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2.2 Seguro Rural no Brasil

2.2.2 Base legal do Seguro Privado

2.2.2.1 Seguradoras

As seguradoras dependem de autorização do Ministério da Fazenda para operar, o que ocorre a partir de requerimento dos incorporadores ao CNSP, apresentado por meio da SUSEP, juntamente com parecer desta Superintendência sobre a conveniência e viabilidade de operação da empresa seguradora. Uma vez autorizada a funcionar por meio de Portaria do referido Ministério, a seguradora terá 90 dias para atender as exigências impostas, quais sejam: subscrição de ações do capital do IRB-Brasil Re; ter efetuado registros e publicado os atos exigidos por lei para o funcionamento; ter satisfeito as exigências porventura constantes na Portaria de autorização e cumprido exigências suplementares estabelecidas pela SUSEP.

Depois desse trâmite e atendidas todas as exigências, o Ministério da Fazenda expedirá a Carta Patente para o funcionamento da seguradora, a qual deverá ser registrada na SUSEP e arquivada em órgão de registro do comércio da sede da empresa, obtendo assim direito ao início das operações (BRASIL, 1967).

As seguradoras, para fins de constituição e funcionamento, deverão obedecer às condições gerais da legislação das sociedades anônimas e as específicas estabelecidas pelo CNSP, além de comprovarem a disponibilidade do capital mínimo inicial e capital adicional variável, dependendo do ramo de seguros em que venham a operar.

É importante mencionar que a aplicação das reservas técnicas e fundos das seguradoras obedece às diretrizes fixadas pelo Conselho Monetário Nacional – CMN, ouvido previamente o CNSP. Isto significa que o capital arrecadado pelas seguradoras via cobrança de prêmios tem uma destinação restrita e controlada pela SUSEP, a fim de evitar a aplicação dos recursos em ativos de risco ou baixa liquidez. Por sua vez, os bens garantidores das reservas técnicas e fundos não poderão ser alienados ou gravados sem prévia autorização da SUSEP.

São obrigações das seguradoras: i) publicar relatório da diretoria, balanço, conta de lucros e perdas e parecer fiscal até 28 de fevereiro de cada ano, no Diário Oficial da União ou outro jornal de grande circulação; ii) realizar assembleia geral ordinária até 31 de março de cada ano; iii) enviar à SUSEP a documentação pertinente às assembleias gerais, nomeação de agentes e representantes autorizados, modificações na diretoria e no conselho fiscal, balanços e demais atos exigidos; iv) manter na matriz, sucursais e agências os registros adotados a mando da SUSEP, com escrituração completa das operações efetuadas e v) encaminhar dentro de 45 dias, contados do término de cada trimestre, os dados estatísticos das

operações efetuadas durante o referido período, organizados de acordo com as normas e instruções expedidas pela SUSEP.

As empresas seguradoras estão sujeitas ao regime de funcionamento, constituição e organização fixado no Decreto-Lei nº 2.063, de 07 de março de 1940, que abrange as sociedades anônimas, as mútuas e as cooperativas dedicadas ao seguro agrícola. No referido diploma legal são apresentadas as declarações que devem constar no estatuto social de cada sociedade, os poderes e obrigações da assembleia geral, a configuração societária permitida, as condições e vedações impostas aos administradores, regras para dissolução das sociedades, forma de subscrição do capital social, percentuais para reserva de garantia e proporção para aplicação em distintos ativos, além das disposições sobre o regime de fiscalização (BRASIL, 1940).

O citado Decreto-Lei nº 2.063 determina que 50% do capital integralizado pelas seguradoras constituirão garantia suplementar permanente das reservas técnicas. O capital mínimo exigido pela seguradora precisa ser empregado nas opções abaixo, levando em conta a maior ou menor facilidade de negociação e a depreciação: a) em depósitos em bancos no país; b) em títulos da dívida pública federal interna; c) em títulos da dívida pública interna estadual ou do Distrito Federal, e cuja cotação não seja inferior a 70% do seu valor de face; d) em títulos que gozem da garantia da União, dos Estados ou do Distrito Federal, e que satisfaçam as condições da alínea anterior; e) em ações integralizadas e debêntures, emitidas por sociedades, ou bancos, com sede no Brasil, e de fácil negociação nas bolsas do país, desde que há mais de três anos não tenha tido cotação inferior a 70% do valor nominal; f) em empréstimos sob caução dos títulos referidos nas alíneas anteriores, até o máximo de 80% do valor desses títulos pela cotação oficial; g) em imóveis urbanos situados no Distrito Federal e nas capitais ou principais cidades dos Estados e h) em hipotecas sobre imóveis urbanos nas condições precedentes, até o máximo de 50% do seu valor.

As sociedades seguradoras que operam seguros dos ramos elementares12 estão obrigadas a constituir reservas, como garantia das operações, em caso de sinistros. A regulamentação da aplicação de recursos das sociedades seguradoras e resseguradores locais está disposta na Resolução CNSP nº 226/2010 e nas Resoluções do CMN nº 3.308/2005, nº 3.543/2008 e nº 3.557/2008.

12 Seguro de ramo elementar é aquele que não é vida e tenha por fim garantir perdas e danos, ou

responsabilidades, provenientes de riscos de fogo, transporte, acidentes pessoais e outros eventos que possam ocorrer afetando pessoas e coisas (art. 40 do Decreto-Lei nº 2.063, de 07 de março de 1940).

