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Alguns aspectos relativos à compreensão de textos escritos como objeto de ensino

2 MARCO TEÓRICO

2.2 O ensino da compreensão

2.2.3 Alguns aspectos relativos à compreensão de textos escritos como objeto de ensino

- Por favor, pode me dizer que caminho devo tomar para sair daqui? - perguntou Alice.

- Isso depende muito de onde você quer ir - respondeu o gato. - Isso pouco importa - disse Alice.

- Então não importa que caminho você tome.

(trecho de “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Caroll)

Como destaca a epígrafe, é importante sabermos onde queremos chegar para escolhermos o caminho a seguir. Desta forma, ao assumir a compreensão de textos como um objeto de ensino é importante sabermos que leitor queremos formar e os aspectos envolvidos nesse processo de formação para podermos, então, realizar escolhas didáticas condizentes com a concepção de leitor que adotamos.

Como vimos anteriormente, a capacidade de compreender um texto é algo que exige do leitor uma série de habilidades, tais como: elaborar inferências, identificar a ideia principal de um texto, resumir, estabelecer conexões entre as ideais de maneira hierárquica, monitorar sua própria compreensão entre outras. Sendo uma atividade bastante complexa, temos argumentado que sua aprendizagem não é algo que se dê de maneira natural como mera decorrência da aquisição do sistema de escrita, ou seja, do processo de alfabetização. Em outras palavras, uma leitura fluente, sem hesitações e interrupções, não garante um entendimento imediato do que foi lido.

O estudo de Okahill e Cain (2011), citado na seção anterior, por exemplo, indicou que as habilidades de decodificação e de compreensão de leitura são desenvolvidas a partir de habilidades cognitivas completamente distintas e que a decodificação adequada das palavras não tem uma relação causal direta com a compreensão.

Como foi dito antes, no estudo de Oakhill e Cain (2011), as habilidades de construção de inferências, monitoramento da compreensão e conhecimento da estrutura da história aos 7/8 anos foram as únicas que tiveram um impacto direto na compreensão de leitura das crianças ao final do 6º ano. Assim, as autoras recomendam que essas habilidades sejam ensinadas às crianças na tentativa de promover o desenvolvimento da compreensão. Consideramos que conhecer as habilidades que estariam diretamente relacionadas com a compreensão é uma questão fundamental, pois pode permitir ao professor ter maior clareza acerca do próprio objeto de ensino, oferecendo-lhe melhores condições de intervir nesse processo.

Estudos como os de Solé (1998); Johnson (1998); Duke e Pearson (2002); Brandão (2006) e Cahill e Gregory (2010) têm argumentado que o desenvolvimento da compreensão de leitura se dá mediante o ensino de estratégias de leitura. Desta forma, consideramos que inserir os alunos em um ambiente rico em textos não é suficiente para o desenvolvimento de habilidades de leitura importantes. É fundamental analisar a qualidade da mediação do professor na interação dos alunos com os textos.

O que podemos dizer, então, sobre o ensino da compreensão de leitura na escola? Conforme argumentam Duke e Pearson (2002), identificar o que “bons leitores” (isto é, leitores competentes) fazem durante a leitura de textos pode dar pistas sobre o que a escola pode fazer para formar leitores proficientes.

Nessa direção, Duke e Pearson (2002) apontam que bons leitores têm uma postura ativa diante do texto, ou seja, quando leem têm clareza sobre quais são os objetivos da sua leitura. Ainda segundo eles, um bom leitor questiona sobre o que quer com a leitura do texto e, assim, monitora, constantemente, sua leitura procurando observar se os objetivos propostos estão sendo ou não atingidos. Bons leitores também observam a estrutura do texto e planejam a sua leitura a partir dos seus objetivos. Outra competência desenvolvida por bons leitores é a capacidade de realizar inferências, fazer previsões e de levantar hipóteses. Como base nessas constatações, Duke e Pearson (2002) propõem, então, alguns procedimentos de ensino voltados para a formação de bons leitores.

