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Capítulo IV – Movimentos Homossexuais na Segunda Metade dos anos

4.1. ALEM – Associação Lésbica de Minas

Vimos que a trajetória dos grupos ALEM e GURI, se confunde com a da AMGLS. A militância de Soraya Menezes no movimento GLBT, desde que participou do I SENALE, esteve comprometida com as especificidades das lésbicas. Embora tenha compartilhado da proposta de montar um grupo ampliado, que unificava o segmento dos Gays ao das Lésbicas, na medida em que foram surgindo as primeiras mulheres nas reuniões da AMGLS, elas se separaram para organizar o III SENALE108. Após esse evento, que recebeu cobertura da mídia, algumas mulheres se interessaram pelo grupo e manifestaram interesse de militar, levando com que elas optassem por fundar a ALEM, ao invés de retomar o trabalho junto ao Triângulo Rosa de Minas, que neste momento, já havia se transformado em grupo GURI.

Se pensarmos a trajetória política de Soraya Menezes, bem como a de outras militantes que integram a ALEM, entenderemos porque, desde de sua origem, a ALEM conserva fortes traços das formas tradicionais de militância sindical e partidária de esquerda. Algumas integrantes da ALEM, que eram filiadas ao PT, ajudaram a fundar o PSTU, partido ao qual Soraya Menezes foi filiada até 2006. Embora isto seja motivo de controvérsias entre os militantes da cidade, o PSTU109 é um dos partidos que se posicionam positivamente em relação à causa GLBT. Em seu sítio na internet110 consta um tópico chamado “O PSTU e a homossexualidade”, que defende a implantação de um programa específico para GLBT.

Nós anteriormente fazíamos parte da convergência socialista que era uma tendência do interior do PT, onde nós já tínhamos essa discussão, essa discussão era muito avançada em relação a isso, então no partido foi até uma ajuda que eles me deram, não porque eu era militante, né, eu sou militante do PSTU, ou porque é uma bandeira que o partido tem que carregar porque é revolucionário, mas é porque o partido tem o comprometimento de fato com essas bandeiras (Soraya Menezes, 2003).

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Um fato curioso se deu quando as lideranças da Associação haviam alugado um sítio para a realização do III SENALE, mas quando o evento começou a ganhar visibilidade na mídia, o dono do sítio se deu conta de que sua propriedade seria utilizada para aquele encontro e desistiu de alugar o espaço. Faltavam poucos dias para o evento e as lésbicas tiveram que fazer uso de contratos assinados para conseguirem realizar o evento.

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Interessante notarmos, que Carlos Magno, militante do CELLOS-MG, apresenta uma trajetória semelhante, já tendo inclusive militado no PT, também se filiou ao PSTU e veio de Belém (PA) com a

Os sindicatos também tiveram um papel fundamental, tanto na história da ALEM, como na de outros grupos GLBT, que puderam contar com o apoio para a realização de reuniões e atividades. Em 1998, a ALEM, junto aos demais integrantes da AMGLS, conseguiu organizar a Primeira Parada do Orgulho Homossexual de Minas Gerais, com o amplo apoio do meio sindical e de integrantes do PSTU, que representaram uma parcela considerável dos 50 participantes que o evento contabilizou.

A Parada GLBT de Belo Horizonte é uma das mais antigas do País e foi a única Parada GLBT do Brasil fundada por Lésbicas, em um contexto histórico que exigia muita coragem.

Naquela época, do PSTU, que apoiou, porque não tinham acreditado que ia sair uma Parada, todo mundo criticou, inclusive os gays, eles falavam assim, o Itamar: “gente isso é uma loucura, porque nós vamos tomar pedrada na rua”. E nós, naquela época, que éramos militantes do PSTU, eu a Helena, a Rogéria, a Girlane, que era do meu núcleo do PSTU, que existia um núcleo lá dentro que era o núcleo de negros e negras do PSTU. Então a gente se articulou pra ajuda a organizar junto com a Soraya, pra dar esse apoio, até porque se acontecer alguma coisa, a gente tem que estar lá, mas a gente não acreditava que isso fosse acontecer, tipo assim, que fosse sair essa Parada, a Soraya: “não, é possível sim, nós vamos, e tal” (Josiane Mota, Entrevista Coletiva, 2007).

