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Capítulo III – Comportamento referencial de sujeitos em frases coordenadas e

1. A Teoria da Ligação

1.3. Alternativas à Teoria da Ligação

A teoria da Ligação, tal como referido anteriormente, tem, ao longo dos anos, sido alvo de desenvolvimentos. Assim, as propostas de autores como Reinhart e Reuland (1993), e Antonenko (2012), assumem como relevante a noção de reflexividade. No trabalho de Reinhart e Reuland, a reflexividade é assumida como um traço inerente aos constituintes, sendo que, a partir do mesmo, é possível distinguir anáforas de pronominais, e também diferentes tipos de anáforas.

1.3.1. Reinhart e Reuland (1993)

Reinhart e Reuland (1993) (doravante R&R), tentando dar conta da distribuição das expressões nominais, sugerem uma alternativa à Teoria da Ligação de Chomsky em que consideram que as propriedades lexicais inerentes aos constituintes é que irão ser relevantes para dar conta do seu comportamento. Assim, com base nestas propriedades, R&R propõem a Teoria da Reflexividade.

Neste trabalho, os autores apenas dão conta do comportamento de anáforas e pronominais, uma vez que consideram que o Princípio C e os efeitos de correferência pertencem a um módulo inferencial distinto:

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We take the binding theory to consist only of Conditions A and B, and to govern only bound variable anaphora. Condition C and other coreference effects are argued in Reinhart 1983a to belong to a different, inferential, module. This position is further developed and developed and defended in Grodzinsky and Reinhart 1993.

(Reinhart e Reuland 1993: 657, nota 2)

R&R consideram a existência de dois tipos de anáforas, as anáforas de SE (anáforas de longa distância) e as de SELF (anáforas locais), estas distinguem-se dos pronomes, por serem referencialmente dependentes e por não estarem completamente especificadas em termos de traços-ϕ. Os autores aceitam que as anáforas são referencialmente defetivas e que, por isso, a ligação irá permitir a sua interpretação referencial. Devido às propriedades que distinguem os pronominais das anáforas, por um lado, e as anáforas de SE das anáforas de SELF, por outro, os autores propõem a seguinte tipologia para as expressões anafóricas:

(87) SELF SE Pronoun

Reflexivizing function + - -

R(eferential independence) - - +

Reinhart e Reuland (1993: 659)

R&R consideram que as duas propriedades que dão conta da distribuição das expressões anafóricas, referidas em (87), são reguladas por diferentes módulos do conhecimento linguístico. A segunda propriedade (independência referencial) é, de acordo com R&R, essencialmente igual à proposta por Chomsky (1981), com a exceção de estes autores considerarem que, não só se aplica a expressões referenciais, mas também a pronomes. A primeira propriedade (função reflexivizadora) é aquela considerada relevante para a modificação dos princípios da ligação.

Relativamente ao Princípio B, tal como originalmente proposto em Chomsky 1981, os autores referem a existência de alguns problemas. Como acontece em outros trabalhos, R&R questionam a complementaridade distribucional entre anáforas e pronomes, uma vez que, tendo em conta o que está definido nos princípios A e B da Teoria da Ligação clássica, referidos anteriormente, é esperado que em todos os contextos em que não pode ocorrer um pronome, ocorra uma anáfora e vice-versa.

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Contudo, os autores reconhecem que, embora em alguns contextos esta complementaridade seja possível, em frases com adjuntos não é viável manter os princípios tal como formulados.

(88) a. Max saw a gun near himself/him.

b. Lucie counted five tourists in the room apart from herself/her.

Reinhart & Reuland (1993: 661)

R&R referem ainda: “The environments where a pronoun must be free are thus much more restricted than the environments where an anaphor can be bound.” (Reinhart e Reuland 1993: 661).

Assim, os autores pretendem reformular a Teoria da Ligação e consideram que essas alterações devem começar com o princípio B: “The empirical coverage of the binding theory will therefore be significantly improved if we start by restating Condition B.” (Reinhart e Reuland 1993: 661-662).

R&R (1993) defendem que o princípio B da Teoria da Ligação não estará relacionado com a distribuição de pronomes, mas sim com a reflexividade dos pronomes. A função reflexivizadora é atribuída aos predicados. R&R propõem duas definições e uma condição:

(89) Definitions

a. A predicate is reflexive iff two of its arguments are coindexed.

b. A predicate (formed of P) is reflexive-marked iff either P is lexically reflexive or one of P’s arguments is a SELF anaphor.