Spinillo (2008), em um estudo de intervenção em que tinha por objetivo desenvolver a compreensão de leitura em crianças com dificuldades nessa área, também concluiu que é possível desenvolver as habilidades de compreensão. Participaram da pesquisa 44 crianças de famílias de baixa renda e com baixo rendimento em compreensão, alunos da 4ª série da rede municipal do Recife. As crianças foram divididas em dois grupos: experimental e controle. Todos participantes realizam um pré e um pós-teste que consistiam em tarefas de responder perguntas sobre um texto, produzir um resumo e elaborar perguntas de compreensão sobre o texto. Com o grupo experimental foi feita uma intervenção em sala de aula conduzida pela própria professora. A intervenção envolveu 12 sessões conduzidas pela professora durante o horário de aula. As atividades eram vivenciadas em pequenos grupos envolvendo textos de diferentes gêneros em sessões com a duração aproximada de 90 minutos. Nesses encontros, a professora procurava levar os alunos a estabelecer inferências, extrair as principais informações do texto e elaborar resumos. É importante ressaltar que a professora foi orientada

pela pesquisadora antes e durante o período de intervenção. A orientação dada consistiu em leituras sobre o tema, planejamento e avaliação das atividades realizadas com os alunos.

Ao final da intervenção, os alunos do grupo experimental demonstraram melhor desempenho do que o grupo controle nas atividades testadas, sobretudo, na atividade de resumo, em que as crianças passaram a produzir narrativas bem mais completas que seus colegas do grupo controle. Os dados desse trabalho demonstram, portanto, que o ensino efetivo de certas habilidades pode trazer melhorias para a compreensão das crianças. Além disso, a pesquisa sugere a necessidade de pensar a formação do professor, já que em seu trabalho, Spinillo (2008) proporcionou momentos de reflexão, tanto teórica (leituras sobre o tema), quanto práticas (planejamento de situações de leitura e compreensão). Assim, mesmo não sendo este o foco da pesquisa de Spinillo (2008) ela nos traz elementos para refletirmos sobre o conhecimento do professor no que se refere ao ensino da compreensão de textos e sobre a necessidade de pensarmos a formação inicial dos docentes no que concerne a esse ensino. Acreditamos que o professor precisa não apenas entender a relevância do ensino das habilidades de compreensão de leitura, tendo acesso à formação teórica sobre o assunto, mas também ter condições de trabalho que permitam a reflexão teoria e prática.

Nessa direção, com base no que foi exposto, entendemos que ao pensar sobre o ensino da compreensão na escola, independentemente do nível de ensino em que se está atuando, três aspectos merecem ser considerados. São eles:

O sujeito que lê... ou os conhecimentos prévios do leitor

Como já mencionamos anteriormente, ao buscar, ativamente, construir sentido do texto o leitor lança mão de seus conhecimentos prévios. Segundo Kleiman (1995), tais conhecimentos são saberes que o leitor constrói ao longo de sua vida a partir de sua relação com o meio e com outros sujeitos. Estes saberes, de acordo com a autora, são compostos pelo conhecimento de mundo, o conhecimento linguístico e o textual. Assim, por exemplo, quando o leitor desconhece o significado de alguma palavra presente no texto compromete sua compreensão devido à falta de um conhecimento linguístico. Por outro lado, quando não há o conhecimento da estrutura do texto a compreensão fica deficitária devido à falta de um conhecimento textual. Dessa forma, para Kleiman (1995), quanto mais conhecimento linguístico e textual o leitor tiver mais fácil será sua compreensão. Ainda segundo a autora, o conhecimento de mundo é o que adquirimos através de nossa inserção na cultura em que vivemos. Os conhecimentos que temos acerca das práticas culturais, como o que envolve o comportamento de um indivíduo em uma festa, um casamento ou outras vivências, também

auxiliam na compreensão de textos que abordem essas práticas.

Em síntese, o sujeito que lê traz uma série de conhecimentos que influenciam em sua compreensão. No entanto, ao discutir a compreensão textual não podemos nos concentrar apenas nos conhecimentos do leitor. O texto (como este está estruturado, o gênero a que pertence) tem também seu papel na compreensão.

O texto...

Discutir a questão de compreensão leitora destacando o texto é algo que nos parece uma tarefa difícil, visto que, na maioria das vezes, quando se percebe que um aluno ou qualquer leitor realiza uma compreensão inadequada do texto se julga que o problema está no leitor. Raras são as vezes em que se questiona a qualidade da escrita do texto ou questões relativas ao gênero textual em foco. Julgamos importante, portanto, trazer a reflexão sobre o texto já que, como temos defendido, a leitura se constitui em um ato interativo entre leitor e autor, mediado pela materialidade do texto.

