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BACIAS HIDROGRÁFICAS, MUNICÍPIOS, SEDES MUNICIPAIS E VILAS DE FURNAS

2 TEORIA E MÉTODO

1. INVESTIGAÇÕES, REFLEXÕES E REFERENCIAIS TEÓRICOS

1.4 Organização da cidade e as cidades novas

1.4.4 Algumas cidades ex novo e cidades – empresa

No século XIX podemos citar as cidades de Aracaju (1855) e Belo Horizonte28

(1897). No século XX, a implantação de cidades foi intensificada como prática pública ou empresarial, por meio de experiências mais conhecidas, como é o caso das cidades- capitais de Goiânia29 (1937), Boa Vista (1946), Brasília (1956), Palmas (1988) e as cidades conectadas a empreendimentos de produção industriais e empresas turísticas ou

27 Sobre a posição não convencional relativa à história do desenvolvimento urbano no Brasil à época

(1988), o autor referia-se a, MORSE, Richard. Brazil’s urban development. Journal of Urban History, Sage Publications, 1 (1), 1974, e Goulart Reis (1977), Delson (1979) que podem ser consultados em edições atualizadas: DELSON, Roberta Marx. Novas Vilas para o Brasil-Colônia – Planejamento Espacial e

Social no século XVIII. Brasília, Ed. ALVA-CIORD, 1997. REIS, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da Evolução Urbana no Brasil (1500/1720), São Paulo: Pini, 2000

28 Como referências para consultas sobre Belo Horizonte: SALGUEIRO, Heliana Angotti. Engenheiro

Aarão Reis: o progresso como missão. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro/Centro de Estudos

Históricos e Culturais, 1997

29 Algumas referências para consultas sobre Goiânia:

Goiânia: reflexos de uma nova ordem, Guerra, Maria Eliza A. In Caderno de Arte, número especial, dez

1998, Uberlândia, DEART/CEHAR/UFU

GONÇALVES, Alexandre Ribeiro. Goiânia: uma modernidade possível. Brasília, Ministério da Integração Regional, UFG, 2002

MANSO, Celina Fernandes A. Goiânia: uma concepção urbana, moderna e contemporânea – um

colonizadoras, mais conhecidas, que fizeram parte de um processo inicial de industrialização. Na primeira metade do século XX, destacam-se as seguintes cidades: Fordlândia, PA, (1928), (FIGURAS 16 e 17) Londrina, PR, (1929), Belterra, PA, (1935), João Monlevade30 MG, (1935), Volta Redonda, RJ, (1943), Maringá, PR,

(1943), Harmonia, PR, (1944). Águas de São Pedro, SP, (1948).

Na segunda metade do século XX, durante o do período de expansão de novas frentes econômicas: Telêmaco Borba, PR, (1953), Umuarama, PR, (1955), Vila Serra do Navio, AP, (1961), (FIGURA 14) Vila Amazonas, AP, (1962), Ipatinga, MG, (1962), Ilha Solteira, SP, (1967), Carajás, PA, (1973), Marabá, PA, (1973), Alta Floresta, MT, (1975), Caraíba, BA, (1976) (FIGURA 15), Ouro Branco, MG, (1978), Porto Trombetas, PA, (1978), Barcarena, PA, (1980), Tucuruí, PA, (1983) (FIGURAS 21 e 22), Vila dos Cabanos, PA, (1985) etc.

Utilizamos alguns exemplos, entre uma grande quantidade de cidades pouco conhecidas, que, tradicionalmente, são consideradas irrelevantes por várias áreas das Ciências Sociais e Humanas. É o caso das “vilas” estudadas para esta tese, e muitas outras que necessitam ser apreendidas e valorizadas corretamente, transcendendo as circunstâncias políticas sob as quais nasceram. Porém, percebe-se um crescente interesse dos pesquisadores em relação ao tema em congressos31 e na atuação do

DOCOMOMO-Brasil32.

30 O concurso para Molevade e seus desdobramentos, devido a participação de Lúcio Costa foi

considerado um laboratórios para as reflexões sobre as cidades e a distinção sobre a ação dos técnicos. Sobre o assunto ver: LIMA, Fábio José M. de. Por uma Cidade Moderna: Ideários de Urbanismo em

jogo no Concurso para Monlevade e nos projetos destacados da trajetória dos técnicos concorrentes (1931-1943). (Tese) FAUUSP, São Paulo, 2003 Cujo objetivo foi apresentar e discutir os embates de

visões de urbanismo em jogo na idealização de uma cidade nova no Brasil

31 Destacam-se os Seminários de História da Cidade e do Urbanismo, da ANPUR e Encontros Ciências

Sociais e Barragens, entre outros. Parte de trabalhos relacionados ao assunto de Tese foi citada no corpo do trabalho, e na Bibliografia.

32 O Núcleo DOCOMOMO Brasil, foi criado em 1992 se vincula ao DOCOMOMO INTERNACIONAL

– Documentation and conservation modern movement que tem tratado como prioridade a elaboração de inventários da arquitetura, urbanismo e paisagismo modernos no Brasil e a valorização deste patrimônio. Em alguns estados foram criados núcleos locais. O Núcleo Docomomo Minas Gerais foi criado em agosto 2007.

