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Alguns Conceitos da Psicologia Histórico-Cultural

Vigotski (2007) desenvolveu linhas de estudo sobre os processos psicológicos humanos e propôs que o homem possui desenvolvimento biológico e cultural. O autor parte do princípio de que existem duas linhas de desenvolvimento que diferem em sua origem, porém apresentam percurso em que se cruzam, os processos elementares e as funções psicológicas superiores. Os processos elementares têm como base os aspectos genéticos e maturacionais, mas esses não podem explicar as funções psicológicas superiores, pois estas se desenvolvem a partir da transmissão cultural. O autor compreendeu que o processo de trabalho, a atividade social e histórica constitui o universo social e uma cultura acumulada, sendo que o homem, ao se inserir nesse universo, se apropria dessa cultura e se modifica.

Entretanto, as teorias baseadas no evolucionismo, a partir de uma visão biologizante, consideram que há uma única forma de desenvolvimento que é por meio do lento e gradual acúmulo de mudanças e crescimento. Essa visão considera incompatível que o desenvolvimento humano possa ser revolucionário e evolutivo. Vygotski compreendia que o desenvolvimento não é linear, possui saltos, regressões, pois se trata de um complexo processo de superação de dificuldades e adaptação (Rego, 2012).

Vigotski, juntamente com seu grupo de estudiosos, realizou uma análise das teorias psicológicas vigentes na época que estavam divididas em duas tendências divergentes entre si. Um grupo tinha como base a filosofia empirista, compreendia a Psicologia como ciência natural que deveria focar sua investigação na descrição de comportamentos observáveis. O segundo grupo, por outro lado, seguia os princípios da filosofia idealista, que compreendia a vida psíquica humana como manifestação do espírito, portanto, não seria possível estudá-la por meio de uma ciência objetiva. O primeiro grupo realizava estudos apenas sobre as funções psicológicas elementares, ignorando as funções psicológicas superiores tipicamente humanas, já o segundo as considerava e buscava realizar uma descrição subjetiva das mesmas. Vigotski concluiu que nenhuma dessas tendências teóricas possuía fundamentação suficiente para investigar as funções psicológicas superiores e defendeu que se tratava de um problema de método (Rego, 2012).

Essa análise crítica feita pelo autor foi possível de ser elaborada, pois o mesmo adotou os fundamentos do materialismo histórico-dialético conforme proposto por Marx e Engels, conforme explicitado no capítulo três. Duarte (2000, p. 84) apresenta os princípios que Vigotski adota da dialética e o método inverso proposto por Marx.

O psicólogo soviético defende a utilização, pela pesquisa psicológica, daquilo que ele chamava de “método inverso”, isto é, o estudo da essência de determinado fenômeno através da análise da forma mais desenvolvida alcançada por tal fenômeno. Por sua vez, a essência do fenômeno na sua forma mais desenvolvida não se apresenta ao pesquisador de forma imediata, mas sim de maneira mediatizada e essa mediação é realizada pelo processo de análise, o qual trabalha com abstrações. Trata-se do método dialético de apropriação do concreto pelo pensamento científico através da mediação do abstrato. A análise seria um momento do processo de conhecimento, necessário à compreensão da realidade investigada em seu todo

concreto. Vigotski adota assim, da dialética de Marx, dois princípios para a construção do conhecimento científico em psicologia: a abstração e a análise da forma mais desenvolvida.

Para Duarte (2000), adotar o materialismo histórico-dialético fez com que Vigotski compreendesse a importância da interação entre o adulto, que é um ser humano mais desenvolvido, e a criança para promover o desenvolvimento cultural desta. Portanto, a Psicologia Histórico-Cultural busca elaborar um conhecimento crítico sobre a constituição do homem como ser social, por meio da investigação científica, que permite compreender a realidade tendo em vista sua dinâmica, suas transformações, que não são lineares, pois apresenta avanços, saltos, retrocessos.

