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2.3 AGOSTO DE 2015 – INTERRUPÇÕES: “CAUSAR O DESCONFORTO”

Ao longo do primeiro semestre de 2015, a imprensa belo-horizontina deu algum destaque às medidas anunciadas pelos poderes estatais, concernentes à realização de manifestações de rua na capital mineira. Numa dessas reportagens publicadas, lia-se:

Cerco se fechará contra ocupações e manifestantes que bloqueiam vias Após encontro com o ministro da Saúde nesta segunda-feira (9) no bairro Santo Agostinho, região Centro-Sul de Belo Horizonte, o prefeito da capital Marcio Lacerda contou que irá fechar ainda mais o cerco contra manifestações que obstruem vias e ocupações.

Ele disse que, em conversa com a Polícia Militar, o comandante da corporação informou que não irá mais tolerar o fechamento de vias em manifestações. Será permitido manifestar sem fechar toda a via, deixando sempre uma faixa livre.

O cerco se fecha também para ocupações que, segundo Lacerda, houve uma sinalização do atual governo no sentido de apoiar a prefeitura contra ocupações, ―diferente do que fez o antigo governo‖. ―O que sei é que desde janeiro a PM faz reintegrações de posse de novas ocupações. O governo está avisando aos movimentos radicais que parem com as ocupações‖, diz Lacerda (CÂMARA; BAETA,2015).

De acordo com o que foi anunciado, a existência de protestos de rua em Belo Horizonte se encontrava condicionada ao respeitar uma espécie de protocolo informal de regulações: o que se punha em cena era todo um conjunto de restrições, visando tornar inócuos os impactos de manifestações de rua sobre a cidade. No contexto da capital mineira dos anos 2010, tal notícia espelhava diretamente a relação antagônica tecida com a cidade por sua institucionalidade: buscando interpor uma espécie de tutela sobre a expressão pública de direitos, implicava igualmente que qualquer forma de

188 manifestação que, de algum modo, desobedecesse tal protocolo, não seria tolerada. Também cumpre destacar que, pelo contexto em que esta medida foi anunciada, a mesma se interconectava diretamente com os legados deixados pela Copa do Mundo de 2014, no que tange à relação entre protestos de rua e o papel desempenhado pelos poderes estatais: sua existência era indicativa de que a intensificação do trato repressivo, adotada a partir de então, era vislumbrada como forma permanente de lidar para com distúrbios sociais na cidade, e no país (ARANTES, 2014). Em certo sentido, considerando o que ocorreu, cinco meses depois, nas ruas do Centro da capital mineira, a notícia não deixou de ter uma espécie de caráter premonitório: dimensionava os termos com os quais a institucionalidade local compreendeu e lidou com as circunstâncias singulares formadas durante o Primeiro Ato Contra o Aumento.

O antecedente direto do Primeiro Ato Contra o Aumento, ocorrido na noite do dia 12 de agosto de 2015, se encontra nos desdobramentos das disputas jurídicas em torno do aumento, no início daquele mês: conforme anteriormente mencionado, a medida da Prefeitura havia sido considerada provisoriamente válida no dia 7 de agosto. Tal decisão deu ensejo para que a imprensa local também noticiasse a concretização do reajuste em seus impactos para os usuários do sistema municipal de ônibus:

Usuários reagem com surpresa e decepção ao 1º dia de ônibus mais caros O aumento de 9,7% na tarifa de ônibus da capital mineira foi autorizado na noite de sexta-feira (7), e na manhã deste sábado a plaquinha com o novo valor de R$ 3,40 já estava lá. Muitos passageiros foram pegos de surpresa, mas outros diziam que já esperavam "a novidade", que mais cedo ou mais tarde se "concretizaria", entre idas e vindas na Justiça.

Desde junho, havia especulações de que a passagem iria aumentar, e no último dia 31 de julho a Empresa de Transportes e Trânsito (BHTrans) anunciou que as viagens de ônibus estariam em média R$ 0,30 centavos mais caras, mas no mesmo dia o pedido da Defensoria Pública foi acatado pelo juiz Rinaldo Silva, de primeira instância, que suspendeu o aumento. Sete dias depois, a Prefeitura de Belo Horizonte e o consórcio Dez, um dos que prestam o serviço, conseguiram reverter a decisão em segunda instância. O desembargador Barros Levenhagen alegou que a atual crise financeira "afeta todo o equilíbrio contratual estabelecido".

