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CAPÍTULO 02 A DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA NO

2.2. A PONTAMENTOS DO ORDENAMENTO ESTRANGEIRO

2.2.1. Modelos públicos judicializados

2.2.1.1. Alemanha

Na Alemanha, a execução judicial é o meio à disposição do exequente e, em regra, não é da competência do órgão responsável pelo processo de conhecimento337. Há, aliás,

diversos agentes com atribuições executivas338, sendo eles, principalmente, o oficial de

execução (gerichtsvollzieher), o tribunal de execução (vollstreckungsgericht) e o secretário judicial ou oficial de justiça (rechtspfleger).

337 BENEDUZI, Pedro. Introdução ao processo civil alemão. Salvador: Editora Juspodivm, 2015, p. 137. 338 HESS, Burkhard. Different enforcement structures. In: VAN RHEE, C.H.; UZELAC, Alan (coord.). Enforcement and enforceability – tradition and reform. Antwerp, Oxford, Portland: Intersentia, 2010, p. 45.

O Oficial de Execução (gerichtsvollzieher) é um funcionário público339 de nível

médio, atrelado ao Poder Judiciário340, mais especificamente ao tribunal distrital

(Amtsgericht) onde deva correr a execução, este originariamente competente, conforme seção 740 do Zivilprozessordnung (ZPO). Em regra, é o Oficial de Execução quem deve ser acionado para promovê-la341, sendo mais ou menos atuante a depender dos tipos de prestação

almejada e bem perseguido.

Para as obrigações de pagar quantia, sua atuação se dá de modo mais intenso quando há persecução de bens móveis distintos de créditos ou direitos342.

Nestes casos, o Oficial de Execução tem ampla atuação, ficando encarregado da realização dos atos de notificação, citação e da maioria das medidas executivas, como apreensão e entrega de coisas, penhora e leilão, sendo-lhe facultado o uso de força pública quando necessário. Tem atribuições, também, para parcelar o débito, ficando encarregado do recebimento das parcelas, e para obter, junto ao devedor, sua declaração de bens passíveis

339 A doutrina diverge quanto à natureza jurídica deste agente. Em que pese prevalecer o entendimento aqui

adotado, de se tratar de agente puramente público, uma vez que é vinculado e remunerado pelo erário (PRADILLO, Juan Carlos Ortiz; RAGONE, Álvaro J. Perez. Código Procesal Civil Alemán (ZPO). Montevidéu: Konrad Adenauer Stiftung, 2006, p. 137; GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil. Curitiba: Juruá, 2009, p. 132), há quem extraia da seção 753 da Zivilprozessordnung (ZPO) a interpretação de que o Oficial de Execução atuaria como mandatário do credor e, por isso, teria natureza jurídica híbrida, pública e privada (GRECO, Leonardo. O processo de execução: volume I. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 75; RIBEIRO, Flávia Pereira. A desjudicialização da execução civil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 93). Independentemente da corrente adotada, há de se ressaltar que o gerichtsvollzieher é remunerado por salário, pago pelo erário, e complementado por honorários recebidos em razão da execução (HESS, Burkhard. Different enforcement structures. In: VAN RHEE, C.H.; UZELAC, Alan (coord.). Enforcement and enforceability – tradition and reform. Antwerp, Oxford, Portland: Intersentia, 2010, p. 47).

340 PRADILLO, Juan Carlos Ortiz; RAGONE, Álvaro J. Perez. Código Procesal Civil Alemán (ZPO).

Montevidéu: Konrad Adenauer Stiftung, 2006, p. 137.

341 Conforme o item 1 da seção 753 daZPO “Unless the compulsory enforcement is assigned to the courts, it

will be implemented by court-appointed enforcement officers who are to effect it on behalf of the creditor.”.

