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Desenvolvimentos da Teoria da Ligação clássica

Capítulo III – Comportamento referencial de sujeitos em frases coordenadas e

1. A Teoria da Ligação

1.2. Desenvolvimentos da Teoria da Ligação clássica

A versão clássica da Teoria da Ligação sofreu alguns desenvolvimentos e refinamentos para dar conta da distribuição das expressões nominais, e também, no Programa Minimalista, a noção de regência, e consequentemente a de categoria regente, desapareceu; o conceito de domínio de ligação foi redefinido. Alguns aspetos relacionados com anáforas realizadas, i.e., reflexos, foram também reanalisados, tal como se referirá de seguida.

1.2.1. Pronominais e Expressões-R

O trabalho de Haegeman (1994) pretende tornar os conteúdos abordados por Chomsky (1980, 1981, 1982, 1986) mais acessíveis e também reformular alguns aspetos relacionados com a distribuição das expressões nominais. A autora assume, como Chomsky, que existem três tipos de expressões nominais: anáforas, pronominais e expressões referenciais; e que estas se distinguem com base nos seus requisitos de ligação. Assim, as anáforas caracterizam-se por requererem obrigatoriamente um antecedente no seu domínio sintático relevante, uma vez que não possuem autonomia referencial; os pronominais não devem ter um antecedente no domínio local, mas, fora da sua categoria regente, podem ser ligados; por fim, as expressões referenciais possuem autonomia referencial e, por isso, o seu uso implica a identificação da identidade através do NP. Contudo, Haegeman refere que a capacidade de identificar uma entidade não faz parte das funções das frases, uma vez que a interpretação é possível através de um contexto

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específico e de princípios comunicativos, algo que, de acordo com a autora, se relaciona com a área da pragmática:

This interpretation is not a function of the properties of [the] sentence (…), rather it derives from the use of the sentence for communicative purposes and it arises in a specific context. Interpretative matters which depend on the context outside the sentence are not regulated in a sentence grammar but are dealt with in the domain of study that is concerned with utterance interpretation. This area of study is often referred to as

pragmatics. (Haegeman 1994: 190)

Haegeman (1994), referindo trabalhos anteriores de Chomsky, refere que a existência de argumentos implícitos, e de alguns pronomes possessivos e anáforas, é problemática para a Teoria da Ligação, uma vez que, de acordo com esta teoria, um pronome e uma anáfora que ocorram na mesma posição terão apenas leituras interpretativas diferentes (o pronome será livre e a anáfora será ligada). Tendo em conta estes aspetos, a autora refere que a diferença entre pronominais e anáforas não é assim tão linear, como é o caso dos adjuntos:

(79) Max saw a gun near himself/him.

Reinhart e Reuland (1993: 661)

Estrela (2006), apresenta também dados do PE, que corroboram que as anáforas e os pronominais não estão em distribuição complementar, uma vez que, em alguns contextos, podem ocorrer tanto pronomes como anáforas.

(80) a. Eles viram uma cobra perto deles. b. Eles viram uma cobra perto de si.

Estrela (2006: 21)

Considerando os traços que caracterizam as expressões nominais ([± anafórico] e [± pronominal]), Haegeman argumenta que os princípios da Teoria da Ligação devem ser reformulados e propõe que as expressões referenciais não estejam sujeitas a estes princípios, visto serem especificadas negativamente para ambos os traços. Quanto aos pronominais e anáforas, definem-se da seguinte forma:

64 (81) Principle A

An NP with the feature [+ anaphor] must be bound in its governing category.

Principle B

An NP with the feature [+ pronominal] must be free in its governing category. Haegeman (1994: 222-223)

Em relação à interpretação de pronomes, a autora propõe ainda uma regra para a interpretação de pronomes:

(82) Interpretation of pronouns

A pronoun must be free in its governing category; where

(i) the governing category is the minimal domain containing the pronoun, its governor, and an accessible subject / SUBJECT;

(ii) free is not bound.

Haegeman (1994: 225)

Uma vez que a autora não postula nenhum princípio para as expressões referenciais (por serem valoradas negativamente para os traços [anáfora] e [pronominal]), considera que é necessário determinar qual a distribuição destes constituintes. Assim, assume que o seu valor referencial está associado às condições pragmáticas dos enunciados, mas que, em termos sintáticos, também estão condicionadas veja-se (83):

(83) Elei gosta do Pedro*i/j.

Nesta estrutura, assume-se que a leitura de correferência não está disponível e que apenas a interpretação disjunta torna a frase gramatical. Tendo em conta este tipo de dados, Haegeman (1994: 227) propõe um princípio semelhante ao Princípio C de Chomsky:

(84)Principle of Interpretation of R-Expressions

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Contudo, a autora refere que Evans (1980: 356-7) assume que os efeitos do Princípio C podem ser ultrapassados por princípios conversacionais, como em (85):

(85)

(i) I know what John and Bill have in common. John thinks that Bill is terrific and Bill thinks that Bill is terrific.

(ii) Who loves Oscar’s mother? I know Oscar loves Oscar’s mother, but does anyone else?

(iii) Everyone has finally realized that Oscar is incompetent. Even Oscar has realized that Oscar is incompetent.

Também Reinhart (1983) assume como possível o facto de o Princípio C não estar relacionado com restrições sintáticas, mas sim com aspetos pragmáticos.

Assim, Haegeman retém as propriedades centrais da versão clássica da Teoria da Ligação, aliando a esta alguns aspetos relacionados com princípios discursivos para o bom sucesso da comunicação.

1.2.2. Formulações da Teoria da Ligação sem o conceito de

regência

Chomsky no Programa Minimalista (1995: 158-159), descreve de uma forma simplificada os princípios da Teoria da Ligação sem recorrer ao conceito de regência26.

26 Büring (2005)é outro autor que reformula os princípios da Teoria da Ligação, de modo a não recorrer à

noção de regência.O autor pretende fornecer uma reformulação relativamente aos princípios que regem a distribuição das expressões nominais, prescindindo de alguns conceitos presentes na proposta original de Chomsky, entre os quais o conceito de regência. O autor toma como ponto de partida os princípios de Chomsky e assume que elementos como pronomes reflexivos, precisam de um antecedente e esse antecedente tem de se encontrar na mesma oração (Princípio A da Teoria da Ligação). Büring aceita igualmente que, em relação aos pronomes não-reflexivos, estes podem ocorrer com ou sem um antecedente, mas caso tenham um antecedente, esse constituinte não pode ocorrer na mesma oração do pronome (Princípio B da Teoria da Ligação).

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(86) a. Se α é uma anáfora, α recebe uma interpretação co-referente com um constituinte que c-comanda α em D.

b. Se α é um pronome, α recebe uma interpretação disjunta de qualquer constituinte que c-comande α em D.

c. Se α é uma expressão-r, α recebe uma interpretação disjunta de qualquer constituinte que c-comande α.

Chomsky define D apenas como domínio local relevante, Zwart (2000: 533) refere, em relação à definição de domínio local, que “The local domain D relevant to the principles of the binding theory is defined in various ways. The core intuition appears to be that D is the minimal maximal projection dominating the anaphor/pronoun that contains either tense or a subject (e.g. Lasnik 1989: 1)”.