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5.1 ETAPA 1: CONHECENDO OS CAMINHOS DA PESQUISA E OS

5.1.2 Resultados das questões específicas da categoria

5.1.2.3 Agrupamento 3 – Agregados reciclados

Quanto à qualidade de AR produzidos no Brasil, observou-se divergência entre os pesquisadores (Tabela 22). Prova disso é que 28,3% dos respondentes consideraram as propriedades dos AR similares ou inferiores àquelas apresentadas pelos AN. Em relação àqueles que assinalaram as propriedades inferiores, P 37 defende que: “Eu acho que eles têm propriedades inferiores por falta de homogeneização. É por falta, eu acredito até de desenvolvimento, de beneficiamento, para se obter um agregado com melhor qualidade”.

Tabela 22: Propriedades de AR produzidos no Brasil, segundo pesquisadores

Classificação das propriedades f %

Outra opinião 16 30,2

Propriedades inferiores 15 28,3

Propriedades similares 15 28,3

Não Respondeu 7 13,2

A grande utilização da alternativa outra opinião (30,2%), pode indicar que os pesquisadores possuem percepções diferentes sobre a qualidade dos AR, pois sugerem que suas propriedades variem em função dos seguintes condicionantes: (a) características da matéria-prima destinada à reciclagem (68,2%); (b) tipo de aplicação do material com AR (50%) e (c) características do processo de reciclagem (36,4%), como equipamentos e controle de qualidade (Tabela 23). Tabela 23: Outras percepções dos pesquisadores sobre propriedades dos AR, produzidos no Brasil

Condicionantes / f Percepções

Características da matéria-prima destinada à reciclagem (68,2%)

“As propriedades dependerão das características peculiares de cada resíduo” (P

31)

“A qualidade depende da fonte geradora e pode ser superior ou inferior aos agregados naturais” (P 26)

Tipo de aplicação do material com agregado reciclado (50%)

“Eles podem entrar como substitutos, mas deve ter o cuidado de controle de recebimento, qualificação e quantificação de propriedades e composição” (P 34) “O grande desafio é produzir a quantidade de substituição ótima em larga escala” (P 11)

Características do processo de reciclagem com relação aos equipamentos (36,4%)

“Se pensar em termos de forma geral, a qualidade ainda deixa a desejar, em termos de seleção, processamento” (P 36)

“A tendência crescente é de especialização na produção de agregados reciclados” (P 38)

Nesse contexto, somente P 08 e P 52 afirmaram não ser possível generalizar a qualidade dos AR: “Eu acho que depende da granulometria, da aplicação do material, a forma como ele é tratado, também, como ele é reciclado” (P 52). Entretanto, para P 38 modificações no processamento, como a utilização de correias transportadoras cobertas, podem colaborar para qualidade do produto, conforme o uso: “O papel que um agregado cumpre na pavimentação, e da mesma forma no concreto não estrutural, numa massa com solo ou numa massa cimentícia, é diferente do papel que o agregado reciclado desempenha” (P 38).

A falta de consenso entre os pesquisadores, observada na questão anterior, permaneceu em relação aos fatores que podem influenciar a qualidade e a variabilidade dos AR (Tabela 24), já que os fatores mais citados segregação por etapa (45,3%) e qualidade da matéria-prima (43,4%) apresentaram índices semelhantes.

Tabela 24: Fatores que podem influenciar a qualidade e a variabilidade de AR, segundo pesquisadores

Fatores apontados f %

Segregação do resíduo conforme a etapa da construção 24 45,3

Qualidade da matéria-prima 23 43,4

Tipo de processamento para reciclagem 13 24,5 Sistemas construtivos usados na obra 11 20,8

Composição dos resíduos 11 20,8

Contaminação dos resíduos 8 15,1

Falta de gerenciamento no canteiro de obras 6 11,3

Qualidade do agregado reciclado 6 11,3

Cuidados durante o transporte 5 9,4

Não respondeu 6 11,3

A segregação (45,3%) é importante para a qualidade dos RCC e dos AR, e por isso, “Deve ser realizada durante cada etapa construtiva, de modo que os diferentes tipos de resíduos não se misturem” (P 11). Em relação à matéria-prima (43,4%) “A qualidade da construção original indica a qualidade do reciclado e a técnica de gestão da desconstrução” (P 04).

Para transformar a situação atual, observada em parte dos canteiros de obras referente à “Mão de obra não informada e sem cultura da seleção” (P 15), incluindo “Falhas na segregação dos resíduos, em virtude do pouco treinamento da mão de obra” (P 26), constata-se que a segregação está associada também ao nível de capacitação da mão de obra.

Por sua vez, os problemas de processamento (24,5%) referem-se às características dos equipamentos e dos AR, respectivamente: “[...] vai desde os equipamentos de processamento, peneiramento, britagem, redução de dimensão, até a etapa de você fazer a seleção” (P 36) e “Deficiências no processo de cominuição e remoção de fíler em excesso” (P 20). Nesses processos, a adoção de sistemas de gestão da produção é fundamental, visto que: “O grande fator é a má gestão na instalação de manejo do resíduo” (P 38).

Somam-se a isso, percepções correlacionando a qualidade do AR ao tipo de matéria-prima e a reciclagem. Na visão de P 33: “A qualidade dos resíduos utilizados na reciclagem e a qualidade da operação do processo de reciclagem são os fatores mais diretamente envolvidos na qualidade dos agregados”. Conforme P 53 a “Variabilidade é difícil de controlar, mas a qualidade depende muito de como ele vai ser beneficiado”. Nesta questão, somente P 25 relaciona a qualidade dos AR e à variabilidade da exposição a intempéries dos RCC.

