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Conta estabilizadora da renda líquida (Net Income Stabilization Accounts – NISA)

2.3 Modelos de seguro de receita

2.3.2 Canadá

2.3.2.2 Conta estabilizadora da renda líquida (Net Income Stabilization Accounts – NISA)

O NISA entrou em operação em 1992. O programa funcionava com uma conta de estabilização de renda, na qual o produtor realizava depósitos e os Governos Federal e das Províncias complementavam esse montante, sendo que o capital era remunerado a taxa de 3% ao ano acima da taxa de mercado. Da parcela pública, 2/3 dos recursos eram do Governo

Federal e 1/3 das Províncias. O limite de depósito do Governo era de $ 7.500,00 ou o equivalente a receitas líquidas de $ 250.000,00.

Os produtores podiam contribuir com o equivalente a até 3% das suas receitas líquidas elegíveis para ter a contrapartida do Governo. Entretanto, se desejassem, sem contar com a contribuição equivalente do Governo, os produtores poderiam depositar até 20% das receitas líquidas. Entretanto, esses depósitos adicionais não poderiam ficar sem movimentação por mais de cinco anos. O custo para o produtor aderir ao programa era de $ 55,00.

O objetivo do programa era estimular os produtores a criar reservas nos anos de resultados positivos para poder sacar nos anos de déficit. Esses recursos eram administrados por uma instituição bancária e os produtores acompanhavam a evolução da sua conta estabilizadora.

Para o produtor sacar os recursos da conta estabilizadora ele deveria estar no programa a mais de um ano. O gatilho para a retirada estava atrelado à margem bruta anual da fazenda, pois quando estivesse abaixo da margem bruta média calculada, a partir dos últimos 5 anos-safra, os saques eram autorizados. A margem bruta era determinada pela diferença entre as receitas líquidas, acrescida de contratos de prestação de serviço e aluguel de máquinas, descontadas as despesas elegíveis.

Um dos problemas desse programa é que os produtores só podiam sacar os recursos depois de encerrado o ano-safra, quando as margens eram calculadas. Esse problema foi superado, mais tarde, quando o programa passou por uma revisão que permitia o saque no próprio ano em que surgisse a necessidade (EDELMAN, 2000).

Em 1998 e 1999, NISA recebeu aporte de recursos do programa de assistência à renda agrícola - AIDA51, e entre 2000 e 2003, do programa canadense de renda agropecuária - CFIP52. O aporte desses programas foi instituído para cobrir reduções de renda superiores a 30%, de forma que a reposição da renda com esses programas fosse feita até atingir 70% da renda média histórica do produtor.

Segundo Dismukes e Durst (2006) o programa não estava suficientemente equilibrado para atender diferentes classes de produtores. Os autores sugeriram que os incentivos econômicos da taxa de juros e as potenciais obrigações tributárias nos saques da conta estabilizadora encorajavam os produtores a tomar recursos de outras fontes para cobrir os déficits de renda, ao invés de sacar em suas contas no âmbito do programa NISA.

51 Do inglês: Agriculture Income Disaster Assistance – AIDA. 52 Do inglês: Canadian Farm Income Program - CFIP.

Esses fatores levaram à descontinuidade do programa, pois o NISA e CFIP foram substituídos pelo programa de estabilização da renda agrícola canadense (CAIS), com o intuito de oferecer uma solução combinada de estabilização de renda (margem) e assistência em casos de desastres.

2.3.2.3 Estabilização da renda agrícola canadense (Canadian Agricultural Income Stabilization – CAIS)

O programa CAIS foi instituído no início de 2003, para substituir o programa NISA, unificando os programas de estabilização de renda e assistência a desastres (perdas catastróficas). Ele foi dirigido conjuntamente pelo Governo Federal e das Províncias, com o intuito de estabilizar a receita global das propriedades agropecuárias, cobrindo pequenas e grandes variações (SCHMITZ, 2008).

Como o programa não era operado por companhias seguradoras privadas e a contratação não estava vinculada ao pagamento de um prêmio associado ao risco, ao contrário, dependia do pagamento de uma quantia fixa pelo montante segurado, ele não pode ser considerado um produto típico de seguro privado.

Suas características são de um programa totalmente subsidiado de seguro de receita global da fazenda, que permite aos produtores transferir o risco de redução da receita a um segurador, que no caso é o Governo, ao invés de utilizar fundos acumulados em contas correntes individuais.

O CAIS dava suporte automático aos produtores, independentemente das reservas acumuladas na conta vinculada. Além disso, o Governo não fazia contribuições à conta enquanto o produtor não tivesse uma experiência de frustração da receita. Segundo Dismukes e Durst (2006), esse procedimento foi introduzido para corrigir a distorção do NISA, pois os rendimentos da conta vinculada, inclusive da parte depositada pelo Governo, eram apropriados pelos produtores com taxa de remuneração superior a de mercado, mesmo que o produtor não tivesse sido acometido por um sinistro.

O programa iniciou com a exigência de os produtores manterem um percentual da margem de referência em uma conta do programa CAIS e depois foi substituída por uma taxa fixa de participação de $ 4,50 por cada $ 1.000,00 de margem coberta pelo programa. Assim, ao invés de pagamento de prêmio atrelado ao risco, os produtores participantes faziam depósitos proporcionais à margem segurada. Além disso, diferença de inventário, pela redução de estoques, era também passível de compensação no programa. A diferença de

inventário não se aplicava aos ativos produtivos, caso da pecuária, apenas às commodities comercializadas.

O montante segurado corresponde, na verdade, à margem dos produtores, definida como a diferença entre a receita e as despesas variáveis imputáveis diretamente às atividades agropecuárias.

As indenizações do CAIS dependiam da comunicação dos produtores de que sua margem anual estava abaixo da margem de referência, que era calculada com base na média olímpica dos últimos cinco anos, ou seja, na média de três anos típicos, descartando-se o maior e o menor valor das observações.

Para participar do programa, os produtores deveriam escolher um nível de proteção equivalente a um percentual sobre sua margem histórica, devendo, para tanto, fazer o depósito anual correspondente ao nível de proteção escolhido.

Figura 5 - Camadas de participação e pagamento do programa CAIS Fonte: Adaptado de AFSC (2003)

Quanto maior a redução da margem, maior era o aporte governamental. Caso a margem se reduzisse até 15%, ficando entre 85% e 100% da margem de referência, o produtor recebia 50% da margem reduzida e arcava com os demais 50% (camada 1). Caso a margem situasse-se entre 70% e 85%, o pagamento do governo aumenta para 70% (camada 2). E, caso a redução fosse superior a 30%, para margem inferior a 70% da garantida, a participação do

Camada 1 100% - 85% Camada 2 84,99% - 70% Participação do Produtor Participação do Governo Camada 3 69,99% - 0% 50% 50% 30% 70% 20% 80%

Governo se elevava para 80% da margem reduzida no ano (camada 3). A Figura 5 ilustra a distribuição dessas participações.

O programa CAIS oferecia também uma cobertura para margem negativa, desde que os produtores atendessem determinadas condições, fazendo jus ao recebimento de 60% da margem anual reduzida. Esse benefício era limitado a $ 3 milhões ou 70% da redução da margem anual de referência (DISMUKES; DURST, 2006).