• Nenhum resultado encontrado

Alguns indicadores sobre a origem social dos profissionais de recursos humanos

O que fazem os profissionais de recursos humanos e como se pensam enquanto grupo

5.1. Alguns indicadores sobre a origem social dos profissionais de recursos humanos

Em termos etários, os inquiridos distribuem-se por um intervalo cujo limite inferior corresponde a 22 anos e o superior a 58 anos, com a idade média a situar-se nos 34 anos (desvio-padrão=9,268). Estes dados confirmam a juvenilização do grupo profissional, em resultado do seu crescimento quantitativo, que já havíamos detectado no capítulo anterior, quando analisámos os dados estatísticos oficiais. Esta juvenilização não é, contudo, sexualmente homogénea99. Ela é mais intensa entre as mulheres, cuja idade média é de 36,4 anos, do que entre os homens, que apresentam uma idade média de 41,9 anos, o que resulta do facto de este processo estar a ser acompanhado por uma forte feminização.

A feminização está bem patente no elevado peso das mulheres, que representam 63,4% dos respondentes, em comparação com 36,6% de homens. Esta percentagem evidencia um reforço da feminização, se tivermos em conta que, em 2004, as mulheres representavam 59% dos profissionais. Trata-se de um fenómeno que, em Portugal, se mostra particularmente dinâmico, se o compararmos com os resultados do inquérito aos

profissionais de recursos humanos australianos (Dowling e Fisher, 1997), país onde as mulheres passaram de 20%, em 1985, para 48%, em 1995, aproximando-se da paridade sem no entanto a suplantar.

No plano da conjugalidade, estamos perante uma população maioritariamente casada ou a viver em união de facto (69,2%), com apenas um quarto dos inquiridos a declarar-se solteiro.

Ao nível das origens sociais, os inquiridos são oriundos de grupos domésticos dotados de um reduzido capital escolar (Quadro 33). Os títulos académicos de nível superior são raros entre os progenitores, como são, aliás, na população portuguesa. No caso dos profissionais de recursos humanos inquiridos apenas 12,3% dos pais e 15% das mães possuem uma habilitação escolar de nível superior. Todavia, os dados que sustentam a nossa afirmação inicial não são os que se referem à posse de diplomas do ensino superior, mas sim os que dão conta da elevada percentagem de inquiridos cujos progenitores foram protagonistas de trajectórias escolares que terminaram no 4º ano de escolaridade ou mesmo antes. Mas ainda que os percursos escolares curtos sejam uma característica destes grupos domésticos, eles têm uma maior incidência nas mães dos inquiridos, com 49,1% delas a não possuir mais do que o 1º ciclo do ensino básico enquanto os pais ficam pelos 37,1%.

Quadro 33

Distribuição dos progenitores por nível de escolaridade

Nível de escolaridade

Pai %

Mãe % Até 4º ano de escolaridade 37,1 49,1

6º ano de escolaridade 14,1 14,4 9º ano de escolaridade 21,2 14,4 12º ano de escolaridade 15,3 7,2 Bacharelato 2,9 6,6 Licenciatura 9,4 7,8 Mestrado 0,0 0,6 Total (n=340 e 334) 100 100

Este perfil habilitacional dos progenitores, quando comparado com os elevados níveis de escolaridade dos descendentes inquiridos, mostra que estamos perante um campo profissional que funciona como espaço privilegiado para a inserção profissional de indivíduos em processo de mobilidade social ascendente, se tomarmos por referência apenas o indicador capital escolar. Trata-se de uma conclusão que é corroborada pelos estudos que temos vindo a realizar (Almeida, 2008b) sobre os diplomados em Gestão de Recursos Humanos, entre os quais os índices de baixa escolaridade dos progenitores ainda tendem a ser mais elevados. Esta discrepância entre os dois universos de análise coloca-nos perante um dado que merece alguma reflexão, na medida em que poderemos estar perante um contexto onde o recrutamento para o grupo profissional é cada vez mais dominado por uma origem social marcada pelas baixas habilitações escolares.

Quadro 34

Distribuição dos inquiridos por nível habilitacional dos progenitores segundo o curso frequentado

GRH

Gestão/

Economia Psicologia Sociologia Direito Outros Total Pai100 Até ao 9º ano 66,1 75,0 52,2 86,4 77,8 64,3 68,2 12º ano 21,4 25,0 17,4 13,6 0,0 7,1 16,7 Curso superior 12,5 0,0 30,4 0,0 22,2 28,6 15,2 Total (n=264) 100 100 100 100 100 100 100 Mãe101 Até ao 9º ano 70,9 62,5 59,1 95,5 77,8 78,6 73,8 12º ano 10,9 37,5 9,1 0,0 0,0 0,0 8,5 Curso superior 18,2 0,0 31,8 4,5 22,2 21,4 17,7 Total (n=260) 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: Inquérito por questionário

Perante esta hipótese procedemos ao cruzamento da escolaridade dos progenitores com o curso frequentado pelos inquiridos (Quadro 34). Os resultados evidenciam que é entre

100 X2=31,945; p=0,000 101 X2=41,505; p=0,000

os licenciados em Psicologia e em Direito, para além da categoria residual Outros, que se encontra a maioria dos indivíduos oriundos de famílias cujos progenitores já eram detentores de curso superior.

Ainda que os licenciados em Gestão de Recursos Humanos sejam oriundos de grupos domésticos detentores de algum capital escolar, 12,5% dos pais e 18,2% das mães possuem formação de nível superior, a nossa hipótese não deixa de ser confirmada. Se isolarmos os licenciados em Gestão de Recursos Humanos, área de formação dominante e em progressivo crescimento no interior do grupo profissional, e cruzarmos os níveis de habilitação dos progenitores com os grupos etários de pertença dos inquiridos, constata-se que os membros mais jovem do grupo são oriundos de famílias com menor capital escolar.

Quadro 35

Distribuição dos licenciados em gestão de recursos humanos por nível de habilitação dos progenitores segundo o grupo etário de pertença

Grupo etário até 37 anos 38 ou mais anos Total Pai102 Até ao 9º ano 73,2 46,7 66,1 12º ano 19,5 26,7 21,4 Curso superior 7,3 26,7 12,5 Total (n=112) 100 100 100 Mãe103 Até ao 9º ano 80,0 46,7 70,9 12º ano 12,5 6,7 10,9 Curso superior 7,5 46,7 18,2 Total (n=110) 100 100 100

Fonte: Inquérito por questionário

Esta tendência, no que respeita à base social de recrutamento, contrasta com as características de outros grupos profissionais estabelecidos cujo prestígio social está, em

grande parte, associado à sua capacidade em atrair membros descendentes de agregados familiares com elevados níveis de capital escolar. Atente-se, a título de exemplo, ao caso dos arquitectos, com 50% dos pais e 60% das mães a serem detentores de um diploma do ensino superior (Cabral, 2006), ao caso dos engenheiros, grupo onde 30% dos pais e 17% das mães apresentam idêntica habilitação (Rodrigues, 1999) ou ao caso dos médicos que apresentam uma maior selectividade na base social de recrutamento dado que 62,2% dos progenitores masculinos são detentores de curso superior104 (Alves, 2005). Estes dados permitem-nos corroborar a tese defendida por Larson (1979) sobre do papel dos grupos profissionais na consolidação de projectos de mobilidade social colectiva, nuns casos, e de consagração da sua posição social, noutros. Nesta perspectiva, os profissionais de recursos humanos estão investidos nesse projecto de mobilidade social colectiva que surge associado à posse de um diploma do ensino superior.

Quadro 36

Distribuição dos pais dos inquiridos por grupo profissional de pertença

Grupo profissional

Pai %

Mãe %

Quadros superiores e patrões 26,1 11,5

Especialistas de profissões intelectuais e científicas 6,2 19,8 Técnicos e profissionais de nível intermédio 19,9 6,2

Pessoal administrativo e similar 8,1 18,8

Pessoal dos serviços e vendedores 16,8 25,0

Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e pescas 1,9 1,0 Operários, artífices e trabalhadores similares 15,5 7,3 Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores similares 5,0 0,0

Trabalhadores não qualificados 0,6 10,4

Total (n=322 e 192) 100 100

Fonte: Inquérito por questionário

Este perfil de qualificações académicas ajuda-nos a compreender a razão pela qual 42,2% das mães dos inquiridos nunca teve um trabalho remunerado (Quadro 36). Das 192 mães que possuem uma actividade remunerada, um quarto pertence ao grupo do

104 Os dados aqui apresentados relativos aos médicos reportam-se apenas à origem social dos diplomados pela Universidade de Lisboa entre 1999 e 2003.

pessoal dos serviços e mais de 10% aos trabalhadores não qualificados. Contudo, face aos baixos níveis de escolaridade, é de destacar o facto de 19,8% das mães com actividade remunerada pertencer ao grupo dos especialistas e profissões intelectuais e científicas e de 11,5% ao dos quadros superiores e patrões. No que respeita aos pais, apesar de se distribuírem pelos grupos dos operários e do pessoal dos serviços e vendedores, é nos grupos dos quadros superiores e patrões e dos técnicos e profissionais de nível intermédio que têm maior expressão.

Esta distribuição por grupos profissionais, quando comparada com profissões estabelecidas, como são os casos dos arquitectos, dos engenheiros e dos médicos, reforça a ideia de que estamos perante profissionais oriundos de classes sociais menos favorecidas em capital escolar e económico, dado que a presença de quadros superiores, de patrões e de profissões intelectuais e científicas é menor, conforme se pode constatar nos estudos realizados por Cabral (2006), Alves (2005) e Rodrigues (1999), entre outros.