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Capítulo V – A Diversificação do Movimento GLBT (A década de 2000)

5.1. Clube Rainbow de Serviços

Em julho de 2000, surge por um caminho bastante peculiar na história do movimento GLBT brasileiro, um grupo que durante muito tempo teve forte atuação no cenário da militância homossexual da cidade: O Clube Rainbow de Serviços (CRS). O CRS surgiu por iniciativa de dois casais (um de gays e um de lésbicas) que sentiram a necessidade de formar um clube que pudesse suprir a falta de serviços que eram oferecidos a homossexuais.

(...) eu enquanto hetero tinha toda a plenitude do direito do cidadão hetero, ou seja, eu tinha clubes, eu tinha serviços, eu tinha associações, eu tinha convênios médicos, e de repente, enquanto homossexual, isso tudo começou a me faltar, então nós percebemos que talvez dali pudesse nascer uma organização que pudesse suprir essas necessidades, então nós resolvemos criar um clube: vamos criar um clube? (Danilo Ramos, 2003).

Os dois casais investiram dinheiro particular para financiar as primeiras reuniões e atividades do grupo e começaram a utilizar a sala de casa como escritório. Os encontros, que até então se resumiam a reuniões informais para conversas e socialização, foram aumentando em número de pessoas, levando com que fossem transferidos para lugares públicos como praças, bares ou parques. Aos poucos adquiriram um computador e posteriormente alugaram uma sala em uma galeria que servia para abrigar as reuniões e atividades desenvolvidas pelo grupo.

Danilo Ramos, principal liderança, que havia “saído do armário” há pouco tempo, quando resolveu fundar o grupo, afirma que nenhum integrante do CRS tinha conhecimento de alguma outra forma de organização coletiva referente à orientação sexual. O caráter político das atividades do grupo começou a aparecer quando suas atividades foram tomando corpo e seus integrantes detectaram outras demandas políticas: “(...) o Clube Rainbow que originalmente partiu com o intuito de suprir uma

lacuna comercial acabou virando o supridor de uma lacuna social” (Danilo Ramos,

2003).

A forma como esse grupo se coloca no cenário político parte essencialmente de uma iniciativa de organização da sociedade civil, levando para o domínio público questões que surgem de demandas vivenciadas na intimidade cotidianamente.

O CRS realizou diversos tipos de atividades para o segmento GLBT: grupos de discussão e convivência, serviço jurídico, encaminhamento para psicólogos

conveniados, realização de eventos157, palestras informativas dentro e fora do grupo, publicou um jornal de ampla circulação no meio GLBT, militância de internet tais como listas de discussão, malas diretas etc. O grupo buscava também oferecer uma ampla lista de serviços conveniados, com descontos para os associados, que incluía agências de turismo, dentistas, saunas, boates, locadoras de automóveis, cabeleireiros e etc.

Seguindo a lógica de integrar diferentes tipos de atores sociais, o grupo atuou junto com empresários para fortalecer e estruturar a ASSEMGLS (Associação dos Empresários GLS de Minas Gerais), que visava consolidar o segmento GLBT no mercado e procurar alternativas para melhorar os serviços prestados à comunidade. Embora com objetivos claramente mercadológicos, a ASSEMGLS levantou a possibilidade de desenvolver parcerias com ONG’s e com o poder público para viabilizar ações que englobassem tanto campanhas preventivas de DST-AIDS, quanto à luta contra o preconceito, o incentivo ao turismo GLBT e outras (Gonline, 10/09/2003).

Essa perspectiva pouco crítica à lógica de funcionamento do mercado, provocou uma postura assimilacionista no CRS em sua luta por direitos, descrita por um dos voluntários do grupo como visibilidade “pacífica” ou “diplomática” 158.

Pra uma família uma “família padrão” (...), a vivencia deles não permitiu eles conviver com isso, então tem que ser muito aos poucos pra não causar choque, não causar reações. O próprio preconceito vem disso, da falta de conhecimento de alguma coisa, então precisa fazer um trabalho de conscientização primeiro, pra depois a gente inserir isso tudo, né? A forca não leva a nada mesmo (Participante Gay do Clube Rainbow, 2003).

Nesta concepção, o Movimento GLBT deveria compreender e aceitar as hierarquias sociais, provocando mudanças a partir de um diálogo cordial.