"E o assalariado?", questionou assistente de serviço social Sandra Pontes, de 45 anos, que pega seis ônibus por dia para trabalhar e reclama da longa espera nos ônibus comuns: "A gente vai enfrentando, né? Tem que trabalhar". Os últimos aumentos foram motivados pelos investimentos no Move, mas quem não utiliza o novo sistema (70% dos usuários) também paga a nova passagem. "Por um lado, com as novas pistas exclusivas as viagens ficaram mais rápidas, por outro, o ônibus comum que pego só anda lotado. Não entendo como a prefeitura entra com uma liminar contra o povo", diz a técnica em informática Kelly Cristine Assis, 26. Ela também pega seis ônibus por dia, nenhum do Move.

189 A defensora pública Júnia Carvalho informou que será difícil reverter a decisão do desembargador, mas entrará em breve com uma ação civil pública com novo pedido liminar. "Eu sinto a mesma decepção da população". O movimento Tarifa Zero programa para a próxima quarta-feira um protesto contra o aumento das passagens na praça Sete, às 17h. No evento do Facebook já havia cerca de 800 pessoas confirmadas na tarde deste sábado (SUAREZ, 2015).

A notícia acima parece descrever um caleidoscópio de reações entre os usuários ouvidos. Entre a surpresa e a ciência antecipada da possibilidade do aumento, sobressaiam os questionamentos, seja da insensibilidade do judiciário perante os impactos da medida sobre o cotidiano da cidade, seja diante da postura da Prefeitura em favor das empresas. Considerando a continuidade dessa disputa jurídica, que se atinha diretamente ao mérito legal do aumento, cumpre também notar o próprio grau aprofundado de subordinação do poder estatal aos interesses das empresas atuantes no serviço, demonstrado pelo reiterar dessa postura da Prefeitura em defesa da medida: como espécie de legado indireto da intensificação de paradigmas neoliberais na gestão estatal pelo país, e da influência da iniciativa privada atuante nessa seara, no contexto formado a partir da recepção de megaeventos durante a década de 2010, revelava uma institucionalidade disposta até mesmo a rasgar termos de seu próprio ordenamento legal, em favor do atendimento de tais interesses de mercado envolvidos na questão.

Destacava-se na notícia acima ainda a informação de que, de maneira independente dos desdobramentos da questão na esfera jurídica, a Frente convocava a população para a realização do Primeiro Ato Contra o Aumento. Em larga medida, é possível situar essa decisão desse sujeito coletivo como um reflexo de um sentimento relativamente generalizado entre seus integrantes diante da via institucional, anteriormente mencionado: a decisão jurídica de momento, e a própria postura da Prefeitura em conceder e defender o reajuste nessa instância reforçava tal impressão. De certo modo, conforme coloca Valério Carna, a situação ali existente legitimava diretamente a convocação de expressões públicas de protesto nesse contexto:

Um aumento bizarro, absurdo: só uma Prefeitura que compactuava totalmente com a questão do lucro das empresas poderia fazer. Dentro da minha militância, já tive uma experiência de parte institucional: realmente, chega uma hora que fica na mão dum juiz, e os juízes tão atrelados a uma classe, a um tipo de poder, a um tipo de interesse - o judiciário hoje defende isso. Eu vi caso de deixar claro que a empresa não estava apresentando os custos corretamente, que a coisa não estava andando do jeito que tinha de andar em vários aspectos do contrato, e o juiz passava por cima de tudo pra garantir o aumento, pra garantir o efeito de uma auditoria fraudulenta, digamos assim. A via institucional termina aonde o status quo chega:

190 enquanto os poderosos quiserem que o transporte público seja uma fonte de poder, e de dinheiro, isso nunca vai deixar de ser por eles.

