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A agudização do agronegócio no Brasil: recortes da política agrária, de Fernando Collor de Mello ao Governo Lula

2 A QUESTÃO FUNDIÁRIA BRASILEIRA E SEUS DESDOBRAMENTOS HISTÓRICOS

2.4 A agudização do agronegócio no Brasil: recortes da política agrária, de Fernando Collor de Mello ao Governo Lula

Não são muitas as sinalizações em relação à política de Reforma Agrária durante o governo Fernando Collor de Mello, este foi um período marcado por abertura econômica ao capital internacional e turbulências políticas, também por criminalizar as atividades dos movimentos sociais. Os assentamentos realizados utilizaram as terras desapropriadas pelo governo anterior, Buaianim sobre o período revela que:

O governo Collor prometeu assentar 500.000 famílias, mas, na prática, debilitou o aparato institucional ao extinguir o Ministério da Reforma Agrária e atribuir essa função ao Ministro da Agricultura, que tradicionalmente representava os interesses dos grandes produtores e opositores da reforma agrária. Pouco mais de 40 mil famílias forma beneficiadas em dois anos. Na gestão “tampão” do presidente Itamar Franco foi lançado um Programa Emergencial para assentar aproximadamente 80 mil famílias, das quais apenas 17.800 foram assentadas. (BUAINAIM, 2008, p. 36).

No período mencionado a política econômica externa tem uma expansão considerável, e acaba incorporando o setor agrícola através da especulação fundiária e de concentração de terras, sendo os grandes proprietários de terra novamente privilegiados com estes fatores. E para liquidar a dívida produzida por essa expansão, há um crescente envio de renda para o exterior por parte dos governantes, “tanto os saldos comerciais quanto a renda líquida enviada ao exterior, chegam ao redor dos 4% do PIB, como média do período de 1983-1993.” (DELGADO, 1998, p. 91).

Para atrair o voluptuoso capital externo, que transitava pelas economias emergentes, o governo brasileiro cria um Plano de Estabilização Monetária chamado de Plano Real, uma típica política neoliberal, que como consequência, causa um enorme endividamento do País, o aumento da especulação fundiária, a consequente queda da renda agrícola e a desvalorização do preço da terra.

O governo de Fernando Henrique Cardoso, em seu primeiro mandato foi marcado pela intensificação do projeto neoliberal para a sociedade brasileira, uma onda crescente de privatizações, o aumento considerável do desemprego no campo, o apoio e financiamento das políticas internacionais para a agricultura marcam o período, o então chamado agronegócio ganha visibilidade e políticas públicas de sustentação. Para Fernandes apud Buainaim (2008):

O agronegócio é um novo tipo de latifúndio, e ainda mais amplo: agora não concentra e domina apenas as terras, mas também a tecnologia de produção e políticas de desenvolvimento. A fundação do agronegócio expandiu a conflitualidade, ampliando o controle sobre o território e as relações sociais, agudizando as injustiças sociais.

O resultado disto foi a insatisfação da população do campo, e dos movimentos sociais, que intensificaram o conflito e as ocupações de terra ao longo do território brasileiro. Inicia-se ainda em 1995 a repressão violenta por parte dos grandes proprietários às investidas dos movimentos sociais, com o assassinato de cinco Sem Terra na Fazenda Cumbiara; e logo em seguida a chacina sem precedentes históricos a camponeses, que ficou conhecida como Massacre de Eldorado dos Carajás17.

Estes acontecimentos mobilizaram a opinião pública e o País, sendo um violento prelúdio de como seria tratada a questão agrária e a política de distribuição de terras no Brasil naquele momento, eles influenciaram de maneira significativa, a política de assentamentos do governo FHC, que teve acréscimo considerável no número de assentamentos, durante os oito anos de mandato deste presidente foram assentadas 457.668 famílias. Sendo que, 40% receberam os lotes na região Norte, não nas regiões onde se localizavam os conflitos.

17 Em Abril de 1996 dezenove camponeses foram assassinados no município paraense de Eldorado

dos Carajás, estes camponeses foram mortos há tiros e até hoje apenas um dos acusados foi condenado e preso.

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Ainda, estabeleceu-se um marco legal de criminalização e coerção da luta pela terra, efetivado pelo Estado, no ano 2000, com a Medida Provisória nº. 2.109- 52, de 24 de maio de 2001, esta medida prescreve o impedimento, por dois anos, a vistoria dos imóveis rurais, onde tenham sido realizadas ocupações, e, ainda pode excluir dos programas de reforma agrária os trabalhadores rurais que participaram destas ações.

No Rio Grande do Sul, muitas das iniciativas da FARSUL, entidade atrelada aos grandes empresários e produtores rurais, em defesa do patrimônio dos latifundiários e das grandes empresas estiveram amparados juridicamente por esta Medida Provisória, inclusive, alguns atos de confronto e intimidação aos quais submeteram os movimentos sociais. O recuo das mobilizações do movimento, a do número de famílias acampadas, diminui com a eleição do presidente Luís Inácio Lula da Silva, candidato do PT, em 2003.

Os mandatos de Lula foram intensos no que tange as manifestações camponesas no País, em especial os de caráter de articulação das lutas como: a Marcha das Margaridas (2003) e o Grito da Terra (2003). Estas buscam visibilidade política e de atendimento ás suas demandas, a grande maioria das manifestações foram pacíficas e tiveram o interesse de entregar as pautas políticas ao governo. O governo de Lula cria o II Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) para o período, mas no primeiro mandato só atendeu 63% da meta de assentar 400 mil famílias.

A política de distribuição de terras aplicada pelo governo em seus oito anos foi considerada conservadora devido a fatores como: a não reforma das regiões de ocupação consolidada, como sul, sudeste e centro – oeste, e em contrapartida a ocupação de áreas com menores condições de desenvolvimento e geração de renda, e também a questão da qualidade dos assentamentos criados, visto às condições estruturais em que se encontram. Uma das características desse conservadorismo se dá, na questão da redistribuição de terra através da venda, Girardi (2008, p. 24) argumenta o quanto esta política mostra-se conservadora, vejamos:

O caráter mais conservador da reforma agrária brasileira é o programa de crédito chamado de reforma agrária de mercado, iniciado no governo FHC com o Banco da Terra e hoje transformado no programa Cédula da Terra. Este programa, que segue as indicações do Banco Mundial para a “reforma agrária”, tem como principal instrumento a concessão de crédito para a compra de pequenas propriedades. Desta forma, o Estado se torna ainda mais distante das ações, que neste caso são ditadas pelo mercado de terras.

Estas são as contradições evidenciadas nos dois mandatos do governo Lula, e que marcam significativamente os acontecimentos da trajetória de nossos sujeitos da pesquisa, e que projetam nacionalmente a situação da Reforma Agrária na atualidade.