A Resolução nº 226, de 06 de janeiro de 2010, dispõe sobre os critérios para a realização de investimentos pelas sociedades seguradoras e resseguradores locais, tendo como premissas às operações a garantia de segurança, rentabilidade, solvência e liquidez. Os investimentos, inclusive aqueles integrantes da carteira FIE13 – Fundo de Investimentos, devem ser registrados em nome da seguradora, conforme o caso, no Sistema Especial de Liquidação e Custódia – SELIC, em sistema de registro e de liquidação financeira de ativos autorizados pelo Banco Central do Brasil – BACEN ou em instituições ou entidades autorizadas a prestar serviço pela referida autarquia ou pela CVM - Comissão de Valores Mobiliários.

As operações com derivativos devem ser feitas exclusivamente para proteção da carteira, podendo, inclusive, realizar operações de síntese de posição no mercado à vista, que significa a utilização de derivativos com o objetivo de sintetizar estruturas financeiras negociadas no mercado à vista. Portanto, é vedada a realização de operações com derivativos que incluam a venda de opções a descoberto, bem como não podem ser realizadas na modalidade “sem garantia”.

A regulamentação atinente à aplicação dos recursos das reservas, das provisões e dos fundos das sociedades seguradoras, especificamente, está no anexo da Resolução CMN nº 3.308, de 31 de agosto de 2005, com as alterações da Resolução CMN nº 3.557, de 27 de março de 2008.

De modo geral, os recursos devem ser aplicados em renda fixa, em renda variável ou em imóveis, respeitando-se os limites e condições fixadas para cada segmento de investimento.

As aplicações na renda fixa estão classificadas em limites máximos de aplicação, de acordo com o risco do investimento: i) até 100% da aplicação (títulos do Tesouro Nacional, títulos do Banco Central do Brasil etc.); ii) até 80% (letras hipotecárias, letras de câmbio etc.); iii) até 10% (cotas de fundos de investimento de dívida externa, cotas de fundos de investimento em direitos creditórios etc) e iv) até 5% (cédulas de produto rural, letras de crédito do agronegócio, certificados de direitos creditórios do agronegócio e certificados de recebíveis do agronegócio).

As aplicações em renda variável estão limitadas a até 49% do conjunto de investimentos da sociedade seguradora. Até esse limite as seguradoras podem aplicar em

13 FIE – Fundo de investimento ou Fundo de investimentos em cotas de fundos de investimentos constituído

especificamente para a recepção, direta ou indireta, dos recursos provenientes de sociedades supervisionadas (BRASIL, 2010b).

ações de empresas integrantes do novo mercado da BM&FBOVESPA, cotas de fundo de investimentos classificados como fundo de ações e fundos referenciados em índices de ações da BM&FBOVESPA, entre outros, desde que essas opções de aplicação cumpram certas exigências quanto à composição de carteira, forma de operação, classificação de risco e transparência.

A outra possibilidade de alocação de recursos é no segmento de imóveis, sendo que são permitidas aplicações diretamente em imóveis ou em fundos de investimento imobiliário, de acordo com BACEN (2005). A primeira alternativa restringe-se a imóveis urbanos, até o limite de 8% do valor da carteira; enquanto a segunda opção, de aplicação em fundos de investimento, não pode ultrapassar 10% do valor da carteira.

Aplicação total em um único imóvel não pode ser maior que 4% do valor absoluto dos recursos garantidores. Estão previstos também critérios de diversificação, com limites de exposição da carteira aos ativos. As alocações, por exemplo, em títulos ou valores mobiliários de uma mesma pessoa jurídica, que não financeira, não podem exceder 10% do valor total dos recursos. Em 2008, o CMN estendeu aos resseguradores locais as normas previstas na Resolução nº 3.308/2005, que dispõe sobre a aplicação dos recursos das reservas e provisões, que abrangiam apenas as seguradoras.

As provisões técnicas das seguradoras são aprovadas pela SUSEP e podem ser relacionadas a um produto, plano ou carteira. Cada provisão técnica especificada deverá manter uma nota atuarial, elaborada pelo atuário legalmente responsável (BRASIL, 2006).

Com o intuito de garantir as operações, as sociedades seguradoras estão obrigadas a, mensalmente, constituir as seguintes provisões técnicas, no caso do seguro rural: i) Provisão de Prêmios Não Ganhos (PPNG); ii) Provisão Complementar de Prêmios (PCP); iii) Provisão de Insuficiência de Prêmios (PIP); iv) Provisão Matemática de Benefícios a Conceder; v) Provisão de Sinistros a Liquidar (PSL); vi) Provisão de Sinistros Ocorridos e Não Avisados (IBNR) e vii) Provisão Matemática de Benefícios Concedidos.

A Resolução CNSP nº 162, de 26 de dezembro de 2006, detalha a forma de constituição das referidas provisões, que estão atreladas a diferentes riscos ou eventos. Não se deseja aprofundar a análise nas diferentes provisões que as seguradoras precisam constituir, mas destacar que cada uma delas requer uma nota atuarial específica e, ao ser constituída, é associada aos ativos garantidores investidos, levando em consideração os recursos arrecadados via prêmio comercial retido. Portanto, a exigência de liquidez dos investimentos é condicionada pela natureza da provisão.