Como sabemos, o texto se constitui por elementos semânticos, sintáticos e morfológicos que se relacionam de maneira estruturada e, assim como a leitura, o conceito de texto passou por diversas definições. Com base no conceito proposto por Koch (2007), entendemos que o texto vai além de um produto acabado, sendo resultado de nossa atividade comunicativa. Portanto, no ato de produção de textos o autor realiza processos, operações e estratégias com a finalidade de dizer algo dentro de uma situação de comunicação. O ato de construção de um texto se constitui, portanto, numa atividade consciente e criativa. Nesse momento de produção o autor de um texto escolhe o gênero textual que melhor se adéqua aos seus objetivos. Cabe aqui uma breve reflexão sobre gêneros textuais e como estes podem interferir no processo de compreensão.

Bakhtin (2000) define gênero textual como tipos relativamente estáveis de enunciados disponíveis na cultura, ou seja, os gêneros são produções históricas e culturais. Nesse sentido, como foi dito acima, no momento em que nos propomos a produzir um texto escolhemos, a partir dos gêneros disponíveis, aquele que mais se adéqua às nossas necessidades comunicativas. A produção de um texto não se dá, assim, num vazio, mas é guiada/organizada dentro de determinado gênero.

Cabe destacar que as escolhas realizadas pelo autor, como o que dizer e como dizer, têm certamente um impacto na compreensão que o leitor vai ter de um texto. Quando o texto não está organizado de maneira clara, evidentemente, o leitor pode ter dificuldades de

compreensão não por falta de habilidade, mas por que o texto não deixou as pistas necessárias para assegurar sua compreensão.

De fato, Dell’Isola (2001) enfatiza que sendo a compreensão textual algo extremamente complexo e que se dá por meio da interação do leitor com o texto, as propriedades linguísticas particulares do texto vão interferir no processo de compreensão. Um exemplo dessas propriedades linguísticas são a referência pronominal e a vinculação léxica.

Dell’Isola (2001) também salienta aspectos como a presença ou não de um título no texto. Assim, ao ler o título de um texto o leitor já realiza algumas previsões sobre o que este texto abordará. Nesse sentido, um título que não está relacionado ao tema tratado pelo texto pode também interferir negativamente na compreensão do leitor.

Tal discussão traz à tona uma questão que tem ganhado relevo nos últimos anos, isto é, a legibilidade de um texto não está exclusivamente no leitor ou no texto, mas sim, na interação entre aquele que lê e o autor do texto. Em outras palavras, como nos diz Marcuschi (1996), a atividade de compreensão de texto é uma atividade de coautoria: um trabalho conjunto tanto do autor, quanto do leitor.

Discutimos aqui brevemente sobre dois elementos importantes a serem considerados quando tratamos do ensino da compreensão leitora, ou seja, o sujeito que lê e o texto que será lido. Percebemos que o modo como se concebe o leitor, de maneira passiva ou ativa, o entendimento que temos do texto como algo concreto, mas que se completa no momento da leitura, são aspectos fundamentais que interferem no modo que concebemos o processo de compreensão leitora e o seu ensino. Contudo, como já mencionamos anteriormente, o ensino das habilidades de compreensão envolve outro elemento igualmente importante. Estamos falando do sujeito que ensina – o professor.

O mediador

É interessante observar que algumas mudanças ocorridas no campo educacional parecem resultar do avanço das pesquisas em duas direções. A primeira diz respeito ao grande número de trabalhos voltados a entender como ocorrem os processos de aprendizagem por parte de alunos. A segunda refere-se ao progresso das pesquisas de base nas diferentes áreas do conhecimento.

No caso específico do ensino da língua materna, o entendimento dos processos relacionados à aprendizagem da leitura e o desenvolvimento observado nas ciências linguística, sociolinguística, linguística textual, análise do discurso passaram a ser aplicados ao ensino. Como já foi dito, o avanço nessas direções parece resultar em melhorias para o

ensino. Entretanto, é importante não desconsiderar a centralidade do mediador que está entre o sujeito que aprende e o conhecimento a ser ensinado. No que diz respeito ao ensino das habilidades de compreensão de leitura, como no ensino de qualquer conteúdo específico, é importante ressaltar, portanto, que o professor desempenha um papel central.