Então, o resto é o tensionamento. Acho que combina muito essa estratégia de fechar a via, de catracaço - as duas principais que adotávamos. [...] É uma coisa que mobiliza na luta pelo transporte: as pessoas passam muita raiva dentro dele. É por isso que eu acho que é ato de rua que você dá uma extravasada ali: tendo música que a galera pode cantar, e dançar, se opondo ao poder ali, tem a ver com isso. E se não fechar a rua, o jornal não dá, não aparece: tem que fazer alguma coisa pra chamar a atenção da grande imprensa, ou de alguma imprensa. A imprensa também está no mesmo lugar onde estão os juízes: do lado de quem tem o interesse ali que não é o mesmo da população.

O panorama traçado por Carna ilumina uma leitura perpassada pela contradição entre a dimensão simbólica de defesa dos interesses públicos da institucionalidade, e sua atuação prática, no cenário dado pelo aumento: tal atitude devia-se a sua inclinação em favor do prisma mercantil que justificava a medida, mesmo diante de seus impactos perante os habitantes da cidade. No cenário formado pela decisão judicial momentânea em favor da Prefeitura, tal contradição apontaria não só o limite da via institucional, como igualmente justificaria a realização da disputa por outras vias: a ida às ruas era também uma forma de disputar simbolicamente com a institucionalidade a própria legitimidade de representação efetiva dos interesses públicos da população. Em sua fala, este sentido de disputa simbólica se articula diretamente com o fator da visibilidade midiática, enquanto um dos objetivos dos protestos de rua: associava ao uso dessa tática de luta uma forma de assegurar sua pertinência e permanência enquanto debate público, naquele contexto. Nesse último aspecto de visibilidade, também se pode considerar que sua importância se revestia de contornos ainda mais amplos, considerando que a campanha se deu em um cenário de profundo refluxo dos embates travados em favor da mobilidade urbana, tal qual o existente no país, posteriormente a junho de 2013: a disseminação de narrativas midiáticas pejorativas perante tais protestos desde então era entrevista por um prisma distinto, que abarcava também a necessidade de disputar simbolicamente o imaginário disseminado na opinião pública acerca da legitimidade de sua demanda e de suas formas contestatórias de atuação (CAVA, 2016).

Seu relato também destaca dimensões específicas do uso tático dos atos de rua na campanha da Frente, tendo por finalidade instaurar desvios insurgentes diante de suas funções predominantes: tais protestos tinham por eixo um propósito catártico decorrente de sua carnavalização, visando potencializar e amplificar a intensidade da pressão popular e de suas expressões de indignação diante do aumento. Nas circunstâncias da cidade no primeiro semestre de 2015, a utilização dos atos de rua, a

191 partir desse prisma catártico, também ganhava um último contorno: desafiava qualquer tutela institucional que se interpusesse ao seu transcorrer, se contrapondo diretamente às restrições impostas à expressão pública de indignação popular em perspectivas similares ás que ocorreram em 2013, que se disseminaram no país a partir do contexto estabelecido pela Copa de 2014. Nesse último ângulo, também é possível dizer que esta perspectiva catártica se articula diretamente com as ponderações de Manuela Alvarenga (ALVARENGA, 2016), quando esta autora vislumbra nas Jornadas de Junho de 2013

uma tentativa deliberada de subverter as funções impostas às formas da cidade, houve também apropriação desinteressada, sem intencionalidade ou qualquer reflexão política mais elaborada. A rua como espaço da festa pela festa, do encontro e da possibilidade de se expor (atitude mais facilmente identificada por meio das fotos e frases ―postadas‖ nas diversas redes sociais por parte de muitos manifestantes). Esta atitude denota uma necessidade de se inscrever, de fazer parte de alguma coisa coletiva. Neste sentido, as revoltas agem como uma espécie de ―catarse‖, uma válvula de escape para o desconforto e o tédio cotidianos, como já apontamos. Claro que há também a construção da festa como ação política deliberada. A ideia seria a de responder à sociedade do espetáculo e do tédio com um ―contraespetáculo‖, a performance aparece aqui como tática. A tática se imiscui na fruição (ALVARENGA, 2016, p.60).