Essa conquista seria gradativa, da noite pro dia a gente não consegue nada, e porque aos heterossexuais, eu falo muito isso, eles estão com uma facilidade de aceitar isso, eles estão fazendo força pra aceitar mesmo, pra entender pra compreender, conviver, então eu acho que seria mais pra aqueles que não querem; que não abrem discussão pra isso entendeu? Porque estão acontecendo algumas coisas que percebem que eles, a maioria dos heterossexuais estão abrindo caminho pra gente estar discutindo isso, eu acho que a partir da discussão é a melhor solução (Participante Gay do Clube Rainbow, 2003).

Em trabalho anterior (Machado & Prado, 2005) analisamos a atuação do CRS, identificando nas atividades do grupo, a tarefa inerentemente política quando pensamos na ponte que é feita entre a oferta de serviços e a representação política dos

157

1o Evento Personalidades da Noite, Gaypira (Festa Junina Gay), premiações, jantares/ festas/churrascos de confraternização, entre diversas outras.

158

Esta forma de conceber a militância gerou fortes críticas de integrantes de outros grupos do movimento. Carlos Magno, por exemplo, em um e-mail enviado no dia 30 de agosto de 2004, para a lista dos organizadores da Parada de 2004 (http://br.groups.yahoo.com/group/paradasdoorgulhominas), se

homossexuais junto aos órgãos estatais. Se por um lado, tenta-se fortalecer uma rede de serviços para homossexuais, por outro, o grupo tenta, “(...) abrir portas na luta contra o

preconceito” (Danilo Ramos, 2003). Na descrição abaixo podemos notar como a função

política se mistura claramente à prestação de serviços jurídicos:

Quando acontece um fato de discriminação elas logo ligam pra policia fazem um boletim, depois ligam pra cá pedem uma assistência, ai o Danilo vai com a Marimilia, que é advogada que é associada aqui do Rainbow e já começa a tramitar o processo todo (Participante Lésbica do Clube Rainbow, 2003).

O contato de Danilo Ramos com outros grupos militantes de Belo Horizonte iniciou-se na Parada de 2000, e foi crucial para seu envolvimento com a comunidade GLBT, de modo mais sistemático e politizado.

Casualmente nós ficamos sabendo que ia acontecer uma Parada em Belo Horizonte. Até então, ele que estava, esse meu parceiro, que estava já convivendo no gueto há muito mais tempo que eu, nunca tinha ouvido falar de uma Parada em Belo Horizonte e muito menos... os próprios líderes dos guetos não tinham conhecimento disso. Eu então resolvi, eu e ele resolvemos ir a essa Parada que estava sendo organizada por Soraya, Itamar e Porcina. Chegamos lá na Praça 7, eu e ele, tinha um caminhãozinho com um auto-falante muito pequeno e com uma música de fundo tocando e tal, e as pessoas falando no microfone. Só que nesse período a gente, no Rainbow a gente tinha tido notado a necessidade de estar participando com a comunidade a nossa idéia... Então o que que nós fizemos? Olha, falar isso boca a boca é muito fácil porque dentro do gueto você tem uma comunicação muito forte no boca a boca. A gente precisava ter alguma coisa mais concreta, e eu dei a idéia de fazer um jornal, um jornal que agente pretendia distribuir no gueto pra poder aglutinar as nossas idéias as idéias e demandas da comunidade. (...) Aí nós fomos lá [na Parada de 2000], nós fomos lá mais por curiosidade do que por objetivo de participação, e como a gente circulava muito no gueto, nos bares, boates, etc. e falava sobre o jornal e coletava informações pro jornal essa coisa toda, a gente teve uma certa publicidade. Quando chegamos lá tinha algumas drag´s em cima do caminhão, e essas drag´s nos apontaram pra esses três militantes (xxx). Aí eu fui convidado pelo Itamar e pela Soraya, Porcina não estava no momento na hora pra subir no caminhão, e aí me anunciaram como mais um militante gay na cidade e tal. E eu fiquei assim tremendamente assustado, porque eu fui pego de surpresa porque na realidade eu ainda não era um militante, eu estava me tornando um, mas não tinha plena consciência disso naquele momento e quando me convidaram a falar e tal, jogaram o microfone na minha mão e eu disse o que me veio à cabeça e que estava no coração... foi algo ligado ao sofrimento e a discriminação dos gays dentro da cidade de Belo Horizonte, dentro estado e tal. E tinha um grupo muito pequeno de pessoas reunidas naquela ocasião, eu acho que a Parada não deu mais que 500 pessoas. Então foi o meu contato com a Parada, dali pra frente eu comecei a ter um foco um pouco mais amplo sobre a situação da comunidade a qual eu sentia que pertencia e sinto que pertenço. Eu então comecei a ver isso aí com um outro olhar, com um olhar mais... mais de direito, mais de conquistar espaço, porque na realidade simplesmente oferecer um espaço de lazer e de suprir demandas particulares de (xxx) e de pessoas que teriam coragem de procurar. Aí a gente começou a se envolver nisso, e daí pra frente as coisas começaram a acontecer. Esse foi o início da minha história e da história do Rainbow (Danilo Ramos, 2007).

