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DESENVOLVIMENTO 1 Transferência de Tecnologia

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONTRATOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA NO BRASIL: UMA

2. DESENVOLVIMENTO 1 Transferência de Tecnologia

Tecnologia é um termo que pode ter distintas definições. Em uma concepção ampla pode-se definir tecnologia como “o conjunto de conhe- cimentos científicos cuja adequada utilização pode ser fonte de utilidade ou benefício para a humanidade” (ASSAFIM, p. 13).

Já Pimentel (2005) entende que tecnologia refere-se à aplicação do conhecimento científico no meio técnico para obtenção de um novo pro- duto, processo industrial, ou serviços. Ou seja, a tecnologia é um dos fato- res empresariais que está inserida nos direitos da propriedade intelectual. De forma mais restrita, a tecnologia pode ser definida como “um conjunto de conhecimentos aplicáveis na atividade produtiva (CORRÊA, 2005, p. 31).

Desse modo, verifica-se que o termo “tecnologia” pode possuir diver- sas definições que vão se alterando como passar do tempo. No entanto,

constata-se uma demanda crescente das empresas e da própria sociedade por novos conhecimentos produzidos nas Universidades e Centros de Pes- quisas, no anseio que tais pesquisas possam apresentar soluções para os problemas existentes.

Aprofunda-se dessa maneira, a necessidade de cooperação e envol- vimento dos diversos atores sociais para que se tenha acesso às novas tecnologias. Já que a partir, desse envolvimento torna-se possível a rea- lização de negociações e acordos visando o beneficiamento de todos os agentes envolvidos no processo de transferência de tecnologia.

Nesse sentido, verifica-se que a transferência de tecnologia depende de uma compatibilidade de vontades, ou seja, de um lado o interesse em obter a tecnologia, e do outro lado a disponibilidade do detentor da tec- nologia em fornecê-la (MÜLLER, 2002).

A transferência de tecnologia implica na transmissão ou no inter- câmbio entre dois ou mais sujeitos. Para Corrêa (2005), a transferência de tecnologia “é um negócio jurídico pelo qual uma das partes obriga-se a transmitir conhecimentos aplicáveis a um processo produtivo, sendo re- munerado por essa transferência”.

Assim, a tecnologia pode ser comparada a uma mercadoria passível de comercialização. Logo, a transferência de tecnologia pode ser considerada um processo de comercialização, no qual, o objeto é um fator intangível.

Nesse contexto, percebe-se que na transferência de tecnologia o que vai imperar é a vontade das partes que deverá ser expressa em um contrato que irá regulamentar como vai ocorrer todo o processo de trasnferência. Cabe ainda mencionar, que este instrumento jurídico deve ser formalizado em conformidade com o marco legal existente, relacionado a propridedade intelectual, desde a Lei Federal de Inova- ção até as leis estaduais, além de atender a própria Política de Proprie- dade Intelectial de cada Instituição Científica, Tecnológica e de Inova- ção (ICT) (TAVARES, 2011).

2.2 A importância da Lei de Inovação

Conforme já foi ressaltado, a propriedade intelectual se tornou um dos principais fatores para o desenvolvimento econômico. Cabendo então ao Estado promover uma política para a promoção da inovação, com o objetivo de incentivar o progresso nacional, conforme prevê o artigo 219 da Constituição Federal do Brasil de 1988.

Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e só- cio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnoló- gica do País, nos termos de lei federal.

Parágrafo único. O Estado estimulará a formação e o fortalecimen- to da inovação nas empresas, bem como nos demais entes, públi- cos ou privados, a constituição e a manutenção de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes promotores da inovação, a atuação dos inventores independentes e a criação, absorção, difu- são e transferência de tecnologia.

Nesse contexto, em dezembro de 2004 entra em vigor no Brasil a Lei de Inovação com o condão de ser um novo instrumento de fomento à inovação e à pesquisa cinetífica e tecnológica, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica do país.

A Lei de Inovação Tecnológica nº 10.973/2004, pode ser cindida em três eixos: (1) a construção de um ambiente propício a parcerias estratégicas entre universidades, institutos tecnológicos e empresas; (2) estímulo a participação de instituições de ciência e tecnologia no processo de inovação; e (3) o incen- tivo à inovação nas empresas (PEREIRA; KRUGLIANSKAS, 2005).

Vale descatar que o Capítulo III da referida Lei busca estimular a parti- cipação das entidades públicas de pesquisa no processo de inovação, mas também define normas que permitam a transferência e o licenciamento de tecnologias desenvolvidas no país para o setor produtivo nacional e internacional.

