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A revisão da literatura demonstra que há experiências de sucesso e diversas alternativas para o desenvolvimento de seguros de receita agrícola. As modificações, substituições e descontinuidades dos modelos apresentados permitem que as vantagens,

desvantagens e limitações sejam apreendidas na eventual adaptação dos programas existentes ao mercado brasileiro.

Conforme apresentado, as iniciativas de estabilização da renda agrícola inserem-se em duas grandes vertentes. Uma baseada no aporte de recursos públicos, visando à suplementação de renda por meio de programas de garantia de preços, emergenciais e de assistência a desastres naturais. Outra baseada no instrumento clássico de seguro privado, no qual a empresa agropecuária paga um prêmio a uma companhia seguradora para transferir os riscos a que está exposta, a fim de proteger o seu negócio.

Conforme defendido por Dismukes e Coble (2006), é fundamental no desenho do plano de seguro que os preços utilizados reflitam fielmente as condições de comercialização, a fim de evitar interferência nos sinais e expectativas de mercado, assim como os problemas de sobre-seguro e sub-seguro decorrentes do distanciamento dos preços utilizados nas apólices dos correntes no mercado. Assim, no caso brasileiro, é importante que se utilize também preços alinhados com a realidade do mercado físico, e se evite a fixação de preços-meta que podem facilmente descolar dos preços de mercado.

No Brasil, a BM&FBOVESPA oferece comercialização a futuro para as principais commodities, caso da soja e do milho, por exemplo. Entretanto, na ausência de contratos futuros para determinado produto agrícola, é possível utilizar outros produtos como

proxy, como por exemplo o milho para o sorgo, ou se utilizar cotações de outros mercados,

utilizando correção para a diferença de base. Contudo, é essencial que as informações de preços sejam críveis e públicas, tendo em vista que impactarão todo o fluxo financeiro da operação, desde o pagamento do prêmio até a eventual indenização.

Quanto às informações sobre produtividade no Brasil, há que se admitir a fragilidade das bases de dados. As informações são coletadas com metodologias díspares nos estados. A principal fonte de informação em nível municipal no Brasil é o IBGE, por meio da PAM – Pesquisa Agrícola Municipal. Estados como São Paulo e Paraná dispõem de informações coletadas pelas suas respectivas Secretarias de Agricultura, mas isso não vale para todos os Estados e a consistência dessas informações também é questionável.

A precariedade de dados em nível de fazenda é ainda maior, pois históricos de produtividade das fazendas só são encontrados em algumas cooperativas agrícolas ou, em raros casos, em fazendas que mantêm um sistema de registro técnico. Não dispor de informações históricas de produtividade implica duas dificuldades: 1) de definição correta do nível de produtividade garantida para a propriedade e 2) de cálculo do risco e do prêmio de seguro ofertado pela seguradora. Essas situações podem levar à fixação de uma taxa abaixo da

de equilíbrio, com consequências atuariais negativas para a seguradora, ou na determinação de taxa superior a de equilíbrio, levando à baixa demanda pelo produto de seguro.

A fim de avaliar as implicações da eventual adaptação dos modelos de seguro de receita estudados ao mercado brasileiro foi elaborado um quadro resumo, destacando as informações de produtividade e preço necessárias a sua construção, bem como as vantagens, desvantagens e limitações de implantação no Brasil. Os planos foram divididos em individuais e de grupo ou índice, conforme apresentado no Quadro 19.

Descrição

Individuais Grupo ou

índice RP (HPE) AgrInsurance (Alberta) IIP AGR e AGR-Lite (HPO) GRIP Produtividade Histórico da fazenda Histórico da fazenda Histórico da

fazenda e município Utiliza apenas o histórico de renda bruta declarado

Histórico municipal

Preços Preços futuros de

Bolsa Preços futuros de Bolsa ou projetados Preços futuros de Bolsa Preços futuros de Bolsa

Vantagens 1) Indeniza com

base em sinistro da própria fazenda 2) Oferece cobertura para variação de preço de colheita 1) Indeniza com base em sinistro da própria fazenda 2) Oferece cobertura para variação de preço de colheita (opcional para acréscimo ou redução) 1) Indeniza com base em sinistro da própria fazenda 2) Oferece cobertura para variação de preço de colheita 1) Menor custo administrativo 2) Utiliza informações já disponíveis (declaração de renda) 1) Oferece cobertura para variação de preço de colheita 2) Menor custo admin. 3) Não requer histórico de produtividade das fazendas Desvantagens 1) Alto custo administrativo

