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BACIAS HIDROGRÁFICAS, MUNICÍPIOS, SEDES MUNICIPAIS E VILAS DE FURNAS

2 TEORIA E MÉTODO

1. INVESTIGAÇÕES, REFLEXÕES E REFERENCIAIS TEÓRICOS

1.6 Estudos sobre os impactos sociocultural e ambiental de usinas hidrelétricas

1.6.2 Pesquisa pós-uso em vilas de mineração e vilas de hidrelétricas

Em relação aos empreendimentos em geral, destacam-se, os estudos das vilas ou “assentamentos”, (termo utilizado pelos autores), desenvolvidos por Farah & Farah (1993)51. Esta pesquisa foi desenvolvida entre 1983 e 1986 por meio de Convênio entre

o IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas -, e a SAMA - Sociedade Anônima Mineração de Amianto -, de Minaçu/GO com o apoio das empresas proprietárias dos empreendimentos, cujo objetivo era detectar e sistematizar, sob a ótica qualitativa, os principais problemas associados às vilas de mineração no Brasil, incluindo os casos relacionados às hidrelétricas.

49 GUERRA. Maria Eliza A. Novas Estruturas Urbanas fruto de Projetos hidrelétricos na Bacia do

Rio Paranaíba, Apud: Anais e CD Rom do I Encontro Ciências Sociais e Barragens, Rio de Janeiro,

Junho de 2005.

GUERRA, Maria Eliza A. ALMEIDA, Daniel Augusto, Geração de Energia, Geração de Urbanística;

Implantação Urbanística vinculadas às hidrelétricas no Triângulo Mineiro e Sul Goiás. In Anais do

II Seminário da História da Cidade e do Urbanismo, Salvador, out 2002.

50 LIPORONE, Francis. DA HIERARQUIA À SEGREGAÇÃO DO ESPAÇO URBANO: uma análise

da Vila Operadora de Estreito-SP. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) UFSCar, São Carlos, 2008

51 FARAH, Flávio e FARAH, Marta F. Santos. (coord.) Vilas de Mineração e de barragens no Brasil:

Foram pesquisadas: cidade de Paulo Afonso/BA (1955) e a vila residencial da CHESF52, as vilas residenciais da Eletronorte, como a Vila Pioneira, junto à cidade de Tucuruí/PA (1974), as respectivas Vilas Temporárias I e II e a Vila Permanente (FIGURAS 21 e 22).

A setorização excessiva e a baixa qualidade construtiva presentes nas vilas temporárias de Tucuruí tenderiam a influenciar negativamente todas as outras experiências urbanísticas realizadas pelo setor elétrico no país. A obra foi interrompida em 1985 em razão da revisão da política federal relativa ao projeto, quando as vilas temporárias I e II, foram abandonadas pelas empreiteiras, sendo até hoje alvo de disputas entre o MAB, MST e a Eletronorte.

FIGURA 21: Vilas residenciais (permanente e temporárias) da UHE Tucuruí, próximo à Vila Pioneira, à direita do rio, a cidade de Tucuruí.

FONTE: FARAH & FARAH, 1993.

52 UHE Paulo Afonso I. Posteriormente, foram construídas a UHE Paulo Afonso II (1967), UHE Paulo

FIGURA 22: Projeto Urbanístico para três vilas residenciais na UHE Tucuruí. FONTE: MADER, H. T., 1983.

Foram estudadas as seguintes vilas mineradoras: Vila Cachoeirinha/RO (1970), Vila de Massangana/RO (década de 1970), Vilas Amazonas (1962) e Serra do Navio/AP (1961), Vila Cana Brava/GO (1962) e o Núcleo Urbano Carajás/PA (1986). Na segunda fase, foram estudadas seis vilas: Itabira/MG (1942), Núcleo Residencial de Pilar/BA (1979), a cidade-satélite de Saramenha/MG.

