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4.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MODELOS ECONÔMICOS DISTINTOS: TENTANDO ALCANÇAR A SUSTENTABILIDADE

4.3.2 ALTERNATIVAS NÃO-CAPITALISTAS

Tanto a economia ambiental neoclássica quando a economia ecológica têm um posicionamento ecocapitalista, de princípios antropocêntricos, individualistas (LIMA, 1997). Foladori (2001) se mostra um grande crítico tanto da economia ambiental quanto da economia ecológica, apesar de reconhecer os avanços da questão ambiental no cenário político a partir dessas vertentes da economia, que pecam por tentar resolver a questão ambiental dentro de uma perspectiva capitalista. Para ele, se o problema social não for resolvido, a questão ambiental continuará sem solução.

Nos últimos anos tem surgido e ressurgido muitas correntes não capitalistas a fim de se resolver o problema do colapso da humanidade. Lima (1997) expõe várias outras correntes de pensamento, de acordo com a ética envolvida, tal como a ecologia profunda (

deep ecology

) que se mostrou uma alternativa ecocêntrica, de tendência individualista. A ecologia profunda pretende reconectar o ser ao seu ambiente, acabar com a alienação do homem em relação à natureza. Macy & Brown (2004) tem difundido práticas de reconexão com a natureza de forma brilhante. Mas não se sabe ainda o alcance dessa corrente de pensamento e se ela seria capaz de modificar a relação do homem com a natureza a ponto de modificar toda uma estrutura econômica.

O marxismo também foi resgatado através da corrente ecossocialista ou ecomarxista, que segue princípios antropocêntricos e comunitários (LIMA, 1997). O prefixo eco adicinado ao marxismo faz pensar que Marx ao formular sua crítica ao capitalismo, não levou em consideração os fatores maléficos do capitalismo sobre o ambiente, mas como vimos no capitulo anterior, autores como Foster (2005) tem buscado nas obras de Marx, as críticas à degradação ambiental provocada pelo sistema capitalista e não são poucas. A alienação do

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homem à natureza; a falha metabólica; bem como a ação das fábricas que poluem o ambiente e prejudicam a saúde dos homens.

A corrente ecossocialista é bastante criticada, pelo fato do socialismo ter sido responsável também por degradação ambiental. Foladori (2005, p. 106), mostra de forma bastante elegante que:

No capitalismo, a degradação estava comandada pela economia. No socialismo, a degradação estava comandada pela política que atuava, por sua vez, com o objetivo de igualar a economia capitalista. O interessante é que ao estar comandada pela política, o resultado da degradação é não é forçoso, como demonstra o caso da atual expansão da agroecologia e dos controles agrícolas biológicos em Cuba38.

Althusser também chama a atenção para o fato de que muitos dos conceitos trabalhados por Marx têm sido mal interpretados, levando a uma sensível perda de forças para uma mudança verdadeira, correndo-se o risco de ficar preso na “ideologia economicista-tecnicista-jurídica-humanista-burguesa do trabalho”. Foi o que aconteceu com os países que optaram pelo sistema socialista, que desde o final do século passado tem permitido a abertura com o comércio mundial, aderindo à globalização e também permitindo a entrada de grandes empresas multinacionais, aderindo também à privatização de empresas.

Dessa forma, Foladori (2001, p. 161), acredita que a economia política deveria substituir o capitalismo:

Só uma sociedade organizada a partir de uma economia política, na qual as decisões econômicas sejam resultado da vontade coletiva conscientemente expressa; em que as diretrizes não provenham dos preços, mas dos interesses de longo alcance da população, não deixando como faz a sociedade capitalista, uma decisão tão importante nas mãos das forças ocultas do mercado.

Meszáros (2006) considera que o socialismo só será atingido com a reaquisição dos indivíduos dos poderes de tomada de decisão, aos quais estão alienados. Idéia esta também presente em (HARNECKER &URIBE, 2001, p.38), porque,

por mais que o Estado capitalista avance no controle e no planejamento da economia, quem se beneficia é sempre a minoria capitalista. O

38 En El capitalismo, la degradación estaba comandada por la economía. En el socialismo, la

degradación estaba comandada por la política que actuaba, a su vez, con el objetivo de igualar la economía capitalista. Lo interesante es que el estar la degradación comandada por la política el resultado no es forzoso, como lo demuestra el caso de la actual expansión d la agroecología y de los controles agrícolas biológicos en Cuba.

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planejamento que interessa à maioria só pode ser feito depois de destruído o Estado Capitalista, depois de instaurado o Estado proletário, em que os meios de produção são possuídos por toda a sociedade. Então sim, o estado pode planificar e organizar a produção de forma a beneficiar toda a sociedade.

Uma corrente que vem tomando maiores proporções no Brasil é a economia solidária. Nesse tipo de economia a moeda de troca não é o capital e sim a solidariedade, é o indivíduo que escolhe o preço da mercadoria, dependendo da sua necessidade de se ter algo. A economia solidária, teoricamente, é formada por cooperativas autogestionárias, em que cada trabalhador tem direito a um voto, mas na prática um trabalhador assalariado é contratado para gerir a empresa e por esse motivo acaba ganhando muito poder (SINGER, 2003). Acredita-se, entretanto, que essa perspectiva, longe de ser uma “função social revolucionária, […] representa um retrocesso ideológico.” (WELLEN, 2008), não se tratando na realidade de uma alternativa ao capitalismo, pois é provável que esse ‘solidarismo’ caísse nas flutuações da economia do mercado (GAIGER, 2003).

Ambientalistas e cientistas no mundo inteiro tem se unido em prol de encontrar alternativas capitalistas ou não, para resolver os problemas relacionados com os limites impostos pela natureza e também pelos limites de um sistema que degrada não só a natureza como a própria humanidade. Os conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável estão sendo muito importantes e muito usados nesses debates. O problema é que esses conceitos são redefinidos e reformulados para se adequar aos interesses de algumas classes, dependendo também da ética adotada. A sustentabilidade ambiental é de fato o conceito mais conciso. Trata-se de uma idéia de proteção do ambiente para a manutenção das funções ecológicas importantes para manter a espécie humana na Terra sem que o crescimento da humanidade entre em colapso.

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