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4. A “voz” dos estudantes: não somos mais os mesmos?

4.6 As “vozes” nas entrevistas

4.6.2 Oposição Combativa Classista Independente (CCI)

Esse grupo se revelou muito interessante e certamente ainda há bastante a saber sobre eles. O estudante entrevistado demorou a responder o contato e a marcar a entrevista. No dia da entrevista não parecia muito à vontade, ou muito disposto a colaborar. Chegou acompanhado de um colega que ficou cerca de 20 minutos e saiu. Foi perguntado mais de uma vez se preferia marcar outro dia, ou se preferia não falar, mas disse que estava tudo bem e prontificou-se a dar o depoimento.

A estratégia utilizada, nesse caso, foi interromper o mínimo possível e deixar que o estudante falasse, porém, sem muitos resultados, já que ele fazia longas pausas, às vezes invertia os papéis passando a fazer as perguntas e por vezes parava como se tivesse terminado o assunto.

Selo comemorativo dos cinco anos da Oposição CCI, divulgado no site do grupo.

Ao se apresentarem, segundo informações coletadas na página eletrônica do grupo75, a Oposição Estudantil Combativa, Classista e Independente ao DCE da

75

UnB surgiu em 2007 “para lutar pelas demandas básicas e estratégicas dos estudantes-proletários, tendo por objetivo final a construção de uma Universidade Popular à Serviço dos Trabalhadores”. O grupo prega a reorganização do Movimento Estudantil e é composta por militantes de outros campi e de diversos cursos da UnB: ciências sociais, geografia, filosofia, economia, história, física, serviço social, pedagogia, letras e química (noturno). Apresentam-se como uma organização “de base” que não possui afiliação político-ideológica e defende

[...] a estratégia da construção de Oposições Estudantis e Coletivos de Cursos orgânicos e atuantes como forma de fortalecer a luta concreta dos estudantes, através da transformação de consciência, da defesa de formas de organização democráticas e de métodos combativos de luta. Esta estratégia tem como objetivo enraizar na base nosso Programa de Luta e a nossa Organização Combativa, além disso, visa se opor ao fenômeno do parlamentarismo estudantil, que tem por característica a disputa burocrática e eleitoreira a qualquer custo dos aparatos das entidades estudantis (DCE, CA’s) e conselhos burocráticos. Apesar disso, a Oposição CCI não é contra a participação nas eleições de DCE’s e CA’s, mas entende que a eleição de DCE’s e CA’s deve ser consequência do aumento da organização e da consciência dos estudantes, e jamais um fim em si mesmo.

A CCI está ligada à Rede Estudantil Classista e Combativa – RECC, corrente estudantil nacional nascida no Rio de Janeiro em 2009. Embora afirmem não possuir ligações político-ideológicas com outros grupos, o discurso é marcadamente esquerdista radical.

Logomarca que liga a Oposição CCI à RECC disponível no site do grupo

Criticam duramente os partidos políticos que se dizem de esquerda no Brasil, tais como: PT, PSTU, PCdoB e PSOL, segundo eles, “prisioneiros de uma visão pragmática e imediatista”. São radicalmente favoráveis a greves, ocupações e manifestações e imprimem ao discurso muitas vezes termos como “combatividade armada”:

[...] a defesa exaustiva da “pluralidade” agiu como meio de garantir uma cortina de fumaça sobre as posições políticas das chapas, e demonstrou sua utilidade em favorecer um debate superficial e sem grandes conflitos, onde quase todas as chapas “pareciam falar as mesmas coisas”. As chapas de “esquerda” também se concentraram na “política pragmática do papel higiênico” [...]. Na compreensão da Oposição CCI, o discurso “pluralista” e “tolerante”, [...] tem sido historicamente o principal responsável por acobertar diante da base estudantil as posições mais atrasadas e reacionárias criando um consenso absolutamente nefasto [...]. Devemos admitir que vivemos uma crise de organização e direção do M.E., e a simples tomada de aparatos não as resolvem. A tarefa é, portanto, rediscutir o modelo organizativo, que deve ser pela base (com militantes/coletivos impulsionando a luta em cada CA), refletir sobre os desastres dos métodos de conciliação com a Reitoria, adotando os combativos [...]. Mais do que nunca, reafirmamos que, ao contrário da tática de se adaptar às condições políticas atrasadas que estão dadas, sustentar um programa classista, mesmo que em certos momentos se tenha que caminhar “contra a correnteza” (atuando como minoria), é o caminho correto a se seguir para avançar a consciência e organização estudantil. E que a única estratégia que poderá derrotar

o atual DCE é de uma Oposição coesa, preparada para as batalhas prolongadas, como um núcleo duro que jamais cede, e articulada aos estudantes nos cursos. Por isso convocamos todos os estudantes de esquerda a construírem conosco a Oposição CCI ao DCE! [grifo nosso].

Inscrição em viaduto na EPTG (uma das vias que dão acesso à cidade de Taguatinga) da RECC conclamando greve na educação. Foto da autora.

Esse discurso inflamado é dirigido contra todos: a atual gestão (direitista) do DCE, à reitoria, governo, partidos políticos (esquerda e direita), enfim, todos que não são pela luta armada, como é a opinião deles. O curioso é que o trecho acima – parte de uma espécie de manifesto publicado no jornal do grupo, “O Germinal” – se dirige aos “estudantes de esquerda”, convidando-os a juntar-se ao coletivo.

Carta aberta escrita por uma militante em que explica os motivos de ter saído do Coletivo Junt@s somos mais e ter declarado seu apoio à Oposição CCI. A carta foi divulgada no site da CCI.

Em pleno século XXI, no Brasil, o discurso da radicalidade e da combatividade armada (!) parece mais improvável e mais incômodo do que o da tolerância e do respeito, ainda que seja apenas discurso. Vindo de jovens, sempre se tem um modelo pré-concebido que, espera-se, eles se encaixem minimamente: revolucionário, estudante, otimista, tolerante, ingênuo. Quando ele não se encaixa no papel que lhe foi atribuído, é rotulado como rebelde ou intolerante.

“Guia de estudos” disponível no site do grupo, para os que desejam se tornar militantes.