As considerações de Alvarenga são particularmente pertinentes para a caracterização dos aspectos de expressividade dos atos de rua conduzidos pela Frente, em seu prisma de carnavalização: a incorporação desse aspecto lúdico à dinâmica destas ações cumpria também uma função de auxiliar na contraposição aos ordenamentos predominantes de tais territórios no cotidiano da cidade, intrínseca aos

desvios insurgentes enquanto forma contestatória. Nesse sentido, reforçavam um

contraste entre o aspecto extraordinário de uso próprio aos desvios, perante as utilizações cotidianas predominantes nestes territórios: delineavam que esta ambiência, pautada na relação de alteração efêmera de funcionalidades socialmente atribuídas às vias públicas na qual transcorreram esses atos, se situava explícita e ativamente como propósito almejado por seus participantes como imagem pública a ser disseminada pelos mesmos, em sua contraposição perante imaginários depreciativos posteriormente tornados predominantes sobre esse tipo de protesto.

Para possibilitar essa ambiência, enquanto insurgências do uso, estes atos de rua incorporavam igualmente uma dimensão atinente ao fechamento efêmero de vias da cidade, como forma de ocupação contestatória: tal fator atuava em contraposição direta à sua funcionalidade predominante de circulação no cotidiano. Nesse sentido, buscava-

192 se conjugar a polissemia expressiva, e a interposição do extraordinário na forma como eram ocupadas, decorrentes do aspecto de carnavalização almejado em suas passeatas, com um elemento diretamente atinente ao conteúdo daquilo que era contestado – ou seja, a estruturação da mobilidade e dos transportes públicos da capital mineira.

Tal especificidade, no caso, detinha relações diretas com um arcabouço singular de significados, atrelado à utilização de atos de rua de protesto por parte da militância atuante nesses temas, no país, desde a década de 2000 (HARVEY et. al., 2013; VINÍCIUS, 2014). Importa perceber, portanto, como assevera Paulo Arantes (ARANTES, 2014) que tais atos de rua tendem a incorporar um aspecto expressivo transgressor, atinente à própria finalidade de contestação da estruturação cotidiana da mobilidade citadina:

Principiamos por uma astúcia clássica – mas agora, a da razão insurgente –, o bloqueio que se volta contra si mesmo para obter o efeito oposto, a imobilização como antecâmara disruptiva da livre circulação, posta no entanto em movimento pelo choque direto, pelo confronto sem mediações, processo ao longo do qual ―as pessoas assumem coletivamente as rédeas da organização de seu próprio cotidiano‖, para então ultrapassar um limiar inédito, o da ―verdadeira gestão popular‖, no caso, da política tarifária (ARANTES, 2014, p.281).

Da definição de Arantes, importa ressaltar que, para além de sua dimensão formal de passeata, também é de suma importância a essas coletividades que um ato de rua provoque uma ruptura momentânea nos próprios fluxos circulatórios da cidade. Subvertendo momentânea e intencionalmente o predomínio da circulação motorizada individual em tais espaços, almejava-se, portanto, iluminar precisamente a estruturação contraditória da cidade quanto a seus fluxos de circulação, e as desigualdades a seu acesso que acarretam no cotidiano.

Nesse último caso, o que se punha em evidência nesse tipo de ocupação contestatória se encontra na abrangência das restrições de acesso à cidade, quando se relaciona tal predomínio com as estruturas correlatas de sistemas públicos de transportes. Além do fator das tarifas atuarem como elemento impeditivo de deslocamento por sua dimensão mercantil, o privilégio concedido à mobilidade individual pela institucionalidade igualmente acarretava na precarização do funcionamento desses sistemas: trazia consigo, dentre outros fatores, um aumento significativo da quantidade de tempo diariamente despendido de deslocamento no uso desse serviço, precisamente em virtude da lentidão causada no trânsito pelo excesso de

193 veículos trafegando (HARVEY, et. al., 2013). Diante desse cenário, a partir de seu revestimento por um prisma de insurgência do uso como forma de se relacionar com vias públicas, um ato de rua atinente a este tema revelava não só essa estruturação, e suas consequências diretas para o cotidiano da cidade: também incitava o debate sobre outras formas potenciais de reelaborar, em sentido democrático, a funcionalidade circulatória desses espaços, de modo a potencializar formas coletivas de deslocamento por seus territórios.

