• Nenhum resultado encontrado

PARTE 1 O PROBLEMA E A CONSTRUÇÃO DO QUADRO TEÓRICO

I. APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO E DO PROBLEMA

I.4 O papel da IGE na indução da autoavaliação de escolas

Desde 1999, a IGE (e atualmente a IGEC) induz, avalia e reporta o que se tem feito nas escolas públicas do ensino não superior em matéria de autoavaliação. Esta instituição tem um dos maiores espólios, senão mesmo o maior, sobre as práticas de autoavaliação em estabelecimentos de educação e de ensino. Daí que os seus relatórios tenham constituído uma importante fonte de informação sobre o desenvolvimento da autoavaliação de escolas a nível nacional, mas também a nível individualizado de cada unidade de gestão, seja ela escola agrupada ou não.

A pressão da administração educativa exercida através da Inspeção-Geral da Educação (IGE)6 para induzir práticas de autoavaliação nas escolas reveste-se de uma natureza diferente daquela que é exercida ‘à distância’ por diversos departamentos do Ministério da Educação, pois um traço que distingue a sua atuação dos demais serviços é a sua presença no interior das escolas e a interação que estabelece com os seus dirigentes e com os restantes elementos da comunidade escolar, designadamente para:

66

A sua fusão com a Inspeção Geral da Ciência e Ensino Superior foi determinada pelo Decreto-Lei n.º 125/2011, de 29 de Dezembro, passando então a designar-se Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC).

23

a) Assegurar a qualidade do sistema educativo /…/;

b) Apreciar a conformidade legal e regulamentar dos atos dos serviços e organismos do ME e avaliar o seu desempenho e gestão /…/ (Decreto-lei n.º 213/2006, art.º 10º)

O desenvolvimento de práticas de autoavaliação das escolas tem sido explícita e regularmente contemplada ao longo de mais de uma década em atividades da IGE, designadamente nos programas Avaliação Integrada das Escolas, Aferição da Efetividade da Autoavaliação das Escolas, Avaliação Externa das Escolas e Acompanhamento da Autoavaliação das Escolas.

O programa de Avaliação Integrada das Escolas (AvI), desenvolvido entre 1999 e 2002, marcou, de uma forma discreta, o início desta atenção explícita dada à autoavaliação das escolas pela IGE, pois um dos quatro objetivos gerais deste programa consistia em “induzir processos de autoavaliação como a melhor estratégia para garantir a qualidade educativa, consolidar a autonomia das escolas e responsabilizar os seus atores /…/” (IGE 2000, p. 7).

O facto de serem distribuídas cópias dos roteiros7 às escolas avaliadas, para além de constituir uma inovação face às tradicionais práticas da IGE, terá feito parte dessa estratégia indutora. Outra terá sido o conteúdo do questionamento das entrevistas aos múltiplos interlocutores da escola e da comunidade educativa em geral. Também a reunião para apresentação e debate do relatório preliminar da Avaliação Integrada da escola constituiu uma oportunidade adicional para a indução de práticas de autoavaliação (Guerreiro 2006).

Entre 2004 e 2006, a IGE desenvolveu uma atividade do recém-criado Programa de ‘Aferição’ totalmente direcionada para a autoavaliação das escolas: a Aferição da

Efetividade da Autoavaliação das Escolas (EAAE), construída em função de cinco

objetivos:

• Contribuir para o desenvolvimento de uma cultura de aperfeiçoamento institucional, focalizado e estratégico;

• Acompanhar o desenvolvimento de dispositivos externos de suporte à autoavaliação das escolas;

7

24

• Desenvolver uma metodologia de meta-avaliação, tendo em conta a diversidade dos modelos possíveis de autoavaliação das escolas /…/;

• Identificar aspetos-chave a partir da aferição da autoavaliação, recolhendo experiências de avaliação interna desenvolvidas pelas escolas, de forma a obter uma panorâmica do estado atual das dinâmicas de autoavaliação /…/;

• Promover nos estabelecimentos de educação e ensino uma cultura de qualidade, /…/ mediante uma atitude crítica de autoquestionamento /(IGE, 2005, p. 4)

A vertente indutora desta atividade materializava-se através da interação estabelecida entre a equipa de inspetores e uma diversidade de representantes da comunidade escolar, agrupados em painéis. No primeiro dia, a equipa de inspetores partilhava informação sobre o modelo conceptual com a comunidade escolar. No final da aferição decorria uma sessão de apresentação das considerações finais sobre o estado da autoavaliação da escola na perspetiva da equipa de inspetores, seguida de discussão (IGE 2005).

Ainda nesta atividade, as equipas de inspetores recolheram o que se designou por ‘Dados caracterizadores de experiências de avaliação interna’. Tratava-se de identificar práticas de autoavaliação em curso nas escolas, constatando-se que geralmente estavam muito focalizados em áreas específicas e pontuais (IGE 2005). Através do diálogo8 com os interlocutores de escola, procurava-se valorizar o trabalho de autoavaliação existente para que ela pudesse constituir um ponto de partida para práticas mais abrangentes e que relevassem para propósitos institucionais. Apesar de no quadro concetual da EAAE não se fazer qualquer referência à metodologia de inquérito apreciativo9, defendida por Hallie Preskill e outros autores (Fitzpatrick et. al. 2009, pp. 249-267), esta atividade apresentou alguns dos seus traços característicos, como seja a construção do questionamento a partir de sucessos passados e experiências marcantes, evitando que os fracassos e dificuldades se assumissem como personagem central das entrevistas. Quando a atividade cessou, em finais de 2006, tinham sido registadas 231 experiências de avaliação interna em 98 das 101 Unidades de Gestão10 (UG) intervencionadas, compreendendo 792 estabelecimentos de educação e ensino,

8

Diálogos profissionais, na designação da inspeção de educação escocesa - HMIE 9

N.T. Appreciative inquiry é a designação original 10

25

À atividade regular de aferição seguiu-se uma intervenção sequencial, destinada sobretudo a apreciar a evolução ocorrida numa pequena seleção de 15 Unidades de Gestão (abrangendo 140 escolas). Na maioria das UG intervencionadas registou-se uma evolução positiva nos dispositivos de avaliação, materializada, como se refere no relatório através da “implementação da autoavaliação alimentada por um Observatório de Qualidade; /…/ desenvolvimento da autoavaliação como um modelo de excelência; melhor relacionamento com os pais e encarregados de educação” (IGE 2009ª, pp. 44- 45).