A ALEM esteve durante sete anos na direção deste evento, e participa até hoje do Comando da Parada, sendo a responsável pela continuidade deste evento em tempos de pouco respaldo político. A disposição para o enfrentamento público da invisibilidade homossexual por parte das lésbicas é visível no seguinte depoimento.

Inclusive as mesmas pessoas que estiveram na primeira Parada, elas falaram: “isso ai é uma loucura, nós não vamos continuar, Parada é pra São Paulo, pro Rio de Janeiro, aqui em Belo Horizonte não existe. Ai você vai pegar você vai ver que nós estamos desde a primeira até agora. Porque a gente faz parte da coordenação da Parada. Foi uma resistência nossa inclusive, nós resistimos e continuamos (Josiane Mota, Entrevista Coletiva, 2007).

Segundo Soraya Menezes a principal motivação para fundação da ALEM foi a constatação de que as mulheres trabalhadoras com as quais convivia continuariam a ser discriminadas caso não houvesse uma organização própria das mulheres lésbicas para lutar por direitos. A partir dessa constatação, lhe pareceu importante criar um espaço para que elas se organizassem e, desse modo, promovessem o empoderamento das lésbicas. Assim como outros grupos, a ALEM é composta por lésbicas que saíram de movimentos sindicais, estudantis e políticos, já que nesses espaços não havia discussão sobre homossexualidade.

Embora a ALEM não seja um partido político, possui uma proximidade com seus modos de operar. Por exemplo, por mais divergências que se tenham sobre determinado ponto, após as discussões e votações, as integrantes devem sair com um

posicionamento unificado. Nesse sentido, Soraya afirma que a associação “não é um

partido, mas tem centralismo” (Soraya Menezes, 2004).

A estrutura organizacional do grupo se pauta pela tentativa de funcionamento colegiado, aonde as decisões são tomadas em assembléia. As decisões mais sérias são tomadas na Reunião da Diretoria (mensal), mas, uma vez por semana, existe uma reunião aberta para todas as associadas que quiserem comparecer. Embora a ALEM valorize ações de impacto e enfrentamento público, em sua dinâmica de atuação as integrantes possuem um amplo circulo de sociabilidade interno, no qual se realizam churrascos, festas, viagens, oficinas, entre outras atividades.

Essa vinculação com partidos de esquerda e sindicatos talvez tenha ajudado a criar na ALEM a cultura política de se manter em constante negociação com outros atores políticos, tendo uma visão de cidadania que leva às posições mais radicais quanto à existência do gueto, da exploração da indústria cor-de-rosa, da discriminação racial, da desigualdade social e das múltiplas inter-relações entre elas. Como podemos perceber no depoimento abaixo, esse posicionamento político é visto com importância para a efetividade da atuação do grupo.

A Soraya como fundadora, ela trouxe pra ALEM, todo o conhecimento político dela, isso é qualquer instituição, seja religiosa, o fundador e a fundadora, ele leva sua bagagem de conhecimento, e o que favoreceu e favorece o crescimento da ALEM, e isso é positivo, porque, como que nós vamos intervir numa sociedade, combater o preconceito, se a gente não conhece como, se essas meninas aqui não sabem, como que funciona essa sociedade, o que que a as oprime, o que que as exclui, é o sistema. Esse marco político, ele é fundamental na formação, tanto foi fundamental na formação dela pra poder, junto com a Sueli, fundar essa associação, e agora, ela, como dirigente, é, as duas como dirigentes dessa instituição, o que elas estão fazendo, elas estão desenvolvendo a formação, a política da ALEM de formar essas mulheres, até pra questão da autonomia dessas mulheres, a questão da visibilidade, tudo está condicionado a esse conhecimento, de como é que funciona tudo isso, porque ela não tem visibilidade? (Josiane Mota, Entrevista Coletiva, 2007).

Desde o inicio, a ALEM buscou realizar atividades diversificadas, o que contribui muito para o alcance e o andamento da participação política do grupo, permitindo buscar formas inesperadas de apoio de outros atores políticos.

(...) uma das primeiras pessoas que foram até a porta da boate distribuir os panfletos foram os metalúrgicos, trabalhadores da Manesman, da Toshiba, então isso é uma coisa muito importante, quando você consegue trazer outros movimentos sociais para um movimento social, porque aí você dialoga com eles quebra o preconceito e faz uma discussão pra que eles inclusive multipliquem essa discussão no seu meio, que no caso é o meio sindical (Soraya Menezes, 2003).

