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CONSIDERAÇÕES FINAIS

1.1 Tecnologia/Educação Digital

1.1.1 Algumas Abordagens Conceituais Sobre Tecnologia

Bueno (1999, p. 81) aponta a técnica como constituinte e precedente da tecnologia que usufruímos hoje, a tecnologia moderna em suas múltiplas facetas.

Vargas (1994, p. 171), assegura que o homem sem a técnica seria uma enorme abstração como a técnica sem o homem, e “só é humano aquele ser que possui a capacidade de se comunicar pela linguagem e habilidade de fabricar utensílios pela técnica.” O autor salienta que “a técnica faz parte do cotidiano do ser humano, no agir, no pensar, pois este ao intervir na natureza está produzindo um trabalho que eventualmente, buscou para isso uma técnica que faz parte do ser humano e também, faz parte de seu conhecimento.” Ele relata que a expressão tecnologia adveio dos gregos e foi sendo confundida com a expressão techné:

[...] a “techné” não se limitava à pura contemplação da realidade. Era uma atividade cujo interesse estava em resolver problemas práticos, guiar os homens em suas questões vitais, curar doenças, construir instrumentos e edifícios, etc. As “techné” gregas eram, em princípio, constituídas por conjuntos de conhecimentos e habilidades transmissíveis de geração a geração.

[...] O que, entretanto, designamos hoje, de forma geral, por técnica não é exatamente a “techné” grega. A técnica no sentido geral é tão antiga quanto o homem; pois aparece com a fabricação de instrumentos... E essa fabricação já corresponderia um saber fazer: uma técnica. (VARGAS, 1994, p. 18)

Por sua vez, Gama (1986, p. 205) apresenta uma descrição do que não seria tecnologia como não sendo um conjunto de técnicas e nem a sua sofisticação. Ao se passar da técnica para a tecnologia (não excluindo a primeira), a questão não está relacionada à gradação ou desenvolvimento mais aperfeiçoado de sua estrutura e sim ao que se refere à formação socioeconômica em que se realiza. Tecnologia não seria também “o conjunto de ferramentas, máquinas, aparelhos ou dispositivos quer mecânicos quer eletrônicos, quer manuais, quer automáticos.” (GAMA, 1986, p. 205).

Bueno (1999, p.85) congrega com o pensamento de Vargas, ao afirmar que: É verdade que há uma tecnologia embutida em qualquer instrumento e implícita em sua fabricação; mas isto não é razão para se considerar o saber embutido num objeto, ou implícito na sua produção, com o próprio objeto da indústria. Um derivado desse mau uso é o emprego da palavra tecnologia para significar a organização, o gerenciamento e, mesmo, o comércio desses aparelhos. Por uma razão ou outra essa confusão apareceu na área da computação e da informática, onde a máquina é tão importante quanto o saber de onde ela se originou. Há, então, o perigo de se confundir toda a tecnologia, isto é, o conhecimento científico aplicado às técnicas e aos seus materiais e processos com uma particular indústria ou comércio.

Na compreensão de Adam Schaff (1990), a tecnologia tanto pode ser boa como má, “nenhum avanço do conhecimento humano é em si reacionário ou negativo, já que tudo depende de como o homem o utiliza como ser social”. Desta forma, o homem poderá utilizar a mesma descoberta abrindo caminhos ao paraíso ou ao inferno (p.24). Portanto, a “sociedade informática” apresenta sua contradição à medida que oferece a possibilidade de superação da alienação humana, ao mesmo tempo em que a reforça (p.106).

Também não podemos dizer que a tecnologia em si, seja neutra, pois ela é em si, pura abstração e só existe num contexto que lhe dá significado (DEMO, 1981, p.21).Por esta reflexão, o desenvolvimento tecnológico ao longo dos tempos, tem resultado em milhões de pessoas excluídas do mundo do trabalho. Citamos como exemplo o advento da Revolução Industrial, que demandou a exclusão de um sem- número de trabalhadores artesanais substituídos por máquinas que ofereciam maior produtividade ao capital. Ao modificar o modo de produção, as tecnologias modificaram também as relações de trabalho promovendo um movimento de inclusão dos trabalhadores mais qualificados e a exclusão dos menos capacitados tecnicamente. Talvez por essa premissa, consigamos compreender a resistência de muitos profissionais da educação ao uso de tecnologias em suas aulas, uma vez que ainda apresentam um conhecimento muito superficial acerca da tecnologia bem como de seu papel frente ao processo de ensino e aprendizagem com a mesma.

O conceito de tecnologia segundo Bueno (1999, p.87) é:

[...] um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica e gera a sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade do ser humano de criar, a sua capacidade de interagir com a natureza, produzindo instrumentos desde os mais primitivos até os mais modernos, utilizando-se de um conhecimento científico para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundos do processo de interação deste com a natureza e com os demais seres humanos.