Desse modo, nota-se que a efetividade da lei contribui de forma de- terminante para o bom desempennho do Balanço de Pagamento Tecnoló- gico, no qual, são considerados os fluxos de ingressos e saídas de recursos relativos aos contratos que envolvem operações de transferência de tec- nologia, entre o país e o exterior.

Com o intuito tabém de potencializar lei de inovação, o governo fe- deral criou a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), ao referido órgão tem como objetivo executar e acompanhar ações estraté- gicas de política industrial, tecnológica e de comércio exterior do governo, fomentando dessa forma à competitividade do setor produtivo.

Outro ponto relevante da Lei de Inovação, diz respeito a proteção do conhecimento, já que determina que cada ICT, constitua Núcleos de Inovação (NITs), próprios ou em associação com outras ICTs. Tais núcleos, propocionam uma maior disseminação da inovação em suas

regiões, facilitando dessa maneira a transferência de tecnológia para o setor produtivo.

Dessa forma, os NITs se comportam como um agente de transferên- cia de tecnologia, realizando estudos de propecção tecnológica com o in- tuito de compreender melhor o mercado, de modo a garantir a correta transferência (LOTUFO, 2009).

Dentre os diversos objetivos, a Lei de Inovação busca: a pesquisa tec- nológica e a inovação; a cooperação entre os agentes de inovação; facilitar a transferência de tecnologia; aperfeiçoar a gestão das instituições aca- dêmicas; estimular os pesquisadores, e etc… (BARBOSA, 2006). Tornando dessa maneira a Lei de Inovação um marco importantíssimo para estimu- lar a competitividade do país.

2.3 Averbação e Registro dos contratos no INPI

A Lei de Inovação, busca facilitar a celebração de contratos de trans- ferência e licencimento de tecnologia, ficando o Instituto Nacional de Propridedade Insdustrial – INPI, responsável pela averbação ou registro desse contratos, conforme estabelece o artigo 211 da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996 que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial (SILVA; GAIA; ZOCCHE, 2015)

Art. 211. O INPI fará o registro dos contratos que impliquem trans- ferência de tecnologia, contratos de franquia e similares para pro- duzirem efeitos em relação a terceiros.

Parágrafo único. A decisão relativa aos pedidos de registro de con- tratos de que trata este artigo será proferida no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data do pedido de registro.

Os contratos de licencimento ou de transferência de tecnologia po- dem ser definidos como

acordos de transferência de conhecimentos técnicos associados a determinado know-how, celebrado entre um agente detentor do conhecimento e um agente interessado na sua utilização, em regra para fins industriais” (ANTUNES, MANSON, 1993, p. 41).

Segundo Ferraro e Conselvan (2009) contratos podem ter como objeto o conhecimento protegido pela propriedade intelectual, como marcas, paten-

tes, direitos outorais , direitos sobre programas de computador, entre outros. Os contratos referentes ao licenciamento de direitos são: Exploração de Patente (EP), Exploração de Desenho Industrial (EDI), e Uso de Marca (UM). Estes contratos têm como objeto o conhecimento explícito oriundo de diversas pesquisas de projetos já executados, esse conhecimento poderá ser cedido através de um contrato de cessão (há transferência de titularida- de) ou um contrato de licenciamento (não há transferência de titularidade). Os contratos referentes à aquisição de conhecimentos são: Forneci- mento de Tecnologia (FT), esse tipo de contrato objetiva a aquisição de conhecimentos e de técnicas não amparados por direitos de propriedade industrial, destinados à produção de bens industriais ou serviços, tendo como perfil do objeto, conhecimento codificado na forma de relatórios, manuais, desenhos e afins. Já os contrato e/ou faturas de Prestação de Serviços de Assistência e Técnica e Científica (SAT), estipulam as condições de obtenção de serviços referentes às técnicas, métodos de planejamen- to e programação, bem como pesquisas, estudos e projetos destinados à execução ou prestação de serviços especializados, tendo como perfil do objeto, conhecimento não codificado, de natureza humana (INPI, 2011).

No entanto todos esses contratos precisam ser submetidos a um pro- cedimento administrativo chamado averbação/registro. Neste ponto vale destacar que averbação e registro são coisas distintas.

A averbação, refere-se a contratos preexistentes, ou seja, já se tem um título no INPI, já o registro trata-se de um novo título, ou seja, não existia nenhum contrato anerior no INPI. Essa diferenciação está prevista nos artigos 62, 140 e 211 da LPI.