(90) Condition B

A reflexive predicate is reflexive-marked.

Reinhart e Reuland (1993: 663)

Este princípio serve para dar conta do comportamento referencial de constituintes em frases como (91):

69 (91) a) *Max1 critized him1.

b) Max1 critized himself1.

c) *Max1 / he1 critized Max1.

Reinhart e Reuland (1993: 663)

Assim, a estrutura em (91a) não pode ter uma interpretação ligada porque o predicado critized não está marcado reflexivamente. Contudo, R&R preveem que (91b) seja gramatical, uma vez que se assume que o verbo é marcado reflexivamente, possibilitando a interpretação ligada. No caso de (91c), a frase é marcada como agramatical pelo mesmo motivo de (91a).

Uma vez que a condição definida anteriormente dá conta do comportamento dos pronomes, R&R consideram necessário reformular o princípio A, de forma a dar conta do comportamento de anáforas.

(92) Condition A

A reflexive-marked predicate is reflexive.

Reinhart e Reuland (1993: 671)

Assim, de acordo com os autores, os princípios A e B não são exatamente simétricos, uma vez que o princípio B está relacionado com reflexivização semântica e o princípio A com marcação sintática de reflexivização.

R&R fornecem uma versão revista dos princípios de ligação:

(93)Conditions

A: A reflexive-marked syntactic predicate is reflexive. B: A reflexive semantic predicate is reflexive-marked.

Os autores fazem notar que as condições A e B propostas não recorrem a conceitos como ligação, c-comando ou hierarquia de constituintes, uma vez que a noção mais relevante é a de reflexividade de predicados, independentemente da sua estrutura interna. Os autores referem também que o comportamento de anáforas se divide entre dois módulos:

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The binding theory is sensitive only to the reflexivizing function, taking care of matching it with predicate reflexivity. All other aspects of local anaphora, which have to do with the R property, fall under chain theory. Traditionally, what was always believed to be sensitive to c-command, or other hierarchical restrictions, is precisely the issue of referential dependency, which we reduced here to R-relations.

(Reinhart e Reuland 1993: 715)

1.3.2. Antonenko (2012)

Antonenko (2012) propõe uma abordagem bastante distinta face às propriedades que regem a distribuição de expressões nominais. Diferentemente de outras propostas, o autor assume a existência de um traço reflexivo associado a estes constituintes (o traço ρ). Antonenko toma como ponto de partida a teoria de Reinhart e Reuland (apresentada anteriormente), mas, uma vez que a proposta de R&R tem algumas exceções e não permite, por exemplo, dar conta do comportamento de adjuntos, o autor afasta-se da noção de predicado semântico e constrói a sua teoria com base em pressupostos sintáticos, como a existência do traço referido.

Antonenko refere também que a sua proposta e a de R&R diferem no que concerne a coindexação de argumentos, ou seja, para R&R, um predicado é reflexivo se os seus argumentos estiverem co-indexados, contudo, para Antonenko, diferentemente, a presença do traço ρ pode resultar em coindexação dos argumentos de um predicado, mas tal não é obrigatório (Antonenko 2012: 105-106).

Assim, para o autor, para que se consigam estabelecer ligações entre constituintes, é necessário redefinir os conceitos de domínio de ligação, e, por isso, considera que cada domínio relevante irá corresponder a uma fase. Porém, a sua definição de fase é distinta da clássica, Antonenko assume que um domínio se torna uma fase quando os traços relevantes desse domínio são valorados. O autor defende que esta proposta permite dar conta de um maior número de fenómenos interlinguísticos e, além disso, é consistente com a arquitetura minimalista da gramática.

Em suma, as propostas de Reinhart e Reuland, e Antonenko, que se integram na Teoria da Reflexividade, não se adequam aos dados a analisar, uma vez que, a propriedade fulcral que visam captar é a reflexividade.

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Assim, tendo em conta as teorias apresentadas nas secções anteriores, assume-se que a Teoria da Ligação clássica, repensada sem fazer apelo ao conceito de regência e tendo em vista as objeções que lhe foram feitas, é suficiente para descrever as relações que se estabelecem nestas frases.

2. A omissão do sujeito em frases coordenadas e subordinadas