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Às perguntas eventualmente colocadas em títulos e subtítulos deste trabalho não se buscava, evidentemente, oferecer respostas. Ao colocar os temas aqui discutidos em pauta, a contribuição que esta tese pretendeu deixar refere-se, sobretudo, no fato de deixar novas questões como insumos para pesquisas futuras. Teses e dissertações que se dediquem a investigar outras “faces” da juventude brasiliense: seus anseios, suas opiniões e ideias, seu modo de viver a cidade e de ver a sociedade, as questões com as quais se identificam em meio à pluralidade existente em todo o Distrito Federal. A questão do mercado de trabalho, em especial, mereceria atenção em virtude das especificidades existentes na capital: haverá um esgotamento do modelo de concursos públicos nos próximos anos? Os jovens se desinteressarão pelas carreiras públicas? Como ficará a questão da empregabilidade juvenil no DF?

Ademais, a própria Universidade de Brasília continua um campo empírico extremamente rico para futuros pesquisadores. Os desafios da Universidade com os desdobramentos dos “anos pós-REUNI” e a organização de uma base de dados robusta e confiável, alimentada com pesquisas de porte e contínuas sobre a comunidade acadêmica – trabalho já iniciado pelo Observatório da Vida Estudantil ligado ao Departamento de Sociologia desta Universidade, são apenas alguns dos temas que devem ser colocados na agenda de novas pesquisas. Por ora, voltam-se novamente a tecer breves considerações sobre as questões aqui apresentadas com o intuito de encaminhar a discussão para as reflexões finais.

Ao longo deste trabalho analisou-se a ação política juvenil no contexto da Universidade atual. Para tanto, o caminho percorrido passou pelos estudos sobre juventude, educação superior, até chegar ao campo empírico e o público analisado – a UnB e seus estudantes.

No capítulo 1, ao revisitar os estudos sobre juventude desde a década de 1960, pelo menos, notou-se que, ainda que tenham passado por transformações ao longo de décadas, as pesquisas não conseguem abarcar a categoria juventude em toda a sua complexidade, talvez por ser ela tão dinâmica quanto o mundo em que vive.

No capítulo 2, um breve olhar sobre o percurso da Universidade na História permitiu avaliar sua pluralidade em termos de objetivos, modelos e apropriações. No Brasil, entretanto, essa instituição tardou tanto que tal pluralidade deu lugar à importação de ideias e modelos pré-concebidos que, mesmo depois de muitas reformas não se adaptam à realidade. Em uma das mais louváveis tentativas de romper com essas ideias prontas, o projeto da Universidade de Brasília sucumbiu à conjuntura política e caiu no esquecimento. Na educação superior da atualidade, no Brasil, uma discussão ainda presente, como se viu, é a adoção de um modelo universal e único para um público muito heterogêneo e instituições que não tem condições de se adequar a esse modelo.

O capítulo 3, por sua vez, pretendeu reconstituir, no contexto deste estudo, a trajetória e a importância da Universidade de Brasília para a história da Educação Superior brasileira. O que significava um projeto de Universidade inovador em uma nova capital, símbolo da modernidade e do novo? Quem foram professores e alunos que fizeram parte daquele início tão celebrado? O que o projeto tinha de tão inovador? Nesse capítulo procurou-se articular as questões discutidas nos dois anteriores, por meio da própria história da UnB: a jovem Universidade que se tornou um sonho não concretizado.

O capítulo 4, por fim, dá início a um trabalho – ainda que modesto – de conhecer os estudantes da Universidade de Brasília, sobretudo no que se refere à sua atuação política, no momento em que a instituição completa 50 anos de história.

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A cada época corresponde uma juventude e suas características, atitudes e conflitos. Seus desejos e expectativas. Independentemente do termo utilizado, singular ou plural, da faixa etária definida, o fato é que esse segmento da população mundial encontra-se no momento mais inseguro em relação ao futuro do que jamais esteve na história. Não há garantias de que escolaridade leve a emprego e nem que emprego leve a estabilidade ou sucesso financeiro, menos ainda a realização pessoal. Não há certeza alguma de que depois da casa dos pais venha o próprio lar

e com ele um cônjuge e que o passo seguinte seja filhos. Não há como prever, planejar é um desafio. A única certeza é de que estarão sempre esperando que esteja competindo e que busque ser o melhor.