O pensamento crítico visa elucidar mais fielmente as contradições inerentes à realidade estudada, tendo em vista “sua estrutura, dinâmica e gênese - ser e devir” (Delari Júnior, 2015, p. 51). Nesse sentido, a investigação crítica elege a objetividade como critério, o que significa evitar subjetivismos, em que o pesquisador apresenta o real como acha que ele deve ser ou o considera estático, sem que tenha sofrido mudanças no decorrer de sua história, evitando dogmas ou verdades inquestionáveis. Portanto, definir a objetividade como critério não implica em ignorar a subjetividade, mas sim o subjetivismo.

O conhecimento crítico exige uma prática transformadora da realidade estudada. Portanto, a investigação científica deve resultar num conhecimento verdadeiro sobre o objeto, a partir de uma questão prática, com o propósito de transformar a realidade e não como verdade metafísica e a-histórica, mas que promova a emancipação humana (Delari Júnior, 2015).

A partir desses pressupostos teóricos, para investigar o desenvolvimento cultural é necessário a elaboração de um método específico, que deve ser “ao mesmo tempo premissa e produto, ferramenta e resultado da investigação4” (Vygotski, 2013, p. 46). No entanto, não há

um método a priori, são diretrizes filosóficas para apreender o objeto, que por sua vez, direciona o método. A perspectiva epistemológica é substituída pela ontológica, na qual o processo de conhecimento visa desvendar a gênese e o desenvolvimento de cada objeto de estudo ao longo da história. As técnicas e instrumentos utilizados podem variar conforme o objeto de estudo, estágio do desenvolvimento do sujeito pesquisado, o que a pesquisa se propõe, ou seja, realizar uma análise, desvelar a gênese de algum processo e o tipo de pesquisa, se é clínica, experimental (Vygotski, 2013).

Para Vygotski (2013), estudar historicamente é estudar algo em movimento, em gênese, não apenas o passado, isso é fundamental para o método dialético, pois possibilita investigar o processo de desenvolvimento do fenômeno em todas as suas etapas, seu surgimento até o desaparecimento, para ser possível conhecer a essência desse fenômeno. A pesquisa deve permitir observar um sistema em que coexistem as funções rudimentares e as atuais, proporcionando a análise da gênese das atuais. Nesse método, o ponto de partida são as funções atuais.

Para o autor é muito importante estudar os primeiros momentos do desenvolvimento psíquico, que têm início nos bebês, período em que o desenvolvimento biológico se manifesta mais intensamente. Dessa forma é possível estudar as formas pré-históricas e a história do desenvolvimento das funções psicológicas superiores desde o nascimento, pois “na idade do

bebê, se encontram as raízes genéticas das formas culturais básicas de comportamento”5

(Vygotski, 2013, p. 17). No entanto, o autor considera que a investigação sobre o desenvolvimento das funções psicológicas superiores não deve ser encerrada por volta dos três anos de idade da criança, quando o desenvolvimento dos processos biológicos/naturais se encerra, pois o pesquisador deve buscar as leis do desenvolvimento cultural e psicológico.

Isso se justifica, pois segundo o autor, as funções psicológicas superiores são conscientes, sociais, mediadas, voluntárias, e são resultado de um desenvolvimento cultural.

Se trata, antes de tudo, de processos de domínio dos meios externos de desenvolvimento cultural e pensamento: linguagem, escrita, cálculo, desenho, e, segundo, dos processos de desenvolvimento das funções psíquicas superiores especiais, não limitadas ou determinadas exatamente, que na Psicologia tradicional são chamadas de atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos etc. Ambos, juntos, formam o que convencionalmente qualificamos como processos de desenvolvimento das formas superiores de comportamento da criança6 (Vygotski, 2013, p. 28).

