• Nenhum resultado encontrado

3 CAPÍTULO 2 CENÁRIO DE ESCUTA NO POSTO DO

4.1 Um lugar de escuta importante: a enfermaria Mãe Canguru

Adentramos a enfermaria Mãe-Canguru, na Maternidade Escola, por ser um lugar que derivou, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, da luta por uma atenção, às classes populares, mais consentânea com suas necessidades prementes.

Acometidas, em geral, com afecções como DHEG (Doença Hipertensiva da Gestação), as jovens mães, que estão nessa enfermaria, vivenciaram a retirada do seu bebê, prematuro, em geral por estar em risco a vida da mãe. Nomeia-se Mãe-Canguru, essa enfermaria, por funcionar como incubadora humana, na qual a criança fica, ao máximo, vinculada ao colo da sua jovem mãe.

Era uma tarde suave de junho; as chuvas haviam lavado o céu e ficava no ar um matiz delicado de sol, por uma fresta da janela. As enfermeiras auxiliavam algumas mães a retirar o leite do peito para colocá-lo em um tubo, uma vez que os prematuros bebês ainda não tinham a força de sugá-lo. Uma jovem, que já estava com seu bebê a dormir e que se quedava quieta, olhando nossa chegada, chamou-nos logo a atenção. Depois de algumas conversas e de apresentações aos trabalhadores que cumpriam o plantão no local, fomos na direção da jovem mãe, que continuava a observar-nos.

Diálogo com Jasmim (M.N.S.), 26 anos, católica, mãe de Letícia, com dias de vida, nasceu com 30 semanas de idade gestacional, Apgar 3 e 7, peso de nascimento: 1300 gramas.

- Podemos conversar? - Claro.

- Estamos fazendo uma pesquisa sobre as significações que as pessoas dão a seus processos de adoecimento e de cura. Você poderia, então, contar como se deu esse percurso que levou você até aqui? E que significados foi construindo para dar sentido ao que vivia nesse caminho?

- Não sei se é isso, mas eu vou contando... Eu precisava entender o que se passava comigo... O que se passa... Sempre. Até agora, quando ela começa a chorar (aponta a criança dormindo em seu peito), me dá desespero. Não sei o que ela está sentindo; ela chora muito. Será que é uma coisa dela mesma? Como é que eu vou saber o que ela está sentindo? Eu não esperava que nascesse assim, prematura, mas a pressão subiu, tiveram de tirar às pressas, a criança.

- Não. Eu esperava uma gravidez normal e um nascimento... Mas a Letícia nasceu com um quilo e duzentos grama; passou quinze dias na UTI. Também fui dar conta da gravidez já no quinto mês... Sempre tive menstruação irregular e, no primeiro mês da gravidez, nos separamos, eu e o pai dela. Daí eu não ia pensar que tinha ficado grávida ali e fui levando, me afogando de trabalhar; quando a pressão subia, eu achava que era de trabalhar demais, dar plantão... Quase sempre eu induzia minhas regras, por meio de medicamentos, sabe como é, eu sou atendente de enfermagem em Sobral, sei algo sobre isso.

- É mesmo? Do interior do Ceará...

- Tinha passado cinco anos noiva do pai dela, da Letícia (apontava a menina em seu colo). Só faltavam dois meses para a gente se casar, quando ele terminou, mas eu já estava grávida, com um mês de grávida e não sabia. Antes de eu descobrir que estava grávida, já terminado o noivado, fizemos vestibular juntos, para Biologia. Passamos, os dois. Eu dava muitos plantões de noite, muitos, e achava que minha pressão subia porque eu não queria lembrar.

Eu tinha dito a ele que estava grávida, lá para o quinto mês, quando eu soube, e ele disse que não era dele. Até o nome dela tinha sido programado, quando a gente era noivo: Letícia. Eu expliquei tudo, mas não “caiu a ficha”; veio “cair a ficha” dele agora, quando eu vim de Sobral. Estava “centralizando nela”, minha pressão alta. Lá, quando eu me internava, minha pressão estava a vinte e um; daí eu vim de Sobral fazer a cesariana e ficar aqui em Fortaleza.

- Como você buscava entender o que lhe acontecia?

