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5.3 ETAPA 3: EXPLORANDO USINAS DE RECICLAGEM EM SÃO

5.3.2 Caracterização da amostra das usinas

5.3.3.3 Agrupamento 3 – Compradores e seu comportamento

As usinas públicas e as de economia mista possuem dois tipos de clientes: internos ou externos. Os clientes internos são formados pelas empreiteiras prestadoras de serviço para secretarias da Prefeitura, enquanto que os externos são os munícipes ou materiais de construção. A usina SP 3 possui clientes internos e externos (munícipes), enquanto que as demais usinas privadas possuem somente clientes externos. Os consumidores de AR podem, ainda, ser divididos em dois grupos: (a) clientes experientes – formados por construtoras ou empreiteiras que utilizam os AR em larga escala e (b) clientes principiantes – formados por munícipes que utilizam esporadicamente o material, devido ao preço reduzido.

Dentre os principais compradores ou usuários dos AR (Tabela 53), destacam-se as Prefeituras (77,8%), pois: “Noventa por cento são obras públicas, são todas da Prefeitura do município e

10% é comercializado” (G 1) e “Hoje o principal comprador nosso, é não digo comprador, mas o principal consumidor nosso é o próprio poder público” (G 7). Durante a pesquisa, as usinas privadas não conseguiam vender seus produtos para a administração pública.

Dentre as usinas públicas e de economia mista, a SP 4 desenvolve um programa inovador por meio de publicações e ações internas para conscientização e divulgação das características dos AR junto às secretarias do município, pois “A gente quer com esse programa aumentar a gama de utilização (dos AR), uma vez que a gente tem uma expectativa de aumento de produção e aumento na demanda de resíduos, também” (G 8, grifo nosso).

Os compradores de AR respondem por 100% da parcela de mercado das usinas (Tabela 53). Apenas nas usinas MG 2 e SP 3 foram relatadas outras situações. Na MG 2, a distribuição da produção obedecia à seguinte ordem: Prefeitura (90%), empreiteiros (8%) e munícipes (2%). A usina SP 3 destinava 80% da produção para clientes externos e 20% para clientes internos. Tabela 53: Compradores e/ou usuários de AR, segundo os gestores

Compradores/usuários apontados f % Prefeitura do município 7 77,8 Construtoras 5 55,5 Munícipes 5 55,5 Outros compradores 5 55,5 Materiais de construção 3 33,3

Prefeituras de municípios vizinhos 3 33,3

Empresas de terraplanagem 2 22,2

Aterro sanitário 2 22,2

Empresas de serviço de concretagem 2 22,2

Os gestores buscavam orientar os consumidores e / ou usuários quantos as dúvidas referentes às aplicações e limitações dos AR. As usinas SP 3 e SP 5 possuíam, respectivamente, um técnico e um consultor que especificavam os AR, conforme o uso e acompanhavam a aplicação na obra. Essa medida era necessária visto que “Nós temos que ter a venda, mas nós temos que ter a preocupação com a qualidade no nosso material que vai chegar lá” (G 6). Em relação ao nível de satisfação quanto aos produtos comercializados pelas usinas, esses consumidores estão satisfeitos (55,5%) ou muito satisfeitos (44,4%). Tal satisfação, segundo os gestores associava-se aos seguintes aspectos dos AR: qualidade, preço reduzido, baixo impacto ambiental, assiduidade do cliente, conhecimento das características e divulgação do uso. Na prática, os gestores associavam o uso ao nível de satisfação, “Quando eles utilizam, conhecem o material e aprendem a trabalhar com ele, a satisfação é muito grande” (G 6).

Todavia, em SP 6 os munícipes possuíam preconceito quanto à identificação das obras com AR, pois acreditavam na diminuição do valor de venda de seus imóveis, como relata G 4: “É se colocar vão falar que eu tô usando material de segunda, material velho, reciclado. E outra, o pessoal sabe que o material seu é mais barato”. Porém, o preconceito inicial não impedia a continuidade do uso: “Quem usa o difícil é você convencê-lo a usar a primeira vez, mas depois que ele usa, ele se torna um freguês regular” (G 6). Em Guarulhos, G8 também citou um caso de rejeição do material: “[...] no primeiro momento ele tem uma aversão, um pré-conceito na utilização, porque ele fala que aquilo veio de lixo”.

Além disso, 66,7% dos gestores relataram a existência de reclamações dos consumidores referentes à cor do produto final, desempenho do material, variação da granulometria, plasticidade elevada e desconhecimento do usuário quanto à aplicação. Outra reclamação referia-se à falta de padronização sobre o nome do AR, que confunde os consumidores: “A gente cria um nome para o produto, porque não tem o que fazer com ele e não bate com a pedreira. Ele compra pelo nome da pedreira” (G 9).

5.3.3.4 Agrupamento 4 – Produtos substitutos

Cerca de 71,4% dos gestores relatou a existência de produtos substitutos na região da usina. No entanto, as alternativas como fibras de pneu, areia de fundição, pó de pedra e escória de aciaria ofereciam pouca ameaça. Por isso, acredita-se que os AR não competem diretamente junto aos produtos substitutos e aos AN, devido suas diferenças: preço, escala, restrições de uso e outros. Prova disso é que para 57,1% dos gestores as pedreiras situadas próximas às usinas de reciclagem conseguiam atender a demanda de agregados do mercado local.

No entanto, segundo G 1, as fontes de AN estão ficando cada dia mais distantes. Em SP 6, por exemplo, G 4 relatou que as fontes situam-se a 100 km de distância do município. As distâncias elevadas entre a fonte e o mercado consumidor colaboram para aumento de preço dos AN. Por isso, os gestores das usinas privadas visualizam possibilidades de ingresso dos AR no mercado: “Só que eu quero a fatia de mercado (risos). [...] Porque na verdade, a produção que nós temos nós não estaríamos atingindo nenhuma pedreira” (G 6).

Em SP 1 há oferta de areia, mas faltam outros AN, como brita e cascalho. Já em SP 4, ocorre o inverso “A areia natural de rio ela está cada vez mais escassa e mais cara” (G 8). Verificou-se que as pedreiras atendiam, parcialmente, a demanda dos municípios analisados, porém não se trabalhava em função da vida útil da jazida, a qual poderia ser prolongada a partir da substituição parcial dos AN pelos AR.

5.3.3.5 Agrupamento 5 – Crescimento

Em relação aos motivos que levaram a expansão da capacidade produtiva da usina, não se obteve um consenso, junto aos gestores, devido às diferentes realidades das usinas. Conforme 66,7% dos gestores existia planejamento para aquisição de equipamentos de reciclagem em um período médio de quinze meses. Essa expansão era impulsionada, principalmente, pelo uso de novas tecnologias de reciclagem (Tabela 54).

Tabela 54: Fatores influentes para a expansão das usinas de reciclagem, segundo gestores

Fatores apontados f %

Utilização de nova tecnologia para reciclagem 6 66,7

Melhoria no processo produtivo 4 44,4

Projetos futuros de ampliação da produção 4 44,4 Aumento da demanda por AR na região 3 33,3 Demanda por AR com características e granulometrias diversificadas 3 33,3

Os investimentos para manutenção e renovação dos equipamentos em usinas públicas dependem de ações estratégicas em nível municipal. Entretanto, observa-se que isso não é uma prática comum, por exemplo, na usina SP 2: “A produção ela é a mesma de quando foi iniciada é o mesmo sistema. [...] O que nós não fizemos nesse período aí foi os investimentos, que deveria ser feito” (G 7). Para G 7, a falta desse investimento ocorre “talvez porque o poder público está aguardando a iniciativa privada entrar no ramo”. Isso ocorre na usina SP 1, onde a aquisição de um sistema de peneiras “vai aumentar nossa produtividade, nós vamos retirar praticamente 50% da terra” (G 5), propiciando a redução do custo de produção. Enquanto isso, as usinas privadas buscam alternativas para atender a demanda dos consumidores e, ao mesmo tempo, consolidar o mercado regional de AR. Na SP 5, segundo G 9 a aquisição de um conjunto de reciclagem móvel possibilitará a reciclagem de RCC na fonte geradora. De fato, o investimento em equipamentos na usina SP 3 significa que “ao invés de eu ficar sofrendo com um mercado, de ficar procurando, olha serve essa pedra serve pra isso, serve pra aquilo, então nós vamos já dar um impacto diretamente vendendo o produto final” (G 6), no caso da comercialização de artefatos em concreto.