A atuação política das integrantes sinalizava para uma concepção de arena política intensa e comprometida com outras dimensões da transformação social, o que

muitas divergências entre os grupos da cidade, produz no discurso de uma das lideranças um híbrido interessante entre reivindicações por reconhecimento e por distribuição (Fraser, 2002).

Embora desde o princípio a vinculação com a esquerda radical tenha provocado conflitos, nos quais a ALEM foi acusada de privilegiar as causas e os princípios ideológicos do PSTU em detrimento das demandas GLBT, no desenrolar das atividades do grupo ficou claro que essas temáticas emergiriam com uma forma própria. O estilo de militância desenvolvido pela ALEM, que de certa forma influenciou muito a militância na cidade, engendrou práticas que a colocam em um campo político complexo111.

Sobre a complexidade de atuação que nos referimos aqui, Anjos (2002), em seu trabalho sobre o grupo Nuances de Porto Alegre, detecta um “(...) continuum entre a

militância pela ‘causa’ e o benevolato junto à população homossexual, que, por sua vez, oscila entre população representada e população atendida” (Anjos, 2002:231). As

demandas do segmento GLBT e a forma como elas emergem na sociedade brasileira, nos leva a supor que este continuum é um fenômeno bastante comum nas práticas dos grupos em todo o Brasil. Talvez o formato de ONG’s predisponha a práticas sociais que confundam as lógicas da política e do mercado. Embora este continuum se manifeste de formas bastante particulares, encontramos algo muito semelhante em todos os grupos que estudamos, e a ALEM não foi exceção.

Se por um lado, a ALEM já parte de uma tentativa de representar politicamente o segmento das lésbicas, como indica claramente seu estatuto:

Associação Lésbica de Minas, enquanto instituição social e política, é constituída para fins de coordenação, estudo, proteção, luta, reivindicação e representação legal das lésbicas na base territorial de Belo Horizonte e Estado de Minas Gerais, atuando no sentido de articular e expressar o conjunto de reivindicações deste segmento social, visando a melhoria das condições de vida de suas representadas, a defesa da liberdade e cidadania das lésbicas e fortalecimento da participação democrática em igualdade de condições com outros setores da sociedade brasileira, a nível Municipal, Estadual e Federal (Estatuto da Alem).

Por outro, muitas vezes presta serviços às lésbicas através das campanhas de prevenção junto às lésbicas em geral, em projetos de prevenção como o projeto intitulado “Lésbicas Profissionais do Sexo”, e também através de encaminhamento

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Em trabalho anterior (Machado & Prado, 2005), localizamos detalhadamente a ALEM entre as funções de atender e representar a população lésbica. Entendemos que este é um dilema que permeia quase todos os grupos representantes deste movimento. Para uma discussão mais aprofundada sobre o continuum entre atender e representar enfrentado pela militância GLBT ver Anjos (2002).

jurídico e psicológico. No sítio do grupo na internet112, são apresentados vários serviços, tais como jurídicos e psicológicos.

Desde sua fundação, a ALEM atribuiu grande valor a práticas inclusivas, como por exemplo, gravar fitas de áudio para associadas analfabetas e deu grande importância a outros antagonismos sociais, tais como os de classe, gênero e raça. Durante muito tempo realizaram um trabalho em comunidades de classe baixa (aglomerados da Serra e Tupis) através de oficinas de auto-estima e visibilidade. Em uma mesa sobre a temática GLBT que mediei em 2004, num seminário sobre minorias sociais realizado na UFMG, e que contou com a presença de Danilo Ramos, Walkiria La Roche, uma representante da ALEM começou sua fala lendo as outras temáticas do seminário e mostrando que o público da associação interpela tais categorias sociais.

As integrantes da ALEM afirmam que defender as especificidades das lésbicas é importante também para enfrentar o machismo que os Gays reproduzem, e não só entre heterossexuais, pois este dificulta o protagonismo e a emancipação das mulheres do Movimento GLBT113. O grupo realiza reuniões semanais fechadas com as lésbicas integrantes do grupo para debates e decisões quanto aos rumos de sua organização, nas quais gays não podem participar. Entretanto, mesmo defendendo esta postura, o que por vezes foi interpretado como rompimento com o movimento GLBT mais amplo114, a ALEM busca constantemente cooperação entre os diversos movimentos sociais como forma de atuação mais organizada e combativa e posicionamento políticos mais consistentes.