- Primeiro, eu perguntei a Deus. Eu perguntava por que Deus estava me colocando essa provação na minha vida. E Deus me respondeu, depois que eu fui buscando perguntar isso dentro de mim, que a Letícia tinha vindo para eu me conformar. Deus tinha mandado a Letícia para mim, nessa provação; Ele me respondeu assim.

- Como você foi perguntando, procurando essa resposta?

- Ah, de muitas formas. Eu vinha pensando, perguntando a Deus, quando meu noivo chegou a dizer: arranje outra pessoa, você tem jeito de refazer a sua vida. Eu acho que a Letícia dentro de mim me ajudava a continuar; a procurar entender; a continuar minha rotina de sempre.

Deixei de ir a festas – eu ia muito com ele, meu noivo - e fui passando a não pensar tanto nele, a pensar nela, na Letícia. Mas, no começo, não, eu não sabia da existência dela e pensava que minha pressão subia porque eu via meu noivo com outras namoradas e porque dava muito plantão para esquecer o sofrimento.

(Quis chorar, mas continuou, logo que sorriu para nós.)

- Eu achava também que, quando ele soubesse da existência da filha dele, da Letícia, ele ia pensar, ia se preocupar, ia gostar, dar carinho, mas não foi isso que aconteceu. Por isso, eu ia perguntando a Deus: por que essa provação?

Hoje, ele passa mensagem e quer saber de tudo dela; parece que está se arrependendo do que fez. Eu ia assim, mas minha animação maior foi quando eu cheguei aqui. A irmã de meu cunhado é espírita e conhece a minha história. Então, me deu um livro para ler, que eu acho que era a minha história.

- E qual é a sua história?

- É como a do livro. A do livro é assim: um casal namorava há muito tempo; combinaram de se formar antes de casar. Foi quando o rapaz conheceu alguém mais rica – a namorada era pobre. Ele deixou-a grávida; não a procurou mais. Ele foi fazer Direito e ela também, sem ele saber; queria estar à altura dele, para se vingar. Seis anos depois, ele a encontrou na rua; ela não disse nessa hora que tinha uma filha dele.

Uma vez aconteceu da moça defender uma causa e não assinar. Ele era o advogado oposto, mas ela ganhou a causa; ele quis saber quem era, porque ela não tinha podido assinar, porque estava se formando ainda. Foi então que ele soube que era sua ex-namorada. A partir daí, ele se interessou por ela, quis saber do filho; ela falou.

Nessa hora, a moça conversou com pessoas espíritas, que disseram para ela que enquanto ela tivesse esse desejo de vingança lhe dominando a vida, não ia refazer a vida dela; que tinha de tirar aquela raiva do coração, para ser de algum modo mais feliz.

(Chegou uma enfermeira, que trouxe leite em um tubo pequeno, para a criança sugar) - Ela não mama ainda?

- Não. Nasceu com um quilo e trezentas gramas e depois baixou para um quilo e duzentas e vinte gramas.

(Paramos um pouco e, depois, a moça continuou do ponto em que estava.)

- Ela, a moça do livro, então, foi conhecendo algo mais da vida espiritual; algo da vida espiritual. O ex- namorado, perseguindo ela, foi descobrir que ela freqüentava um centro espírita, ia a reuniões, e quis ir também. Nas reuniões, os espíritos se comunicavam - através de outras pessoas – e sempre davam algum “toque” sobre a vida deles dois, que servia pra vida deles dois.

- Por exemplo...

- Que ele teria de pedir perdão e ela teria de perdoar; que ela deveria deixar ele assumir o filho... - Ela não deixava.

- Ela não deixava, mas ia ouvindo isso e aprendendo mais sobre a vida espiritual, como eu agora. Estou aprendendo mais sobre a vida espiritual; estou lendo aquele livro ali, mesmo aqui. E penso em Deus, penso em como Deus mandou a Letícia...

- Você acha que vai acontecer com você como aconteceu no livro? Ou já está acontecendo?

- Não está acontecendo tudo não. Só se algo tocasse... Alguma coisa tocasse no coração dele como tocou no meu. Alguma coisa que até agora, com ele, ainda não aconteceu.