É difícil estudar separadamente o desenvolvimento biológico e cultural, pois na ontogênese, estão juntos. Apesar disso, são linhas independentes entre si de desenvolvimento. O desenvolvimento biológico surge em espécies anteriores, incluindo a Homo Sapiens, mas o histórico só surge quando o homem primitivo começou a criar a cultura, no entanto, a segunda não é uma evolução da primeira. A estrutura biológica e maturacional é a base para o desenvolvimento cultural, que, por sua vez, irá se sobrepor à primeira, sem modificá-la, de forma integrada e formando um todo, a partir da constituição das funções psicológicas superiores. Para Vygotski (2013) “no processo de desenvolvimento histórico, o homem social modifica os modos e procedimentos de seu comportamento, transforma suas inclinações e funções naturais, elabora e cria novas formas de comportamento especificamente culturais” (p. 33).7

A partir dessa compreensão, Vygotski (2013) propõe três teses que subsidiam a análise das funções psicológicas superiores. A primeira tese é que é importante estudar processos e não

6 Se trata, en primer lugar, de procesos de dominio de los medios externos del desarrollo cultural y del pensamiento: el lenguaje, la escritura, el cálculo, el dibujo, y, en segundo, de los procesos de desarrollo de las funciones psíquicas superiores especiales, no limitadas ni determinadas con exactitud, que en la psicología tradicional se denominan atención voluntaria, memoria lógica, formación de conceptos, etc. Tanto unos como otros, tomados en conjunto, forman lo que calificamos convencionalmente como procesos de desarrollo de las formas superiores de conducta del niño.

7 “En el proceso del desarrollo histórico, el hombre social modifica los modos y procedimientos de su conducta, transforma sus inclinaciones naturales y funciones, elabora y crea nuevas formas de comportamiento específicamente culturales”.

partes isoladas ou achar que um comportamento está pronto, estável e não sofre modificações. Deve-se analisar o movimento dinâmico que constitui sua história, que se trata do ponto de vista genético. No experimento planejado a partir do método genético causal de Vygotski, deve- se resgatar historicamente todos os momentos, etapas do desenvolvimento do processo investigado, identificando as etapas fossilizadas. Dessa forma você transforma o objeto estudado em processo.

A segunda tese implica em compreender a diferença entre a descrição e a explicação numa análise. A Psicologia tradicional confunde descrição com análise, mas isso não explica o fenômeno investigado. O objetivo da análise é “revelar as relações e vínculos dinâmico-causais que formam a base de todo fenômeno8” (Vygotski, 2013, p. 100). Na perspectiva focada apenas na descrição, na Psicologia, a linguagem de uma criança pode ser confundida com a mesma qualidade, complexidade e função da linguagem de um adulto. Numa análise explicativa isso não acontece. É necessário compreender os processos históricos e culturais para desvelar o fenômeno para além da aparência, possibilitando a conscientização. A ciência deve ir além da descrição e da investigação da aparência, deve compreender sua natureza e origem, explicar seu surgimento.

Em outras palavras, na análise da formação das funções psicológicas superiores é necessário compreender o nexo que há entre aspectos internos e externos, por meio das relações dinâmico-causais que existem na realidade. É importante explicar a manifestação externa do fenômeno investigado, mas não apenas isso, a compreensão de sua gênese, ou seja, origem e desenvolvimento, deve ser possibilitada.

A terceira tese se refere às funções psicológicas fossilizadas:

E, finalmente, nossa terceira tese fundamental consiste no seguinte: em psicologia, geralmente encontramos processos fossilizados, isto é, que depois de um longo período 8 “revelar o poner de manifiesto las relaciones y nexos dinámico-causales que constituyen la base de todo fenómeno”.

de desenvolvimento histórico foram petrificados. A fossilização do comportamento manifesta-se sobretudo nos chamados processos psíquicos automatizados ou mecanizados. São processos que, devido à sua longa operação, foram repetidos milhões de vezes e, por isso, são automatizados, perdem sua aparência primitiva e sua aparência externa não revela sua natureza interior, Diria-se que eles perdem todas as indicações de sua origem. Graças a essa automação, sua análise psicológica é muito difícil.9 (Vygotski, 2013, p. 104).

Uma função psicológica atual possui diversas etapas cristalizadas e acabadas e todas as transições que ocorreram até a forma atual uniram as funções superiores com as primitivas, a ontogênese com a filogênese. As funções petrificadas permitem compreender o que é fundamental no processo de desenvolvimento das funções superiores estudadas. Os pesquisadores devem propor experimentos em que as funções fossilizadas estejam em movimento, ou seja, em constituição, antes de ficarem automatizadas e petrificadas, desvelando o desenvolvimento histórico desde o surgimento da função psicológica superior (Vygotski, 2013).

