• Nenhum resultado encontrado

A - Ao km 106,300 da EN3 a cerca de 100 metros para Norte, na encosta virada para a povoação de Rio de Moinhos, coordenada: 29S ND 660702;

Foto 3: Pedreira I – Cossoiros

C e D - Observam-se abertas no terreno argiloso e cascalhento do mio-pliocénico (?) quatro galerias (foto 4), com orientação Este. Observa-se um poço vertical circular e afunilado, com 4 metros de diâmetro e 6 de profundidade. Esta abertura circular sobre a galeria principal com direcção NO-SE com mais de vinte metros de comprimento visível, permitiria a entrada de ar e o retirar para a superfície do material extractivo. Deste poço ainda sai três outras derivações, duas de outras prováveis entradas a No e uma derivação do poço para SE. A abertura, talvez principal, inicialmente seria um pouco mais abaixo, devido observar-se o que parece ser um antigo e extenso abatimento para jusante (embora também as haja a montante), das actuais aberturas. Na aparente e contígua linha de água a Norte observa-se outra entrada entulhada de uma galeria. O que parece ser uma linha de água normal, na qual se observam alguns socalcos com parede de seixos para a agricultura, na realidade foi o resultado do alargamento do vale aquando da exploração mineira. Estamos perante antigas galerias de exploração mineira (com 1,30/1,50 metro de altura actual por 70 cm de largura máxima na base), de cronologia difícil de precisar, embora possamos apontar uma data de 1874, como iremos ver de seguida. Todavia uma moeda, ao que parece recolhida no seu interior, aponta para a sua

037 |

existência já em 1800. Não deixa de ser curioso (embora o método de exploração fosse diferente), que do lado oposto da ribeira o nome do local na povoação seja as conheiras. Uma outra mina, esta ao que nos parece ser de água (e da qual não fornecemos coordenada, mas efectuamos desde já o seu registo), encontra-se a cerca de 100/ 150 metros mais a NE perto da casa em ruínas servindo certamente para o seu abastecimento.

A largura e o afunilamento do tecto, apesar de redondo, difere das minas em causa que são de dimensões um pouco maiores e de tecto mais circular e não afunilado, embora arredondado. No Arquivo Histórico de Abrantes (AHA) o Livro 1, intitulado Abrantes – Registo de Minas, desde 13 de Dezembro de 1869 a 26 de Agosto de 1874, refere o seguinte registo de mina, cujo teor transcrevemos quase na íntegra.

Registo

“Aos vinte e quatro de Março de mil oitocentos setenta e quatro pelas onze horas da manhã nesta notável villa d`Abrantes nos Paços do Concelho na secretaria da Camara compareceu perante mim escrivão da mesma Carlos Marnay pedindome que lhe registasse uma Mina, segundo a nota que me apresentava, o que fiz, cuja nota é do teor seguinte: Nota de manifestação de mina. = Na Camara Municipal do Concelho d`Abrantes se apresenta Carlos Marnay, solteiro de idade de quarenta e seis anos de naturalidade francesa, negociante residente em Madrid (Hespanha) Rua da Espada numero doze primeiro andar para declarar em conformidade da legislação sobre pesquisas e lavra de minas, que manifesta uma mina de fosfato de cálcio no citio denominada. digo no citio denominado = Monte de Caldeiras, ao levante do Povo de Rio de Moinhos, Concelho d`Abrantes em terrenos do Senhor Manoel Joaquim Morgado de Rio de Moinhos Concelho d`Abrantes, Francisco Rodrigues de Abreu d`Abrantes e outros; aqueles terrenos limitrofes com o Rio Tejo e com as propriedades do Visconde D`Abrançalha. Esta mina descoberta pelo senhor Marnay por simples trabalho de pesquisa e investigação, confina com duas minas manifestadas hoje pelo mesmo Marnay. huma ao levante e a outra ao poente. O interessado requer o registo de uma manifestação na forma legal, desejando que lhe seja reservado por este registo uma superfície d`um rectangulo de um Kilómetro de comprido, do meio dia ao norte, por quinhentos metros do levante ao poente...”

Não nos deixa dúvidas de que se trata efectivamente das minas em causa que Carlos Marnay regista assim em 1874 por simples trabalho de pesquisa e investigação, indiciando assim a sua anterior existência.

Mas no registo anterior são referidas mais duas minas. Uma delas ao levante (que de seguida transcrevemos parte desse registo), e outra ao poente, correspondente há nossa estação 19 e certamente também resultado da mesma exploração pelo Senhor Marnay a estação seguinte 17.

“Efectivamente o mesmo Marnay regista no mesmo dia e hora uma mina de fosfato de calcio no sitio denominado Val das Escavos ou Val dos Escavos e d`Abrançalha ao levante do povo de Rio de Moinhos em terrenos da propriedade do Senhor Visconde d`Abrançalha de Lisboa e limitadas ao meio dia pelo Rio Tejo. Esta mina descoberta pelo Senhor Marnay por simples trabalho de pesquisa e investigação não confina com mina alguma demarcada, porem confina com huma manifestada hoje pelo mesmo Marnay. O interessado requer o registo de sua manifestação na forma legal desejando que lhe seja reservado por este registo huma

superfície d`um rectangulo de um Kilómetro de comprido, do meio dia ao norte, por quinhentos metros de largo do poente ao levante...”

Foto 4: Alto da Portela I – Uma das Galerias

Para SE destas minas e já no sopé do mesmo monte virado para Abrançalha, freguesia de S. Vicente observam-se o que pode bem ser o início de duas galerias na direcção NO. Uma delas de menores proporções oferece duvidas se estamos perante uma galeria de expl oração mineira, devido à sua pequena dimensão e por dispor a tapa-la actualmente uma parede em alvenaria com uma bica para aproveitamento de água, talvez para rega dos hortados próximos existentes (coordenada 29S ND 662699). A outra, próxima da anterior não oferece dúvidas, mesmo com a galeria tapada por um abatimento. Dispõe a jusante um corredor largo e de profundidade apreciável (coordenada 29S ND 662700).

Foto 5: Pedreira I – Fragmento de Punhal

Sendo esta a mina registada por Marnay do lado de Abrançalha, coloca-se duas hipóteses: ou estamos perante uma galeria sem ligação alguma às minas do lado de Rio de Moinhos ou esta é a galeria principal vinda da área do poço e cuja orientação para SE parece assim indicar. Assim sendo, essa galeria atravessa totalmente o cabeço de um lado ao outro e terá cerca de 200 metros de comprimento. A prospecção no topo e declives do cabeço não revelou qualquer outra abertura tipo poço, o que de certo modo pode inviabilizar esta última hipótese. Estamos perante um tipo de vestígio merecedor de protecção e até com algum potencial de aproveitamento a nível turístico. Todavia é importante referir a necessidade de desobstrução das galerias e da dificuldade daí resultante e do perigo de abatimentos. Actualmente o proprietário das minas com o poço, do lado de Rio de Moinhos, é o nosso conterrâneo Zeferino Gama.