Mas as expectativas e exigências em relação ao comportamento do jovem vão além de seu desempenho acadêmico e seu preparo para a vida profissional e pessoal. Seu comportamento político, por ser jovem, “deve”, necessariamente, ser inquieto e ativo.

Em um dos momentos de finalização desta tese, o Jornal Correio Brasiliense publicou uma matéria intitulada “A praça do silêncio”.... que tentava explicar porque a Praça dos Três Poderes não estava tomada por (jovens) manifestantes acompanhando o julgamento do mensalão77 um dos mais importantes momentos da história política do País.

E um dos cientistas políticos entrevistados, quando perguntado sobre as possíveis explicações para o “fenômeno”, dizia que os jovens que hoje estariam assistindo ao julgamento, só tinham 11 anos à época dos acontecimentos e que, portanto, não se sentiam ligados ou atingidos pelos fatos ali tratados. Sempre os jovens...

Por outro lado, a visão que se construiu, ao longo do tempo, sobre os jovens universitários está relacionada, via de regra, a vantagens e prerrogativas negadas a outros estudantes e aos adultos: “sob esse ponto de vista, a desobrigação profissional e a isenção de interesses profissionais poderiam estimular sua participação política [...]”. (HABERMAS, et al, 1968, p. 117). Ao menos desde a década de 60, os estudantes “revolucionários” são vistos como privilegiados em diversos aspectos:

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O termo mensalão surgiu pela primeira vez no ano de 2005, para designar o ato de corrupção em que grandes somas em dinheiro eram transferidas periodicamente e de forma ilícita para favorecer determinados interesses político-partidários. A palavra passou a fazer parte do cotidiano popular após a denúncia de um suposto esquema de pagamentos que eram feitos mensalmente a deputados e parlamentares. Devido ao frequente uso pela mídia brasileira durante as investigações do caso, o fato ficou conhecido como "Escândalo do Mensalão". O dia 2 de agosto de 2012 foi uma data considerada importante no cenário político e judiciário brasileiro, pois iniciou o julgamento dos 38 réus envolvidos no mensalão. É considerado o julgamento mais importante do STF (Supremo Tribunal Federal).

Sentir-se estudante é, de início, e talvez antes de tudo, sentir-se livre para ir ao cinema a qualquer hora e, por consequência, nunca aos domingos como os demais; é empenhar-se em enfraquecer ou em submeter as grandes oposições que estruturam imperiosamente tanto o lazer, como as atividades dos adultos; é fingir desconhecer a oposição entre os dias feriados e a semana, o dia e a noite, o tempo consagrado ao trabalho e o tempo livre (BOURDIEU E PASSERON, 1968, p. 62).

Essa visão do universitário que “só estuda” ainda persiste nos dias atuais. É comum ouvir as pessoas perguntarem ao jovem se ele “só estuda”, como se estudar fosse “coisa de desocupados”. Como Pais (2005) mostra, isso também ocorre em outros países da Europa. O quadro desenhado por Bauman dá uma ideia mais atualizada de quão grave é a situação, e o quanto difere da imagem cristalizada:

nesses últimos dias, por toda a Europa, os estudantes estão protestando. Esses jovens são chamados de “geração zero”: zero oportunidade, zero futuro. Como é possível reconstruir o futuro desses jovens? Que modelo de sociedade pode proporcionar esperança a pessoas com vinte anos? (BAUMAN, 2012, p. 85).

Assim como a Europa mostrada por Bauman, no Brasil da mesma forma, as transformações sociais das últimas décadas mudaram, definitivamente, as relações e papéis familiares, além de ter adiado a saída dos filhos da casa dos pais, prolongando, consequentemente, o período a que se costuma chamar juventude. Com isso, mudam as formas e os momentos de acesso ao mundo do trabalho e impele a mudanças ou criação das/nas políticas para jovens. Nesse sentido, a criação da Secretaria Nacional de Juventude em 2005 é uma tentativa de responder a essas transformações por meio de políticas de combate ao desemprego juvenil, incentivo ao esporte, inclusão digital, elevação do nível de escolaridade, entre outras ações. Antes de pensar em “mudar o mundo”, esses jovens precisam pensar em garantir seus futuros.

