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Os Códigos Estaduais e Código de Processo Civil de 1939

CAPÍTULO 01 O MODELO BRASILEIRO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA

1.2. B REVE HISTÓRICO DA EXECUÇÃO BRASILEIRA POR QUANTIA

1.2.3. Os Códigos Estaduais e Código de Processo Civil de 1939

Posteriormente, houve uma pluralização de legislações processuais, a chamada fase dos Códigos Estaduais, promulgados entre 1905 e 1930 em alguns Estados93. Dado o foco o

trabalho, descabe, aqui, uma análise pormenorizada dos diversos regramentos da época. Em linhas gerais, como assevera Cândido Rangel Dinamarco, pode-se dizer que não houve grandes modificações no regramento já vigente, senão uma sistematização da ação executiva, com indicação dos diferentes títulos que poderiam ensejá-la94, de modo que

tampouco o modelo executivo dos procedimentos foi alterado.

A unidade legislativa retornou com o Decreto-Lei nº 1608, de 1939, o primeiro Código de Processo Civil nacional95, cujo oitavo livro era inteiramente dedicado à execução.

Neste diploma, houve a solidificação da dualidade entre ação executiva ou processo executivo e processo de execução ou processo executório. A ação executiva – ou processo executivo – era dedicada a títulos extrajudiciais e consistia em um processo sincrético96, com

uma fase inicial de conhecimento, com penhora incidente, contraditório e prática de atos expropriatórios apenas após sentença; já o processo de execução – ou processo executório – partia de sentença condenatória ou outros títulos judiciais taxativamente elencados97,

limitada a cognição à análise de pressupostos processuais e regras procedimentais, bem como de eventual oposição de embargos à execução98.

Em qualquer dos procedimentos, a execução civil por quantia seguiu sob a condução e coordenação de um juiz, auxiliado principalmente por servidores do Poder Judiciário, do

93 Nos Estados em que não houve promulgação de um Código de Processo Civil permaneceu em vigência a

legislação anterior (LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Embargos à execução. São Paulo: Saraiva, 1996, p.76).

94 DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 8 ed. São Paulo: Malheiros, p. 78. 95 Ibidem, p. 79.

96 Ibidem, p. 81.

97 Para rol de demais títulos judiciais v. DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução civil. 8 ed. São Paulo:

Malheiros, p. 81; LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Embargos à execução. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 78.

princípio ao final do processo, mantendo-se, inclusive, a responsabilidade do oficial de justiça pela penhora99.

A figura do depositário desjudicializado persistiu de modo similar ao empregado no Regulamento nº 737. Contemplava, em regra, o executado como fiel depositário. Havendo discordância do credor, o depositário seria alguma das instituições financeiras públicas, o depositário público – ambas desjudicialização pública administrativa – ou depositário particular – desjudicialização particular100.

Abriu-se a possibilidade de que a avaliação do bem penhorado fosse realizada por particular idôneo, nomeado pelo Juízo, sempre que não houvesse avaliador judicial disponível, a evidenciar nova desjudicialização particular incidental101.

A expropriação ainda se realizava por meio de praça pública, sob controle e presença do Juiz e seus auxiliares, em moldes muito similares aos do Regulamento anteriormente vigente102.

Porém, uma vez infrutífera a praça, os bens poderiam ser alienados por iniciativa particular, a cargo de “leiloeiro público” ou “institutos autorizados em lei”. Os leiloeiros são profissionais privados, regulamentados pelo Decreto nº 21.981/32, habilitados mediante

99 Dispunha o artigo 928 daquele diploma legal que “os oficiais de justiça farão com que recaia a penhora em

tantos bens quantos bastem para assegurar a execução, e, dentro de cinco (5) dias, contados do recebimento do mandado, efetuarão a diligência, lavrando o respectivo auto, sob pena de suspensão. ”.

100 O artigo 945 do mencionado diploma previa que “se o exequente não convier em que fique como depositário

o próprio executado, os bens penhorados depositar-se-ão da seguinte forma: I - No Banco do Brasil, na Caixa Econômica ou em Banco de que os Estados-membros da União possuam mais da metade do capital social integralizado, ou, à falta de tais estabelecimentos de crédito ou agências suas, no lugar, em qualquer estabelecimento de crédito, a critério do Juiz da causa, as quantias em dinheiro, as pedras e metais preciosos e os papéis de crédito; II – em mão do depositário público, os móveis, semoventes e imóveis, se ao juiz não parecer conveniente que fique como depositário n próprio executado; III – em mãos de depositário particular quando não haja, na séde do juízo, depósito público ou estabelecimento bancário.”.

101 Conforme artigo 937 daquele Código, “se a penhora não fôr embargada ou forem rejeitados os embargos,

ou se a ação executiva fôr julgada procedente, os bens serão avaliados pelo avaliador do juizo, mediante distribuição. À falta de avaliador judicial, o juiz nomeará pessoa idônea.”.

102 Conforme artigo 965, “a arrematação far-se-á em dia, hora e lugar anunciados, com a presença do juiz, do

matrícula nas Juntas Comerciais. Como sua existência perdura até os dias de hoje, com papel cada vez mais relevante na execução, será abordado no item seguinte.

Já os “institutos autorizados em lei” seriam, no entendimento de Amílcar de Castro103, os corretores oficiais de fundos públicos ou de mercadorias – embrionários dos

corretores de valores e mercadorias do sistema financeiro atual, tratava-se de profissão de iniciativa particular, controlada pelo Estado104 –, a “Câmara Sindical dos Corretores” –

substituta da “Junta Comercial dos Corretores” estabelecida no Decreto nº 648 de 1849, tinha como função coordenar e fiscalizar a atividade dos corretores supracitados – e os “Armazéns Gerais” – empresas privadas, regulamentadas pelo Decreto nº 1.102/1903, com finalidade de guarda e conservação de mercadorias, bem como emissão de títulos a elas referentes.

Eram, portanto, tanto os leiloeiros quanto os institutos, terceiros privados que poderiam praticar o ato expropriatório, a configurar novo exemplo de desjudicialização privada incidental.

A defesa do executado seguiu sendo feita por meio de embargos, regulamentado nos artigos 1008 a 1016, exigida a garantia do Juízo e cabível somente nas execuções de títulos judiciais105. Eram apresentados diretamente ao juiz, que o processava e julgava tal como

num processo de conhecimento, regulamentado na mencionada codificação como procedimento tipicamente judicializado.

Em síntese, o Código de 1939, em que pese não ter trazido alterações radicais à execução106, apresentou desjudicializações incidentais em dois novos aspectos, a agregar à

103 CASTRO, Amílcar de. Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. X. T. I. 2 ed. São Paulo: Forense,

1963, p. 330.

104 A título de exemplo, a Lei nº 5.601/70, que à época regulamentava a profissão dos corretores de fundos

públicos, em seu artigo primeiro, dispunha que “observados os limites e condições estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional, as operações de compra ou venda de câmbio somente poderão ser contratadas com a interveniência de firmas individuais ou sociedades corretoras devidamente autorizadas pelo Banco Central do Brasil. ”.

105 LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Embargos à execução. São Paulo: Saraiva, 1996, p.79.

106 LOBO DA COSTA, Moacir. Breve notícia histórica do Processo Civil brasileiro e de sua literatura. São

figura já consolidada do depositário, quais sejam, a avaliação e a alienação dos bens penhorados por meio de agentes externos ao Judiciário.