Diante desse contexto, 90,6% dos pesquisadores recomendam a avaliação periódica das propriedades dos AR nas usinas de reciclagem, tendo em vista as justificativas descritas na

Tabela 25. Isso é relevante, pois P 36 alerta para a contaminação e a toxicidade presente em alguns materiais de construção fabricados com AR: “Se no canteiro não tiver controle, você vai estar utilizando sem saber e isso vai ser transferido para os usuários”.

Tabela 25: Justificativas para avaliação periódica das propriedades de AR, segundo pesquisadores

Justificativas apontadas f %

Controle de qualidade 16 30,2

Controle do tipo do resíduo 10 18,9

Redução da variabilidade 9 17,0

Fornecimento de garantia de mercado 9 17,0

Confiabilidade do produto 8 15,1

Potencialidade do uso 8 15,1

Controle do teor de contaminantes 8 15,1 Exigência da normalização vigente 3 5,7 Características dos equipamentos de reciclagem 3 5,7

Não respondeu 5 9,4

O controle de qualidade é fundamental no processo produtivo (30,2%), uma vez que “Se isso for, realmente, produzido em grande escala, ele precisa ter uma confiabilidade de mercado” (P 40). O controle também se justifica para “Controlar os metais pesados e materiais orgânicos” (P 21), visto que “A presença de teor de contaminantes pode inviabilizar a utilização” (P 04). Entretanto, para P 10, os ensaios devem ser realizados “Não num primeiro momento, mas será útil para que o uso seja feito de forma racional, apropriada e segura”. No entanto, P 36 alerta sobre a comparação entre as propriedades dos agregados naturais e reciclados: “Você nunca deve querer que o RCD funcione exatamente como o agregado natural. Ele tem características de granulometria, de forma de agregado que são diferentes, que são inerentes ao processo dele”.

Dessa forma, o aumento do controle de qualidade é indispensável “Porque, devido à variabilidade das características do RCD, é importante controlar estes parâmetros a fim de prever seu efeito no material em que será inserido” (P 22). Para estabelecer uma rotina para avaliação das propriedades dos AR, P 36 sugere: “Deve-se fazer um piloto identificando qual é a variabilidade dos materiais de entrada. Segundo, identificando variáveis que sejam intervenientes no processo e checando o grau de influência”.

Por sua vez, o fornecimento de garantias ao mercado (17%) deve “Viabilizar a certificação do produto, produtor e do consumidor” (P 19), por meio de instituições que demonstrem a viabilidade ambiental, econômica e técnica dos AR. É importante elevar a confiabilidade dos

AR (15,1%), visando à expansão do mercado futuro: “Para garantir a credibilidade do produto oferecido, de maneira a torná-lo competitivo com o agregado natural" (P 11) e “Para que o consumidor tenha dados para usar os produtos com segurança” (P 26).

Outro aspecto relevante, nessa questão, refere-se à recomendação da norma sobre a periodicidade dos ensaios, pois “São lotes obrigatórios, quem está produzindo isto, não está gerando lixo com melhor qualidade, ele está gerando insumo para uma atividade, feita da forma adequada com produto com controle adequado” (P 38). Assim, é necessário conhecer as características e limitações dos AR para usá-lo como insumo em materiais de construção. Em relação às entidades responsáveis pela ampliação do referencial legal e normativo em vigor (Tabela 26), os pesquisadores destacaram ABNT (75,5%), Centros de Pesquisa (64,1%) e Órgãos ambientais (62,3%).

Tabela 26: Entidades responsáveis pelo avanço de leis e normas para uso de AR, segundo pesquisadores

Entidades responsáveis citadas f %

ABNT 40 75,5

Centros de Pesquisa 34 64,1

Órgãos ambientais em nível regional e nacional 33 62,3

CONAMA 27 50,9

Prefeituras 24 45,3

Sindicato da Indústria da Construção Civil (SINDUSCON) 22 41,5

Construtoras 10 18,9

Câmara dos vereadores 9 17,0

Câmara dos deputados 5 9,4

Outros 6 11,3

Não Respondeu 1 1,9

Entretanto, alguns pesquisadores apresentaram opiniões divergentes sobre a representatividade da ABNT. Para P 1 “Nos comitês da ABNT devem ter representatividade da indústria, usuários e instituições de pesquisa”. Contudo, isso não se mostrou constante:

“Eu já participei de algumas reuniões, em que eu me senti sempre o voto perdido,

representando a universidade. Por que nem sempre a universidade te dá condição de você ir sempre. Temos vários setores em que o interesse de determinado grupo prevaleceu. [...] Teria que ser multidisciplinar e garantindo de alguma forma recurso governamental, de forma que os representantes pudessem ter essa participação garantida. Ou criar condições que você possa ter o voto por vídeo conferência, ou por skype ou por alguma forma. O grupo que tem dinheiro vai participar das reuniões” (P 36).

Ainda que os órgãos legislativos sejam citados com pouca frequência (Tabela 26), sua participação é importante para consolidação do uso de AR, em nível federal, estadual e

municipal. Isso ocorrerá por meio da elaboração de leis, que tornem obrigatória o uso desses agregados em obras públicas, condicionada a sua viabilidade técnica, econômica e ambiental. Entre as outras instituições, P 46 e P 52 concordam que estão associações de moradores, já que as mesmas conhecem os problemas advindos pela deposição inadequada de RCC. Divergindo de todas as opiniões P 50 propõe: “Será que a gente não poderia ter uma agência nacional do resíduo da construção? [...] Eu acho que seria uma boa maneira de funcionar”.