FIGURA14: Serra do Navio: exemplo urbanístico e arquitetônico do urbanismo moderno, Brasil FONTE: RIBEIRO, D. A. 1992.

Algumas cidades citadas são exemplos de qualidade urbanística e arquitetônica de cidade-empresarial no urbanismo moderno brasileiro. Entre outras: Volta Redonda/RJ (1934) inicialmente projetada por Atílio Correa Lima, Maringá/PR (1943), e Águas de São Pedro/SP (1948), que foram projetadas pelo engenheiro Jorge Macedo Vieira; Ipatinga/MG (1962), que foi projetada pelo arquiteto Álvaro Hardy; Vila Amazonas/AP e Vila Serra do Navio/AP (1962) projetadas pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke, estas últimas constituem referências positivas de assentamentos urbanos contextualizados na região amazônica.

FIGURA 15: Vista aérea do núcleo urbano de Caraíba. FONTE: CAMARGO, Mônica J., 2000.

As cidades criadas na região norte e nordeste do Paraná devem ser apreendidas em um contexto de incentivo político de colonização empreendido pelo Estado, no início do século XX, com a construção de núcleos urbanos, a fim de possibilitar a ocupação do território, principalmente, por emigrantes oriundos da Europa.

A grandiosidade do programa de colonização/urbanização efetuado pela CTNP - Companhia de Terras Norte do Paraná – e por sua sucessora CMP - Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – reflete-se no número de núcleos urbanos implantados. São 110 (cento e dez) núcleos que, atualmente, fazem parte da rede urbana regional e estadual do Paraná. O significado deste empreendimento grandioso seria um avanço da fronteira econômica e espacial no território.

Em sua Dissertação de Mestrado, Carvalho (2000)33 apresenta um estudo

comparativo desses núcleos urbanos, destacando o grande número de empreendimentos efetuados pela CTNP e, posteriormente, CMP com a implantação de 62 núcleos urbanos, somados aos 48 núcleos urbanos que foram implantados por particulares em terras da própria Companhia.

O trabalho compõe-se de um farto material documental, inclusive com as plantas urbanísticas das cidades. O autor lista 41 cidades criadas entre as décadas de 1920 /50, pelas empresas citadas acima, que se transformaram em sedes de municípios, tendo analisado 21 cidades situadas ao longo da ferrovia e três em suas proximidades. Destacou as cidades de Londrina (1929), Maringá (1943) e Umuarama (1955), em vista da importância que apresentam como cidades médias em todo o país, principalmente no Paraná.

Entre a literatura sobre novas cidades, sobressai a obra de Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1985)34 em que o autor não se limita apenas a descrever os estudos que

elaborou para seis novas cidades no território de Roraima, mas também a discutir as questões teóricas e práticas relacionadas com a formação das cidades e a atividade

33 CARVALHO, Luiz D. Moreno de. O posicionamento e o traçado urbano de algumas cidades

implantadas pela Companhia de Terras Norte do Paraná e Sucessora, Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Centro de Ciências Humanas e Artes,

Universidade Estadual de Maringá, 2000.

projetual dos arquitetos urbanistas. Como método propõe o jogo de baralho, ou seja, uma leitura da cidade como um jogo (de poder). Insatisfeito com as utopias que, a seu ver, dominavam o pensamento urbanístico brasileiro e coerente com as críticas que se faziam internacionalmente, defende uma nova postura profissional diante dos novos desafios que se apresentam:

O exercício de produção de espaços urbanos, prolongado por quase cem anos, já está a exigir paradas críticas, reconsiderações teóricas. Atividade infelizmente rara e difícil para quem, como nós arquitetos, esteve tão ocupado realizando, que não pôde se dar ao luxo de pensar muito. Pior ainda: para quem conseguiu separar, de modo tão perverso frente às propostas mais conseqüentes da arquitetura e do urbanismo, o ato de suas conseqüências. (SANTOS, C.N.F, 1985, p. 15)

O trabalho publicado num momento em que as fórmulas urbanísticas praticadas no Brasil eram questionadas e o “direito à cidade” (segundo Lefèbvre)35 era reivindicado pelos cidadãos que lutavam pela construção de uma cidade melhor, mais humana e mais justa. Carlos Nelson defendia “Liberdade é uma prática”, (citando Foucault). É oportuno lembrar que esse trabalho foi escrito em 1985 e não fugia à regra ao cobrar urgência pela democracia.

O autor discorre sobre o esforço da sociedade brasileira para realizar sua vocação histórica, que é expandir “as fronteiras em direção oeste”, e a “associação emblemática da cidade com anseios por progresso e modernização que embebem toda a sociedade nacional. (...) A ideologia da cidade nova, materialização da utopia, que antecipa e realiza as possibilidades do futuro fica em definitivo legitimada” (SANTOS, C. 1985, p.15).