Embora não haja garantias, a tentativa de “um futuro melhor” ainda passa, pelo ensino superior. A demanda aumentou e, como se discutiu no capítulo 2 deste trabalho, a universidade – pública e particular – se expandiu para atender a esse aumento.

Com a expansão do ensino superior privado e consequente ampliação do acesso, cresceram as expectativas de que o mercado de trabalho estaria aberto a esses jovens. As vagas nas universidades públicas, sobretudo as federais, também foram ampliadas, pois a palavra de ordem é “democratizar o acesso” e o REUNI é um sintoma disso. Os desafios da Universidade no Brasil são muitos: a autonomia é questão de debate desde o surgimento do ensino superior na década de 30 e persiste. A pesquisa disputa cada centavo de verbas por áreas, além de concorrer com o fomento para a infraestrutura, que por sua vez, também é vital para a própria pesquisa. A universidade é incapaz de ser portadora ou fonte de realização de sonhos, enquanto não puder resolver suas próprias questões e remover alguns de seus mais difíceis entraves.

Já foi dito que o pragmatismo é a marca dessa geração, sobretudo daqueles que se dizem conservadores. Enquanto os jovens que se dizem “de esquerda” produzem e reproduzem um discurso mais ideológico de “mudar o mundo”, fazer a revolução, destituir o poder vigente e convocar o povo, os liberais ou “direitistas” defendem as liberdades individuais, a propriedade e a capacidade de consumo para todos, ou seja, em última instância, o próprio capitalismo, estendido a todos e todas. Estão preocupados com seus futuros profissionais, em alcançar sucesso na carreira, estão ansiosos por “estabilidade financeira” para poder ter uma família. Os “esquerdistas” querem mudar o mundo para deixar um mundo melhor para as próximas gerações.

Dessa forma, por um lado, tem-se jovens com visões diferentes de cidadania e política, utilizando novas ferramentas, que lutam à maneira nova, por demandas novas, com questionamentos diferentes sobre a sociedade, que acreditam em “fazer sua parte” em construir um mundo melhor, em “viver sua vida da melhor maneira possível, sem fazer mal a ninguém”. Por outro lado, jovens com um pensamento mais tradicional, ditos conservadores, que se utilizam das mesmas ferramentas virtuais para operacionalizar e viabilizar seus debates e propagar suas opiniões...

Com a visão de mundo cultivada por esses jovens, não há como falar em direita e nem tampouco em esquerda estrito senso! A Aliança pela Liberdade, grupo que dirige o DCE da UnB atualmente, no fundo, sabe disso e é por isso que não se importam com os rótulos ou denominações que recebem. Para eles, o que é

importante mesmo, é o que é feito, são as “conquistas reais”. Assim como pensa a Juventude Conservadora. Entretanto, existem diferenças entre os dois grupos, em seus discursos é possível perceber isso. Por isso é que eles eventualmente se apoiam, possuem ideias semelhantes, mas não se juntam.

Pelo demonstrado e discutido até aqui, a questão colocada na introdução deste trabalho – “os estudos e políticas sobre jovens são feitos por adultos porque os jovens são desinteressados?” – pode receber uma resposta negativa.

Portanto, pesquisar a juventude, sobretudo nos tempos atuais, requer um exercício de contextualização, de situá-la em seu tempo histórico, sob o risco de comparações injustas, de esperar dela o que ela jamais se dispôs a oferecer, porque a sua época já escreveu as perguntas às quais ela deve responder.

Eles não vivem mais como seus pais: entram muito cedo na Universidade; tem pressa, fazem muitas atividades ao mesmo tempo, precisam pensar desde muito jovens em mercado de trabalho, profissão, futuro. Estão sempre conectados. Mas ainda são os mesmos: acreditam em um mundo melhor, se organizam, se manifestam. Expressam suas opiniões e querem ser ouvidos. Participam, sim, mas de outras formas. Já não querem mudar o mundo, preferem pensar em transformar seus pequenos “metros quadrados”. Não se rotulam, não se definem. Mas continuam lutando. Eles ainda são os mesmos, mas vivem de maneiras muito diferentes. Tentam adaptar-se ao que o mundo exige deles. Cada Vez mais.