O Jornal Rainbow, que foi pago com verba do Ministério da Saúde para campanhas de prevenção a DST’s (Doenças Sexualmente Transmissíveis), foi a publicação GLBT de Belo Horizonte que mais resistiu em número de exemplares, em tempo de publicação e em estrutura editorial. O jornal era editado em formato tablóide,

totalmente colorido, com fotos, e com uma tiragem que circulou acima de 1500 exemplares. Embora não cumprindo a proposta de ser mensal, o jornal publicou mais de 25 números entre 2000 e 2004.

O conteúdo do jornal seguia uma linha editorial semelhante ao ideário militante do CRS, fomentando uma cultura GLBT, através do culto aos seus produtos, eventos e personalidades. O Jornal se revelou uma ferramenta essencial ao trabalho do grupo. Sua circulação, relativamente ampla, promoveu a visibilidade do grupo, disseminando informações, fazendo denúncias e servindo como ponte entre o grupo e a comunidade. Além da verba que o Ministério da Saúde oferecia, o Jornal também ajudou a levantar verba com publicidade das casas e empreendimentos GLBT de Belo Horizonte.

Esse jornal causou uma repercussão muito interessante, as pessoas começaram a se aproximar da gente e começaram a colocar outras demandas, que não aquelas que a gente tinha instituído e essas demandas estavam muito ligadas a questão dos direitos humanos. E aí, a gente acabou, eu principalmente acabei caminhando por essa vertente. Com a publicação do jornal, essas demandas cresceram assim... assustadoramente e eu vi que as nossas demandas pessoais eram relativamente modestas, ficaram assim... pequenininhas diante das demandas de toda comunidade (Danilo Ramos, 2007).

No Jornal Rainbow (N. 9, julho de 2001) foi dito que o CRS foi criado “(...) com

o objetivo de prestar serviços e informações à comunidade homossexual de minas gerais. Está em nosso projeto a meta de desenvolver uma cultura GLBTS, voltada para orientar, defender e criar oportunidades de sobrevida ao cidadão homossexual dentro de nosso estado”. Mesmo após sua inserção em um ambiente mais politizado, o grupo

continuou enfatizando a necessidade de se fortalecer a “cultura GLBT” e, consequentemente, fortalecer o gueto, estimulando, fomentando e divulgando ambientes dessa natureza e dando grande importância às formas de visibilidade conquistadas pelos gays a partir de seu poder aquisitivo. Concluímos isso a partir do conteúdo do jornal, nas listas de convênios159, divulgação de roteiros GLS com bares, boates, cafés, cinemas, restaurantes, saunas e etc., realização de eventos como a entrega de prêmios para personalidades, jantares e eventos esportivos, no estilo das atividades do grupo, tais como participar ASSEMGLS. Tudo isso aponta, mais do que as origens e objetivos do grupo, as estratégias tomadas pelo grupo e sua forma de pensar a política. O CRS não se questionava quanto atender à demanda da comunidade com práticas assistencialistas utilizando recursos privados. O seguinte relato, sobre um dos projetos que a instituição pretendia desenvolver, reforça este ponto analítico:

159

O projeto maior do Rainbow que é estar realmente criando um clube de lazer associado a uma casa abrigo para que a gente possa acolher os gays que são segregados que são expulsos de casa e que principalmente na adolescência que os pais não compreendem a homossexualidade muitas vezes eles vão pra um caminho que não é o que a gente gostaria que eles fossem, e acredito que nem eles. Mas muitas vezes eles não tem escolha, que é o caminho da marginalidade, da prostituição, das drogas e tal. Então a gente imagina criar um espaço no futuro que tenha a possibilidade de estar possibilitando, auxiliando ao homossexual ter uma plena ação de lazer como qualquer heterossexual, e também ali a gente possa estar abrigando essas pessoas e ao mesmo tempo estar profissionalizando essas pessoas com vários cursos profissionalizantes que seriam cursos ligados a área de lazer, a área culinária a área de hotelaria, esse é o sonho que a gente tem (Danilo Ramos, 2003).

