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CAPÍTULO II – OS DISCURSOS SOBRE A EJA

2.5 Algumas repercussões após o esvaziamento da SECADI

Tanto o Ministro da Educação, quanto a Secretária Executiva apresentam posturas divergentes da antiga gestão petista no que tange às políticas educacionais e, especialmente, àquelas, cujo foco está na inclusão e que eram desenvolvidas pela SECADI. Diversos noticiários virtuais destacam esses posicionamentos dos referidos gestores educacionais e destacam as suas posturas contrárias à inclusão social e educacional. Vejamos:

Apesar de afirmar que “importantes projetos do Ministério da Educação” serão “preservados, mantidos e aprimorados”, tanto suas primeiras entrevistas quanto seu histórico contrário ao fortalecimento da educação pública e gratuita denunciam o contrário.

O ministro golpista da Educação é filiado ao DEM25, partido que sempre

atacou os avanços dos governos Lula e Dilma para democratizar o acesso ao ensino superior. Em 2009, a legenda ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir o fim da política de cotas do governo federal. O partido do novo ministro também foi contrário ao ProUni26, FIES27,

Enem28, à destinação de 50% do fundo do pré-sal para a Educação e 75% dos

royalties do petróleo para o setor, ou seja, a todas as políticas e programas educacionais que, na última década, possibilitaram a milhares de jovens sonhar com um futuro melhor.

[...] Mendonça Filho já se mostrou favorável a uma maior participação da iniciativa privada no ensino superior. [...].

O ministro do governo ilegítimo de Temer disse em entrevista ao UOL29 que

apoiaria as universidades públicas a cobrar mensalidades em cursos de extensão e pós-graduação. Devido à repercussão negativa, no dia seguinte, recuou da iniciativa. Só não pôde recuar de seu voto favorável a PEC 395/2014, que excluiu o princípio constitucional da gratuidade às atividades de extensão caracterizadas como cursos de treinamento e aperfeiçoamento. (AGÊNCIA PT DE NOTÍCIAS, 2016).

25 Abreviatura do partido político brasileiro DEM. Esse partido é de centro-direita/direita, cujas

ideologias são o liberalismo e o conservadorismo liberal. Disponível em: www.siglaseabreviaturas.com/dem. Acesso em 07/10/2017.

26 Programa Universidade para Todos, cuja finalidade é conceder bolsas de estudo integrais e parciais

em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições de ensino superior privadas. Disponível em: http://prouniportal.mec.gov.br/o-programa. Acesso em 07/10/2017.

27 Fundo de Financiamento Estudantil, trata-se de um programa do Ministério da Educação que destina-

se a financiar a graduação no Ensino Superior em instituições que não são gratuitas. Disponível em: http://sisfiesportal.mec.gov.br/?pagina=fies. Acesso em 07/10/2017.

28 Exame Nacional do Ensino Médio.

29 Universo Online é a maior empresa brasileira de conteúdos, produtos e serviços de Internet. É

pertencente ao Grupo Folha, presta serviços digitais e de tecnologia com vários canais de jornalismo. Disponível em: http://sobreuol.noticias.uol.com.br/. Acesso em 07/10/2017.

Nessa mesma esteira, a postura da Secretária Executiva do Ministério também indicia o distanciamento das políticas públicas educacionais destinadas à inclusão educacional.

Em reunião com dirigentes da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes), a secretária executiva do Ministério da Educação e Cultura (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro, defendeu a cobrança de mensalidades nos Institutos Federais.

[...].

Logo no início da reunião, antes mesmo da pauta ser apresentada pelo presidente do Proifes, Eduardo Rolim, a secretária do MEC começou a falar sobre receitas. “Não podemos criar situações incompatíveis com o mundo que estamos vivendo, de queda de receita, de mudança no paradigma da economia do país. Nós só aumentamos em folha de pagamento”.

Maria Helena ainda citou as realidades do ensino superior em Portugal, Inglaterra, França e Alemanha, para defender a cobrança de mensalidades no Brasil. “Aliás, nem sei ainda que países têm universidades públicas plenamente gratuitas para todos, independente da situação socioeconômica. O Brasil não pode ficar fora do mundo real”, disse ela. (AGÊNCIA PT DE NOTÍCIAS, 2017).

Por fim, tanto as exonerações que esvaziaram a SECADI, quanto as declarações do Ministro e da Secretária Executiva, evidenciam uma política contrária aos princípios da SECADI e das necessidades dos que necessitam da instauração de políticas públicas educacionais afirmativas e inclusivas. Deste modo, há a predominância da eternização da exclusão daqueles que necessitam do apoio do Estado para a realização de seus estudos. Os recortes apresentados salientam a concepção capitalista desses agentes públicos que, por sua vez, acabam por diminuir e, até mesmo, exterminar as chances e as condições dos menos favorecidos financeiramente.

A repercussão do esvaziamento da SECADI foi negativa, e tal fato é evidenciado pelo registro das notas taquigráficas30 do Senado Federal, especialmente, referentes à 3ª Sessão

Legislativa Ordinária da 55ª Legislatura, ocorrida na quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017, às 11 horas, na 4 ª Sessão (Sessão Deliberativa Extraordinária), a Senadora Regina Sousa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática do Partido dos Trabalhadores (PT), Estado do Piauí, proferiu o seguinte discurso:

[...] eu vim aqui para falar hoje de um único assunto. Acredito que não levarei

metade do tempo, mas é algo muito importante. São as tentativas – não sei se deliberadamente, por esquecimento ou porque não são importantes – de

30As notas taquigráficas são publicadas no site do Senado Federal, no menu “Atividade Legislativa”.

Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/notas-taquigraficas/-/notas/s/4024. Acesso em 05/10/2017.

desidratação de alguns programas criados no governo anterior, no governo de Lula, no governo de Dilma, o que prejudica muito a população.

Segunda-feira, eu fui convidada à Universidade Federal do Piauí pelos alunos da Educação no Campo, um programa que tem uma secretaria no MEC, específica para cuidar desse programa. [...].

Lá eles me informaram que a Secadi, a secretaria que cuida disso, não tinha ninguém. Parece que tem duas ou três pessoas que não sabem o que fazer, porque não foi direcionado orçamento, alguma coisa do tipo. [...].

Demitir pode. Talvez seja porque as pessoas ainda sejam remanescentes do governo passado. Não sei. Mas desidratar secretarias, não. (BRASIL, 2017).

O esvaziamento da SECADI retrata a não realização de políticas públicas destinadas a jovens e adultos, aos povos indígenas e aos quilombolas. Trata-se de um retrocesso, pois a exclusão sempre foi fortemente marcada nos segmentos desses grupos sociais e é historicamente sabido que se o poder público não desenvolver uma frente para o combate da exclusão, cada vez mais, esses grupos sociais serão estigmatizados e postos às margens da sociedade. Nesse sentido, destacamos a impossibilidade de uma secretaria de governo não poder funcionar, não poder desenvolver programas básicos de inclusão educacional, pois está esvaziada, não conta com servidores públicos e, muito menos com repasses financeiros do governo.

Por fim, o funcionamento da SECADI e o seu funcionamento ocorreram durante os governos petistas do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (2003-2006/3007-2010) e da ex- presidente Dilma Vana Rousseff (2011-2014/2015-201631). Contudo, após a realização do

impeachment e com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, a instauração do governo do vice-presidente da República, Michel Temer, mostra a despreocupação desse governo com o funcionamento dessa secretaria e com a inclusão dos sujeitos na esfera educacional.