Sublinham-se, aqui, quatro constrangimentos ao desenvolvimento dos dispositivos e processos identificados neste relatório (Idem, p. 46): “alteração dos normativos sobre serviço docente; instabilidade na Direção da escola; desmembramento da equipa de autoavaliação; alteração da rede escolar” (Guerreiro, 2006).

A fase piloto da Avaliação Externa de Escolas (AEE) decorreu em 2006 num conjunto de 24 escolas e foi conduzida pelo grupo de trabalho responsável pela conceção do modelo. A partir de 2007 a atividade passou a ser desenvolvida pela IGE. No final do ano letivo 2010 – 2011 conclui-se o primeiro ciclo de avaliações.

Apesar de qualquer um dos cinco domínios avaliados – Resultados, Prestação do serviço educativo, Organização e gestão escolar, Liderança, Capacidade de autorregulação e melhoria da escola – estar de algum modo relacionado com a autoavaliação da escola, o último é aquele que está mais focalizado e de onde se recolheu mais informação sobre esta matéria.

Este domínio contempla dois fatores – Autoavaliação´’ e ‘Sustentabilidade do progresso’ – observáveis e avaliados através de diversos indicadores. O fator ‘Autoavaliação’ incide mais nos processos autoavaliativos, nos seus efeitos e na sua evolução. Por seu turno, a ‘Sustentabilidade do progresso’ incide mais sobre o conhecimento produzido pela autoavaliação e as consequentes tomadas de decisão.

A constatação dos fracos resultados obtidos no domínio ‘Capacidade de autorregulação e melhoria da escola’, que constituiu mesmo o domínio com pior desempenho ao longo dos anos em que foi desenvolvida a AEE, foi evidenciada pela IGE, bem como a assunção das suas responsabilidades no desenvolvimento destas

A IGE tem vindo a concretizar o programa de avaliação externa das escolas no decorrer do qual se tem constatado as dificuldades que as escolas revelam em matéria de práticas

26

sustentadas de autoavaliação. Nesse sentido, como entidade com responsabilidades na garantia da qualidade das organizações escolares e no serviço que prestam, a IGE entende dar um contributo no âmbito da promoção da autoavaliação (website da IGE

http://www.ige.min-edu.pt ).

e esteve na origem de outras duas atividades entretanto iniciadas pela IGE:

- a criação de um Grupo de Trabalho para a Autoavaliação (GTAA) que, em 2009, selecionou e organizou um conjunto de documentos de apoio à autoavaliação das escolas, disponibilizando-os online. Nomeiam-se aqui alguns: os resultados de um estudo internacional desenvolvido pela IGE sobre a autoavaliação de escolas nos estados-membros da União Europeia com a colaboração da Unidade Eurydice de Portugal; um conjunto de materiais – roteiros e relatórios de atividades desenvolvidas pela IGE no período 1999-2006, passíveis de serem utilizados pelas escolas como referência para a construção dos dispositivos de avaliação; diversas traduções de documentos do projeto europeu Effective School Self-Evaluation (projeto ESSE), que envolveu catorze inspeções, entre as quais a IGE; um portefólio com legislação de enquadramento sobre a autoavaliação ou determinando as áreas de atividade da escola onde deveria incidir,

- o desenvolvimento de uma atividade designada Autoavaliação das Escolas, (AAE) que surgiu na sequência do GTAA, em 2010, integrou o Programa de Acompanhamento. Contudo, a introdução dos seus Instrumentos de Trabalho, refere tratar-se de uma atividade algo híbrida no que diz respeito à sua natureza

A Atividade I.311 - Acompanhamento da Autoavaliação das Escolas - está integrada no Programa de Acompanhamento no Plano de Atividades 2010 da IGE, por essa ser uma lógica presente no seu quadro conceptual. Porém, como se verá de seguida, também estão presentes as lógicas de atividade sequencial e de avaliação (IGE, 2010a, p. 5). Efetivamente, tratou-se de uma atividade de Acompanhamento, em linha com outras que integram este Programa, “porque decorre da necessidade de conhecer como é implementada uma das componentes da estrutura da avaliação da educação e do ensino não superior, em paralelo com a avaliação externa /…/” (Idem).

Também se enquadrou numa lógica de atividade sequencial, pois

11

27

o relatório de avaliação externa de cada escola, em particular as classificações do domínio 5. e as descrições dos seus fatores, constituem o ponto de partida da própria ação, (o objeto são os processos de autoavaliação de escola desenvolvidos depois da AEE) e a primeira fonte de informação que servirá de termo de comparação. (Ibidem: 5) Adicionalmente, tratou-se também de uma atividade com uma componente de avaliação, visto o objetivo ser o de comparar a situação atual com situações de referência – a anterior e a expectável.

I.5 Contributos do ensino superior para o desenvolvimento da autoavaliação de