século XIX vimos surgir Ao cavaquinho de Ouro, posteriormente surgiu a loja À guitarra de Prata (fechada em 18/03/2014) e Ao bandolim de Ouro que ainda está em funcionamento. (TABORDA, 2016)

211 A Guitarra de Prata, fundada no ano de 1887 na Rua Carioca, uma das lojas de instrumentos mais tradicionais do Rio, fechou suas portas em 18/03/2014 após 127 anos de serviços prestados. Disponível em http://shaareishalom.net.br/o-judeu-jacob-do-bandolim/, acesso em 06/06/2017 às 17:03 horas.

212 A loja Ao Bandolim de Ouro foi fundada em 1929, por Miguel Jorge do Souto.

Figura 46– Jacob do Bandolim em 1920214.

Fonte: http://jacobdobandolim.com.br/bandolins.html

Figura 47– Anúncio da Casa Rabeca de Ouro, 1911.215

Fonte: http://ernestonazareth150anos.com.br/posts/index/37

214 Em 1920, aos 12 anos, por não ter se adaptado ao arco do violino que ganhou da mãe, trocou-o por um bandolim napolitano, na loja Guitarra de Prata. Acervo Instituto Jacob do Bandolim.

215 Propaganda da casa Rabeca de Ouro (Alfredo dos Santos Couceiro), 1911. A segunda casa mais importante no mercado brasileiro de pianolas, e talvez a única a oferecer uma competição real à Casa Beethoven, era a Rabeca de Ouro (também referida como "Casa Santos Couceiro"). De propriedade de Alfredo dos Santos Couceiro, ficava situada na Rua da Carioca, nº 65, e vendia “músicas perfuradas e instrumentos de cordas”, que incluíam violões, bandolins e violinos. Seus anúncios compreendem pelo menos o período de 1911 a 1918. Fonte: http://ernestonazareth150anos.com.br/posts/index/37 acesso em 07/06/2017, às 14:35 horas.

Figura 48– Jacob do Bandolim em 1935216.

Fonte: Acervo do Instituto Jacob do Bandolim.

No documento Vibrações das culturais da Escola do choro (páginas 167-184)