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Capítulo III – Comportamento referencial de sujeitos em frases coordenadas e

5. Discussão dos resultados e consequências relativamente à estrutura das frases

5.3. Síntese Comparativa – Coordenação

Os resultados dos testes realizados mostraram que nos casos em que o sujeito do segundo termo coordenado é omitido (teste 1), o comportamento dos vários tipos de frases coordenadas é idêntico, uma vez que a opção dos informantes pela interpretação de correferência se verifica em 100% das estruturas em teste. No entanto, analisando os casos em que os sujeitos são realizados, os resultados mostram que, diferentemente do esperado, há ausência de homogeneidade no comportamento referencial dos sujeitos das estruturas de coordenação.

Esta ausência de homogeneidade verifica-se, antes de mais, nos resultados referentes à condição PL_DP, relevante para estabelecer a existência, ou não, de uma relação de c-comando entre o sujeito do primeiro termo coordenado e o do segundo.

Nas estruturas coordenadas aditivas, os informantes mostram uma preferência clara por interpretações disjuntas, sendo que menos de 2% escolhem a interpretação

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correferente e, pouco mais de 10% optam pela aceitação de interpretações de correferência e disjunção.

No caso das estruturas adversativas, na condição PL_DP, os informantes continuam a mostrar preferência pela interpretação disjunta, embora quase 30% aceitem igualmente interpretações de correferência e de disjunção e quase 20% escolham apenas a leitura de correferência.

As construções coordenadas disjuntivas, em termos de comportamento referencial na condição PL_DP, dissociam-se das restantes coordenadas, uma vez que não se verifica uma preferência pela interpretação disjunta, mas sim a igual aceitação das interpretações de correferência e de disjunção. A interpretação de disjunção é escolhida por 27% dos informantes e aproximadamente 25% optam pela leitura de correferência, mostrando, desta forma, e tal como referido, que algum fator, interfere com a Teoria da Ligação na interpretação dos sujeitos nestas construções. Nas estruturas analisadas, assume-se como possível: (i) a par dos casos de coordenação integrada (em que extração across-the-board se aplica), a existência de estruturas, para muitos falantes, em que a coordenação é interpretada como não integrada e em que, tal como acontece com construções parentéticas, há bloqueio dos efeitos de c-comando do primeiro termo sobre o segundo; (ii) no caso das coordenadas disjuntivas, o segundo termo coordenado é interpretado como uma reformulação face ao conteúdo do primeiro, sendo que, por isso, se justifica a existência de um valor parentético e / ou também de um valor de contraste / focalização percecionado através da prosódia implícita. Além disso, tal como referido anteriormente, assume-se como possível o facto de os informantes interpretarem estas frases como alternativas que se colocam à mesma pessoa.

Além das diferenças observadas na condição PL_DP, os restantes resultados mostram que as estruturas coordenadas aditivas se afastam das adversativas e das disjuntivas. Nas condições testadas com o segundo sujeito realizado por um pronome lexical, PL_PL e DP_PL, a interpretação de correferência é aquela que apresenta valores mais elevados nas estruturas disjuntivas e adversativas, no entanto, nas aditivas é a que apresenta os valores mais baixos. Considera-se que as coordenações aditivas privilegiam representações integradas, e que neste caso, por questões de economia, as configurações ATB do sujeito são preferidas.

Tendo em conta estes resultados, verifica-se que o Princípio Evitar Pronome (cf. Chomsky 1981) não é obrigatório, nem preferencial, nas estruturas coordenadas, visto

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que nestas condições a interpretação disjunta nunca é preferida41 e que, nos casos de

omissão do sujeito do segundo termo coordenado, ocorre tipicamente extração across-

the-board.

Considerando que em todas as condições testadas os informantes aceitam todas as interpretações disponíveis (correferência; disjunção; correferência / disjunção) é necessário assumir que as frases coordenadas não são estruturalmente uniformes e que outros fatores, além dos Princípios da Teoria da Ligação, podem afetar na interpretação dos sujeitos.

Assim, considerando que as propostas tradicionais para a coordenação não têm em conta que as diferentes frases (aditivas, adversativas e disjuntivas) podem projetar representações com propriedades distintas e que existe uma interação entre o tipo de constituinte nominal que ocorre em posição de sujeito e a configuração estrutural da estrutura coordenada em que figura, o conceito de coordenação terá de ser reanalisado à luz desta nova informação.

Tendo em conta os resultados obtidos com a tarefa realizada, é necessário assumir que cada estrutura coordenada (aditiva, adversativa ou disjuntiva) deve ser analisada autonomamente, uma vez que, em termos referenciais, se apresentam como distintas. Desta forma, as propostas que têm em conta as características da coordenação aditiva e que, a partir daí, extrapolam conclusões em relação a outras construções coordenadas, devem ser reavaliadas.

A assunção da existência de uma estrutura de coordenação uniforme, que se aplica às construções aditivas, adversativas e disjuntivas, terá de ser repensada e de ter em conta as características de cada construção, de forma a captar essas propriedades.

Note-se, tendo em conta, o que foi apresentado nas secções anteriores, com exceção das frases em que assumimos que existe um valor parentético, é possível manter a estrutura básica da coordenação (Especificador-Núcleo-Complemento), considerando, porém, que esta pode ocorrer em diversos níveis (VP, TP, CP, …).

41 Contudo, de forma a atestar estes juízos, seria necessário um teste posterior em que se permitisse aos

informantes optarem pela construção com ou sem o pronome realizado. Deste modo, seriam apresentadas duas estruturas (com e sem pronome realizado) e um contexto de referência, veja-se (i):

(i) a. O João fez o trabalho mas [-] esteve em Sintra. b. O João fez o trabalho mas ele esteve em Sintra.

- Tendo em conta que o João realizou as duas ações (ter feito o trabalho e ter estado em Sintra), qual a frase mais adequada à descrição dos eventos?

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5.4. Estruturas Coordenadas e Subordinadas Adverbiais: