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2 CAPÍTULO 1 PARADIGMA DOMINANTE, CRISE E

2.3 Algumas considerações sobre o Paradigma Quântico

Diapositivo Delzilene Macedo – A Teia da Vida

“Os padrões que os cientistas observam na natureza estão intimamente relacionados com os padrões das suas mentes, com os seus conceitos, pensamentos e valores” (CAPRA,1983, p.17). A estrutura mental condiciona a obtenção dos resultados.

Santos (1999, p.23) ao discorrer sobre a crise do paradigma dominante, enfatiza que “a crise não é só profunda como irreversível; estamos a viver uma revolução científica que se iniciou com Einstein e a mecânica quântica e não se sabe quando terminará”.

A partir do início do século XX o mundo atômico e subatômico forneceu aos cientistas os primeiros lampejos acerca da natureza essencial das coisas, lidando com uma “experiência não-sensorial da realidade” (CAPRA, 1983, p.52); o conceito de força foi substituído por um conceito muito mais sutil de campo. A luz não passa de um campo eletromagnético de alternância rápida e que percorre o espaço sob a forma de ondas.

Isto sabemos. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Tudo o que acontece

com a Terra, acontece com os filhos e filhas da Terra. O homem não tece a teia da vida; ele é apenas um fio. Tudo o que faz à teia, ele faz a si

mesmo. Chefe Seattle.

Sabemos atualmente que as ondas de rádio, de luz ou os raios X são ondas eletromagnéticas, campos magnéticos e elétricos oscilatórios, que diferem unicamente pela freqüência de suas oscilações ; e mais: sabemos que a luz visível é apenas uma fração ínfima de espectro eletromagnético. [...] Os quanta de luz que deram à teoria quântica o seu nome, tem sido aceitas como partículas genuínas, que são atualmente chamadas fótons. São partículas de um tipo especial, desprovidas de massa e que sempre se deslocam com a velocidade da luz. [...] No nível subatômico, não se pode dizer que a matéria exista com certeza em lugares definidos; diz-se antes, que ela apresenta “tendências a existir”, e que os eventos atômicos não ocorrem com certeza em instantes definidos e numa direção definida mas, sim, que apresentam “tendências a ocorrer”. (CAPRA, 1983, p.58).

A percepção da realidade é complexa, além da complexidade da própria realidade. A retina humana, camada do bulbo ocular que possui os neurônios fotossensíveis, possui cento e vinte e seis milhões de fotorreceptores e o nervo óptico tem cerca de um milhão de fibras que levam o processo visual até ao córtex visual. Assim, a informação recebida pelos receptores é selecionada e agrupada, codificada e integrada (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008). Portanto, é impossível enxergar tudo o que nos rodeia, como bem explanou Exupéry em seu livro O Pequeno Príncipe: “o essencial é invisível para os olhos”; e também a fala do apóstolo Paulo de Tarso, em sua segunda carta aos Coríntios no capítulo 4, versículo 18: “o nosso objetivo não é o que se vê, mas o que não se vê; o que se vê é provisório, mas o que não se vê é eterno”, nos contextualiza bem com relação à nossa constituição e nossa existência.

Os objetos materiais sólidos da física clássica dissolvem-se em padrões de probabilidades semelhantes a ondas; probabilidades de interconexões. Não podemos decompor o mundo em unidades menores dotadas de existência independente.

As partículas não têm significado enquanto entidades isoladas, mas interconexões, ou correlações, entre vários processos de observação e medida (CAPRA, 1996).

Capra (1996, p. 42) discutindo sobre física quântica, ressalta que “enquanto que na mecânica clássica as propriedades e o comportamento das partes determinam as do todo, a situação é invertida na mecânica quântica: é o todo que determina o comportamento das partes” [...] o todo é mais do que a soma de suas partes”.

A natureza surge perante nós, como uma complexa teia de relações entre as diversas partes do todo. “Essas relações sempre incluem o observador, de maneira essencial” (CAPRA, 1983, p. 58).

Capra (1983, 1996) explica que o aspecto sólido da matéria é a conseqüência de um típico “efeito quântico” vinculado ao aspecto dual (onda-partícula) da matéria; essa característica do mundo subatômico não dispõe de analogia macroscópica. E todas as medidas de espaço e tempo são relativas, dependendo do estado de movimento do observador, como toda a estrutura do espaço-tempo está inextricavelmente vinculada à distribuição da matéria.

Capra (1983, p. 170-185) em seu livro O Tao da Física no capítulo A Dança Cósmica, explica que o fóton não possui massa e representa a unidade de radiação eletromagnética. O neutrino é de difícil detecção porque não possue massa nem carga elétrica. Movimento e o ritmo são propriedades essenciais da matéria, que toda matéria, tanto na Terra como no espaço externo, está envolvida numa contínua dança cósmica, numa chuva de partículas diversas.

