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AGRICULTURA E PROPRIEDADE INTELECTUAL

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA SOBRE AGRICULTURA NO BRASIL

2. AGRICULTURA E PROPRIEDADE INTELECTUAL

O agronegócio do Brasil apresenta crescimento nos resultados satis- fatórios na balança comercial, contribuindo tanto para o desenvolvimento do setor industrial por meio da demanda de bens de capital e de insumos, quanto para a economia nacional. Além disso, a importância do setor agrí- cola também é evidenciada na geração de empregos, no desenvolvimento de novas tecnologias, na geração de capital excedente e na produção de alimentos. Estas alterações afetaram diretamente as concepções existen- tes sobre propriedade intelectual (BRANCO; VIEIRA, 2010).

Sob estas novas condições, a propriedade intelectual passou a de- sempenhar um papel essencial, haja vista que está associada ao progres- so tecnológico e a capacidade de criação, inovação e empreendedorismo das organizações (BRANCO; VIEIRA, 2010). Do mesmo modo, propicia que agentes se articulem e utilizem conhecimentos de diferentes atores eco- nômicos (CARVALHO; SALLES FILHO; PAULINO, 2009).

Destaca-se que propriedade intelectual abrange um conjunto de ati- vidades relacionadas às invenções, que podem ser protegidas por paten- tes, desenho industrial, marcas, indicações geográficas, modelos de utili- dade e designação de origem (CARVALHO; SALLES FILHO; PAULINO, 2009). Por isso, tornou-se um importante mecanismo para organização e gestão do conhecimento e da inovação agrícola.

Todavia, a apropriação privada de resultados de pesquisa e desenvol- vimento na agricultura é dificultada pela própria natureza da atividade, que promove o vazamento de novos conhecimentos, bem como pelo fato de ser praticada por um número expressivo de unidades econômicas, a captação dos benefícios advindos de uma atividade inativa torna-se extre- mamente complexa (BIFANI, 1992). Contudo, devido a criação de patentes estar associada diretamente ao desenvolvimento tecnológico de organi-

zações e consequentemente de setores econômicos, adquire relevante papel nas sociedades contemporâneas (BRANCO; VIEIRA, 2010).

Além disso, tais documentos são considerados fontes valiosas que contém informações técnicas e comerciais sobre novas tecnologias, de- monstrando gaps que representam oportunidades de novos desenvolvi- mentos (FRANÇA; BARROSO; POLITANO, 2014). Nesse sentido, Vieira Fi- lho e Vieira (2013) ressaltam a importância de desenvolver e proteger as pesquisas e inovações do setor agrícola, evidenciando que o País possui posição privilegiada e diversidade ambiental, que se exploradas de forma adequadas, podem garantir vantagem competitiva em relação aos con- correntes.

3. METODOLOGIA

A pesquisa realizada caracteriza-se como quantitativa em relação à sua abordagem e descritiva no que se refere à sua finalidade. A metodolo- gia de pesquisa empregada consistiu na determinação de critérios, orien- tações e estratégias de busca sobre os pedidos de patentes depositados no Brasil. Primeiramente, foi definida para a busca a base de dados na- cional do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Em seguida, determinou-se o termo a ser utilizado, pesquisando “agricultura” como palavra-chave no classificador IPC.

Mediante os resultados obtidos, seguiu-se a tabulação em planilha eletrônica, onde foram classificadas e organizadas as seguintes informa- ções: ano do depósito das patentes, tipos de depositantes, patentes por classificação de IPC, bem como, verificou-se o país de origem da tecnolo- gia, através de informações de origem do depositante ou titular da paten- te e também o tipo de depositante (Instituição de Pesquisa ou Inventor Independente). Os dados obtidos foram analisados por meio de análise de frequência simples.

4. RESULTADOS

Com a utilização da palavra chave “agricultura” no classificador IPC na base de dados do (INPI), obteve-se um total de 73 depósitos de pedido de patentes. Assim, analisando a distribuição temporal de tais depósitos, pode-se verificar que a primeira patente identificada foi depositada em 1997, sendo este o ano em que houve maior submissões, com um total de

23 pedidos. Sobre este ano, vale destacar que tais publicações tratavam do mesmo assunto, sendo 15 pedidos de patentes cuja descrição relacio- nava-se à tela vegetal para proteção do solo e 8 que diziam respeito à tela biotextil para a proteção do solo. Em seguida, o ano de 2012 apresentou 12 pedidos de patentes. Conforme verifica-se na Tabela 1.

