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Visando conhecer o contexto internacional do setor de reciclagem de RCC foram realizadas três entrevistas com pesquisadores de países europeus, a saber: Lauritzen (2009) da Dinamarca, Vazquez (2009) da Espanha e Bassan (2009) da Itália. Entretanto, o excesso de ruído ambiente na entrevista com o pesquisador a Jörg Kropp da Alemanh impossibilitou a transcrição das informações.

5.5.1 Agrupamento 1 – Histórico da reciclagem

Na Dinamarca a reciclagem teve início em meados de 1980, enquanto que na Espanha, em 1990. Nesses países, a elaboração de leis para financiamento de pesquisas, normas para utilização de materiais reciclados e o intenso desenvolvimento de investigações sobre reciclagem de RCC, viabilizaram o ingresso dos AR no mercado (LAURITZEN, 2009; VAZQUEZ, 2009). Inicialmente, na Espanha, os AR eram utilizados para regularização do nível em pedreiras desativadas e recuperação de áreas ambientais degradadas.

De acordo com Lauritzen (2009), a Dinamarca atingiu um nível de reciclagem de 90% em dez anos devido ao investimento de US$ 10 milhões. Para tanto, a reciclagem de RCC ocorreu em larga escala, ao mesmo tempo em que um conjunto de medidas governamentais viabilizava investimentos no setor. Além disso, a demolição seletiva tornou-se obrigatória e o governo impôs taxas às empresas de demolição que não reciclassem os resíduos no canteiro.

Para atingir esse nível, Lauritzen (2009) afirma que foi necessário integrar as ações de todos os proprietários de empresas de demolição e de empresas de mineração do país. Nesse sentido, desenvolveram-se ações demonstrando que não haveria competição entre os empresários, pois os AN e AR teriam aplicações distintas nos canteiros de obra.

Enquanto isso, a Itália iniciou as atividades de reciclagem somente no fim da década de 80 do século passado. Nesse país, segundo Bassan (2009), em um primeiro momento era proibido o uso de AR. Posteriormente, o uso foi permitido com incorporação máxima de 5% de AR no concreto sem função estrutural. Até 2009, teores de incorporação superiores a esse apenas poderiam ser utilizados com autorização do governo.

5.5.2 Agrupamento 2 – Compradores e seu comportamento

Na Espanha e na Dinamarca, conforme Vazquez (2009) e Lauritzen (2009), os órgãos públicos e as construtoras utilizam os AR, principalmente, para execução de base e sub-base de estradas. Entretanto, na Itália, segundo Bassan (2009), esse uso é exclusivo das construtoras, devido as restrições de incorporação dos AR impostas pelo governo. Por outro lado, na Espanha, foi superada a barreira cultural em relação ao uso de AR.

5.5.3 Agrupamento 3 – Tecnologia de produção e distribuição

De acordo com Vazquez (2009) a qualidade do AR está relacionada às características da usina de reciclagem e a demanda pelo material. Enquanto isso, para Lauritzen (2009) os AR apresentam desempenho superior aos naturais no que se refere à aplicação em pavimentação. Todavia, em função da demanda por materiais com elevado nível de pureza, a retirada dos agentes contaminantes é fundamental para aumento da qualidade dos AR.

Nesse sentido Vazquez (2009) e Lauritzen (2009) recomendam o uso preferencial de AR, em nível mundial, para execução de base e sub-base para pavimentação de estradas, tendo em vista que essa aplicação consome grande quantidade de AR e necessita de um controle de qualidade menos rigoroso, durante a triagem e reciclagem de RCC.

Conformte Lauritzen (2009), grande parte das empresas de demolição possui usinas de reciclagem móveis na Dinamarca. Geralmente, essas usinas são alugadas para as construtoras reciclarem seus resíduos no próprio canteiro e, assim, reduzirem o custo com o transporte, taxas para aterro e aquisição de materiais de construção, já que reutilizam os AR nas obras. Bassan (2009), também, relata esses benefícios nas construtoras italianas.

5.5.4 Agrupamento 4 – Mercado

A maioria das usinas de reciclagem da Espanha, segundo Vazquez (2009), concentra-se em Madri e na Catalunha, e as demais estão distribuídas pelo país. A legislação específica de cada comunidade autônoma desse país determina a existência de usinas. Para Vazquez (2009) o aumento da parcela de mercado dos AR condiciona-se à aprovação de leis e normas sobre as aplicações e requisitos de desempenho de materiais com AR.