Os sistemas vivos são totalidades integradas, suas propriedades não podem ser reduzidas às de partes menores. As relações de organização das partes, os próprios objetos são redes de relações, embutidas em redes maiores. A metáfora do conhecimento é a da rede de relações. A forma emerge das relações. “O universo material é visto como uma teia dinâmica” Os próprios objetos são redes de relações embutidas em redes maiores. A metáfora para compreensão do universo, do cosmos, da sociedade, do corpo humano, é de uma rede com interligações, uma rede de relações.

O pensamento sistêmico foi estabelecido pelas “concepções de Bertalanffy de um sistema aberto e de uma teoria geral dos sistemas que estabeleceram o pensamento sistêmico como um movimento científico de primeira grandeza” substituíndo os fundamentos mecanicistas da ciência pela visão holística, onde os organismos vivos são sistemas abertos porque precisam se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e de energia extraídas do seu meio ambiente para permanecerem vivos. As propriedades sistêmicas surgem de uma configuração de padrões ordenados, tendo a rede como padrão geral da vida, capaz de se auto- organizar, e cujas relações são não lineares (CAPRA, 1996, p.53-78).

Behe (1997) professor de bioquímica, em seu livro A Caixa Preta de Darwin o desafio da bioquímica à teoria da evolução, usa como exemplos a visão, a coagulação do sangue, o transporte celular, a complexidade da célula, e argumenta técnicamente que essas estruturas biológicas têm que ter sido planejadas por um planejador inteligente, seja Deus ou uma Inteligência Suprema.

Capra (1996) ressalta a contribuição de Gregory Bateson sobre a concepção da mente baseada em princípios cibernéticos, o que favoreceu a compreensão da natureza da mente como um fenômeno sistêmico, e se tornou a primeira tentativa bem sucedida feita na ciência para superar a divisão cartesiana entre mente e corpo; até as evidências da neurociência de que a inteligência humana, a memória humana e as decisões humanas nunca são completamente racionais, mas sempre se manifestam com emoções.

[...] a compreensão dos organismos vivos como sistemas energeticamente abertos mas organizacionalmente fechados, o reconhecimento da realimentação como o mecanismo essencial da homeostase e os modelos cibernéticos dos processos neurais – para citar apenas três exemplos que estavam bem estabelecidos na época – representaram avanços da maior importância na compreensão científica da vida. [...] No modelo qualitativo de auto-organização pode-se dizer que a auto-organização é a emergência espontânea de novas estruturas e de novas formas de comportamento em sistemas abertos, afastados do equilíbrio, caracterizados por laços de re-alimentação internos e descritos matematicamente por meio de equações não-lineares (CAPRA, 1996, p. 75-80).

A concepção de Prigogine, de que em sistemas abertos, a dissipação torna-se uma fonte de ordem, quando o fluxo de energia e de matéria que passa através das estruturas dissipativas, aumenta, elas podem experimentar novas instabilidades e se transformar em novas estruturas de complexidade crescente, são relevantes para a compreensão da natureza (CAPRA, 1996).

Um belo exemplo de sistema autopoiético, estudado inicialmente por Humberto Maturana e Francisco Varela, é a célula viva, onde toda a rede, continuamente, “produz a si mesmo”. E numa concepção semelhante, Geoffrey Chew, formulou a sua hipótese bootstrap, na qual cada partícula ajuda a gerar outras partículas, no caso os hádrons, partículas que interagem por interação forte (CAPRA, 1996).

A teoria de Gaia de James Lovelock, olha para a vida de maneira sistêmica: a idéia de que a Terra como um todo é um sistema vivo, auto-organizador. A hipótese de Gaia (em honra da deusa grega da Terra) plenamente científica, resultou da associação desse cientista com Lynn Margulis, resultando na compreensão de que os laços de realimentação ligam conjuntamente sistemas vivos e não vivos (CAPRA, 1996, p.93):

Não podemos mais pensar nas rochas, nos animais e nas plantas como estando separados uns dos outros. A teoria de Gaia mostra que há um estreito entrosamento entre as partes vivas do planeta – plantas, microorganismos e animais – e suas partes não vivas – rochas, oceanos e a atmosfera.

Nesse novo paradigma, depreende-se que todas as concepções e todas as teorias científicas são limitadas e aproximadas. O que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso método de questionamento. Independentemente de quantas conexões levarmos em conta na nossa descrição científica de um fenômeno, seremos sempre forçados a deixar outras de fora. Na ciência, sempre lidamos com descrições limitadas e aproximadas da realidade (CAPRA, 1996).

A imprevisibilidade, a não localidade, a totalidade implicada, o comportamento caótico determinista e padronizado, o “Efeito Borboleta”(mudanças diminutas no estado

inicial do sistema levarão , ao longo do tempo, a conseqüência em grande escala), são todas informações e constatações que levam a reforma do pensamento.

Santos (1999, p. 22–26) faz importantes colocações para nossas reflexões:

A ação humana é radicalmente subjetiva. O comportamento humano, ao contrário dos fenômenos naturais, não pode ser descrito e muito menos explicado com base nas suas características exteriores e objetiváveis, uma vez que o mesmo ato externo pode corresponder a sentidos de ação muito diferentes. [...] a hipótese do determinismo mecanicista é inviabilizada uma vez que a totalidade do real não se reduz â soma das partes em que a dividimos para observar e medir. [...] a distinção sujeito-objeto é muito mais complexa do que à primeira vista pode parecer. A distinção perde os seus contornos dicotômicos e assume a forma de um continuum.

Devemos nos preparar para o nosso mundo incerto e aguardar o inesperado. Precisamos de uma concepção complexa (complexus: o que é tecido junto) do sujeito, estudar a desordem, refletir sobre a idéia de caos organizador, ir para além das contradições.

Morin (2004, p.16) enfatiza que “a aptidão para contextualizar e integrar é uma qualidade fundamental da mente humana, que precisa ser desenvolvida, e não atrofiada”.

O observador humano constitui o elo final na cadeia de processos de observação, e as propriedades de qualquer objeto atômico só podem ser compreendidas em termos de interação do objeto com o observador. Morin (2004, p. 40-41) traz considerações importantes acerca desse assunto, senão vejamos:

A Terra não é a soma de um planeta físico, de uma biosfera e da humanidade. A Terra é a totalidade complexa físico-biológica-antropológica, onde a vida é uma emergência da história da Terra, e o homem, uma emergência da história da vida terrestre. A relação do homem com a natureza não pode ser concebida de forma reducionista, nem de forma disjuntiva. A humanidade é uma entidade planetária e biosférica. [...] À maneira de um ponto de holograma, trazemos, no âmago de nossa singularidade, não apenas toda a humanidade, toda a vida, mas também quase todo o cosmo, incluso seu mistério, que, sem dúvida, jaz no fundo da natureza humana.

Atualmente, as posições paradigmáticas que nos legaram a modernidade estão a ser colocadas em questão. Sem desconhecer aspectos importantes dos legados da ciência moderna parto, contudo, de sua crítica e adentro o campo tenso da medicina na modernidade.

Morin (2000) enfatiza que “a grande importância da epistemologia moderna consiste em ter mostrado de maneira decisiva que a teoria científica não é o reflexo do real [...] As teorias são sistemas lógicos elaborados pelo espírito humano e este os aplica sobre o real”.

A revolução científica do século XX, iniciada com a física quântica, prepara a reforma do pensamento e contribui para a mudança de paradigma. Morin (2004, p. 89) comenta sobre o avanço pacífico de uma reforma do pensamento:

As duas revoluções científicas do século preparam a reforma do pensamento. A primeira começou com a física quântica e, como já mencionamos, desencadeia o colapso do Universo de Laplace; a queda do dogma determinista; o esboroamento de toda idéia de que haveria uma unidade simples na base do universo; e a introdução da incerteza no conhecimento científico. Suscitou, notadamente em Bachelard e Popper, tomadas epistemológicas de consciência em relação aos pressupostos do saber científico. A segunda revolução, realizada com a constituição de grandes ligações científicas, faz com que se levem em consideração os conjuntos organizados, ou sistemas, em detrimento do dogma reducionista que imperara durante o século XIX.

O Universo está em permanente expansão. O Universo é consciente e possui propósito.

Nesse paradigma emergente “o objeto é a continuação do sujeito por outros meios. Por isso, todo o conhecimento científico é auto-conhecimento” (SANTOS, 1999, p.52). A modernidade é o paradigma dominante, onde a auto-reflexividade é essencial para os primeiros traços de horizontes emancipatórios, e como designa Santos (2005) “a transição epistemológica ocorre entre o paradigma dominante da ciência moderna e o paradigma emergente que designo por paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente” (SANTOS, 2005, p.16).

O Espírito Emmanuel em seu livro EMMANUEL (2008, p.98) psicografado por Chico Xavier coloca que “ a ciência infatigável procura, agora, a matéria-padrão, a força-origem, simplificada, da qual crê emanarem todos os compostos, e é nesse estudo proveitoso que ela própria, afirmando-se atéia, descrente, caminha para o conhecimento de Deus”. E analisa ainda mais profundamente neste mesmo livro, Emmanuel (2008, p.41):

No futuro, viverá a Humanidade fora desse ambiente de animosidade entre a Ciência e a Religião, e julgo mesmo que em nenhuma civilização pode a primeira substituir a segunda. Uma e outra se completam no processo de evolução de todas as almas para o Criador e para a perfeição de sua obra. As suas aparentes antinomias, que derivam, na atualidade, da compreensão deficiente do homem, em face dos problemas transcendentes da vida, serão eliminadas, dentro do estudo, da análise e do raciocínio.

A física quântica demonstra a profunda interconexão de tudo com tudo e a ligação entre a realidade e o observador. A matéria cedeu lugar à energia, e assim compreendo melhor a inspirada a fala do apóstolo Paulo: “Há um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos” (EFÉSIOS, 4: 6).