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REGIONAL 199 4.1 Vila Operadora Furnas e São José da Barra-MG (1958/1963) UHE Furnas

5. CONFIGURAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA 413 REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

Esta tese tem como objetivo geral pesquisar as “Vilas Operadoras” – construídas a partir da implantação de usinas hidrelétricas pela empresa Furnas1 Centrais Elétricas

S.A. entre os anos de 1957 a 1987 nas bacias do Rio Grande e Paranaíba. Esse espaço geopolítico foi considerado estratégico pela ótica governamental para implementação de políticas de desenvolvimento econômico, uma vez que atraiu grandes investimentos destinados à infra-estrutura energética, principalmente, no período abordado por esta pesquisa.

Inserida no tema cidades-empresa, uma prática recorrente no Brasil por empresas de diferentes ramos em diversos períodos de nossa formação socioeconômica, especificamente; a vila operadora se vincula ao setor de energia elétrica, ou seja, resulta de projetos de construção de Usinas Hidrelétricas, que “surgem a partir de cronogramas pré-determinados, com ocupação prevista e objetivo bem definido” (GONÇALVES & OESTREICH, 1985, p.59).

A implantação dessas vilas tinha como finalidade viabilizar a construção de Usinas Hidrelétricas. É fato que esse processo evoluiu para um planejamento integrado que visava ampliar seu objetivo em relação à implantação dessas vilas, com “a fixação de mão de obra operária e de núcleos urbanos em locais desprovidos de cidades” com o ideal de cidades, evoluindo para a integração aos tecidos urbanos existentes. (TSUKUMO, 1994)

1 Primeira usina construída pela empresa, no curso médio do Rio Grande, no trecho denominado

“Corredeiras das Furnas”, da qual herdou o nome – a palavra Furna significa “caverna ou gruta, geralmente, formada de blocos de pedra” (FERREIRA, 1975, p. 664).

A hipótese de que a implantação de usinas hidrelétricas, em regiões desprovidas de centros urbanos mais significativos e com baixa densidade demográfica, necessitava de uma infra-estrutura para a fixação de mão-de-obra, é procedente em relação às regiões do Sudoeste e Triângulo Mineiro e sul Goiano, onde se localizam as bacias do rio Grande e do rio Paranaíba. Neste sentido, foram construídas as vilas operadoras. O processo de criação e consolidação e seu papel na configuração regional são analisados no transcorrer da pesquisa.

As vilas operadoras, que são formas urbanas distintas, produtos de um processo dinâmico de transformação da organização industrial, devem ser entendidas não apenas como uma extensão da usina a qual estão subordinadas, mas como local de moradia e do trabalho com todas as contradições imbuídas nestas relações, desempenhando papel de agentes de modificações socioespaciais nas regiões onde foram construídas.

Espera-se que esse trabalho sobre as vilas operadoras implantadas por Furnas,além de possibilitar uma pesquisa inédita, estabeleça uma relação direta com o planejamento urbano e regional que acompanha nossa experiência profissional. A pesquisa se engaja em uma polêmica, que é o desconhecimento em relação às “pequenas cidades”, entre elas, o considerável número de “núcleos urbanos” resultantes do urbanismo moderno nas regiões do Triângulo e Sudoeste Mineiro.

Nesse contexto, foram investigadas 10 (dez) vilas operadoras implantadas por Furnas (incluindo três encampadas pela empresa) e a cidade de São José da Barra2. Na

figura 01, foram indicadas as Usinas Hidrelétricas - UHEs’ e respectivas vilas - objeto deste estudo. A título de informação, as 8 (oito) vilas e demais UHEs’ implantadas por outras concessionárias foram indicadas (conforme legenda) a fim de se esclarecer como se distribuem na região. Apesar de considerar como “vila” toda localidade para efeito de descrição inicial, é importante destacar que algumas dessas localidades, atualmente, são cidades sedes de municípios.

Considerando esse enfoque, definiu-se como recorte de investigação científica, 10

2 Como a vila de Furnas atualmente é bairro Furnas e pertence política e administrativamente à nova

cidade de São José da Barra, construída para substituir a antiga vila que foi inundada, mesmo não sendo vila operadora optou-se por incluí-la no escopo da pesquisa.

(dez) vilas operadoras e 1 (um) núcleo urbano implantados por Furnas, no período de 1957 a 1997.

O período de investigação foi definido, tendo por base a data de criação da empresa Furnas Centrais Elétricas em 1957, com a proposta de implantação da primeira UHE Furnas e construção da respectiva vila operadora em 1958 e no ano de 1987, quando foram construídas as duas últimas vilas operadoras vinculadas à obra da UHE Corumbá I, encerrando-se um ciclo, que ao longo do tempo, privilegiava o planejamento, a construção e a manutenção de vilas temporárias e permanentes para acomodar seus funcionários, e que, ao término das obras destinavam-se a abrigar seus operários e técnicos das usinas e suas famílias.