Duke e Pearson (2002) ao apresentarem uma proposta para o ensino da compreensão, já discutida aqui, também destacam a importância do professor, ressaltando três pontos que fazem parte da sua função como mediador. O primeiro ponto refere-se à escolha adequada dos textos. Nessa atividade, o professor precisa ter clareza quanto aos objetivos a serem ensinados. Visando o ensino de determinada habilidade de compreensão o professor deve escolher textos adequados à aplicação de tal habilidade. Por exemplo, ao ensinar a estratégia de previsão/antecipação, o professor deve ter o cuidado de escolher um texto que não seja conhecido dos alunos para que assim a atividade tenha sentido. Outro exemplo é que, se alunos estão iniciando no aprendizado das estratégias ou até mesmo da leitura, é importante que o texto não faça grandes exigências com relação ao conhecimento de mundo das crianças, ou seja, a preocupação de que os textos sejam relacionados à realidade dos alunos e que, assim, permitam uma maior exploração de seus conhecimentos prévios deve, neste caso, orientar a escolha dos textos por parte do professor.

A motivação para a leitura é também destacada por Duke e Pearson (2002) quando abordam o papel do mediador. Para os autores, a motivação do aluno pode trazer um impacto para o ato de leitura e no uso das estratégias de compreensão. Segundo eles, entre os aspectos que podem motivar os alunos estão o uso de textos reais em situações reais, exploração do texto por meio de conversas de qualidade e a apresentação de uma variedade de gêneros textuais possibilitando aos alunos construir seus gostos e suas preferências.

Por fim, Duke e Pearson (2002) indicam a avaliação contínua como algo extremamente importante no processo de ensino das estratégias de leitura, cabendo ao mediador estar atento aos avanços e à necessidade dos aprendizes. Tal acompanhamento é que permitirá ao professor lançar mão de novas estratégias de ensino quando a aprendizagem não ocorrer de maneira satisfatória.

Ainda com respeito ao mediador, Chartier et al. (1996), em seu livro “Ler e escrever: entrando no mundo da escrita”, apresenta uma sequência de atividades desenvolvida por uma professora na “cours préparatoire”10

, com crianças entre cinco e seis anos. A autora destaca a

10 No sistema educacional francês, a “Cours Préparatoire” (CP) corresponde no Brasil ao primeiro ano do Ensino Fundamental.

atuação docente no ensino da leitura explorando como esta atua em diferentes níveis de intervenção a partir dos objetivos de cada atividade que propõe. Ao ler um livro, por exemplo, a professora analisada por Chartier et al. (1996) permite que as crianças levantem hipóteses sobre a história a partir da capa ou ao ler um cartaz anunciando um evento questiona as crianças sobre as informações que podem estar ali e vai dando pistas para que elas tentem ler considerando as informações que já possuem. Por exemplo, em uma das situações exemplificadas pela autora, a professora do CP procura junto com a turma ler um cartaz que convida a população a participar de uma corrida. Vejamos como a professora questiona os alunos procurando levá-los a construir sentidos com base no texto a partir dos conhecimentos que eles dispõem:

Emmanuel – Tem números. (referindo-se aos números do cartas) Angélique – Eu li “abril” (mês em que a corrida iria acontecer) Karina – É alguma coisa que vai acontecer em Abril.

Olivier – Eu notei “quilômetros”... acho que eles querem fazer uma corrida. (...)

Prof.ª Por que eles escreveram “2, 4, 7 quilômetros? Olivier – Eles param.

Prof.ª - Não.

Benoît – O primeiro faz 2 quilômetros, o segundo, 4 e os outros 7? – Tem número no meio.

Nicolas, Emmanuel, Anne, Cécile – São as horas (Eles leem e compreendem 9h 30 min às 12)

Prof.ª - Gostaria que vocês me explicassem o que significa 2, 4, 7 quilômetros... Yanick – É pra emagrecer

Bastien – Eu vi “filhos

(A turma lê: “Traga seus filhos, pais e amigos”.)

Prof.ª Gostaria que vocês me explicassem o que significa 2, 4, 7 Yanick – É pra emagrecer.