Em síntese, as três teses são: análise do processo e não do objeto para desvelar o nexo dinâmico-causal e não caraterísticas externas apenas, análise explicativa e não descritiva, por fim, análise genética, que volte ao ponto de partida e possa construir todas as etapas do desenvolvimento até a situação presente, que apresenta funções psicológicas fossilizadas e petrificadas. A partir dessas três teses é possível compreender a origem, a gênese e a estrutura de todas as funções psicológicas superiores. A análise a ser realizada do experimento formativo desenvolvido nesta tese levou em consideração essas três teses explicitadas.

9 Y finalmente, nuestra tercera tesis fundamental consiste en lo siguiente: en psicología solemos encontrar con bastante frecuencia procesos ya fosilizados, es decir, que por haber tenido un largo período de desarrollo histórico se han petrificado. La fosilización de la conducta se manifiesta sobre todo en los llamados procesos psíquicos automatizados o mecanizados. Son procesos que por su largo funcionamiento se han repetido millones de veces y, debido a ello, se automatizan, pierden su aspecto primitivo y su apariencia externa no revela su naturaleza interior, diríase que pierden todos los indicios de su origen. Gracias a esa automatización su análisis psicológico resulta muy difícil.

Tendo em vista o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, um aspecto importante que deve ser investigado é o desenvolvimento do comportamento voluntário, a partir do controle consciente do mesmo. Isso ocorre a partir de um processo mediado por signos. Vias colaterais são formadas a partir da utilização de ferramentas ou signos que possibilitam realizar uma ação que sem eles não daria, que promove uma nova orientação e reestrutura toda a operação psíquica. O controle da conduta, ou comportamento voluntário, seria outra etapa do desenvolvimento, que promove uma nova superestrutura, mas mantém sua relação com as etapas anteriores, modificando a direção do desenvolvimento do comportamento. “Do mesmo modo que os instintos não desaparecem, mas são superados em reflexos condicionados, ou que os hábitos continuam a persistir na reação intelectual, as funções naturais continuam a existir dentro da cultura10” (Vygotski, 2013, p. 131).

A formação de conceitos, julgamentos, deduções tem relação com essa etapa. A estrutura das funções psicológicas superiores é variável, pois possui sua própria história de desenvolvimento. As formas culturais de comportamento não são resultado apenas de hábitos externos, integram a parte da personalidade e dão origem a um sistema completamente novo. O desenvolvimento cultural promove um choque com as formas primitivas de desenvolvimento da criança, o primeiro ocupa lugar mais importante, pois o desenvolvimento vai ocorrer para promover uma adaptação ao meio.

Vygotski formulou a lei do desenvolvimento cultural (2013, p. 149):

Podemos formular a lei genética geral do desenvolvimento cultural da seguinte maneira: todas as funções do desenvolvimento cultural da criança aparecem em cena duas vezes, em dois planos, primeiro no nível social e depois no nível psicológico, inicialmente entre

10 Del mismo modo que no desaparecen los instintos, sino que se superan en los reflejos condicionados, o que los hábitos siguen perdurando en la reacción intelectual, las funciones naturales continúan existiendo dentro de las culturales.

os homens como categoria interpsíquica e depois dentro da criança como categoria intrapsíquica.11

As funções psicológicas superiores não são produto da biologia ou da filogênese, pois elas são relações de ordem social interiorizadas, fundamentam a estrutura social da personalidade, toda sua natureza é social, um social internalizado, ou seja, há uma sociogênese das formas superiores de comportamento que pode ser investigada no decorrer do desenvolvimento cultural da criança. Todas as funções psicológicas superiores foram primeiro externas e sociais e por meio da internalização se tornaram uma conduta interna, do sujeito. Isso acontece para a formação da atenção voluntária, a memória lógica, a formação de conceitos e o desenvolvimento do controle voluntário (Vygotski, 2013).

