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4.2. AS MULTIDIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE

4.2.3 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL, CONSERVAÇÃO E CAPACIDADE DE SUPORTE – TRÊS CONCEITOS INSEPARÁVEIS

4.2.3.1 CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES X POBREZA

A biologia da conservação é uma ciência que nasce no final do século XX, no intuito de associar teoria e prática em uma visão transdisciplinar, objetivando a diminuição da perda da diversidade biológica em todo o mundo (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Já não é novidade alguma que as ações humanas têm provocado o aumento da extinção das espécies. De fato, a extinção de espécies é um fenômeno natural, bem como a evolução de espécies, mas o homem aumentou em mil vezes o índice de extinção, além de limitar a capacidade das espécies em evoluir (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). São vários os fatores que levam à extinção, entre eles, a destruição/fragmentação do habitat, a degradação e poluição de ecossistemas, a sobreexploração de espécies, bem como a introdução de espécies exóticas em ambientes (PRIMACK &RODRIGUES,2001;RICKLEFS,2003).

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A diversidade biológica ou biodiversidade - riqueza de espécies no planeta - é importante para a sobrevivência contínua das espécies, inclusive a humana (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). A diminuição da biodiversidade representa risco para todas as espécies. Atualmente são conhecidas 1.500.000 espécies, mas estima-se que existam entre 10 e 30 milhões de espécies (RICKLEFS, 2003), algumas serão extintas antes de as conhecermos. Autores divergem quanto aos componentes da biodiversidade, que podem ser classificados em diversidade genética, donde se inclui toda a diversidade genética inter e intra-específicas e a diversidade ecológica, que inclui toda a diversidade com que as espécies se relacionam e do habitat em que vivem (PRIMACK &RODRIGUES,2001;RICKLEFS, 2003).

Para a conservação das espécies, é preciso, portanto, quantidade suficiente de habitat que suporte uma população mínima viável, ou seja, “a menor população que se pode auto- sustentar em face à variação ambiental” (RICKLEFS, 2003, p. 455). Uma solução muito utilizada para a conservação de espécies é a criação de unidades de conservação, que são muito importantes, mas podem acabar sendo, na realidade, nada mais que pequenos fragmentos de mata que sofrem com os efeitos da fragmentação (efeito de borda, perda da biodiversidade), perdendo funções ecológicas importantes como a conservação do solo, a manutenção dos sistemas aqüíferos, por exemplo.

Em muitos casos, a proteção dos ecossistemas está relacionada com a preservação de áreas verdes e com a exclusão de seres humanos que, porventura, habitem tais lugares. Indivíduos normalmente desprovidos de riqueza, que encontram em manguezais ou em encostas, seu local de moradia ou também para alguns, fonte de renda. Tal como vem acontecendo em diversas comunidades pesqueiras no litoral brasileiro. No Recife, nas Comunidades do Bode e de Brasília Formosa, a tradição de pesca está sendo perdida por causa da diminuição dos estoques pesqueiros (MORIMURA, 2006), que pode estar relacionada tanto com a sobreexploração de espécies, mas especialmente, pela poluição das águas desses rios. Também é muito comum a especulação imobiliária, nessas áreas, pois o litoral é almejado por todos, mas só as pessoas que tem renda elevada têm o “direito” de morar “à beira do mar”.

É certo que existem dois tipos de unidades de conservação. Aqueles de proteção integral e as de uso sustentável. Dependendo da situação de conservação do local, é necessário fechar a área para o repovoamento de espécies, como demonstrado no Projeto ‘Recifes Costeiros’, uma parceria entre UFPE e IBAMA (SNE, 2007), que melhora inclusive a biodiversidade nas áreas circunvizinhas, melhorando a vida de quem depende desses recursos para viver.

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O problema em manejar essas áreas de proteção é justamente em determinar a quantidade de recursos que pode ser retirado, sem prejuízo das funções ecológicas do ecossistema. Essa forma de manejo de ecossistemas pode ser entendida como exploração sustentável de recursos renováveis. A noção de florestas sustentáveis data de 1849 (FAUSTMAN

Apud

HILBORN et. al, 1995). Alguns pesquisadores já elegeram sete princípios para a conservação das espécies, um dos quais, a regulação do uso dos recursos naturais a partir da compreensão da estrutura e da dinâmica dos ecossistemas e da capacidade de reprodução das espécies (MANGEL, et al, 1996), entretanto, mudanças temporais nas condições ambientais comprometem a utilização das informações no futuro e acabam por levar cientistas a permitirem uma exploração muito superior à capacidade de reprodução, levando à diminuição da biodiversidade (HILBORN et al, 1995). A capacidade de regeneração das espécies após mudanças nas condições ambientais está relacionada com a resiliência das espécies, mas não existe nenhum mecanismo que garanta a manutenção da resiliência (GUNDERSON, 2000)

Também é importante verificar a capacidade de suporte do ambiente, ou seja, o número de indivíduos que o ambiente pode suportar. Até quanto uma população pode crescer? Em ambientes naturais, as populações de animais estão sempre aumentando e declinando, devido a diversos fatores. Que fatores são esses? Essa preocupação com a quantidade de indivíduos que um ambiente pode suportar está relacionada com o rápido crescimento da população humana que duplicou sua população em 40 anos no último século (RICKLEFS, 2003), além de estudos que indicam que a população humana atingirá a capacidade de suporte do ambiente no século XXI e declinará rapidamente (MEADOWS et al., 1978, MEADOWS et al. 2004). Desde então, estudos foram feitos no sentido de compreender quais fatores são responsáveis pelo crescimento populacional. Alguns fatores que interferem no crescimento populacional são: a própria densidade populacional; a estrutura etária; a taxa intrínseca29; além dos fatores extrínsecos30 (RICKLEFS, 2003).