(...)gays e lésbicas não podem lutar contra o preconceito sozinho, sem ter a unidade por exemplo dos negros e das mulheres, e eu acho que os movimentos sociais eles tinham que se unir, a nível sindical, a nível de mulheres, a nível de gays, porque eu acho que a nossa vitória ela seria mais imediata (Soraya Menezes, 2003).

O que me prendeu mesmo a ALEM foi a questão política, por ter um lado... político. A ALEM, além de ser uma entidade lésbica, é uma entidade lésbica feminista (Dany, 2006).

Essa forma de conceber o campo político faz com que, na constituição da identidade coletiva desse grupo, tanto a definição das práticas sociais grupais quanto os valores, crenças e interesses compartilhados, estejam em estreita relação com as

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http://www.alem.org.br.

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Em nosso campo de pesquisa identificamos vários acontecimentos que mostram que isso não é uma querela infundada. Mesmo no interior do movimento GLBT a invisibilidade imposta às lésbicas é marcante.

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instituições políticas de esquerda; conseqüentemente, grande parte das relações externas ao grupo estará contaminada por essa identidade selecionando aliados e adversários políticos. Isto fica claro na fala de uma de nossas entrevistadas:

Nós sempre tivemos problema por causa dessa vinculação da Soraya ao PSTU, por exemplo, eu rompi com o PSTU, há muito mais tempo que a Soraya, e até hoje algumas pessoas me vêem como pessoa do PSTU, e eu não sou há muito tempo. Então, isso é, infelizmente, é uma faca de dois gumes, por um lado toda essa formação política dela, lá da convergência socialista do PT contribuiu para que ela pudesse fundar essa instituição, como também pode afastar alguns possíveis apoiadores. Entendeu? Por causa das divergências políticas que acontecem nesse meio, sindical e partidário. Então, tem esse problema, e associar a ALEM ao PSTU sempre foi assim, uma coisa totalmente complicada, porque a única pessoa que permaneceu, e que tinha esse vínculo, era a Soraya e ninguém mais (Josiane Mota, Entrevista Coletiva, 2007).

Nesse Sentido, para as integrantes da ALEM, a qualidade das alianças políticas é mais importante do que a quantidade de alianças, bem como a visibilidade ou alcance político oferecido por essas alianças. Isto faz com que a ALEM conceba as diversas lutas democráticas de forma interrelacionada, compreendendo o processo de mudança política e transformação social de forma mais abrangente:

(...) se o movimento homossexual se interagisse com o movimento sindical eu acho que a nossa luta teria mais avanço porque nós conseguiríamos, por exemplo, que nos boletins do sindicato eles colocassem a nossa questão115. (...) O mundo não é um gueto que eu vou conversar só com Gay, com Lésbica, é só nós116; prá nossa luta ter sucesso nós vamos ter que unir com mulher, vamos ter que unir com negro, e prá gente conseguir uma vitória, senão não vai funcionar.

Hoje lutar contra o preconceito e a discriminação é garantir o emprego, é garantir que lésbicas e gays, tenham seu emprego garantido, porque a discussão, ela passa por aí, porque o preconceito e a discriminação existe hoje, porque infelizmente, porque o capital quer assim, porque as mulheres hoje ganha menos do que por exemplo os homens, isso é interessante pro capital, se uma lésbica ganha menos que uma mulher é interessante pro capital, então a luta contra o preconceito que passa pela associação é uma luta que passa também por uma luta de classe e de conscientização política. Enquanto existir o preconceito e a discriminação vai existir lésbica na favela, vai existir gay fora das faculdades, vai existir travesti que é expulso de casa (Soraya Menezes, 2003).

Dentre os grupos e movimentos que a ALEM mantém um diálogo constante listamos: Maria Quitéria (PE); COLERJ – Coletivo de Lésbicas (RJ); LEGAL; Coletivo Feminista de Lésbicas (SP); Movimento de lésbicas de Campinas(SP); ASSTRAV(MG); CELLOS(MG); GRAL(Programa Gênero-Reprodução-Ação- Liderança); GAPA; Fórum de Mulheres da Rede Feminista; Movimento Negro Unificado; PSTU; CONLUTAS e sindicatos diversos;

Muitos dos conflitos entre a ALEM e outro grupos GLBT da cidade, derivam de seus posicionamentos com relação ao mercado e às alternativas de socialização que se

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Encontramos algumas notas referentes a questões GLBTT no boletim informativo do SINDESS.

