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Lapa Rasteira do Castelejo (Alvados, Porto de Mós) – Relatório do estudo do espólio osteológico

N Quadrículas

Apendicular Axial Dentes Crânio

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Infelizmente, o facto de não podermos assegurar que estejamos perante um depósito funerário único, claramente balizado no tempo, leva a que não seja possível fazer inferên cias claras sobre o conjunto da amostra, nomeadamente se a presença nesta amostra daquilo que poderá representar uma população natural – visto incluir não só indivíduos de ambos os sexos como de diferentes idades – é uma realidade ou apenas uma aparência, resultante de uma sucessão de diferentes momentos de utilização funerária, cada um com seus preceitos.

4. Considerações finais

O presente estudo permite aprofundar a caracterização do depósito funerário da Lapa Rasteira do Castelejo e dos indivíduos nele incluídos. Até ao momento, foi possível identificar um mínimo de 14 indivíduos, 8 adultos e 6 não-adultos. Este contingente de não-adultos inclui desde recém-nascidos a adolescentes. Os dados etários relativos aos adultos são mais fragmentários, permitindo apenas a identificação de um indivíduo jovem (20 a 35 anos de idade) e um indivíduo acima dos 30 anos de idade. Em termos da diagnose sexual, ambos os sexos parecem encontrar-se representados, em números semelhantes, se bem que apenas se possa estimar este parâmetro para um número reduzido de indivíduos.

A análise morfológica foi muito limitada, com a estimativa da estatura a apontar para resultados em torno dos 166-170 cm para os indivíduos do sexo masculino e 155-158 cm para os indivíduos do sexo feminino, obtidos com base no talus e no calcâneo.

Em termos paleopatológicos, regista-se uma incidência baixa de lesões cariogénicas (7.78%), um grau geral de desgaste dentário baixo a moderado (média global de 2.67), além de uma incidência de 38.9% de dentes com deposições de tártaro e uma frequência relativa de perda dentária ante-mortem de 10% (afectando, aparentemente, dois indivíduos, com perda de vários dentes em cada um). O registo de patologias degenerativas articulares efectuou -se sobretudo sobre a coluna vertebral, afectando todas as regiões, com predomínio das lesões de grau intermédio. A análise de patologias traumáticas revelou a presença de 5 vértebras com nódulos de Schmorl, sem que se registem vértebras cervicais afectadas.

O estudo de indicadores de stress limitou-se às hipoplasias do esmalte dentário, cuja análise revelou uma frequência relativa de 21.1% de dentes permanentes afectados (19/90).

Os dados da Antropologia Funerária são, para já, inconclusivos. Desde logo, uma adequada caracterização crono-cultural desta necrópole é, como vimos, difícil. Por outro lado, a própria definição do contexto também não nos é por enquanto possível, visto que não é claro se estamos de facto perante um contexto de inumação colectiva. O único aspecto que, de momento, parece mais evidente é a questão do tipo de inumação, visto que os dados do peso ósseo parecem poder suportar a ideia de que estejamos perante um contexto primário. A ser assim, a sub-representatividade dos elementos cranianos, que não se verifica sobre a mandíbula, deverá reflectir recolhas clandestinas recentes do espólio desta gruta. A dispersão espacial dos restos osteológicos humanos sugere uma maior concentração de materiais junto à parede Norte da sala 1 da Lapa Rasteira do Castelejo, ainda que apenas a escavação do restante espaço funerário possa vir a confirmar este aspecto. Não nos é por ora possível assegurar, por exemplo, que a deposição de indivíduos de ambos os sexos e de diferentes idades corresponda a um conjunto de gestos coeso do ponto de vista crono-cultural.

A Lapa Rasteira do Castelejo representa, para já, um contexto pouco claro. Se vários aspectos sugerem um contexto funerário de cronologia pré-histórica, com semelhanças com as necrópoles da transição para o agro-pastoralismo a nível regional, a única datação

radiométrica realizada até ao momento situa um dos indivíduos depositados na camada A no período Romano. Caso se confirme uma utilização funerária pré -histórica desta gruta, poderá verificar-se aqui uma situação com paralelos não muito distantes, em contexto litoral, de reutilização em período romano de grutas-necrópole pré-históricas do Centro de Portugal. Esperamos que o futuro desenrolar dos trabalhos na Lapa Rasteira do Castelejo permita vir a clarificar esta e outras situações que, de momento, permanecem pouco definidas.

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