Tabela 1. Evolução anual dos pedidos de depósitos de patentes sobre agricultura

Ano Número de patentes

1997 23 1998 1 2003 1 2005 1 2006 1 2007 4 2008 2 2010 3 2011 8 2012 12 2013 5 2014 7 2015 3 2016 2

Fonte: Elaborado pelos autores.

Assim, analisando a evolução temporal por faixas de ano, pode-se verificar que 16,6% das publicações encontram-se na primeira faixa, que compreende os anos de 1997 a 2001. Conseguinte, observa-se uma queda no número de pedidos de patentes, sendo que entre o período de 2002 a 2006, a porcentagem foi de 2.1%. Entretanto, a partir destes anos, houve

um crescimento constante, consistindo em 11,7% entre 2007 a 2011 e 20.0% entre os anos de 2012 a 2016, conforme descrito na Figura 1.

Estes resultados podem ser explicados pelo fato de que em 2004 houve a aprovação da Lei de Inovação, a qual estabelece medidas volta- das para o incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Tal lei objetiva a capacitação tecnológica ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo na- cional e regional do País (BRASIL, 2004).

Figura 1. Evolução temporal dos depósitos de patentes sobre agricultura

Fonte: Elaborado pelos autores.

Quando analisado os países nos quais se originou o pedido de paten- te, foi possível averiguar que estas são advindas de 7 diferentes países, tendo predomínio do Brasil (60%) e Estados Unidos (26%), conforme re- presentado na Figura 2.

Figura 2. Distribuição de pedidos de depósitos de patentes sobre agricultura por país.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Nesse contexto, considerando a produção por estado brasileiro, ob- servou-se que 8 detém a maioria dos pedidos de patentes no INPI (Figura 3), sendo que o Estado de Minas Gerais possui maior número de patentes depositadas (25), seguido por São Paulo (11).

Figura 3. Distribuição de pedidos de depósitos de patentes sobre agricultura por estado brasileiro

Fonte: Elaborado pelos autores.

Em relação ao tipo de depositante, os dados demonstraram que a maioria dos pedidos estão divididos entre inventores independentes e empresas, correspondendo a 35 e 34 pedidos respectivamente, conforme revela a Figura 4.

Figura 4. Distribuição de pedidos de depósitos de patentes sobre agricultura por tipo de depo-

sitante

Fonte: Elaborado pelos autores.

Posteriormente, seguiu-se à análise da Classificação Internacional de Patentes, com o intuito de expor os principais conteúdos das paten- tes estudadas. Esta classificação foi criada em 1975, através do Acordo de Estrasburgo que estabelece uma classificação comum para patentes de invenção. Para tanto, os símbolos de classificação são divididos em Seção (A - H), classes (número composto por dois algarismos), subclasses (letra

maiúscula), grupos principais (números) e grupos (números). Assim, de acordo com a seção, as patentes apresentam a seguinte classificação: A - Necessidades Humanas; B - Operações de Processamento; Transporte; C - Química e Metalurgia; D - Têxteis e Papel; E - Construções Fixas; F - Enge- nharia Mecânica; Iluminação; Aquecimento; Armas; Explosão; G – Física, e; H - Eletricidade (INPI, 2014; PRIESNITZ, et al., 2015).

Destacando que uma patente pode estar classificada em mais de uma sessão, verificou-se que a maioria delas (34,9%) possuíam classificação na sessão G, que de acordo com a classificação internacional, refere-se à Física, ou seja, indica que:

“variável” (como um substantivo) significa uma característica ou propriedade (p. ex. uma dimensão, uma condição física tal como temperatura, uma qualidade tal como densidade ou cor) que, em relação a uma determinada entidade (p. ex. um objeto, a quanti- dade de uma substância, um raio de luz) e a um momento dado, é capaz de se medida; a variável pode variar, de modo que sua expressão numérica pode assumir diferentes valores em ocasiões diferentes, em condições diferentes ou em casos individuais, po- rém se manter constante em relação a uma determinada entidade, em determinadas condições, ou para finalidades práticas (p. ex. o comprimento de uma barra pode ser considerado como uma cons- tante para vários fins) (INPI, 2017)

Contudo, houve uma porcentagem elevada de classificação dos pedi- dos de patentes também na sessão C, a qual está relacionada à Química e Metalurgia, a qual abrange:

- química pura, a qual abrange compostos inorgânicos, compostos orgânicos, compostos macromoleculares e seus métodos de pre- paração; - química aplicada, que abrange composições que contêm os compostos acima mencionados, tais como: vidro, cerâmicas, adubos, composições de matérias plásticas, tintas, produtos da in- dústria de petróleo. Abrange também certas composições desde que possuam propriedades especiais que as tornem adequadas a determinados fins, como é o caso dos explosivos, corantes, ade- sivos, lubrificantes e detergentes; - certas indústrias laterais, tais como a manufatura de coque e de combustíveis sólidos ou gaso- sos, a produção e a refinação de óleos, gorduras, e ceras, a indús- tria de fermentação (p. ex. fabricação de cerveja e vinho), a indús- tria do açúcar; - certas operações ou tratamentos, quer puramente

mecânicos, p. ex. o tratamento mecânico de couros e peles, quer parcialmente mecânicos, p. ex. o tratamento da água, ou a preven- ção da corrosão em geral; - metalurgia, ligas ferrosas ou não-ferro- sas (INPI, 2017)

Seguiu-se as classificações na sessão A com 15,8%, que refere-se às necessidades humanas, envolvendo pedidos sobre agricultura, produtos alimentícios e tabaco, artigos pessoais ou domésticos, saúde, salvamento e recreação (INPI, 2017). As classificações nas sessões B e H corresponde- ram a 3,9% e 3,3% dos pedidos, respectivamente.

Analisando as patentes por subseções, pode-se verificar que há va- riabilidade quanto às subclasses utilizadas, sendo que a maioria está clas- sificada em C09 e G06, representando 27,86% dos pedidos para ambas classificações. Seguida pelas patentes classificadas em A01 (14,29%), G01 (6,43%), C05 (5,71%), H04 (3,57%), G05 (2,86%), B05, B64, C01, C12 com 1,43%, e o restante A22 , A41, A47, A61, B09, B27, C10, G08 com 0,71%, conforme demonstra a Figura 5.

Figura 5. Classificação Internacional de Patentes - Subseções

Fonte: Elaborado pelos autores.

As descrições das subclasses que apresentaram maior repetição na análise estão expostas na Figura 6.

Figura 6. Subclasses e descrições Subclasse Descrição

C09 Corantes; tintas; polidores; resinas naturais; adesivos; composições não abrangi-dos em outros locais G06 Cômputo, cálculo e contagem

A01 Agricultura; silvicultura; pecuária; caça; captura em armadilhas; pesca

G01 Medição; teste

C05 Fertilizantes; sua fabricação

H04 Técnica de comunicação elétrica

G05 Controle; regulagem

B05 Pulverização ou atomização em geral; aplicação de líquidos ou de outros materiais fluentes a superfícies em geral B64 Aeronaves; aviação; cosmonáutica

C01 Química inorgânica

C12 Bioquímica; cerveja; álcool; vinho; vinagre; microbiologia; enzimologia; engenha-ria genética ou de mutação A22 Matança de animais; beneficiamento da carne; processamento de aves domésti-cas ou peixes

A41 Vestuário

A47 Móveis; artigos ou aparelhos domésticos; moinhos de café; moinhos de especia-ria; aspiradores em geral A61 Ciência médica ou veterinária; higiene

B09 Eliminação de resíduos sólidos; recuperação de solo contaminado

B27 Trabalho ou conservação da madeira ou de materiais similares; máquinas para pregar pregos ou para grampear em geral C10 Indústrias do petróleo, do gás ou do coque; gases técnicos contendo monóxido de carbono; combustíveis; lubrificantes; turfa G08 Sinalização

Fonte: Elaborado pelos autores.

5. CONCLUSÕES

O presente trabalho apresentou uma análise do desenvolvimento tecnológico voltado à agricultura a partir de pedidos de patentes depo- sitados no INPI. A investigação realizada permitiu identificar que a pro- dução tecnológica sobre a agricultura tem apresentado um crescimento constante na última década. Sendo que o Brasil se destacada no quesito depósito de patentes solicitadas ao INPI, onde Minas Gerais é o Estado que apresenta maior contribuição para esse resultado.

Apesar disso, pode-se considerar que o número de pedidos identifi- cados ainda é escasso, o que torna necessária ações direcionadas para o

setor agrícola que estimulem a proteção de seus produtos tecnológicos, os quais são gerados tanto por inventores independentes quanto por empresas e instituições. Desse modo, verifica-se a imprescindibilidade da criação de patentes sobretudo na agricultura, setor extremamente representativo para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, como forma de angariar vantagem competitiva superior em relação aos con- correntes.

Reconhecem-se as limitações da pesquisa realizada quanto sua abor- dagem quantitativa, de modo que, como sugestões de investigações fu- turas, recomenda-se integrar variáveis socioeconômicas e motivacionais, por meio da verificação da percepção dos agricultores quanto à criação de patentes e ainda do acompanhamento empírico do processo de criação e depósito de patentes agrícolas mediante entrevistas com os indivíduos que já realizaram tal processo.

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