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PARTE 1 O PROBLEMA E A CONSTRUÇÃO DO QUADRO TEÓRICO

I. APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO E DO PROBLEMA

I.2 Algumas notas sobre a investigação em autoavaliação de escolas

Uma breve retrospetiva

A autoavaliação de escolas tem despertado a curiosidade de muitos investigadores em Portugal nos últimos anos, pois a sua generalização a todos os estabelecimentos de ensino parece torná-la um objeto de estudo mais visível e acessível, ao mesmo tempo que multifacetado, permitindo assim abordagens diversificadas. Simultaneamente, a coragem dos atores que integram as comunidades escolares que ousam olhar para dentro da black box que têm sido as instituições escolares e a riqueza da informação que daí têm extraído, parece ter aguçado a curiosidade científica.

São já muitas as dissertações de mestrado que focam a autoavaliação de escolas em Portugal, frequentemente pegando num caso específico para depois aprofundar o seu

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conhecimento à luz de um quadro teórico. Três exemplos desta abordagem são as investigações realizadas por Mourão (2009), Curado (2010) e Cabaço (2011). No primeiro, Manuel Mourão vai procurar conhecer as origens da autoavaliação desenvolvida por um agrupamento vertical, as perceções dos atores envolvidos, como foram envolvidos e, finalmente, compreender o impacto que a autoavaliação tem tido no Agrupamento.

Idália Curado tem como objetivo obter dados empíricos que contribuam para compreender melhor o impacto da implementação do processo de autoavaliação. Para o efeito vai realizar um estudo de caso numa escola secundária com 3º ciclo do ensino básico, onde procura compreender o contexto e as motivações para o desenvolvimento de práticas de autoavaliação. Depois de aprofundar o conhecimento de aspetos da sua implementação e do envolvimento da comunidade, vai debruçar-se sobre os impactos que tem tido na vida da escola.

Por seu turno, Maria Helena Cabaço vai descrever a metamorfose da autoavaliação numa escola que, nas suas palavras, inicialmente “estranhou-se”, dando a resistência lugar à participação da comunidade escolar.

Ao contrário dos estudos anteriormente referidos, Correia (2006) não efetua um estudo de caso, optando por estudar um número significativo de escolas públicas da região norte de Portugal e, através de um inquérito, identificar aspetos impeditivos do desenvolvimento dos dispositivos de autoavaliação, que se constituem como verdadeiros obstáculos ao principal propósito da autoavaliação - que esta seja um meio de aprendizagem. Sobressaem, entre outros: a possível existência de uma avaliação parcelar da escola sem ter presente uma visão holística; o reduzido envolvimento de toda a comunidade educativa ao longo do processo; o conjunto reduzido e pouco variado de métodos de recolha de informação; os efeitos reduzidos dos resultados na formação da comunidade educativa.

Contudo, o destaque neste levantamento sumário de investigações realizadas no âmbito da autoavaliação de escolas vai para duas teses de doutoramento: Simões (2010) e Correia (2011).

Graça Simões aborda a relação entre a avaliação externa de escolas e avaliação interna, designando por ‘pressão democrática’ aquela que a primeira exerce sobre a segunda. Na sua investigação, construída a partir de três estudos de caso, aprofunda o

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papel da avaliação interna (que surge quase indistinta da autoavaliação) e vai procurar conhecer as mudanças vividas nas escolas na sequência da introdução de processos formais e da institucionalização da autoavaliação; e a autoavaliação como instrumento de regulação (aqui designado por horizontal), da organização escolar. O aprofundamento deste estudo vai permitir enquadrar a regulação de acordo com duas matrizes distintas: a primeira é a regulação conformista, em linha com pressões externas; a segunda é a regulação emancipatória, pois responde a necessidades sentidas pela escola e às suas políticas.

Serafim Correia (2011) também se coloca numa perspetiva de compreensão e vai estudar em detalhe e ao longo de um período de três anos a operacionalização de um dispositivo de autoavaliação, num duplo papel de investigador e de amigo crítico. Para tal, definiu como objetivos da sua investigação compreender o processo de constituição e a forma de trabalhar da equipa de autoavaliação, a importância da participação de atores internos, e o papel do amigo crítico. Utilizou ainda a sua investigação para diagnosticar obstáculos ao desenvolvimento da autoavaliação e para identificar potencialidades na construção de um modelo de autoavaliação assente na referencialização.

Marcas distintivas da presente investigação

No contexto atual, quase todas as escolas desenvolvem processos de avaliação interna ou de autoavaliação. Contudo, a sua efemeridade tem sido nota dominante, pelo que a contrastante durabilidade de práticas autovaliativas constituiu-se como o motor da nossa investigação.

Tal como Simões (2010), fizemos uma incursão na relação entre avaliação externa e autoavaliação, sinalizando um conjunto de fatores de pressão ao mesmo tempo que procuramos compreender a visão de autoavaliação que está por detrás de cada caso.

Tal como Correia (2011) fizemos uma incursão nas raízes do dispositivo de autoavaliação, no envolvimento da comunidade escolar (por ele designados de ‘atores internos’) e fomos conhecer obstáculos diversos, nomeadamente aqueles que estão na origem de episódios críticos.

Alguns dos elementos identificados por Graça e Simões nestas duas investigações, são vistos como fatores de somais importância para a compreensão do

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fenómeno da durabilidade. Com estes dois estudos partilhamos a perspetiva do conhecimento e da compreensão do objeto de estudo, bem como a estratégia de investigação - estudo de caso.

Todavia, o objetivo primeiro do nosso estudo é compreender a sustentabilidade das práticas de autoavaliação em três escolas, sinalizadas pela sua durabilidade e aí identificar fatores de sustentabilidade, para compreendermos o que as pode distinguir daquelas que têm práticas mais efémeras. Desenhámos perfis da durabilidade da sua autoavaliação. Ulteriormente, procurámos, com os elementos recolhidos nas escolas, extravasar as limitações temporais da abordagem à durabilidade (centrada no passado e no presente) e abordar a sua sustentabilidade (centrada no passado, no presente e no futuro).

Cingimos o objeto de estudo a situações de autoavaliação, deixando propositadamente de fora outros modos de avaliação interna. As escolas que têm avaliação interna desenvolvida por outras entidades, têm frequentemente serviços contratualizados por vários anos, pelo que a sua durabilidade pode não ser apenas o resultado de uma vontade genuína e de uma política interna de escola, mas antes o resultado de uma obrigação contratual. Assim sendo, poderia gerar ruído aquando das sínteses interpretativas.