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5.3 ETAPA 3: EXPLORANDO USINAS DE RECICLAGEM EM SÃO

5.3.2 Caracterização da amostra das usinas

5.3.3.6 Agrupamento 6 – Tecnologia de produção e distribuição

Em relação aos fatores influentes na variação do custo da produção e do preço de venda dos AR, todos os gestores destacaram o custo operacional e o aumento da produção mensal (Tabela 55). Essa fato pode ser observado no custo operacional da usina SP 4, em Outubro de 2009, que foi “um custo de produção da ordem de 25 mil reais certo, e um uma produção da ordem de 1100 m³, a gente vai ter um preço girando aí, entorno de R$22,00” (G 8).

Tabela 55: Fatores influentes na variação do custo de produção e preço de venda dos AR, segundo gestores

Fatores apontados f %

Aumento da produção mensal da usina 7 77,8

Aumento do custo operacional 7 77,8

Aumento da taxa de depreciação dos equipamentos 5 55,6 Redução da oferta de matéria-prima 5 55,6 Troca de um equipamento de reciclagem 4 44,4 Grau de contaminação da matéria-prima 4 44,4

Aumento do preço do AN 4 44,4

Tipo de matéria-prima 3 33,3

Volume elevado adquirido pelo comprador 3 33,3

Granulometria do produto 2 22,2%

Não respondeu 2 22,2%

Conforme 57,1% dos gestores, o grau de contaminação da matéria-prima poderia influenciar no custo e no preço de venda (Figura 72): “Quanto mais contaminado, mais mão de obra você tem que ter pra fazer a triagem e acaba influenciando o custo” (G 4). Essa situação agrava-se, segundo G 5, devido à falta de conscientização de empresas transportadoras. Diante disso, as usinas privadas deveriam cobrar uma taxa para recebimento de RCC, visando incentivar a triagem no canteiro de obras. Pois, pressupõe-se que a gratuidade do serviço possa colaborar para o aumento do teor de contaminantes (Figura 73).

Figura 72 - Agentes contaminantes e RCC

recebidos na usina SP 2

Figura 73 - Agentes contaminantes recebidos junto

aos RCC na usina MG 2

Além de provocar o aumento do custo operacional, esses contaminantes podem dificultar o uso dos AR, pois: “Se eu reciclar um material impuro, com essas sujeiras, com certeza o pessoal não vai querer e a gente vai ficar com o material parado aí” (G 7). Após a retirada, os agentes contaminantes podem ter os seguintes destinos: (a) armazenamento temporário em baias (Figura 74); (b) doação para cooperativas de catadores de materiais recicláveis (Figura 75) ou (c) envio para aterro.

Figura 74 - Baias para armazenamento de

contaminantes na usina SP 4

Figura 75 - Área para armazenamento de resíduos

recicláveis em SP 1

Tendo em vista a impossibilidade de registros fotográficos na usina SP 3, em Americana, observa-se a partir de Nascimento (2007), a existência de um sistema diferente para triagem. Nesse sistema, a triagem primária dos RCC ocorria na calha do alimentador vibratório (Figura 76), enquanto que a triagem secundária na esteira transportadora (Figura 77). Devido ao volume recebido e produzido, diariamente, pressupõe-se que esse sistema possa apresentar algumas limitações quanto à retirada de agentes contaminantes, bem como risco de acidentes de trabalho, em função da altura do britador e o volume despejado pela caçamba coletora.

Figura 76 - Realização de triagem primária dos

RCC, por funcionários na usina SP 3

Fonte: Nascimento (2007, p.3)

Figura 77 - Realização de triagem secundária na

correia transportadora na usina SP 3

Fonte: Nascimento (2007, p.5)

Outros fatores que influenciam o custo referem-se ao tipo e a vida útil do equipamento, pois segundo G 7: “A nossa máquina, como é uma máquina obsoleta, ela consome um pouquinho mais”. No entanto, esse acréscimo no custo não é considerado pela maioria dos gestores, visto que é difícil de ser mensurado. Soma-se a isso a paralisação da produção: “É que a gente tem uma manutenção e essa manutenção vai onerar o custo operacional” (G 7).

É importante destacar que as usinas privadas cobram pela recepção dos resíduos e não possuem custo advindo do sistema de extração da matéria-prima, contrário às demais

empresas de mineração de AN. Em alguns casos, segundo G 8, o valor recebido pela disposição dos RCC seria suficiente para cobrir o custo operacional. Como essas usinas comercializam AR e outros materiais recicláveis obtêm lucro de diversas fontes.

Apenas 44,4% dos gestores de usinas de economia mista e pública, afirmaram que não existe relação entre os preços dos AN e dos AR. Isso ocorre porque a maioria das usinas analisadas não comercializa os AR. No entanto, G 6 assegurou que em relação ao preço de venda “Você trabalha meio junto com as pedreiras”. Enquanto isso, para G 9, os preços poderiam ser influenciados por outras variáveis: “Eu acho que não tem sentido, porque é escala”. A troca de um equipamento de reciclagem (57,1%) influenciava somente as usinas privadas.

Ainda que não houvesse consenso entre os gestores sobre a relação entre os preços dos agregados naturais e reciclados (Tabela 56), constata-se variação elevada. Quanto às usinas privadas o preço pode variar segundo o tipo e a granulometria do AR. Prova disso é que G 9 discorda dos demais gestores ao afirmar que: “Eu acho que não tem sentido porque é escala. [...] Como é que você vai comparar uma pedreira de 3000 metros com uma de 40 mil?”. Tabela 56: Relação entre os preços dos agregados naturais e reciclados nos municípios, segundo gestores

Usina AN (1) (R$/m³) AR(1) (R$/m³) AN/AR MG 2 30 8,5 3,5 MG 3 52 8,5 6,5 MG 1 n.d.(2) 8,5 n.d. SP 6 60 33 1,5 SP 1 70 9,5 7,36 SP 3 48 24 2 SP 2 32 20 1,6 SP 4 45 22 2,05 SP 5 17,1 11,4 1,5 Média 44,26 16,15 3,25

Notas: (1) Foram utilizados os preços médios informados pelos gestores. (2) Informação não disponível.

Somente as usinas públicas e de economia mista possuíam subsídios da administração municipal para operação. Por outro lado, G 9 expõe sua opinião sobre a falta de alguma forma de incentivo junto às unidades privadas “Não ao contrário, mete o imposto em cima”. Na opinião de G 9 as usinas realizam uma atividade benéfica para o município, e por isso, deveriam receber algum tipo de benefício fiscal.

Diante do contexto, apenas 66,7% dos gestores acreditam que o aumento da produção promova a redução do custo operacional. Essa falta de consenso entre os entrevistados é

demonstrada por G 7: “Mesmo que eu produza pouco o meu pessoal está ali, e seu não produzir nada?”. Soma-se a isso a existência de custos operacionais fixos, como aluguel da área ou dos equipamentos, salários e benefícios dos funcionários.

Quando questionados sobre as medidas para contenção do material particulado e dos ruídos, originados durante a operação da usina, os gestores responderam de forma superficial. Ainda com relação aos impactos ambientais, notou-se que o consumo de água é elevado, devido à constante umectação (Figura 78 e Figura 79) dos pátios operacionais “Então, em cada ponto estratégico a gente tem um aspersor, que fica mantendo a umidade, constantemente” (G 2).

Figura 78 - Sistema de umectação das pilhas de

RCC na usina SP 1

Figura 79 - Umectação de RCC para caçambas na

usina SP 1

O tipo de espécies e a densidade da vegetação são variáveis entre as usinas (Figura 80). Em MG 3 (Figura 81), “[...] o cinturão verde que a gente tenta quebrar tanto o impacto visual quanto o ruído” (G 2). No entanto G 2, em outro momento da entrevista, se contradiz sobre a opinião dos moradores do entorno: “Porque eles reclamam, costumam reclamar muito, mas por causa do barulho”. Além do ruído dos equipamentos, existem àqueles provenientes do fluxo de veículos de carga e a movimentação da pá-carregadeira.

Os impactos ambientais causados em algumas usinas (MG 2, SP 3, SP 6, SP 1) não são perceptíveis à população, devido a sua localização em áreas afastadas dos centros urbanos. Por outro lado, nas usinas MG 3 (Figura 82) e SP 2 (Figura 83) o entorno é cercado de edificações, que podem sofrer interferência do fluxo de veículos e emissão de ruídos e de material particulado.

Figura 82 - Vista parcial das edificações situadas

no entorno da usina MG 3

Figura 83 - Edificações situadas junto à entrada da

usina SP 2

Ainda que as normas de segurança do trabalho recomendassem o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), a maioria dos funcionários das usinas não possuía ou não o utilizava, durante a visita, apesar da seguinte afirmação: “O que a gente obriga nosso funcionário a usar o equipamento de segurança: fone, capacete, essas coisas” (G 7). O fornecimento de EPI para a visita ocorreu, somente, nas usinas SP 4 e SP 3.

A maioria das usinas utiliza energia elétrica em conjunto com óleo diesel para operação dos equipamentos. A viabilidade de fontes de energia alternativas para operação da usina, por exemplo, a energia solar, não foi confirmada por G 9 "Tem que ser elétrica, porque são muitos motores que estão ligados e o sistema de transmissão ficaria muito caro”.

A distribuição dos AR e artefatos de concreto pode ocorrer de diferentes formas. Segundo 44,4% dos entrevistados, o transporte é realizado por um veículo da própria usina, enquanto que para 66,6%, o transporte pode ser realizado tanto pelo veículo da usina quanto por uma prestadora de serviço contratada pelo cliente.

Na usina SP 4, o planejamento diário das rotas das caçambas coletoras colabora para redução do custo de transporte. Nesse sistema, as caçambas transportam AR provenientes das usinas para obras públicas próximas aos pontos de entrega voluntária (PEV), onde recolhem os RCC depositados pelos munícipes. Além disso, há planejamento para o recolhimento periódico dos resíduos desses pontos.

A venda e/ou fornecimento de AR é calculada por meio do número de conchas da pá carregadeira, cuja capacidade em metros cúbicos varia conforme o fornecedor do equipamento. Além disso, o volume de material contido na concha pode variar, já que a mesma é controlada por diferentes operadores. Por outro lado, a venda de AR em pequenos volumes ocorre somente na usina SP 6: “Vendo 1 m³, até em saco eu vendo” (G 4).

Os procedimentos para retirada dos AR, conforme o tipo de cliente diferem entre as usinas públicas e as de economia mista. G 2 explica que os clientes internos, das usinas públicas, precisam apresentar um ofício com o endereço da obra e a assinatura do funcionário responsável pela solicitação do material. Enquanto isso, os clientes externos retiram o boleto para pagamento em instituições financeiras. Após a quitação, o cliente fornece uma cópia autenticada do boleto para o gestor, que autoriza a retirada do material.

O número de funcionários apresentou grande variação entre as usinas analisadas (Figura 84). Pressupõe-se que isso ocorra em função dos atributos de cada administração, bem como a meta de produtividade diária ou mensal de AR.

Figura 84 - Variação do número de funcionários nas usinas analisadas

44,4%

22,2% 33,3%

01 - 10 funcionários 11 - 20 funcionários Acima de 21 funcionários

A partir de uma lista preliminar, os gestores apontaram a quantidade de funcionários distribuídos nos cargos e setores das usinas (Quadro 33). Esses funcionários eram contratados por empresas terceirizadas ou pertenciam ao quadro funcional da Prefeitura. O inspetor e a equipe de triagem tinham como função aceitar ou recusar a recepção de RCC na usina, conforme o grau de contaminação.

Na usina SP 5, a triagem é terceirizada e os funcionários são responsáveis pela coleta do aço proveniente do desmonte das estruturas de concreto armado. A produção desses funcionários, segundo G 9, equivale a um contêiner de 20m³ de aço, durante um ou dois dias.

Quadro 33 - Distribuição dos funcionários das usinas por setor ou cargo, segundo gestores Usinas Setor/Cargo M G 2 M G 3 M G 1 S P 6 S P 1 S P 3 S P 2 S P 4 S P 5 Administração 2 1 - 2 2 5 1 - 2 Encarregado 1 1 1 - 1 5 - 1 - Operador de britador 1 1 2 1 - 8 2 1 2 Triagem 6 6 10 1 - 20 - 3 1

Auxiliar de serviços gerais - 3 2 - 19 - - 1 - Vigilante/Inspetor 2 1 1 - - - - 1 - Técnico mecânico - 1 1 - - - - Motorista - - - 1 - 3 - - - Operador de máquinas - 1 - - - 6 1 - - Estagiário - - 1 - 1 - - - - Total 12 15 17 - 23 52 4 7 5

Diante da diferença exposta entre as usinas quanto ao número de funcionários, acredita-se que o uso de equipamentos de reciclagem eficientes e com alta produtividade reduza a necessidade de mão de obra. Os funcionários, indispensáveis ao processo, devem ser altamente qualificados, tendo em vista o controle da qualidade do produto e para evitar a reciclagem dos agentes contaminantes em quantidades superiores a 3%.

De acordo com 88,9% dos gestores, os funcionários são motivados a sugerir melhorias para o processo produtivo. Entretanto, a motivação ocorre de forma espontânea, já que não se observa a existência de reuniões: “Tipo assim, a gente deixa, dá uma abertura pra pessoa participar” (G 1). Em contrapartida, nas usinas MG 1 e SP 4, os gestores buscam conhecer as dificuldades da produção por meio de reuniões periódicas.

Nas usinas de Belo Horizonte, os gestores relataram que os novos funcionários são treinados por funcionários com maior experiência, e não por técnicos. Todavia, os processos de qualificação e capacitação são fundamentais para reduzir a quebra de equipamentos e o tempo ocioso dos funcionários: “Habilitar o sujeito a não deixar encravar pedra, não deixar rasgar correia com ferro, entupir peneira pra dar poeira” (G 9).

Não se verificou entre os gestores planejamento para ascensão profissional dos funcionários. Apenas G 6 descreveu que um plano de carreira, para fornecer benefícios aos funcionários, conforme o tempo de serviço.Contudo, ações como essas são importantes, uma vez que a qualidade do produto final depende, em parte, dos funcionários que: “É um trabalho bruto e o sujeito tem que ter a habilidade” (G 9).