A internalização das formas culturais não acontece a qualquer hora e de qualquer forma. É necessário que ocorram em determinado nível do seu desenvolvimento psíquico, pois há uma relação entre a maturação de seu organismo e o desenvolvimento cultural, de forma gradual, por acumulação, que pode promover mudanças significativas que provocam saltos no desenvolvimento, por isso se coloca que é revolucionário e coexiste com o evolutivo, de cunho biológico. O uso dos signos externos favorece a internalização, pois possibilita que o sujeito assimile as regras, a estrutura do processo. A internalização vai permitir que o sujeito tenha os signos internamente, o que fará com que abandone os externos (Vygotski, 2013).

Dito de outra forma, o signo é usado para solucionar problemas psicológicos e sua ação é igual ao uso do instrumento no trabalho, mas no campo psicológico, exercendo função mediadora. O comportamento humano é afetado pelo uso de signos, assim como de

11 Podemos formular la ley genética general del desarrollo cultural del siguiente modo: toda función en el desarrollo cultural del niño aparece en escena dos veces, en dos planos, primero en el plano social y después en el psicológico, al principio entre los hombres como categoría interpsíquica y luego en el interior del niño como categoría intrapsíquica.

instrumentos, mas de formas diferentes. O instrumento influencia a atividade humana sobre o objeto da atividade, modificando-o e sendo orientado externamente. O signo modifica o sujeito, é orientado internamente. No entanto, o controle da natureza e o do comportamento estão interligados, pois a alteração que o homem provoca na natureza o modifica. O signo possibilita a transição para a atividade mediada, ampliando as operações psicológicas e contribuindo com a constituição das funções psicológicas superiores (Vigotski, 2007).

A mediação passa a ocorrer internamente, por meio da reconstrução interna de uma operação externa. Essa internalização possui uma série de transformações: “uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente, um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal”, fazendo com que todas as funções do desenvolvimento da criança apareçam duas vezes, primeiro socialmente e depois individualmente a partir das operações com signos, a transformação “é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento” (Vigotski, 2007, pp. 57-58).

A lógica infantil só se desenvolve a partir do momento em que a criança se apropria da linguagem e possui experiências de interação social. A linguagem foi elaborada pelo ser humano historicamente e contém tudo o que foi construído culturalmente no decorrer da história e é por meio dela que a criança apreende esse conteúdo acumulado e se desenvolve. No entanto o surgimento de novos comportamentos e funções psicológicas não se dá na criança de imediato, primeiro elas são externas e sociais, interpessoais, estão no grupo de crianças, organizadas por meio de um sistema de signos específico de uma cultura, só depois aparecem como conduta da própria criança, internalizadas. Dito de outra forma, primeiramente todo conhecimento é externo, aparece no meio social e é interpsicológico, por meio da mediação, o sujeito internaliza o conhecimento, que se torna intrapsicológico e passa a constituir seu pensamento (Vigotski, 2007).

Para Vygotski (2013), a linguagem é a função mais importante das relações sociais, do comportamento cultural e da personalidade. Entre os homens há relações diretas e mediadoras. As diretas são as instintivas, exemplificas por movimentos, ações e expressões. As mediadas são formas superiores possíveis pela criação dos signos que permitem novas formas de comunicação.

No contexto de desenvolvimento cultural, a imitação se torna importante no desdobramento das funções psicológicas superiores. Os adultos dão o primeiro sentido aos gestos dos bebês e das crianças, que por sua vez, aprendem a imitar, mas só depois elas vão compreender e se apropriar, usando conscientemente esse gesto. Tal processo pode ser compreendido como mediação, relação mediada, por isso nos tornamos o que somos através dos outros, o que inclui cada comportamento, cada função psicológica superior, nossa personalidade (Vygotski, 2013).

No caso das crianças com deficiência, suas limitações físicas influenciam seu desenvolvimento e podem interferir no surgimento das funções psicológicas superiores, mas uma observação mais cuidadosa revela que os instrumentos oportunizados pela cultura são feitos para quem não tem deficiência e/ou apresenta um desenvolvimento biológico sem