Enquanto isso, Lauritzen (2009) atribui o aumento da parcela à mudança de atitude das empresas de demolição, pois algumas destinam os RCC para aterros, devido às dificuldades para o controle da qualidade do AR durante a reciclagem. Por outro lado, Bassan (2009), acredita que a existência de reservas naturais (rochas, areia), a preferência dos consumidores pelos materiais convencionais e o valor reduzido das taxas para aterro de RCC contribuam para o atual parcela de mercado do AR.

Em relação à competição entre agregados naturais e reciclados, existe espaço para os dois no mercado, entretanto “Você sempre tem competição, mas ela deve ser controlada” (LAURITZEN, 2009, tradução nossa). Diante disso, Lauritzen (2009) recomenda a

fiscalização das empresas de demolição e a intervenção do governo no mercado. Considerando que a Dinamarca é um país pequeno, o controle sobre a demolição seletiva torna-se mais fácil, tendo em vista que o êxito desse processo beneficia a reciclagem de RCC. Um breve panorama sobre o mercado de agregados foi elaborado por meio de informações fornecidas pelos entrevistados. Na Tabela 74 verificam-se semelhanças entre os preços praticados no mercado de agregados dinamarquês e italiano. Por outro lado, os AR ocupam maior parcela de mercado na Espanha. Entretanto, a comparação entre a quantidade de usinas nesses países foi prejudicada, devido à falta de informações sobre as usinas móveis.

Tabela 74: Variação do preço, número de usinas e parcela de mercado dos AR, em países europeus

País Preço AR (US$/m³) (1) Preço AN (US$/m³) AR/AN (em média) Usinas fixas (un) Usinas móveis (un) Parcela de mercado AR (%) Espanha 5 – 10 10 – 12 (2) 0,68 150 - (3) 25 Dinamarca 10 – 15 20 – 25 0,55 20 - (3) 10 Itália 11 23 – 30 0,41 110 350 10 Média 10,3 20 0,54 - - 15

Fonte: Adaptado de Bassan (2009); Lauritzen (2009); Vazquez (2009) Nota: (1) 1 US$ = 0,66 EUR= R$ 1,72 (Cotação em dezembro/2009) (2) Na Espanha, o preço do AN varia conforme a região.

(3) Não há cadastro para usinas móveis das empresas de construção e demolição.

5.5.5 Agrupamento 5 – Inovação

Segundo Vazquez (2009), os países mais desenvolvidos em relação à reciclagem e uso de AR são Holanda, Alemanha e Dinamarca, seguidos por Inglaterra, Espanha e Itália. Ainda que existam tecnologias avançadas para reciclagem de RCC, para Lauritzen (2009) é importante desenvolver produtos de boa qualidade e colocá-los no mercado, considerando que existe uma grande demanda por materiais sem função estrutural.

Mesmo que os AR sejam utilizados massivamente para pavimentação, o mesmo não ocorre para sua aplicação em elementos com função estrutural (BASSAN, 2009; LAURITZEN, 2009; VAZQUEZ, 2009). Para esses pesquisadores, o desenvolvimento de pesquisas possibilitará a incorporação de níveis elevados de AR em concreto estrutural viabilizando, assim, a elaboração de normas para materiais e, consequentemente, a venda de produtos e sistemas construtivos que atendam a demanda do mercado consumidor.

Nesse sentido, as diferentes investigações realizadas pelos pesquisadores colaboram para o desenvolvimento da reciclagem de RCC. Lauritzen (2009) elabora recomendações para os construtores e empresas de demolição sobre aspectos da reciclagem e uso de AR. Enquanto

isso Vazquez (2009), desde 1978, estuda assuntos relacionados ao gerenciamento de RCC e propriedades dos AR. Por sua vez, por meio de incentivos governamentais Bassan (2009) desenvolve concretos com função estrutural incorporando AR.

5.5.6 Agrupamento 6 – Meio Legal

A Espanha utiliza as normas da União Européia para AR, que apresentam as possibilidades de aplicação desse material. Porém, segundo Vazquez (2009), cabe aos países membros dessa entidade estabelecerem normas próprias sobre os requisitos de desempenho dos materiais com AR. Nesse caso, a criação de legislação e normalização na Espanha é responsabilidade das instituições do governo e das comunidades autônomas.

De acordo com Bassan (2009), na Itália existe um impasse entre os pesquisadores e os órgãos governamentais em relação ao teor de incorporação de AR nos materiais. Enquanto que as normas da União Européia permitem a incorporação de até 30% de AR, as normas desse país permitem o máximo de 5% de incorporação.