O recorte para investigação científica será apresentado em ordem cronológica e abrangerá as seguintes localidades:

1. Vila operadora de Furnas (1958) - atual bairro de São José da Barra/MG

2. Distrito de São José da Barra (1962) – atual município de São José da Barra/MG 3. Vila operadora de Estreito (1963) – aglomerado rural isolado de Pedregulho/SP 4. Vila operadora de Mascarenhas de Morais3 (1953/73) – povoado de Ibirici/MG

5. Vila operadora de Planura (1969) – atual bairro da cidade de Planura/MG 6. Vila operadora de Icém (1971) – atual bairro da cidade de Icém/SP

7. Vila operadora de Fronteira (1971) – atual bairro da cidade de Fronteira/MG 8. Vila operadora Furnas (1974) – atual bairro da cidade de Itumbiara/GO 9. Vila operadora de Araporã (1974) – atual sede do município de Araporã/MG 10. Vila operadora de Caldas Novas (1980/87) – bairro Pq. das Brisas C. Novas/GO 11. Vila operadora de Corumbá (1980/87) – aglomerado rural isolado C. Novas/GO Neste sentido, a data de inicio da obra foi o referencial considerado para a implantação das vilas, já que as obras de uma vila operadora iniciavam-se junto com a obra principal. Eram residências provisórias, a princípio e, posteriormente, recebiam os funcionários para operação e manutenção da usina.

3 As datas para a vila operadora de Mascarenhas de Morais, antiga Peixoto referem-se à sua construção

entre 1947-1953 pela CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz e, o ano de 1973, (1° de agosto por determinação da Eletrobrás) quando foi transferida da CPFL para Furnas.

No mapa 01 foram localizadas as mesorregiões e municípios onde se encontram as vilas pesquisadas. No quadro 01 verifica-se o período de construção do complexo hidrelétrico como um todo, localização da vila operadora na bacia hidrográfica e estado da federação, a vinculação da vila à usina hidrelétrica e sua situação política administrativa.

A localização de uma vila operadora esta condicionada a uma usina hidrelétrica, cuja localização geográfica também se condiciona aos atributos físicos e potencial energético de um determinado rio. Assim essas vilas foram implantadas em áreas rurais isoladas, integradas, contíguas ou adjacentes a outras cidades. No mapa 02 foram indicadas a abrangência das bacias hidrográficas do rio Grande e Paranaíba e no quadro 02 as informações socioeconômicas e territoriais dos municípios onde as vilas se localizam.

Inicialmente, a pesquisa pretendia abordar todas as cidades e vilas localizadas na área delimitada como Triângulo Mineiro construídas por várias concessionárias, porém com o desenvolvimento da pesquisa percebeu-se que a experiência urbana posta em prática por Furnas, com dez vilas construídas e consolidadas, já ofereceria um vasto campo para investigação, além de ser um objeto de estudo inédito nos meios acadêmicos.

Portanto, com a efetivação das pesquisas por meio de trabalho de campo e de levantamento documental, foi considerado relevante registrar as cidades de Cachoeira Dourada de Minas Gerais/MG, por tratar-se do primeiro caso de relocação de povoado na região, devido à construção da primeira usina hidrelétrica de grande porte4 no rio

Paranaíba e a cidade de São Simão/GO, devido à proporção das inundações que atingiram três povoados, incluindo a sede.

FIGURA 01: Localização das vilas e UHE’s – Bacia dos rios Grande e Paranaíba nas regiões do Triângulo e Sudoeste Mineiro. FONTE: Site do DNIT, disponível: <http://www.dnit.gov.br/menu/rodovias/mapas>. Acesso em: 28 set. 2006.

QUADRO 01 – VILAS DE FURNAS: CRONOLOGIA, CATEGORIA E LOCALIZAÇÃO – 2007

Construção Vila Operadora Classificação Bacia UHE Localização UHE

1947 - 1953 Mascarenhas de Moraes

(Peixoto)

Povoado Município de Ibiraci

Rio Grande Mascarenhas de

Moraes

MG

1958 -1963 São José da Barra Sede Municipal Rio Grande Furnas MG

Furnas Bairro de São José da Barra

1963 -1969 Estreito Aglomerado rural isolado

de Pedregulho

Rio Grande Luiz Carlos B.

Carvalho

SP

1969 -1974 Planura Sede Municipal Rio Grande Porto Colômbia MG

1971 -1975 Icém Sede Municipal Rio Grande Marimbondo SP

Fronteira Sede Municipal MG

1974 -1981 Furnas Bairro de Itumbiara Rio Paranaíba Itumbiara GO

Araporã Sede Municipal MG

1980 -1997 Parque das Brisas Bairro de Caldas Novas Rio Paranaíba Corumbá I GO

Corumbá Aglomerado rural isolado

de Caldas Novas

Rio Corumbá FONTE: Furnas, 2002, CEMIG 2004, IBGE 2006. Adaptação: Guerra, M.E.A. 2007

MAPA 01: Localização: mesorregiões do Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba e Sul/Sudoeste de Minas – principais rodovias.

0 2550 100 150 200km

MESORREGIÕES DO TRIÂNGULO MINEIRO / ALTO PARANAÍBA