O livro foi mais forte para mim que a experiência anterior. Depois do livro eu não tou dizendo que conheço a fundo o que é espiritualidade; o que é espiritismo. E o que eu vejo é que as pessoas não acreditam e dizem “tinha de acontecer e aconteceu”. Mas são pessoas desacreditadas de tudo...

Eu nunca me interessei, antes. As pessoas diziam assim, somente: eu tenho fé em Deus que isso vai dar certo. Justamente isso eu queria saber: fé em Deus... até que ponto? As pessoas pedem a Deus para o que elas desejam acontecer dar certo, mas eu... perguntava.

Pausemos um pouco a narrativa, que na verdade, tem suas fundamentais falas, do nosso ponto de vista, nessa parte acima exposta. Reparemos nos grifos, em itálico, para buscar um itinerário de compreensão.

Partimos do pressuposto de que os estudos de narrativas em Antropologia Médica atestam que as pessoas desejam dar significado às suas experiências, e que o adoecer e o

curar-se envolveria, portanto, um percurso de busca de sentido que se faz como experiência de si.

Na verdade, temos de situar que não está em questão, apenas, a importância do social, do político-econômico e do cultural junto a um modelo orgânico ou natural, o biomédico.

Os estudos de Herzlich, por exemplo, ao mostrar a entrada das ciências antropossociais para os espaços antes restritos aos profissionais de saúde, apontam o aspecto da natureza social dos fenômenos biológicos. Diverso desse enfoque é importante situar que nós estamos intentando contribuir para modificar a própria idéia de sujeito das práticas em Medicina.

Não só seria importante ampliar os domínios do corpo para comportar a mente ou o psíquico, mas considerar um psíquico, no mínimo, como tendo um princípio espiritual, extrafísico, que sobrevive à morte do corpo físico. Isso seria diferente, a nosso ver, de reduzirmos a medicina à cultura, como ela foi reduzida à natureza.

Não queríamos colocar o princípio espiritual como algo que não possui uma realidade concreta – a idéia de inconsciente, que revolucionou tudo o que se pode tomar como humano e como social nas ciências, chegou a uma construção mais profunda quando abandonou o desejo de estabelecer correlações orgânicas no sentido estrito, para cada aspecto da sua fenomenologia. Também queremos dizer, com isso, que quando tentamos admitir um princípio espiritual e quando observamos que o sujeito, em seus percursos de adoecimento e de cura, recorre a uma ordem de explicações de explicações que nos leva a essa esfera, não estamos limitando esse saber à pura ideologia ou a uma simples resposta simbólica, em que pese à importância dessas visadas em estudos dessa natureza.

A positividade do saber em Medicina e a consideração de uma dimensão especificamente biológica, não serão negadas se pensar a idéia de pessoa como comportando um princípio extrafísico que sobrevive ao corpo físico e com ele se relaciona.

Embora importantes, os estudos sobre magia, sobre rituais e sobre doença situaram- se no nível do simbolismo e da ideologia: na esfera da linguagem. Enfatizando que os fenômenos nunca são estritamente sociais nem estritamente naturais, sendo quase-coisas, como diz Latour (1991), deveremos nos desvencilhar, todavia, dessa dicotomia mente-corpo, como também da dicotomia natureza-cultura que ainda perpassa muito da discussão sobre doença e saúde nas ciências.

Vejamos: Comaroff (1980, 1985) insere o sistema religiosos do sofredor no contexto cultural mais amplo em que se situa, ao invés de se ater às explicações do modelo biomédico. Já Lévi-Strauss (1967) admite que as explicações da ordem da religiosidade, como ele

nomeia, inserem-se em um todo coerente, que organiza os estados confusos e desordenados que o sujeito quer compreender. Taussin (1980) avança mais, chegando a ponto de afirmar que o tratamento médico despersonaliza o doente, enquanto o religioso tenta atingir a pessoa como um todo, reinserindo-lhe como sujeito em um novo contexto de relacionamentos.

Comecemos deste lugar. Observemos que Jasmim (daremos nomes de flores aos participantes da pesquisa, no cenário da enfermaria Mãe-Canguru, resguardando o anonimato e a ética necessários à situação investigativa), a moça da narrativa que agora tentaremos compreender, falava mais de uma vez na sua necessidade de - rompido seu relacionamento com quem ela nomeia como pai de sua filha –, refazer a vida.