Prof.ª Não.

Anne-Sphie – É para praticar esporte? Angélique – Eu vi “cada um”.

Sonia – Não é para todos juntos? Yanick – No seu ritmo?

Prof. ª - É, mais o que isso quer dizer?

Benoît – É como no pátio coberto! (ele descreve muito bem a corrida de resistência)

Olivier – Já sei, aqueles que vão mais devagar correm só 2 quilômetros. Prof.ª – É quase isso, os mais destreinados, mais fracos...

Como vimos no extrato acima, a professora ensina as crianças a abordar os textos de modo ativo, buscando construir sentidos com base nos conhecimentos que dispõem. Por meio da condução da professora, as crianças além de ampliarem seu conhecimento do sistema, desenvolvem estratégias de compreensão. Desta forma, percebemos que o papel do professor é crucial nesse momento. A forma como conduz a atividade e as questões que realiza permite que as crianças avancem em sua compreensão. A própria autora coloca que “é preciso realizar uma verdadeira progressão pedagógica se não quisermos levar as crianças a produzirem leitura absurdas ou a se contentarem com uma compreensão tão aproximativa que não resista a nenhum questionamento” (CHARTIER et al., 1996, p. 115). Assim, para que o professor possa realizar tais atividades com segurança e clareza é necessário conhecer tal objeto de ensino.

Mais recentemente, o ensino da compreensão também começa a ser alvo de interesse na EI. Cahill e Gregory (2010), por exemplo, relatam uma experiência nessa direção que será apresentada na seção seguinte quando discutiremos, particularmente, a leitura de histórias na EI e as possibilidades de ensino da compreensão com os pequenos.

2.2.4 A leitura de histórias na Educação Infantil e o ensino da compreensão

Discutir sobre a prática da leitura de histórias na EI e sua relação com o ensino da compreensão torna-se um ponto essencial para a presente pesquisa. Como sabemos, essa é uma atividade muito comum nessa etapa e há, além disso, uma unanimidade entre especialistas da área e professores de que ouvir histórias é importante para o desenvolvimento da criança, particularmente para sua formação como leitora.

O estudo de Isbell, Sobol, Lindauer e Lowrence (2004), por exemplo, explorou a relação entre a leitura e contação de histórias e o desenvolvimento da linguagem oral e da compreensão de texto. Na pesquisa, dois grupos de crianças entre três e cinco anos de idade ouviram as mesmas 24 histórias. O Grupo A ouviu histórias contadas e o Grupo B ouviu histórias lidas a partir de um livro. Após ouvir as histórias (lidas ou contadas), as crianças eram solicitadas a recontar a história que haviam ouvido e criar uma história usando um livro de imagens. Os resultados mostraram que os dois grupos de crianças tiveram ganhos positivos no que diz respeito à linguagem oral e que as crianças que ouviram as histórias contadas demonstraram melhora na compreensão da história em seu reconto, enquanto que as crianças que ouviram a história lida ampliaram o nível de complexidade da sua linguagem oral.

A importância de participar de momentos que envolvem a leitura de histórias para o desenvolvimento da criança também é algo reconhecido tanto no discurso dos professores, como já afirmamos acima, quanto nos documentos oficiais. Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), por exemplo, apresentam os seguintes objetivos para o trabalho com a linguagem: interessar-se pela leitura de histórias, para as crianças de 0 a três anos e escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor para as crianças de 4-6 anos.

Contudo, se estamos falando de formação do leitor, não nos parece suficiente ler boas histórias para as crianças. É preciso cuidar da qualidade da interação estabelecida nesses momentos de leitura, tal como argumentam Brandão e Rosa (2010a) ao refletirem sobre a qualidade da conversa conduzida pelo professor a partir da leitura de textos literários. Também vale ressaltar que “apreciar” textos lidos necessariamente implica em compreendê- los.

Diante disso, nos questionamos: que procedimentos os professores podem adotar nos momentos de leitura de histórias com vistas a contribuir para o desenvolvimento de habilidades de compreensão de textos, já na EI?

Cahill e Gregory (2010) relatam uma experiência nessa direção. As autoras descrevem o trabalho de uma professora voltado para o ensino de estratégias de compreensão de leitura