Primeiramente, Farah & Farah (1993) trataram dos conceitos teóricos desse tipo de “assentamento” associado, a uma “minicidade”, em razão de, estar próximo às áreas de mineração e das hidrelétricas. Seu programa era definido em função do empreendimento com “características culturais diferentes do que, se verificava na região” (FARAH & FARAH 1993, p.3), apesar de observarem, que existiam cuidados em relação à adaptação das construções ao clima local.

Os autores questionaram os aspectos da concepção desses assentamentos, já que os padrões característicos dos centros mais industrializados são utilizados em realidades regionais, cujas peculiaridades costumam ser pouco ou mesmo desconsiderada. Utilizam como referencial para caracterizar esses assentamentos o trabalho de Guimarães (1980)53 como citado sucintamente na introdução deste capítulo e descrita a

seguir:

53 Ver, GUIMARÃES, Pedro Paulino. Comunidades residenciais para indústrias de grande porte.

• Comunidade Residencial Incorporada: constituí parte integrante de um centro urbano existente e depende de seus serviços públicos, possui certa identidade, autocontrole comunitário, apresenta um comércio local mínimo e áreas e equipamentos de recreação exclusiva.

• Comunidade Residencial Contígua: localizada na periferia de um centro urbano, tende a ter uma aparência exclusiva tanto em sua aparência física como social. • Comunidade Residencial Satélite: situada próxima a um centro urbano, porém

não adjacente, possui alto grau de identidade comunitária, incluindo comércio local, dependente de serviços especializados do centro urbano.

• Centro de crescimento: é um acréscimo significativo a uma pequena cidade existente, capaz de convertê-la em um grande centro gerador de atividades. • Comunidade Residencial Autônoma: além de possuir uma identidade própria é

desvinculada de qualquer outro centro em termos de serviços comunitários. • Pólo de desenvolvimento: além das características inerentes a uma comunidade

autônoma ou a uma cidade existente, é capaz de se transformar em importante centro de atividades irradiando crescimento econômico na região em que se situa.

Ao se proceder a uma classificação, corre-se o risco de incorrer na tendência em considerar de caráter estático os quatros primeiros tipos citados e de caráter dinâmico os dois últimos. No entanto, a partir de uma avaliação mais atenta é possível perceber que uma “comunidade” pode estar inserida em um determinado tipo e que, dependendo de sua dinâmica, irá se inserir em um outro tipo de “comunidade”. Portanto, deve-se considerar que todo o ambiente construído revela-se produto de um processo dinâmico.

As especificidades das vilas mineradoras, por não se tratarem do objetivo desta tese, não serão detalhadas. As vilas de empresa ligadas à construção de barragens, tendem a ter uma grande concentração de pessoas em um período relativamente curto. Como regra aproximada, no terceiro ano da obra, referente à fase de concretagem da usina, chega a absorver no “pico da obra”, por volta de 30.000 pessoas em seus acampamentos – vilas provisórias, com “características de cidade”. Assim como surgem, caem em desuso com igual rapidez.

Ao comparar as duas situações, porém, Farah & Farah, (1993, p.5) consideram que “a atividade de mineração é efêmera, enquanto a operação de usinas hidrelétricas e sua

manutenção tendem a ser atividades permanentes”. Porém vilas operadoras revelam similaridades em relação às vilas mineradoras. Deixando de levar em conta os efeitos regionais do enchimento de reservatórios, a construção de barragens ainda exprime efeitos locais, regionais e até mesmo nacionais importantes, no tocante à movimentação de contingentes humanos expressivos e a capacidade de detonar processos de urbanização.

Em relação às esses assentamentos implantados, Farah & Farah (1993, p.85), em suas conclusões, constataram três problemas concernentes às vilas de mineração e de barragens no Brasil54: problemas internos característicos dos assentamentos de tipo

“fechado”, abrangendo a qualidade dos equipamentos comunitários oferecidos e aspectos sociológicos associados ao cotidiano dos moradores; problemas associados à relação dos assentamentos com sua região de inserção, com destaque ao contraste com as cidades com suas “cidades-satélites” e problemas decorrentes do caráter eminentemente setorial e da “exterioridade” dos empreendimentos de mineração (e de construção de barragens) em relação às suas regiões de implantação.

