• Nenhum resultado encontrado

Alíquotas variáveis dos Riscos Ambientais do Trabalho 100

O inciso II do artigo 22, da Lei nº. 8.212/1991, estabelece que incide a alíquota de 1% (um por cento), 2% (dois por cento) e 3% (três por cento) sobre a remuneração paga ou creditada aos empregados ou trabalhadores avulsos da empresa a fim de permitir o financiamento da aposentadoria especial e benefícios decorrentes de acidente do trabalho.

“II – para o financiamento da complementação do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve:

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio;

c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave.”

Primeiramente, cumpre apontar que a base de cálculo a ser aplicada a alíquota se restringe à remuneração paga ou creditada aos empregados da empresa e trabalhadores avulsos, já explicitados.

A redação do inciso II supra transcrita foi alterada pela Lei nº. 9.732/1998. A redação anterior, de acordo com a Lei nº. 9.526/1997 conferia expressamente ao regulamento a fixação dos percentuais em razão dos riscos132. Atualmente, as atividades

132 “II - para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, conforme dispuser o regulamento, nos seguintes

101

cujo risco é considerado leve, médio e grave estão arroladas no Anexo V do Decreto nº. 6.042/2007.

Para o enquadramento, necessário se faz delimitarmos o que seja atividade preponderante, o que influi na Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE).

Considerando as suas atividades, a empresa faz o auto-enquadramento, que pode ser revisto pela Receita Federal do Brasil a qualquer tempo a fim de estimular investimentos em medidas de prevenção de acidentes (artigo 28, §3º, da Lei nº. 8.212/1991).

Verificado equívoco no auto-enquadramento, a Receita Federal do Brasil informa o responsável pela empresa o recolhimento indevido, efetuando o lançamento do crédito apurado (§§5º e 6º do artigo 202 do Decreto nº. 3.048/199 e caput e §4º do artigo 2º da Lei nº. 11.457/2007).

Tecida esta ressalva, podemos nos perguntar, qual é a atividade preponderante da empresa?

Tendo em vista a omissão da Lei nº. 8.212/1991, o Poder Executivo ao longo do tempo regulamentou a matéria. Num primeiro momento, foi editado o Decreto nº. 356/1991, considerando atividade preponderante à atividade econômica autônoma que ocupava o maior numero de segurados e trabalhadores avulsos na empresa ou estabelecimento a ela equiparado.

Em 21/07/1992 foi editado o Decreto nº. 612 que permitia que cada estabelecimento da mesma empresa podia ter sua alíquota individualizada, de acordo com as respectivas atividades preponderantes.

No ano de 1997 o conceito de atividade preponderante foi alterado através do Decreto nº. 2.173, determinando a tal atividade é aquela que ocupa o maior número de

percentuais, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:”

102

segurados empregados e trabalhadores avulsos, cabendo aos estabelecimentos se enquadrarem a uma única alíquota.

Atualmente, o conceito de atividade preponderante está estabelecido no §3º do artigo 202, do Decreto nº. 3.048/1999.

“§3º Considera-se preponderante a atividade que ocupa, na empresa, o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos.”

Desta feita, a atividade preponderante é aquela onde se encontram alocados o maior número de segurados empregados e trabalhadores avulsos. Nas sempre valiosas lições do professor Wagner Balera, o critério de apuração da contribuição mensal a título do seguro de acidente do trabalho deve ser feito da seguinte forma:

“a) examina-se, estabelecimento a estabelecimento, qual o CNAE — Classificação Nacional de Atividades Econômicas correspondente, de acordo com a atividade de maior número de segurados empregados;

b) atribui-se o CNAE de cada estabelecimento à totalidade dos segurados empregados que nele atuam;

c) agrupam-se os estabelecimentos de acordo com o grau de risco correspondente ao CNAE, somando-lhes o número de segurados empregados;

d) o grupo que possuir maior número de segurados empregados será a atividade preponderante da empresa e o grau de risco correspondente deverá ser aplicado, uniformemente, à totalidade dos seus estabelecimentos. ”133

Logo, de acordo com expressa previsão do Decreto nº. 3.058/1999, não se aplica diferentes alíquotas para cada estabelecimento. Este procedimento pode gerar um grande passivo tributário, a ser pago com correção e atualização monetária. O correto é uma alíquota para a empresa, considerando a sua atividade preponderante.