2) Prêmio elevado

3) Requer histórico de produtividades individuais 1) Alto custo administrativo 2) Prêmio elevado 3) Requer histórico de produtividades individuais e municipais 1) Pode utilizar informações não críveis (imposto de renda) 2) Dificuldade de determinação do prêmio 1) Indeniza com base em evento (sinistro) externo à fazenda Limitações à implantação no Brasil

1) Não pode acessar o FESR

2) Para se beneficiar da isenção de impostos, preço e produtividade precisam estar na mesma equação

3) Ausência de históricos de produtividade críveis no âmbito das fazendas

1) Não pode acessar o FESR 2) Os históricos de produtividade municipal são publicados com defasagem no Brasil pelo IBGE, inviabilizando a indenização imediata 1) Depende de adaptações nas declarações de IR 2) A viabilidade dependerá de quão críveis forem as informações declaradas 3) Produto inédito que depende de complexa regulamentação 1) Históricos de produtivid. municipal são publicados com grande defasagem, inviabilizando a indenização imediata 2) Produto inédito que depende de aprovação na SUSEP Quadro 19 - Vantagens, desvantagens e limitações à aplicação dos principais modelos de

seguro de receita Fonte: Elaborado pelo autor

Os planos individuais são aqueles em que a indenização é fundamentada nas informações da própria fazenda, enquanto os planos de grupo ou índice são baseados em informações externas à fazenda. Para simplificar a análise, não foram apresentados os produtos RA, CRC e IP, por estarem contemplados atualmente no RP. Do mesmo modo, programas que não se enquadram na modalidade de seguro privado de receita não foram inseridos.

Com pequenas variações, e excluindo os programas AGR e AGR-Lite, que se utilizam das informações consolidadas da declaração de renda dos produtores, os programas individuais baseiam-se nas informações de produtividade das fazendas e de preços negociados em bolsa para a determinação das coberturas.

Nos Estados Unidos a dificuldade de obtenção de dados em nível de fazenda também foi uma limitação ao avanço do seguro. Para contornar esse problema foi desenvolvido um sistema de registro histórico da produção (APH), atualizado de acordo com a comprovação das informações pelo segurado. Com base na produção/produtividade comprovada, o produtor pode acessar diferentes planos de seguro.

As limitações à implantação dos modelos, citadas no Quadro 19, não inviabilizam a implantação de seguros de receita no Brasil, mas exigem adaptações até que a quantidade e a qualidade das informações aumentem e o mercado de seguros amadureça.

Dos modelos de seguro de receita apresentados, os mais simples são o receita garantida sem cobertura para preço de colheita (RA-BP) e o proteção de renda (IP), que não contam com dispositivo para cobrir a elevação de preço de colheita. Esses produtos, atualmente, equivalem-se ao plano de proteção de receita com exclusão do preço de colheita (RP-HPE). Os modelos recentemente lançados no Brasil, pela Companhia de Seguros Aliança do Brasil e Swiss Re, basicamente, seguem esse modelo.

Entende-se que essas empresas adotaram o caminho correto para lançarem seus produtos, pois optaram por modelo de menor complexidade e maior facilidade de compreensão. O estágio seguinte, em termos metodológicos e de cobertura, deve ser ofertar o equivalente ao plano estadunidense de proteção de receita com cobertura para elevação de preço de colheita (RP), quando tornarem disponível esse dispositivo como opção na contratação da apólice.

Embora o IIP indenize com base na produção da fazenda, ele depende, assim como o GRIP, das produtividades médias municipais, e isso é uma enorme limitação, tendo em vista que os dados da PAM/IBGE chegam a ficar defasados por duas safras, o que é inconcebível como lapso temporal para proceder indenizações.

Em relação ao AGR e AGR-Lite, há duas grandes limitações a sua adoção. O primeiro problema diz respeito à ausência ou incompletude das informações baseadas na receita total da fazenda, que não permitem a correta mensuração dos riscos cobertos e, por sua vez, o apreçamento do seguro. O segundo decorre da característica da própria base de informação utilizada que, ao ser proveniente de declaração espontânea para fins de ajuste do imposto de renda, pode ser tendenciosa.

Além disso, a utilização de informações da declaração de renda é bastante restrita no Brasil, além de que para construir um seguro a partir dessa base de informação, provavelmente, será necessária uma adaptação/complementação dos campos de preenchimento. A utilização dessas informações implica alteração na legislação da receita federal, ultrapassando os limites da regulamentação de um novo produto de seguro.