Foi identificada, também, uma nítida tendência de alteração de gestão, traduzida em um afastamento paulatino das mineradoras (e construtoras de barragens) do gerenciamento, em um processo de ‘terceirização’ dos serviços e equipamentos comunitários. Em relação aos problemas internos aos assentamentos, os autores avaliam que estes poderiam ser apenas amenizados, porém não sanados devido às limitações estruturais, dentre elas: a permanência das pessoas “vinte e quatro horas por dia” em espaços pertencentes à empresa; intenso controle social; isolamento, segregação funcional; dificuldades de inserção de mulheres no mercado local de trabalho; ausência de oportunidades para os adolescentes; exclusão de idosos e o despreparo das crianças para a vida futura em cidades convencionais. Além de apontar os problemas das cidades e vilas, consideradas “assentamentos” apontaram possíveis ações para minimizá-los.

Essa pesquisa indica uma tendência da transformação da gestão administrativa – no discurso da necessidade de afastamento das empresas de tudo que não constituísse sua atividade-fim, com a terceirização de serviços e equipamentos comunitários, para

54 Os autores se referem às “vilas de mineração e de barragens no Brasil”, porém o fato de constar desta

investigação, apenas duas vilas associadas às hidrelétricas: Tucuruí e Paulo Afonso como universo de pesquisa, denota um certo risco de generalização.

empresas privadas especializadas ou o próprio setor público, de acordo com uma tendência mais global da filosofia empresarial de evitar ônus indesejáveis à sua atividade-fim. Esse estudo também abordou a ótica dos funcionários, para os quais a terceirização representava desvantagens em relação à queda de qualidade nos equipamentos e serviços oferecidos e aos custos com os serviços antes gratuitos ou subsidiados.

O texto sugere que, para os empreendimentos futuros seja proposta “uma nova concepção”, a fim de se atender às necessidades dos funcionários, “sem a conotação de espaços de empresa”, sugerindo que a “cidade-satélite” seja trabalhada para absorver esta função, desde que haja uma solução integrada com a administração pública, por meio de uma efetiva política de desenvolvimento urbano.

Segundo o texto, para que se viabilizem novas práticas é necessário o esforço das empresas principalmente em relação aos pagamentos dos impostos devidos e ao comprometimento do poder público quanto à aplicação desses impostos arrecadados efetivamente em benefício público. Sugere também que cabe às políticas governamentais estabelecer políticas para diversificação de atividades econômicas nas regiões afetadas em empreendimentos deste tipo para buscar um desenvolvimento sustentado, a fim de garantir a permanência de benefícios sociais nas regiões onde se localizam esses empreendimentos.

Os problemas apontados na pesquisa de Farah & Farah (1993) são os mesmos levantados na pesquisa efetuada por Furnas, com o objetivo de analisar o funcionamento básico do processo de ocupação em seus assentamentos, relacionados com as características socioeconômicas, a localização e o planejamento físico espacial que consta no relatório: Conclusões da pesquisa sócio-econômico espacial realizado em Estreito e Itumbiara – aspectos sociais, elaborado pelo engenheiro José Ubaldo Rodrigues, chefe da usina de Estreito, transcrito na íntegra no Capítulo 3 - Item 3.5.

Constatamos que as empresas Eletrosul e COPEL, também, realizaram pesquisas nas suas vilas, todavia, não houve acesso as essas pesquisas. É importante frisar que a pesquisa de Farah & Farah (1993), apesar da abrangência nacional que o título sugere, só foi efetuada nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, o que naturalmente não reflete o retrato de uma época, em um país de território vasto como é o Brasil.