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Com esta frase pensamos que Soraya tece uma crítica ao “Só Pra Nòs”, que era um bar gerenciado pelo Clube Rainbow de Serviços e discutiremos mais detalhadamente adiante.

dão via guetos comerciais. Soraya Menezes, ao criticar o gueto, argumenta que alguns homossexuais não teriam nem como alcançá-lo, e defende que devemos lutar de forma a contemplar parcelas maiores da população, uma vez que a “nossa luta, não é só por um

gay que freqüenta boate, porque na realidade se ele freqüenta é porque ele tem dinheiro; mas para aquele que não freqüenta também, porque esse não tem dinheiro, ele é explorado; além dele ser oprimido ele é explorado” (Soraya Menezes, 2003).

A ALEM tentou, ao longo de sua história, manter o caráter supranacional, mas sempre a partir de práticas locais. As manifestações de rua realizadas pela Associação são bons exemplos dessa relação política: “Lésbicas contra a ALCA”, “Lésbicas contra a Guerra”117, “Lésbicas no Dia Internacional da Mulher”, “Lésbicas a favor da greve”118.

Este posicionamento contra-hegemônico fica bem explicitado neste depoimento que se relaciona à cooptação dos movimentos socais GLBT pela lógica de mercado:

(...) você liga a televisão e o que que fala, com isso vai aumentar o fluxo de turista etc, dificilmente você vê as reivindicações serem colocadas, e tem alguns os próprios gays mesmo falam dá uma entrevista dizendo, o turismo vai aumentar aqui, nós não somos diferentes de outros trabalhadores por exemplo, essa sociedade capitalista elas colocam gays e lésbicas como que se fosse um consumidor de primeira grandeza como que abre até agência de viagem pra GLS, isso pra mim é atraso, tem gente que fala isso pra mim é uma conquista, mas esse mesmo capital, o que quer é explorar gays e lésbicas. Tanto é que hoje já tem um giro de coisa pra comunidade GLS, e isso não é vitória pra nós, porque a questão de classes, nós temos gays nas favelas, nós temos gays fora das escolas, nós temos lésbicas que são empregadas domesticas, nós temos uma camada de classe social como a gente vive hoje uma crise de desemprego, como a gente vive hoje uma frente popular que o governo de frente popular que massacra o direito dos trabalhador e, por exemplo a reforma da previdência o gay ta envolvido nela, a lésbica ta envolvido nela. O capital ta querendo levar a luta GLS pra uma luta de consumo e não é isso, ai desvirtua, é onde os grupos organizados têm que estar atentos pra não caírem nesse conto de sereia porque nós fazemos parte de uma população, uma população explorada, porque o GLS seria diferente se estamos inseridos nessa população (Soraya Menezes, 2003).

Apesar deste posicionamento contra o capital, a ALEM foi o grupo que melhor conseguiu internacionalizar seus contatos e financiamentos para suas atividades. Em 1999 a associação levou um painel, que descrevia suas atividades, para o V Encontro Latino-Americano e Caribenho de Lésbicas, onde conseguiram verbas provenientes dos movimentos feministas da Holanda, Alemanha e EUA para comprar e equipar sua sede, bem como uma verba mensal para pagamento de uma funcionária.

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Manifestação realizada contra a Invasão Norte-Americana no Iraque.

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Nesta época, a associação já vinha a dois anos se reunindo em locais emprestados, tais como a sede do PSTU e do sindicado que Soraya dirigia (SINDEESS), e neste encontro internacional conheceram,

(...)outras lésbicas, de outros países, e que gostaram do nosso trabalho e que já tinham ouvido falar que, infelizmente, nós vivemos num Estado extremamente conservador e qualquer iniciativa desse tipo foi vista com bons olhos, e até com muita, com muita, como diz assim, as lésbicas a nível internacional, com muita admiração, ficaram muito admiradas, de nós lésbicas mineiras de levar isto a frente até realizar a Parada. (...) Nós