Os gestores das usinas de Belo Horizonte destacaram a intenção da administração pública em readequar as usinas MG 1 e MG 3, bem como construir a quarta usina de reciclagem. Por outro lado, a renovação dos equipamentos em usinas de economia mista e privada mostra-se diferente. Em alguns casos a expansão das usinas é realizada sem a participação do gestor no projeto: “A Prefeitura tem esse planejamento, agora eu tenho dúvida se isso é pra melhorar ou mudar realmente a usina” (G 2).

Diante desse contexto, constatou-se que as usinas não apresentam semelhanças quanto à necessidade de aquisição de equipamentos (Quadro 31), já que isso depende do planejamento específico para expansão da capacidade produtiva em cada unidade, recursos disponíveis para investimento, bem como as limitações operacionais dos equipamentos existentes.

Quadro 31 - Planejamento para aquisição de equipamentos pelas usinas, segundo gestores

Tipos de equipamentos Usinas M G 2 M G 3 M G 1 S P 6 S P 1 S P 3 S P 2 S P 4 S P 5 Alimentador vibratório X

A ser definido conforme o mercado e o

financiamento X

Britador de mandíbula X

Classificador espiral / Lavador de rosca X Conjunto de bomba e filtro X

Eletroímã X

Grelha de escalpe X X

Prensa hidráulica para artefatos em concreto X

Rompedor elétrico X

Silo de armazenamento X

Transportador de correia X

Usina completa de artefatos de concreto X

Não respondeu X X X X

Tendo em vista a redução do consumo de energia, a depreciação do britador e o aumento da produtividade de AR, os gestores das usinas SP 4, SP 5 e SP 1 pretendem adquirir uma grelha de escalpe. Esse equipamento promove a reciclagem somente das partículas maiores, enquanto que retém os finos pela grelha no início do processo, antes do britador.

Nesse contexto, verifica-se que a expansão da produtividade das usinas é indispensável, já que para 55,6% dos gestores a produção atual das usinas era insuficiente para suprir a demanda local. É importante ressaltar que algumas usinas públicas atendem, parcialmente, a demanda do município por bica corrida, devido sua proximidade aos centros urbanos.

As usinas privadas SP 3 e SP 6 atendem apenas ao município no qual estão instaladas, respectivamente, “Porque o meu britador não suporta atender a região toda” (G 6) e “Porque os equipamentos são pequenos” (G 4). Ainda que a produção seja limitada, G 4 acredita que a produção da usina contribui para redução da exploração dos AN da região. Por outro lado, existem posições otimistas em relação ao atendimento da demanda “Veja, se

trabalhar diuturnamente ela faz, porque nós estamos preparados pra fazer 300 (toneladas)” (G 5, grifo nosso), por turno de 8 horas.

A operação da usina em vários turnos seria uma alternativa para atender a demanda dos clientes internos e externos, como exemplo no caso da Prefeitura de Guarulhos; “No ano passado (2008) foi 26 mil m³, a demanda de agregados reciclados [...] Hoje a nossa realidade é substituir pelo menos 60% dos agregados, por agregados reciclados” (G 8, grifo nosso). No entanto, ainda é limitada a produção de AR pelas usinas existentes, como na usina SP 5: “Ela é pequena e a geração é muito grande. Isso não é nada, perto do que se gera (RCC) em São Paulo” (G 9, grifo nosso). O não recebimento de RCC provenientes de bairros e municípios próximos à usina comprova a restrição da área de abrangência das usinas analisadas (Quadro 32). Por isso, o cálculo da demanda de AR das usinas, em nível municipal, deveria considerar alguns parâmetros propostos por G8, como crescimento econômico, expansão imobiliária e exigência da legislação municipal para consumo de AR. Quadro 32 - Área de abrangência referente à recepção de RCC pela usina, segundo gestores

Usina Área de abrangência

MG 2 Regional Noroeste, Barreiro e Oeste (aproximadamente 870 mil habitantes)

MG 3 Raio de 30km dentro da Regional

MG 1 Regional Pampulha, Venda Nova e Norte (aproximadamente vinte bairros e 580 mil habitantes)

SP 6 Município (perímetro urbano)

SP 1 Município

SP 3 Municípios de Americana, Nova Odessa e Santa Bárbara (aproximadamente 500 mil habitantes)

SP 2 Município de Piracicaba

SP 4 Relacionada ao número de PEV e desenvolvimento de obras pela Prefeitura

SP 5 Indefinida