Conforme prevê os dispositivos jurídicos abaixo, a averbação dos contratos perante o INPI dá eficácia absoluta aos contratos, tornando-o oponível a terceiros

Art. 62. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros.

§ 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação.

§ 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI.

Art. 140. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros.

§ 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação.

§ 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI.

Segundo (MÜLLER, 2002), o contrato de transferência de tecnologia produzirá efeitos em face de terceiros, a partir da averbação ou regitro na Revista de Proprideda Intelectual do INPI, em regra o instituto pu- blica as averbações ou registros em até 1 (um) mês após a emissão do certificado.

A averbação ou registro também são necessários para que se possa realizar a compensação financeira pactuada no contrato entre as partes, já que sem o referido prodecimento administrativo a Banco Central do Brasil (BACEN), não autoriza o pagamento.

Dessa forma, um importante efeito da averbação ou registro do con- trato de transferência de tecnologia é a autorização de remeter as impor- tâncias em moeda estrangeira, previstas no contrato. Esse fluxo de paga- mentos é registrado no Balanço de Pagamento Tecnológico do país que só terá um bom desempenho se além de adquirir, o país também exportar tecnologia propociando dessa maneira certo equilíbrio.

3. RESULTADOS

A partir dos dados divulgados pelo BACEN e pelo INPI, é possíve ve- rificar, conforme mostra a Figura 01, que às remessas para o exterior por transferência de tecnologia e o número de contratos averbados pelo INPI, que se por um lado houve um aumento bastante significativo do valor das remessas enviadas para o exterior, especialmente a partir de 2006, por outro lado, houve uma relativa estabilidade do número total de contratos averbados desde de 2002.

De fato, verifica-se um razoável decrescímo entre 2006 e 2010 e uma recuperação em 2011.

Entretanto, é possível verificar na Figura 2 que a relativa estabilida- de do número total de contratos averbados foi acompanhada por uma mudança significativa nas participaçõs relativas das distintas categorias contratuais. Dessa forma, os contratos de assistência técnica permancem em um crescente, declinavam de forma significativa as particiações dos contratos para uso de marcas e de exploração de patentes. Já o número de contratos relativos ao fornecimento de tecnologia permaneceu relati- vamente estável.

Figura 1. Evolução das remessas ao exterior por transferência de tecnologia e do número de

contratos de averbação no Brasil, 2002 – 2012.

Elaboração própria

Fonte: Bacen, a partir de dados fornecidos pelo INPI.

Figura 2. Distribuição percentual dos contratos de averbação, por categorias contratuais, 2000

- 2012

Elaboração própria Fonte: INPI.

A Figura 3, apresenta as remessas, receitas e os respectivos saldos re- sultantes relativos às transferências de tecnologia, em dólares, para o perío- do de 2002 a 2015. O exame da evolução das remessas revela uma acentu- ada elevação dos valores que saltaram de US$ 1000 milhões, em 2002 para US$ 2.178 milhões, em 2015. Esse aumento de despesas não pode ser visto apenas como uma fator negativo, pois essa expansão pode significar que o país está esforçando para desenvolver o seu sistema industrial.

No entanto, com relação a receita resultante dos contratos de trans- ferência de tecnologia é instável ao longo dos anos.

Figura 3. Remessas, receitas e saldo por contratos de transferência de tecnologia (US$) – Brasil,

2002 – 2015.

Elaboração própria Fonte: INPI.

CONSIDERAÇÕES

É incontestável a importância que a inovação tecnológica ganhou a partir do século XXI para o desenvolvimento econômico dos países, já que o processo inovativo das empresas, universidades de centros de pesqui- sa e desenvolvimento (P&D), torna-se cada vez mais acelerado, a fim de atender as demandas da sociedade em geral.

A transferência de tecnologia através da celebração de contratos é um passo importante para desenvolvimento tecnológico nacional. Sendo a Lei de Inovação um marco positivo para a consolidação e aperfeiçoa- mento da transferência de tecnologia no país, já que esse diploma legal incentiva a inovação e as pesquisas científicas.

No entanto, percebe-se que o país ainda tem muito a se desenvolver tendo em vista que no período de 2002 a 2015, o Brasil não apresentou superávit no Balanço de Pagamentos Tecnológico, demonstrando dessa forma as deficiências tecnológicas.

REFERÊNCIAS

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