Apesar desta disposição, o Superior Tribunal de Justiça sedimentou entendimento contrário na Súmula nº. 351, estabelecendo que “a alíquota de contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho – SAT – é aferida pelo grau de

133http://www.conjur.com.br/2005-out-09/definir_atividade_preponderante_empresa, acessado em 18 de janeiro de 2011.

103

risco desenvolvido em cada empresa, individualmente pelo seu CNPJ, ou pelo grau de risco da atividade preponderante quando houver apenas um registro.” 134

Esta Súmula, que autoriza a utilização de uma alíquota para cada estabelecimento da empresa, foi editada em resposta à generalização dos estabelecimentos que permitia o cômputo do pessoal administrativo na definição de atividade preponderante, que era a fórmula adotada pelo Instituto Nacional do Seguro Social que, inclusive, expediu a ON nº. 2/1997.

Cremos que o entendimento sedimentado pelo Superior Tribunal de Justiça traz reflexos diretos no Fator Acidentário de Prevenção (FAP), uma vez que, seguindo o mesmo raciocínio, a apuração do FAP deveria ser por cada estabelecimento da empresa, o que resultaria na apuração individualizada dos índices do FAP com a conseqüente aplicação de diferentes alíquotas para mesma empresa.

Contudo, a Lei nº. 10.666/2003 e o Decreto nº. 6.957/2009 não consideram o cálculo do FAP por estabelecimento, mas por empresa, baseando-se no mesmo critério de atividade preponderante do artigo 202, §3º, do Decreto nº. 3.048/1999.

Com fundamento no abalizado entendimento consolidado dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, há empresas que apuram a contribuição para o seguro de acidente do trabalho diferentemente para cada estabelecimento.

É importante ressaltar, todavia, que tais empresas podem criar um imenso passivo tributário que poderá ser cobrado administrativamente ou em âmbito judicial. No caso de ação judicial, a empresa executada pode lograr êxito, desde que consiga levar a discussão até o Superior Tribunal de Justiça por intermédio do Recurso Especial.

3) Do adicional dos Riscos Ambientais do Trabalho

Além das alíquotas diferenciadas acima mencionadas, há ainda a contribuição adicional do risco acidente do trabalho, decorrente da atividade exercida pelo segurado

134 A expressão SAT (seguro acidente do trabalho) era utilizada pela Lei nº 7.787/1989, sendo que atualmente denomina-se RAT (risco ambiental do trabalho), de acordo com a alteração imposta pela Lei nº 9.528/1997.

104

a serviço da empresa que permita a concessão de aposentadoria especial após 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, aplicando-se os percentuais de 12% (doze por cento), 9% (nove por cento) e 6% (seis por cento), respectivamente.

Observa-se, que o tempo e o acréscimo do adicional são inversamente proporcionais, ou seja, quanto menor o tempo exigido para concessão da aposentadoria especial maior será o acréscimo. Isto ocorre porque o número de contribuições será menor.

Ademais, de acordo com a Lei nº 10.666//2003, a empresa tomadora de serviços de cooperativa de trabalho deverá recolher o adicional de 9% (nove por cento), 7% (sete por cento) ou 5% (cinco por cento) no caso do cooperado exercer atividade que permita a concessão de aposentadoria especial após 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, respectivamente.

No caso de cooperativas de produção, a Lei nº 10.666/2003 estabelece os adicionais de 12% (doze por cento), 9% (nove por cento) ou 6% (seis por cento) no caso do cooperado exercer atividade que permita a concessão de aposentadoria especial após 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, respectivamente, cumprindo à cooperativa de produção o recolhimento deste adicional.

4) Da alegada inconstitucionalidade das alíquotas variáveis dos Riscos Ambientais