342 A escolha do bem a ser constrito cabe ao exequente, desde que respeitados os limites impostos pelo título

executivo e a proporcionalidade na invasão do patrimônio do devedor, tutelada de diversas formas na legislação como, por exemplo, a da seção 811 do ZPO, que traz um rol de bens para os quais é vedada a penhora (BENEDUZI, Pedro. Introdução ao processo civil alemão. Salvador: Editora Juspodivm, 2015, p. 140).

de penhora343, espécie de juramento, previsto na seção 807 do ZPO, que pode servir para

decretação de insolvência do devedor344.

Sua responsabilidade é a mesma atribuída aos demais servidores públicos345,

devendo prestar contas de sua atuação, inclusive com a lavratura de atas das atividades executivas realizadas346. Deve, ainda, se estabelecer em um escritório, cujas expensas podem

ser incluídas no crédito perseguido347.

Pelo procedimento, recebendo o requerimento executivo, o Oficial Executivo avalia se estão presentes os requisitos do título executivo e da cláusula executiva. Superada esta etapa, havendo bens, o Oficial efetua a penhora e a registra em ata, momento a partir do qual o devedor é ouvido348. A ele são garantidos três mecanismos de defesa: reclamação contra a

cláusula executiva, perante o tribunal que a concedeu, por falta ou defeito do título executivo, por inadmissibilidade da execução ou qualquer nulidade; ação de defesa contra a execução, apresentada na primeira instância, a fim de desfazer os fundamentos fáticos da sentença e; reclamação, perante o tribunal da execução, contra o modo ou forma dos atos executivos praticados pelo agente de execução ou pelo oficial de justiça349.

Caso a execução não seja obstada de nenhuma forma, o Oficial avalia o bem penhorado e o aliena. Esta alienação será, em regra, uma hasta pública. Todavia, a seção 825 do ZPO permite ao Oficial de Execução que, a pedido do credor ou do devedor, realize a venda de modo diverso350, existindo aqui até mesmo a possibilidade de que a venda seja

343 KENNETT, Wendy. The enforcement of judgements in Europe. Oxford: Oxford University Press, 2000, p.

81.

344 GRECO, Leonardo. A crise do processo de execução. In: FIUZA, César Augusto de Castro; SÁ, Maria de

Fátima Freire de; DIAS, Ronaldo Brêtas C. Temas atuais de Direito Processual Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 217.

345 GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil. Curitiba: Juruá, 2009, p. 132.

346 RIBEIRO, Flávia Pereira. A desjudicialização da execução civil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 94.

347 KENNETT, Wendy. The enforcement of judgements in Europe. Oxford: Oxford University Press, 2000, p.

81.

348 RIBEIRO, Flávia Pereira. A desjudicialização da execução civil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 94. 349 Ibidem, p. 95.

realizada por intermediário particular, em abertura procedimental para que o ato seja realizado de forma desjudicializada.

Se o produto da alienação não for suficiente para sanar o débito, o Oficial requisita a supracitada declaração de bens do devedor. Caso haja novos bens, procede a novas penhoras e alienações até a satisfação do débito351.

Se, todavia, não houver bens bastantes para satisfação do crédito, o processo é extinto, restando garantido ao credor o direito de ajuizar nova execução tão logo haja patrimônio disponível352.

Paralelamente ao Oficial, atua o Tribunal de Execução (vollstreckungsgericht). É de sua incumbência a execução de pagar quantia que recair sobre créditos e direitos patrimoniais, como nos casos que implicam leilão e administração de bens imóveis353.

Nestes casos ele assume as funções do oficial de execução, de modo que atos como a penhora e a distribuição do produto da arrematação entre credores se dão mediante decisões suas354.

A ele cabe, ainda, decidir eventual reclamação proposta contra o procedimento adotado pelo Oficial de Execução, conforme seção 760 do ZPO.

Nestes casos em que tem de exercer atividade executiva, as diligências são cumpridas, geralmente, pelo secretário judicial ou oficial de justiça (rechtspfleger)355,

também servidor público, atrelado ao Poder Judiciário.