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4. A “voz” dos estudantes: não somos mais os mesmos?

4.6 As “vozes” nas entrevistas

4.6.3 Aliança pela Liberdade

Esse grupo é o atual gestor do DCE da UnB, porém, todo o contato assim como a principal entrevista foi realizada antes da eleição, em setembro de 2011. Ângelo evidenciou que algumas das opiniões expressadas por ele não necessariamente correspondiam à opinião do grupo, mas a maior parte dos temas abordados na entrevista estava relacionada à atuação do coletivo, embora ele sempre falasse em seu nome.

De acordo com o estudante, o grupo nasceu em 2009, depois da invasão da reitoria76. Os membros que fundaram a Aliança faziam parte de outro grupo, mas

76

Ângelo faz questão de dizer que chama o ato de invasão e não de ocupação pois essa é a visão dele. Conforme foi explicado no capítulo 1, em 2008 a reitoria da UnB foi ocupada por alunos em protesto pelas denúncias de corrupção por parte do então reitor Timothy Mulholland.

com o episódio, os alunos se dividiram – alguns eram contra e outros a favor da ocupação do prédio. Algum tempo depois de os alunos se separarem, surgiu a Aliança pela Liberdade, assim definida:

[...] somos estudantes como VOCÊ, cansados do marasmo do movimento estudantil atual – dominado por velhos bordões ideológicos que nada dizem. Somos estudantes de dentro da sala de aula, que não se vêem representados por grupos ligados a partidos políticos e que esquecem até mesmo que o Muro de Berlim caiu - continuam a gritar: Fora FMI!, Fora pelegos!, Fora Todos! Somos estudantes que se preocupam com o dia-a-dia daqueles estudantes que querem fazer seu papel: estudar, refletir, debater, contestar, criticar as ideias pré-formatadas. Somos estudantes que se focam na resolução de problemas cotidianos e na melhoria da vida de cada um. Somos estudantes que acreditam na supremacia de direitos e liberdades individuais, na defesa das minorias, no respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, no Estado de Direito, na igualdade de todos perante à [sic] lei e no direito inalienável que cada indivíduo tem de escolher seu próprio destino. Somos estudantes que dão valor à LIBERDADE!

O discurso é um misto de exaltação à tolerância e ao respeito pelas diversidades – parecido com o tom do coletivo “junt@s somos mais” – mas traz um tom de liberalismo econômico que sugere a ligação com o próximo grupo analisado – “Juventude Conservadora”. Isso significa que as notícias que alardearam que o DCE estava “nas mãos da direita”, talvez tenham feito barulho demais. É certo que as propostas são muito mais pragmáticas – são deles as reivindicações por papel higiênico e sabonetes nos banheiros da Universidade – porém, se esse discurso for comparado ao do próximo grupo, ele é bem mais ameno. O grupo tem o objetivo claro de utilizar as instâncias formais e institucionalizadas de poder como meio para alcançar seus propósitos.

[...] Daí na primeira eleição que teve foi em 2009 [...] pros conselheiros da Universidade [...] o pessoal montou uma chapa, eu não fazia parte ainda, embora eu já estivesse na Universidade eu não fazia parte e ganharam já na primeira eleição 3 vagas em cada conselho da Universidade. Porque a Universidade [...] ela é coadministrada por conselhos né e aí o pessoal [...] antes era uma coisa considerada [...] é considerada ainda algo que não resolve nada participar de conselho e até algo burguês assim porque [...] não está envolvido diretamente com a causa estudantil, [...] do movimento estudantil [...]

Mas quando falam em movimento estudantil, está implícito para ele, movimento de esquerda. Segundo o estudante, na Universidade principalmente, “muita gente é de esquerda” e os representantes discentes em sua maioria também. Quando questionado se o grupo é de direita, ele diz que não se reconheceria como direita, “talvez mais assim liberal, eu acho, mas a gente não fica procurando rótulo não”. O estudante fala bastante sobre si mesmo: é católico (usa um símbolo no pescoço), mora em Sobradinho e cursa Ciência Política. Vários dos integrantes do grupo são do mesmo curso, mas tem também alunos de Direito, Relações Internacionais, Economia, Administração.

[...] eu não acho que nós somos diferentes, não, até porque [...] o que eu acho é que... tipo... que as pessoas estão atrasadas em compreender que a sociedade é plural e que a gente pode participar de movimento estudantil e não necessariamente eu preciso pertencer a um grupo, tanto é [...] que desde 2009 a gente tem participado dos conselhos e a gente é eleito [...].

Novamente o discurso da pluralidade e do apartidarismo. Ângelo explica que o grupo leva isso tão a sério que, certa vez um membro omitiu que havia se filiado a um partido político e quando os demais descobriram, houve uma reunião e o estudante foi imediatamente expulso. Na campanha para a eleição de 2011, constava como característica da chapa o apartidarismo e, atualmente, no estatuto do grupo há um item que determina a expulsão em caso de filiação a qualquer partido. O estudante afirma várias vezes que o DCE é dirigido por grupos ligados a partidos de esquerda a muitos e muitos anos. Embora afirme que não acha o grupo diferente, o grupo parece querer reafirmar justamente sua diferença em relação aos outros – não estão ligados a nenhum movimento estudantil e nenhum partido, nem direita, nem esquerda. Ao mesmo tempo, um discurso pragmático, mas radical tende a afastar estudantes que se sentem menos envolvidos politicamente com eleições e movimentos estudantis. Por isso, a Aliança conseguiu o voto de uma parcela importante de alunos, que provavelmente foram os que decidiram a votação.

[...] mas o ambiente é muito plural, várias pessoas têm muito respeito [...] o momento é de perda e as pessoas têm medo de lutar [...] desde

a primeira vez que você pega alguma coisa assim, [de representação discente] então, quando tem alguma assim, de representar, a maioria já te olha... Hoje a UnB eu acho que dá muito mais trabalho, tem salas sem estrutura, tipo tem um cara que chega lá e só te ensina matéria, você quer que seja valorizado, sabe, você quer ser valorizado por aquilo que você pensa, você quer ter a função dentro de sala de aula, que o professor considere tudo o que você tá falando em sala de aula e, tipo, véi, as pessoas querem ter emprego porque nem todo mundo vai ter tempo pra ficar estudando a vida inteira [...].

Esse trecho mostra um turbilhão de pensamentos e anseios em um minuto de fala. Ângelo fala da aceitação e respeito por parte dos colegas e, ao mesmo tempo, como a maioria não se envolve com a representação discente. Revela o desejo de ter as ideias e opiniões reconhecidas pelos professores e a ansiedade por conseguir uma colocação no mercado de trabalho, aspirações já manifestadas por outros jovens pesquisados.

O fato é que a eleição da Aliança pela Liberdade foi um marco na história da representação e do movimento estudantil da UnB. Um post no próprio blog do grupo traz uma opinião interessante de um ex-aluno:

Amigos, fui um estudante da UnB adepto do Social Liberalismo e durante a minha permanência na UnB sofri uma perseguição por parte da Esquerda Radical. Os subterrâneos da UnB se encontram repletos de drogas e práticas anti-éticas [sic] por parte dos segmentos do movimento estudantil. São novos tempos, novos rumos. Sinto que os frutos que a minha geração plantou desabrocharam na Aliança pela Liberdade. Parabéns!! ex-estudante da UnB. 28/10/11 5:59 PM.

BONITOS, LIMPOS E BONDOSOS - Vejam a foto das moças e dos rapazes da Aliança Pela Liberdade. Apelando a um pouco de humor (esquerdista não entende a graça...), noto neles vários defeitos para o movimento estudantil dos feios, sujos e malvados: ainda não têm cabelos brancos; não têm cara de estudantes profissionais; levam todo o jeito de que gostam de estudar e me parecem dispostos a progredir na vida e a lutar para que todos progridam. (Reinaldo Azevedo, Revista Veja) (02/11/11).

A foto e a legenda acima foram publicadas em uma revista de circulação nacional, logo após as eleições para o Diretório Central dos Estudantes em 2011.

Propaganda da Chapa Aliança pela Liberdade em campanha por reeleição. Foco em questões práticas que interferem no dia a dia dos estudantes

Agradecimento da Chapa Aliança pela Liberdade quando reeleita