Desta forma, o conceito de tecnologia extrapola a ideia de meros equipamentos. Ela permeia todo o contexto em que vivemos transcendendo até mesmo questões intangíveis. Para Chaves (1998, p.21), o conceito de tecnologia é abrangente, uma vez que constantemente surgem novas tecnologias, proporcionando mudanças técnicas e sociais.

Ele define tecnologia como “todo artefato ou técnica que o homem inventa para estender e aumentar seus poderes, facilitar seu trabalho ou sua vida, ou

simplesmente lhe trazer maior satisfação e prazer”. E exemplifica o seu conceito citando algumas tecnologias que o homem inventou e que causou profundas mudanças na educação: “a fala baseada em conceitos, a escrita alfabética, a imprensa e um conjunto de tecnologias eletroeletrônicas como: telégrafo, telefone, cinema, rádio, vídeo, computador”. Podemos exemplificar esse conceito com os relógios - poder do homem sobre o tempo - com as máquinas colheitadeiras - menor esforço humano - e com os vídeos-game - entretenimento.

Seguindo essa mesma linha de discussão, o sociólogo Álvaro Vieira Pinto, ao ser questionado sobre os benefícios que a máquina pode trazer à sociedade, respondeu de forma sucinta que “a verdadeira finalidade da produção humana consiste na produção das relações sociais, a construção das formas de convivência" (2005, p. 169, v. 2). Afirmando também que o homem inventa o engenho para que este forneça melhor os produtos, que por sua vez, irão reinventar o mesmo homem, no sentido de lhe oferecerem condições mais adequadas de sobrevivência. E completa seu pensamento a respeito da tecnologia:

As estupendas criações cibernéticas com que hoje nos maravilhamos resultam apenas do aproveitamento da acumulação social do conhecimento, que permitiu fossem concebidas e realizadas. Não derivam das máquinas anteriores enquanto tais, mas do emprego que o homem fez delas (2005, p. 9, v. 2).

Nesta mesma linha de reflexão, Lion (1997, p.31), nos apresenta a tecnologia como parte da cultura de um povo:

A tecnologia faz parte do acervo cultural de um povo. Por isso existe como conhecimento acumulado e por essa mesma razão é contínua produção. Porque as culturas são dinâmicas e se nutrem das contribuições permanentes da comunidade social em espaço, tempo e condições econômicas, políticas, sociais determinadas.

Portanto não podemos fazer uso da tecnologia na educação obrigatoriamente, ao mesmo tempo em que ela também não é a solução de todos os nossos problemas, se fazendo necessária a sua utilização de forma consciente e com clareza dos objetivos a serem alcançados. Conforme Lion (1997, p.34):

Para não “cair” em formas de pensar somente técnicas, é preciso incorporá- la com um sentido, com um “para quê”, não apenas como ampliação do fora para dentro, mas com uma mediação crítica e fundamentada acerca de por que se introduzem as diversas tecnologias no ensino.

Na vida cotidiana, é cada vez maior o número de pessoas atingidas pelas novas tecnologias, pelos novos hábitos de consumo e indução de novas necessidades. Pouco a pouco, a população vai precisando se habituar a digitar teclas, ler mensagens no monitor, atender instruções eletrônicas. Cresce o poder dos meios de comunicação, especialmente a televisão, que passa a exercer um domínio cada vez mais forte sobre as crianças e jovens, interferindo nos valores e atitudes, no desenvolvimento de habilidades sensoriais e cognitivas, no provimento de informação mais rápida e eficiente.

O autor faz uma descrição do perfil da sociedade atual, em que destaca os embates da tecnologia, as necessidades forjadas pela mídia e seu poder sobre crianças e jovens. Pressupomos então, que o uso das tecnologias, acontece de forma mais presente entre crianças e jovens, interferindo fortemente no contexto educacional.

Avançamos, assim, para o conceito de tecnologia no contexto educacional, em que Lopes (2000, p.157-158) pode nos explicar:

O termo “tecnologia educacional” não é utilizado com um único significado, principalmente quando se comparam posições de grupos de ideologias utilitárias distintas. Embora o termo seja antigo, as transformações ocorridas em diversas áreas trouxeram também diversas conotações.

Associando o termo tecnologia com técnica e por buscar compreender a palavra técnica em sua origem grega (que significa criar, conceber), o autor apresenta um sentido mais amplo de seu uso. Assim, a técnica não está restrita somente a equipamentos e ou instrumentos, mas envolvida com a relação estabelecida com eles.

Para Rios (2005, p.93) a técnica necessita apresentar uma índole inventiva, um caráter criador, enriquecendo assim o seu significado; que de acordo com os autores já mencionados e em consonância com o objetivo deste trabalho, acreditamos ser a tecnologia enquanto conceito, todo recurso criado e construído pelo homem com o objetivo de melhorar suas relações com a natureza, com o meio social e com o outro, não desmerecendo em hipótese alguma a posição de autoria deste homem sobre todas as invenções.

Assim, ao tratarmos de tecnologia digital, nos referiremos especificamente neste texto, da sua abordagem na escola enquanto educação digital.