Podemos perceber que o grupo se colocava como uma entidade que visava atender a população GLBT, entretanto, ao propor suas atividades, transmitiu e defendeu uma visão de homossexualidade que pretendia representar junto à sociedade, bem como o intuito de representação. Muitas vezes a instituição defendeu uma imagem definida de que a homossexualidade seria algo “perfeitamente natural”, um traço de personalidade cuja normalidade foi “cientificamente comprovada”. Sobre esse pilar, o grupo construiu seu discurso, que ora se traduziu em termos de “cidadania plena” ou “direitos

humanos”, ora atribuiu poder a “cultura GLBT”, engessando uma definição de

homossexualidade e perdendo de vista a complexidade das construções sociais que legitimam os múltiplos processos de exclusão.

Quando se atribui à homossexualidade o status de direito humano, atribuindo à homofobia a categoria de problema social de forma simplificada, conforme o que encontrou Anjos (2002), podemos observar que o grupo chega a suprimir as especificidades, tornando a homossexualidade uma “causa defensável”, quando reduzia suas demandas ao termo da exclusão. Todavia, ao contrário do que a autora argumenta, a defesa de uma homossexualidade “naturalizada” e não construída, fez com que o CRS mantivesse um discurso universalizante, no que diz respeito ao direito social, e mais atento às peculiaridades e discursividades GLBT.

A desconexão entre os múltiplos processos de exclusão na concepção política de uma das lideranças talvez nos mostre porque o grupo manteve um discurso que preservava o conteúdo das demandas específicas do segmento representado/atendido, e uma perspectiva política restrita, no que tange outros segmentos sociais, bem como questões políticas macroestruturais.

Talvez porque o que a gente tem tentado é lutar, não por uma imposição em relação a uma cor ou em relação a uma classe econômica, porque o movimento negro de certa forma ele luta também pelo avanço econômico, nós não necessariamente lutamos pelo avanço econômico homossexual, nós lutamos pelo direito a cidadania plena. Talvez isso

difira um pouco o movimento homossexual dos demais movimentos. Mas o elo que nos une é exatamente a exclusão, é a categoria de sermos minoria (Danilo Ramos, 2003).

No jornal do CRS, a grande maioria das matérias fala sobre temas da comunidade GLBT, passando uma imagem da cultura GLBT para si mesma e para o restante da sociedade, com o objetivo de “aumentar a auto-estima” da comunidade e buscar “um diálogo com a sociedade”. Estas características do grupo, que poderiam ser facilmente reduzidas como perniciosas a uma atuação política consistente, trouxeram pontos que não devem, de maneira alguma, ser desprezados como experiência social, pois nos revelaram formas contemporâneas da participação política. Ressaltamos que os movimentos sociais são, utilizando um termo de Scherer-Warren (1993), “laboratórios” de experimentação social, e constituem um campo de ação onde a criatividade possui grande valor.

Nesse sentido, a condição de “Clube de Serviços”, através da solidificação dessa cultura GLBT e da conseqüente formação de um público que a alimenta e consome, possibilitou ao grupo o contexto necessário para que pudesse ser construído um empreendimento comercial, que o grupo chamava de “Centro de Convivência SóPraNós” 160, e que abriu diversas portas ao trabalho do grupo, mas reforçava ainda mais a característica mercadológica e assimilacionista da instituição.

Nós sentíamos que a nossa cultura nasceu num gueto, assim como todas as culturas de minorias nasceram num gueto. Por exemplo, o negro na senzala, mulheres na sacristia, né? Idosos em associações de aposentadoria. (...) Então todos os movimentos sociais nasceram em guetos, e nossa fonte de gueto é um bar, então nós imaginamos estar criando um espaço que pudéssemos desenvolver o diálogo social e político e ao mesmo tempo estar propiciando aquele ambiente do gueto que originou o movimento, que é aonde as pessoas vão e se sentem absolutamente iguais, sem diferença (Danilo Ramos, 2003).

Ao mesmo tempo em que gerava renda, promovendo com relativo sucesso a sustentabilidade do grupo, o centro de convivência mantinha a sede sempre cheia atraindo diversos participantes, voluntários e usuários para as atividades do grupo.