Dessa maneira, pode-se dizer que, num plano geral, na relação contestatória de

desvio insurgente da estruturação predominante dessa funcionalidade, o fechamento de

vias nos atos de rua da Frente, nesta fase de sua campanha, pode ser enquadrado como forma intencional e momentânea de confrontação, pautada pela interrupção dos fluxos circulatórios da cidade. Aspectos fundamentais que perpassaram seus atos de rua, tais

interrupções visavam tanto denunciar os efeitos práticos potenciais dessa estrutura

predominante de, no limite, paralisar os fluxos circulatórios da capital mineira, quanto de incitar sua reformulação, a partir da valorização da possibilidade de democratização do acesso à cidade, oriundo de um reordenamento em favor do serviço de transportes públicos como meio principal de deslocamento. Ao mesmo tempo, considerando as motivações de tais interrupções provocadas por esse sujeito coletivo naquele momento – ou seja, contestar o reajuste de tarifas -, tratava-se de uma forma de demonstrar os impactos dessa medida, em específico, sobre a mobilidade local: atuava como fator a mais de estímulo seja aos deslocamentos individualizados, seja de ampliação dos setores da população local excluídos do acesso à cidade mediante o serviço de ônibus em virtude da ausência de condições de arcarem com o aumento, o que reforçava a desigualdade estrutural existente na capital mineira nesse tema.

Em larga medida, tal conjunto de sentidos, apontando para o caráter fundamental de interrupção dos desvios insurgentes naquele momento da campanha, parece ter tido influência direta na própria escolha do local onde se realizou o Primeiro Ato Contra o Aumento. De acordo com as recordações de Virginia Woolfe, tal escolha tinha por objetivo preciso dotar esse Ato da maior intensidade possível de interrupção:

Fazer um ato de rua nesse contexto é importante, sobretudo pela visibilidade: é muito difícil de ignorar uma enorme multidão que trava as avenidas centrais da cidade. [...] Escolhemos a Praça Sete porque ela tem toda uma história de concentração: desde muito antes de nascermos esse lugar vem reunindo gente pra fins políticos. É uma das vias centrais do Centro da cidade, onde cruza a Avenida Amazonas com Afonso Pena, que são duas avenidas

194 movimentadíssimas e enormes: tanto a Afonso Pena, que vai até a Zona Sul, até o Mangabeiras80, e a Amazonas, que vai até Contagem.

Então o potencial destrutivo do trânsito, duma manifestação que acontece nesse cruzamento, é muito grande: é muito importante causar o desconforto, porque raramente as pessoas, que tão envolvidas na sua própria individualidade o tempo todo, e que têm pouco hábito de olhar pra questões políticas e sociais, vão parar pra pensar sobre uma demanda política, se aquilo não atingir diretamente de alguma forma. Travar o trânsito é principalmente importante pra movimentos que lidam com mobilidade urbana porque tem toda uma dimensão simbólica da coisa: você tá interrompendo aquilo que quer de fato que seja interrompido. É aquilo que você quer mudar: tá criando uma situação política em torno exatamente do seu tópico de militância.

Do que coloca Woolfe, a dimensão de interrupção almejada nesse Ato se conjugava, primeiramente, com o simbolismo político da Praça Sete de Setembro para a cidade: seu espaço historicamente serviu como aglutinador de manifestações públicas, das mais variadas matizes políticas, particularmente na história recente de Belo Horizonte81. Outro fator de igual relevância para os propósitos de interrupção se encontrava em sua própria importância para a dinâmica de circulação viária cotidiana da capital mineira: o bloqueio dos fluxos das avenidas que cruzam a Praça tinha o potencial de interromper a circulação não somente no Centro de Belo Horizonte, como igualmente de vias que o interligavam a outras regiões da cidade, particularmente em direção às zonas sul, norte e oeste.

80 Trata-se do bairro de Mangabeiras, situado na região Centro-Sul de Belo Horizonte. A Avenida Afonso