A capacidade de suporte do planeta com relação à população humana poderá aumentar se houver equidade social, entretanto, o nível de consumo não poderá ser igualado pelo topo (DAILY & EHRLICH, 1996). Será necessário um esforço por parte da minoria rica, de se diminuir o consumo. Cálculos feitos demonstram que um suíço consome a mesma quantidade de recursos que 40 somalianos (IUCN/UNEP/WWF, 1980). Preocupados com essas diferenças existentes entre os povos e no consumo individual, para saber o que pode ser ou não sustentável, foram desenvolvidos alguns indicadores de

29 É a capacidade da população crescer se as condições ambientais permanecessem constantes. 30 Que reflete a relação da espécie com o ambiente, por exemplo, quando uma população cresce

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sustentabilidade. Alguns desses indicadores são o Environment Sustainability Index (ESI- 2002), o Índice de Degradação Ambiental, o Índice de Bem-Estar de Prescott-Allen; e a Pegada Ecológica31 (VEIGA, 2005).

A pegada ecológica tem sido bastante utilizada por ambientalistas e cientistas no mundo inteiro. Existe inclusive um sítio na internet que permite que o usuário calcule a sua pegada ecológica, fazendo-o repensar sobre a forma como vive. A análise da pegada ecológica “contrasta o consumo dos recursos pelas atividades humanas com a capacidade de suporte da natureza e mostra se seus impactos no ambiente global à (sic) longo prazo” (CIDIN &SILVA,2004, p. 46). Através dessa análise, Rees (2002) demonstrou que o impacto de países desenvolvidos como os Estados Unidos e a Austrália é bastante elevado, variando de 5 a 10 ha a necessidade per capita contrastando com a necessidade de países em desenvolvimento, que varia de menos de 1 ha a 2 ha (FIGURA 8).

FIGURA 8 - Pegada Ecológica per capita em países no ano de 1997 (Rees, 2002, p.38).

A média é de 2,8 ha, o que significa que a humanidade como um todo necessita de 17 bilhões de ha, mas só temos 12 bilhões disponíveis, o que significa dizer que ultrapassamos (

overshot

) a capacidade de suporte da Terra em 40% (Rees, 2002). Meadows

31 desenvolvida por ONGs, que são importantes como ferramentas aos ambientalistas a fim de

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(2004) afirma que desde a década de 1980 a capacidade de suporte foi ultrapassada e em 1999 chegamos a usar 20% de recursos a mais do que a Terra pode recompor e de poluentes que a Terra pode absorver (FIGURA 9). Apesar desses cálculos ainda não serem muito precisos e da complexidade das informações requeridas, muitos dos que trabalham nessa perspectiva chegaram à mesma conclusão:

Ultrapassamos a capacidade de suporte da

Terra

!

FIGURA 9 - Pegada Ecológica X Capacidade de Suporte (Meadows et. al, 2004)

A pegada ecológica está fundamentada nos princípios da sustentabilidade32, da

equidade33 e do

overshoot

34 (CIDIN & SILVA, 2004). Devido à complexidade do assunto, é

importante que a comunidade tão diversa de cientistas da conservação trabalhe cooperativamente orientada por princípios ecológicos, para resolver os problemas ambientais de forma inovadora (SHARITZ et. al, 1992). Sabe-se ainda que as instituições mais bens sucedidas na utilização sustentável das espécies são comunidades em pequena escala ou negócios privados (HILBORN et al, 1995).

De fato, muito do que está sendo feito é na realidade para proteção da vida humana, apenas, seguindo uma ética antropocêntrica. É preciso sempre lembrar que as funções dos ecossistemas não são substituíveis (O’NEIL et al, 1996) e que,

32 que a carga humana esteja em consonância com a capacidade de suporte.

33 entre gerações e ao longo do tempo; regional, comparando o impacto entre nações e dentro delas;

e também entre espécies, comparando o quanto a humanidade domina a biosfera em detrimento de outras espécies.

34 limite na relação entre matéria e energia, ultrapassado esse limite, a natureza não poderá mais se

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a vida humana depende de outras espécies por alimentação, abrigo, ar respirável, polinização de plantas, assimilação dos resíduos e outros serviços ambientais de suporte da vida. O grande valor instrumental das espécies não-humanas para humanos é grosseiramente subestimado pelos economistas (GOODLAND, 1995, p.7).