Jasmim não fala em termos de se “refazer da doença” ou de algo localizado, que remete a um estado orgânico ou psíquico delimitado. Refere-se à provação (ela disse: eu perguntava por que Deus estava me colocando essa provação na minha vida) e também a sofrimento.

O psiquismo é visto como algo da esfera de seu próprio ser, não como algo separado. A vida, então, nesse contexto, é tida como uma totalidade em movimento. E é por perceber seu processo de adoecimento - que está ainda em curso, uma vez que ela continua internada na enfermaria Mãe Canguru – como algo que lhe deve devolver a potência de ser sujeito na vida, que ela parece procurar explicações da ordem do que ela nomeia como espiritualidade.

A idéia de refazer a vida, quando o rapaz (seu antigo noivo) a deixou, parecia remeter a significações que envolvessem a retomada de novos relacionamentos; já em outro momento da sua fala, Jasmim reporta-se à idéia de refazer a vida como sendo oposta à de guardar raiva no coração e à de ser, de algum modo, mais feliz (o grifo é nosso). Isso tudo faz Jasmim referir-se a algo que é da ordem do espiritual: ela fala, ao referir-se sobre o que ia lendo, que ia ouvindo isso e aprendendo mais sobre a vida espiritual.

Segundo Rabelo (1994), em seu estudo sobre Religião, Ritual e Cura, os estudos sobre rituais têm contribuído, significativamente para uma compreensão do que está em jogo quando o tratamento religioso entra em cena, a partir de comparações com os tratamentos da medicina oficial.

Rabelo (1993) afirma que os tratamentos que envolvem o aspecto religioso levam os doentes a uma reorganização de sua experiência de mundo. A estudiosa observa que o ritual de cura que se utilizam da religiosidade funcionam como prática transformativa.

Não ressaltaremos, aqui dos estudos de Rabelo (1993), os aspectos do ritual envolver encenação e performance, como também de manejar linguagens artísticas em meios de

comunicação (dramatizações, cantos, danças etc.). Iremos nos deter no efeito de transformação que a experiência religiosa realiza nas pessoas.

Assim é que retiraremos dos estudos de Rabelo duas idéias básicas que advêm dessa idéia do tratamento religioso funcionar como experiência reorganizadora: a de que é uma prática de transformação da pessoa e a de que a pessoa realiza, nesse percurso, simbolizações de um modo extra-cotidiano.

Veja que vamos insistir na idéia de que em situações de adoecimento e de cura, mesmo sem uma busca ritualística ostensiva (considerada como tratamento religioso, como em Rabelo), as pessoas, de um modo geral, lidam com essa dimensão espiritual. Desse modo é que nos processos de doença e de cura, vistos como experiência de si, a pessoa interroga e busca permanentemente significar a vida e, assim, volta-se para explicações de totalidade que dizem respeito à dimensão espiritual.

Analisemos essas assertivas.

I. A idéia de que o doente passa por uma transformação na sua percepção de mundo, daí Rabelo chamar essa experiência de “prática transformativa” – conceito que nos será de grande valia.

Reparemos que Jasmim diz que gostaria de que alguma coisa tocasse no coração dele (do rapaz que era seu noivo) como tocou no meu – ela diz. Alguma coisa que até agora, com ele, ainda não aconteceu – ela diz. Infere-se, daí, que houve uma experiência de transformação, pois ela admite que isso a diferencia, hoje, do noivo. Jasmim fala em um antes diverso do hoje.

Admite Jasmim que, então, algo a transformou - algo que ela atribui a uma experiência espiritual, como assim ela nomeia ao percurso vivido.

II. A idéia de que nessa passagem, nessa prática transformativa, a pessoa lida com símbolos em um contexto extra-cotidiano.

Observemos que Jasmim fala em um depois do livro – o que parece significar que o livro funcionou como objeto projetivo, como manancial de símbolos para o diálogo que ela ia fazendo durante todo esse percurso. Um diálogo marcado por um perguntar (primeiro, a Deus – como ela diz) que Jasmim diz ser diferente de desejar apenas que as coisas aconteçam de dada forma.

Pensamos, reiteramos, que nos percursos de adoecimento e de cura, em seu anseio de significar, um sujeito inquire, permanentemente, o que se tem nomeado como algo da ordem do religioso, do transcendente ou do que estamos a chamar de espiritual.

Observamos, desde já, que esse percurso cognitivo (da ordem do conhecer) envolve outras dimensões do ser, daí ser pensável que a pessoa transforma-se de um modo mais inteiro nessa experiência.

Poderíamos dizer que a experiência espiritual é uma experiência que se caracteriza, devido à sua inteireza, por um trabalho que considera o ser de um modo mais ostensivo em seu todo e, pois, que remete a reflexões de totalidade que definem o domínio do espiritual.

Não se pode esquecer de que, no curso dessa experiência, a pessoa lida com uma carga excepcional (no sentido de que é maior do que a comum) de emoção e de sentimento.

Ao lado desse trabalho com a dimensão do sentir, temos de atentar para a idéia de que o sujeito que vivencia esse percurso de busca de sentidos modifica seu modo de se relacionar com os outros: esse, um efeito transformativo.

Também se deve considerar que a transformação vivida no livro traz um elemento interessante, na elaboração de Jasmim: uma ação pedagógica é vivida e vista como educação espiritual para a pessoa – a procura e a aprendizagem no centro espírita. Essa aprendizagem volta-se, sobretudo, para a vida moral das pessoas. A gente pode lembrar que, no livro lido pela nossa entrevistada (Jasmim), os espíritos, nas reuniões, davam “toque” para a vida dos dois, sempre aconselhando coisas como o perdão, que foi o exemplo dado; algo que exige uma atividade de transformação moral.

Em seu livro As formas elementares da vida religiosa, Durkheim (1989, p. 224), já observava esse laço entre a vida moral e as religiões: “todas as religiões são em certo sentido espiritualistas, pois as potências que elas colocam em jogo são antes de tudo espirituais e é sobre a vida moral que elas têm a função de agir”.

Outro aspecto que Rabelo assinala é o de que na experiência de si, vivida nos percursos de adoecimento e de cura, um sujeito, em sua ânsia de significar, carreia metáforas que unem “aspectos” (diríamos “dimensões”) diversos de sua pessoa. Assim é que as metáforas, embora inscritas em um tecido imaginante e que parece informe, em seu percurso de significar, vão se estendendo a domínios concretos e reconhecíveis da vida comum.

Diálogo com Violeta (A.S.B.), 28 anos, católica, mãe de Saulo Aurélio, que nasceu com 975 gramas, Apgar 1-2 e 4; com menos de 29 semanas de idade gestacional. Está hoje com 76 dias de vida, pesando 1590 gramas.

- Estamos fazendo uma pesquisa sobre as significações que as pessoas dão a seus processos de adoecimento e de cura. Você poderia, então, contar como se deu esse percurso que levou você até aqui? E que significados foi construindo para dar sentido ao que vivia nesse caminho?

- Minha gravidez foi planejada, desejada. Tive muita raiva na gestação. Minha rotina era pesada, trabalho na Escola, seviço burocrático, e faço o curso técnico de enfermagem. Tive raiva do meu marido com três meses de gestação, tive muito aborrecimento no trabalho. Com cinco meses de gravidez, tive um aborrecimento com meu cunhado.

Foi Deus quem quis que o meu filho escapasse. As primeiras vinte e quatro horas de vida foram importantes. Para mim, Deus quis que ele escapasse. O pai dele me ajudou muito. Ele foi e está sendo paciente, ele está muito presente. Ele é vigilante.

Ao chegar em casa, após a visita na UTI neonatal, ficava um meia hora chorando, sem conseguir falar. No dia 13 de maio, fui à Igreja de Fátima, e eu disse na oração: -“Se for sua vontade, me dê uma resposta quando chegar ao hospital”. Quando cheguei no hospital Saulo tinha melhorado.

Estou mais aliviada. Vou me realizar mais quando ele estiver mamando. Todos os 76 dias estive aqui presente. Primeiramente Deus e depois a medicina. Se não fosse a ventilação mecânica, o meu bebê não teria