Então o que que banca o Rainbow mesmo não são mais os Associados, já chegou uma época que os associados conseguiram bancar o Rainbow, mas o que banca o Rainbow hoje é o espaço de convivência mesmo (Participante Lésbica do Clube Rainbow, 2003).

Contudo, o empreendimento comercial contrastava com a condição de ONG, gerando atritos entre a direção, os associados e a comunidade GLBT em geral, e principalmente, com outras ONG’s, como podemos notar no trecho abaixo.

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Por isso que às vezes eu fico meio puta sabe, porque o pessoal chega aqui no bar e fala assim, que ta ganhando rios de dinheiro, mas eu apresento a contabilidade do SóPraNós pra quem quiser, não tem lucro mesmo, porque o lucro vai todo embora pra sustentar o Rainbow, porque não é barato sustentar o Rainbow (Participante Lésbica do Clube Rainbow, 2003).

A política de sustentabilidade permitia ao grupo mais autonomia em suas atividades e mais poder de atuação, uma vez que podia contar com funcionários assalariados que coordenavam o voluntariado. Essa característica liberal do grupo, de partir de iniciativas privadas, fomentarem uma cultura GLBT e estimular o desenvolvimento de “guetos”, nos fez questionar a extensão das atividades do grupo. Observamos certo amadorismo e despreocupação com procedimentos e protocolos institucionais, que nos parecerem importantes para uma representatividade institucional de setores da sociedade civil, bem como uma atividade militante eficiente e renovadora. Fatos como o processo de despejo que o grupo sofreu, fazendo com que perdesse sua sede e sua sustentabilidade, em virtude de uma cláusula contratual descumprida no contrato de comodato do imóvel, somado à estrutura hierárquica rígida e pouco democrática do CRS, talvez apontem para a importância de grupos militantes se estruturarem mais democraticamente.

Importante ressaltarmos que, embora o CRS tenha sido eficiente em desenvolver formas alternativas de sustentabilidade, estas formas não se consolidaram, o que fez com que várias atividades do grupo fossem pagas com recursos particulares de Danilo Ramos. “O Rainbow... nunca teve dinheiro né? Boa parte das edições dos jornais, que

chegaram a 25, foi com dinheiro do meu bolso, eu acabei me endividando pessoalmente e tal” (Danilo Ramos, 2003).

Um e-mail enviado à lista de discussão do grupo161, no dia 02 de novembro de 2003, traz um relato sobre como ocorreu o fechamento do centro de convivência Só Pra Nós:

Um “até breve” do SóPraNós

Realizamos só aqui no SóPraNós neste período, o trabalho de prevenção com mais de 18.000 mil pessoas.

Ouvimos e procuramos ajudar centenas de casos de discriminação por orientação sexual.

Realizamos eventos que integraram nossa comunidade melhorando sua auto-estima, como saraus, concertos musicais e abrimos espaços a novos talentos da comunidade. Aqui acolhemos e instruímos GLBT’s do interior em como se organizarem como ONG, mostrando a importância de um projeto de sustentabilidade para se tornarem independentes.

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Os recursos do SóPraNós propiciaram sustentabilidade para o Clube Rainbow, para custear, água, luz, telefone, internet e abrindo espaço para o grupo de mulheres e jovens. Bem como possibilitou reforçar o Projeto "A Chave do Armário" parcialmente financiado pelo Ministério da Saúde, que faz parte o Jornal Rainbow, além de manter custos de transportes para palestras em mais de 15 faculdades e dezenas de escolas, na luta contra o preconceito, e trabalho de prevenção em outros bares, saunas e boates com transporte para voluntários.

O SóPraNós iniciava um processo de abertura de espaço para eventos de outras instituições começando pelo importante PROJETO HORIZONTES, que infelizmente não poderemos cumprir, diante do fato ocorrido.

Possibilitou o fortalecimento e união do setor empresarial GLBT, acolhendo e auxiliando na estruturação da ASSEMGLS - Associação dos Empreendedores GLS de Minas Gerais.

Através do espaço de convivência possibilitamos a formação do projeto Bar Teen do Grupo GJovem que pretendia acolher jovens homossexuais em matiné para diálogos de cidadania e prevenção, tirando-os da ociosidade de shoppings e outros locais prejudiciais em sua construção cidadã, além de abrigar no projeto a formação de