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Capítulo III – Comportamento referencial de sujeitos em frases coordenadas e

2. A omissão do sujeito em frases coordenadas e subordinadas adverbiais

2.1. Sujeitos omitidos

2.1.1. Sujeitos omitidos em frases coordenadas finitas

2.1.1.1 Extração Simultânea (Across-the-board)

A impossibilidade de extrair constituintes de apenas um dos termos da estrutura coordenada, notada por Ross (1967), que propôs a Condição da Estrutura Coordenada, levou a que se considerasse que as frases coordenadas constituem ilhas face ao movimento sintático.

(102) The Coordinate Structure Constraint

In a coordinate structure, no conjunct may be moved, nor may any element contained in a conjunct be moved out of that conjunct.

Ross (1967: 161) O mesmo autor refere que só é possível extrair constituintes de construções coordenadas, sem causar resultados agramaticais, aplicando a extração de forma simultânea a ambos os termos coordenados, tal como exemplificado em (103c), face à impossibilidade que se verifica em (103b):

(103) a. O João adora chocolate e o Pedro odeia chocolate. b. *O que é que o João adora e o Pedro odeia chocolate? c. O que é que o João adora e o Pedro odeia?

Este tipo de movimento simultâneo (ou extração simultânea) de constituintes é designado por Across-the-board Movement (ATB movement, Ross 1967). Ross mostra que, uma vez que o movimento de constituintes de apenas um termo coordenado não é permitido, é obrigatório que o movimento afete ambos os termos coordenados. Desta forma, o movimento escapa à Condição da Estrutura Coordenada e é possível obter uma estrutura gramatical.

Tal como descrito em Colaço (2005), a estratégia de extração de constituintes ATB em frases coordenadas permite evitar, de acordo com princípios de economia da

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gramática, a ocorrência de material redundante. Esta estratégia caracteriza-se, assim, pela omissão de material que seria repetido, mas que não o é pelo facto de o seu conteúdo ser discursivamente recuperável, estando presente também em diversas construções elíticas, como a elipse do sintagma verbal, ilustrada em (104b), (cf. Raposo 1986, Matos 1992)28:

(104) a. A Maria não tem escrito livros, mas o João tem escrito. b. A Maria não tem escrito livros, mas o João tem.

Embora no exemplo (104a) a repetição de material não afete a boa formação da frase, existem alguns casos em que estas repetições podem alterar essa interpretação devido a fatores gramaticais ou pragmáticos:

(105) A Maria foi à livraria e a Maria comprou dois livros. (106) A Maria despediu-se do Pedro e deu um beijo ao Pedro.

Colaço (2005: 289) Assim, nesta perspetiva, a extração simultânea constitui, tal como outros fenómenos de não realização de material redundante, uma forma de garantir a economia da gramática.

A estratégia de movimento ATB foi já alvo de várias análises em relação ao local para onde e de onde se dá o movimento de constituintes. Alguns autores propuseram que o movimento se dava para o exterior da estrutura coordenada e de duas posições para apenas uma. Outras propostas apresentam a possibilidade de o movimento do constituinte ocorrer no interior dos termos coordenados.

A propósito da configuração sintática das estruturas com extração simultânea de clíticos, Matos (2000) apresenta argumentos que mostram que, nas frases coordenadas em que há extração simultânea de constituintes, é possível assumir que o elemento que c- comanda a categoria vazia a que está associado ocorre na periferia esquerda fora da estrutura coordenada, ou, alternativamente, ocorre no interior do primeiro termo.

28 Movimento ATB e Elipse obedecem a uma estratégia de economia em que se omite tudo o que é

recuperável. Porém, os constituintes omitidos resultantes de movimento ATB apresentam sensibilidade a ilhas, diferentemente daqueles que resultam de elipse. Recorrendo a esta e outras propriedades, Raposo (1986) e Matos (1992) distinguem objeto nulo (movimento de objeto) de elipse de VP.

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Embora existam várias propostas no que concerne à posição de onde se dá o movimento nestas configurações, considera-se que, em frases em que há movimento simultâneo, a interpretação dos constituintes omitidos é de partilha dos traços referenciais, uma vez que se considera que o movimento de constituintes deixa um vestígio / uma cópia.

No que diz respeito a sujeitos omitidos em coordenadas, Costa, Faria e Matos (1998: 178) assumem que: “Nas construções coordenadas, a categoria vazia na posição de sujeito vê a sua referência obrigatoriamente fixada pelo sujeito da primeira oração sugerindo que entre o antecedente e a categoria vazia se estabelece uma relação de c- comando (…)”. As autoras referem ainda que o constituinte que ocupa a posição de sujeito do segundo termo coordenado pode apresentar características de vestígios de extração simultânea ou de um pronominal, sendo semelhante ao elemento que ocorre em frases-raiz com sujeitos nulos. Costa, Faria e Matos (1998: 179) assumem que “No primeiro caso, o problema da co-referência estaria explicado – numa cadeia de movimento, a identificação do vestígio é feita pelo seu antecedente sob c-comando local (…)”.

Ainda a respeito de correferência de sujeitos, Colaço (2005: 304-5) refere que se a intenção for induzir correferência, o falante optará por uma construção em que há extração simultânea e em que apenas o primeiro constituinte é realizado foneticamente. A construção de uma estrutura em que ocorrem constituintes semelhantes (expressões referenciais ou pronominais) nos dois termos coordenados será escolhida apenas para a obtenção de leituras disjuntas.

Tendo em conta alguns dos aspetos referidos, a autora conclui:

(i) A ocorrência de movimento simultâneo verifica-se em frases em que um constituinte está relacionado por movimento com categorias vazias que ocorrem em ambos os termos coordenados. Esta forma de movimento induz, geralmente, uma interpretação em que esse constituinte refere uma mesma entidade que participa nas predicações contidas nos dois termos coordenados.

(ii) A ocorrência de movimentos paralelos no interior dos termos coordenados verifica- se quando ocorrem constituintes referencialmente distintos nos termos coordenados. Neste caso, não é produzida a interpretação que decorre do movimento simultâneo.

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Diferentemente da teoria de Extração Simultânea (Across-The-Board), as propostas como Movimento Lateral (Sideward Movement, Nunes 2001, 2004), Multidominância (Multidominance, de Vries 2009) e Merge Paralelo (Parallel Merge Citko 2005) caracterizam-se por serem casos de merge externo29. Independentemente das várias propostas que concernem ao local de onde se dá o movimento, é unânime a ideia de que, nas estruturas em que há extração de constituintes across-the-board, há movimento de constituintes e não há merge de material novo.