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BACIAS HIDROGRÁFICAS, MUNICÍPIOS, SEDES MUNICIPAIS E VILAS DE FURNAS

2 TEORIA E MÉTODO

1. INVESTIGAÇÕES, REFLEXÕES E REFERENCIAIS TEÓRICOS

1.8 As pequenas cidades no contexto urbano brasileiro

O conceito de urbanização está sendo utilizado em dois sentidos diferentes: no sentido físico, de extensão do tecido urbano e no sentido do processo social e demográfico de urbanização, de transferência de população rural para áreas urbanas, adoção de modos de vida urbanos em núcleos novos, relativamente isolados entre cidades, como empreendimentos autônomos de iniciativa estatal. Como há, também, a dinamização de antigos povoados e pequenas cidades com morfologia urbana tradicional que irão contrastar com as características dessas novas formas de ocupação do solo.

A espacialidade do território brasileiro apresenta uma estrutura urbana constituída por um número restrito de grandes e médias cidades e de numerosas pequenas cidades. Apesar de ser um tema importante no processo de urbanização devido a sua expressiva presença no território, carece de pesquisas voltadas para suas especificidades. Tem-se percebido um avanço nos estudos relacionados com as pequenas cidades, porém muito mais sobre estudos regionais, como aponta Villaça (2005), do que sobre seus espaços intra-urbanos. Essa realidade faz com que a ausência de propostas metodológicas específicas para “certas particularidades” e a “complexidade de atividades urbanas” para determinadas localidades não correspondam ao “imaginário geral”, que costuma reforçar, que toda pequena cidade deve configurar um “bucólico aspecto rural”.

A dinamização mais presente nas cidades médias, que atendem às demandas básicas e diversificadas de sua população e da população regional, pode também se apresentar em determinadas cidades pequenas que se especializam e passam a atender tanto às suas necessidades básicas de consumo como da produção rural. Denominadas como “cidades locais” por Santos, M. (1993) e que, para Soares (2000), essas cidades:

funcionam como intermediárias entre o campo modernizado e outros núcleos maiores e complexos, pois como estão integradas ao sistema produtivo moderno, suas populações e as próprias produções dos seus estornos passam a exigir uma demanda de consumo de bens materiais e imateriais. (SOARES, 2000, p.7)

Soares (2005), ao tratar das cidades médias e pequenas, utiliza as contribuições de vários autores, entre eles, Milton Santos e sua diversificada bibliografia sobre o assunto. Alguns, inclusive, empregados neste texto. A autora enfatiza a necessidade de pressupostos teóricos e metodológicos para o desenvolvimento de estudos sobre as médias e pequenas cidades. Neste sentido, as “cidades locais” que não apontem “atividade polarizante” ou que apresentem “complexidade de atividades urbanas” que possam garantir crescimento auto-sustentado e domínio territorial não podem ser consideradas como uma verdadeira cidade. Porém destaca, tendo como referência Santos, M. (1979, 1993, 2004):

a existência ou não destas cidades, no contexto contemporâneo, deve ser identificada, tendo em vista o ‘novo’ significado do processo de urbanização diante do período técnico-científico-informacional. (SOARES, 2005)

As vilas associadas ao setor hidrelétrico fazem parte desse processo de transformação, nesse período científico-informacional; instigam a investigação para compreender como vão se inserir no processo de urbanização brasileira em decorrência de suas pequenas dimensões populacionais, territoriais e peculiaridades que contrastam e definem novas formas de uso do solo.

As pequenas cidades, que constituem a grande maioria dos municípios brasileiros, pois para um total de 5507 municípios, 4642 apresentam uma população de até 20.000 habitantes, ainda são um tema pouco estudado pelas diversas áreas acadêmicas. Porém, já se registra uma razoável produção devido à importância que o tema tem despertado face à globalização. É o tema: globalização que vai despertar grande interesse para as questões locais e de localidade, como colocado a seguir;

As pequenas cidades brasileiras se constituem importantes elementos para a investigação científica contemporânea tanto pela carência de estudos como pelos conteúdos, social, político, econômico e histórico, que comportam (...) é preciso considerar o que representam no contexto do país as cidades de pequeno porte, sobretudo, aquelas, com até 20 mil habitantes. (SOARES & MELO, 2005)

No âmbito da Geografia brasileira, já existem importantes estudos, mesmo que gerais, sobre as pequenas cidades, desenvolvidos nos últimos quinze anos. Neste

sentido, optou-se por recorrer aos estudos que abranjam as regiões objeto desta tese. Autores como Oliveira & Soares (2004), Soares & Melo (2005) evidenciam em seus estudos sobre pequenas cidades no Triângulo Mineiro – MG, uma importante contribuição sobre o tema.

Com o objetivo de revisar o tema relacionado com a pequena cidade e indicar metodologias para a investigação científica contemporânea, Soares & Melo (2005)56

recorreram a estudos de vários autores: Motta, Muelle &Torres (1997), Tavares (2002), Beaujou-Garnier (1980), Azevedo (1957), Geiger (1963), Corrêa (1967), Alegre (1970), Santos (1979, 1993, 2004), Faissol (1994), Oliveira & Soares (2002), Fresca (1990), Bernadelli (2004), Wanderley (2004) e Freitas et al (2005). Alguns autores buscaram a definição de urbano baseados em índice demográfico de acordo com o que preconiza o IBGE: núcleos com, pelo menos 20 mil habitantes para ser considerado cidade e rural para os núcleos com população abaixo deste patamar. Outros autores questionaram esses parâmetros e elaboraram novas proposições em torno do mesmo tema.

É fato que as cidades de pequeno porte constituem o maior número de cidades no país, principalmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Mesmo com as cidades de menos de 50 mil habitantes registrando uma pequena desaceleração em seu crescimento médio anual de 2,84% (1970) para 2,54% (1980 a 1991), os núcleos com até 20 mil habitantes permanecem como maioria (SOARES & MELO, 2005 p.1). Estas autoras, avaliam as pequenas cidades no contexto da urbanização brasileira e seu significado nas redes urbanas regionais em relação às características particulares e articulações, medidas pela divisão territorial do trabalho. Ao ressaltar como complicador os critérios administrativos e legislativos, destacam outros problemas para a efetivação de metodologias de investigação, entre outros;

A extensão do território e as diversidades regionais brasileiras impedem que haja uma uniformização na rede de cidades, em sua hierarquização e mesmo em suas funcionalidades, sendo assim, pensar em uma caracterização única para as pequenas cidades no Brasil é uma tarefa complexa e quase impossível, pois se para cada caso, elaborarmos propostas com níveis muito segmentados poderemos inviabilizar estudos comparativos em nível nacional. (SOARES & MELO, 2005, p.2)

56 Soares, Beatriz R. & Melo, Nágela A. de. REVISANDO O TEMA DA PEQUENA CIDADE: uma

Com base no levantamento bibliográfico citado e na reflexão sobre aspectos conceituais dessa temática, conclui-se que, devido à diversificação da realidade socioespacial brasileira, das características próprias das pequenas cidades e da manutenção de parâmetros nacionais rígidos, de certa maneira, impedem novas abordagens que possam permitir avanços frente à complexidade e diversidade do espaço brasileiro (SOARES & MELO, 2005,p.18). Explicitado pela seguinte constatação;

um dos caminhos a trilhar para construir um aparato de conhecimentos sobre as pequenas cidades brasileiras, particularmente as situadas nas áreas de cerrados, está no desenvolvimento de estudos regionais. Essas aglomerações devem, também, ser vistas pelos processos que resultaram suas edificações e institucionalizações enquanto tal. É preciso apreender, talvez antes dos demais aspectos, o que fez com que esses núcleos surgissem, o que os legitimou, como espaços que participam de alguma forma para a organização e reprodução da sociedade regional. (FREITAS et al, 2005, p.47)

As exposições acima visaram contextualizar, ainda que resumidamente, os vários pontos de vista de estudiosos do assunto. No caso específico desta tese, é importante salientar que “as vilas” em estudo estão inseridas nestas discussões por pertencerem aos pequenos municípios e de maneira a contribuir com conhecimentos que permita instrumentalizar e fundamentar, ao menos, uma nova abordagem de seus espaços intra- urbanos e da sua articulação nas redes regionais que abrangem o referido estudo.

Portanto, pesquisar cidades menores “com características peculiares”, com reduzida escala territorial e populacional, com até 10.000 habitantes, é um desafio em todos os sentidos, pela insuficiência de dados, desconhecimento intra-urbano e a inserção dessas localidades em âmbito regional. Foram demonstrados nos quadro 01, p. 08 e 02 p.10 indicadores importantes para avaliar o desenvolvimento econômico local e regional.

Um dado importante considerado foi o IDHM - Índice do Desenvolvimento Humano Municipal que, segue a metodologia do IDH para os países. O índice se situa entre os valores 0 (zero) e 1 (um), sendo que os valores mais altos indicam níveis superiores de desenvolvimento. Foram definidas três categorias segundo os respectivos valores observados: baixo desenvolvimento humano, quando o IDH for menor que 0,499, médio desenvolvimento humano, para valores entre 0,500 e 0,799 e alto desenvolvimento humano, quando o índice for igual ou superior a 0,800 (PNUB, 2007).

municípios com médio desenvolvimento humano porém, muito próximos do índice 0,800, que indica alto desenvolvimento humano, com exceção do município de Caldas Novas que já se enquadra nesta categoria.

Discorreu-se, às vezes, mais resumidamente, outras vezes com mais especificidades sobre pontos relevantes numa perspectiva histórica sobre a produção arquitetônica e urbanística das vilas de usinas hidrelétricas, e sobre as questões conceituais que envolveram a concepção dos projetos. Abordou-se, também a “questão profissional” dos vários agentes envolvidos, a urbanização brasileira e seus desdobramentos em relação às pequenas cidades. Foi realizado um levantamento dos trabalhos e pesquisas executadas ao longo dos últimos anos em relação a estes empreendimentos e os seus impactos ambientais.

No próximo capítulo, a investigação aborda também numa perspectiva histórica, os vários agentes políticos e as políticas propostas para o setor energético, o uso do planejamento para o desenvolvimento, a criação das estatais, seu desenvolvimento e experiências no campo da cidade-empresa por meio as vilas operadoras, bem como, a localização e os impactos negativos e positivos da implantação de hidrelétricas no Brasil.

Serão destacadas as mudanças verificadas em relação a política ambiental, a criação de comitês de bacias hidrográficas e à participação das comunidades locais em associações, cuja finalidade é de rever e propor soluções aos impactos negativos das políticas do setor de energia propostas ao longo do tempo.