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Seguindo a narrativa de PS1, surge o tema de PS1 como aluno/a no segundo grau. Assim como na sub-seção anterior, a posição de discente é determinante da perspectiva adotada na

narrativa por parte de PS1 e, como a análise mostrará, da constituição de sua identidade profissional. Percebo mais uma vez como o olhar para o outro vai construindo critérios sobre o que seja aceitável ou não da parte de um professor, da perspectiva de PS1 e fazendo que PS1 reflita sobre a opção de se tornar docente.

PS1 falou de um/a professor/a seu/sua de língua inglesa, que se dedicava a uma vida etílica e ao compartilhamento de suas opiniões quanto ao desenrolar das atividades de determinado esporte. PS1 falou também sobre o modo de condução das aulas desse/a professor/a, que preferia o foco na gramática da língua inglesa, em oposição ao/à professor/a de inglês que teve no nível escolar anterior e que preferia focalizar o trabalho de sala de aula no uso da língua inglesa em vez da gramática dessa língua.

Percebo que a narrativa de PS1 está organizada ao redor de dois temas: o tema do/a professor/a real como exemplo de como (não) se comportar como docente e o tema do foco adequado a ser dado à aula da disciplina de língua estrangeira: uso ou gramática. Passo, então, à análise e, após, indico relação da mesma com o PIBID.

PS1 narra sua experiência no segundo grau. Cito, a seguir, quatro trechos em que aparecem, interligados, os temas da tendência etílica, da apreciação de esporte e foco na gramática, que, no conjunto, traçam o perfil de um professor não eficaz no trabalho de levar seus alunos a aprenderem a língua estrangeira.

Aí, foi quando eu conheci o/a professor/a que bebia. [...] Aí, só, eu tinha a língua inglesa. Nos três anos, eu tive a língua inglesa. Pronto. Aí, eu comecei a querer aprender inglês, mas eu não conseguia aprender inglês. Não conseguia desenvolver mais porque eu não tinha um/a bom/boa professor/a. Pronto. Quando ele/a não bebia. Quando ele/a não falava de futebol, ele/a escrevia gramática. A gramática. Só que ele/a só passou esse texto durante todo o tempo que teve com a gente. [...] Três anos. Somente. Eu só vi esse texto. E eu nunca li esse texto... completo. Nunca, nunca li esse texto completo.

De modo geral, como eu te falei, eu sempre fui muito apaixonado/a pela cultura estrangeira. A aula em si, a aula do/a segundo/a professor/a, ele/a não me motivou de maneira nenhuma, certo? Mas já a aula do/a primeiro/a sim. Então, eu tinha vontade de encontrar pessoas para falar em inglês, me comunicar. Até hoje eu tenho essa vontade. Acredita? Até hoje eu tenho essa vontade.

Se fosse o exemplo do/a segundo/a, eu nem estaria aqui, porque... eu teria sido de outra área.

PS1 começa falando sobre o hábito alcoólico do/a professor/a. Na sequência Aí, só, eu tinha a língua inglesa. Nos três anos, eu tive a língua inglesa, PS1 fala em oposição ao primeiro grau, em que teve Francês na 5ª e 6ª série e, depois, Inglês na 7ª e 8ª série. No segundo grau teve só Inglês. Na sequência Aí, eu comecei a querer aprender inglês, PS1 faz nova referência a sua vontade de aprender inglês.

Em mas eu não conseguia aprender inglês, a conjunção adversativa introduz e enfatiza o fato de não conseguir aprender o idioma. Em seguida, na sequência Não conseguia desenvolver mais porque eu não tinha um/a bom/boa professor/a, avalia que o motivo de não aprender inglês deve-se ao fato de não ter um/a bom/boa professor/a. Essa avaliação é consubstanciada pela observação de que Quando ele/a não bebia. Quando ele/a não falava de futebol, ele/a escrevia gramática.

Por fim, em eu sempre fui muito apaixonado/a pela cultura estrangeira, PS1 atribui seu gosto pela língua inglesa à paixão pela cultura estrangeira em conjunção com o fato de o/a primeiro/a professor/a de inglês ter sido bom exemplo. PS1 contrasta seus/suas dois/duas professores/as quanto ao exemplo que representaram, tendo o/a primeiro/a ter sido bom/a e o/a segundo/a ter sido ruim, como se vê em a aula do/a segundo/a professor/a, ele/a não me motivou de maneira nenhuma, certo? Mas já a aula do/a primeiro/a sim. Em Se fosse o exemplo do/a segundo/a, eu nem estaria aqui, reforça o exemplo do/a professor/a do segundo grau, que avalia como ruim. O advérbio aqui tem por referente a situação atual de ser professor/a de inglês.

A análise desta sub-seção contribui com dois elementos. O primeiro elemento se constitui em argumento que vai ao encontro de a minha percepção de que a identidade profissional de PS1 se constrói pelo olhar que lança sobre o outro, como em Se fosse o exemplo do/a segundo/a, eu nem estaria aqui, porque... eu teria sido de outra área. O segundo elemento é a percepção de sua formação (PS1) como professor/a. Para essa afirmação, considero a análise feita na sub-seção anterior em conjunção com a feita nesta sub-seção. Quando PS1 diz Se fosse o exemplo do/a segundo/a, eu nem estaria aqui, porque... eu teria sido de outra área, fundamenta sua fala em um raciocínio lógico que me permite a interpretação de que PS1 é professor/a porque teve um exemplo motivador a seguir.

Para mais detalhe, analiso a construção condicional. Destaco a sequência eu nem estaria aqui, em que eu se refere a PS1 e aqui se refere à posição de professor/a. Esse uso do futuro do pretérito num período condicional, implica necessariamente que PS1 está aqui, ou seja, PS1 é professor/a. Na construção condicional, a condição para estar aqui se dá por Se fosse o exemplo do/a segundo/a, em que segundo/a se refere ao/à segundo/a professor/a referido/a por PS1. Ora, já que PS1 está aqui, não foi pelo exemplo do/a segundo/a professor/a. Concluímos, portanto, que o exemplo do/a primeiro/a professor/a de inglês foi determinante para que PS1 seguisse a carreira de professor/a.

Na sub-seção anterior, a análise mostrou que PS1 avaliou seu/sua primeiro/a professor/a de inglês como bom/a e eficiente. Já que PS1 seguiu a carreira docente por ter se sentido motivado/a pelo exemplo desse/a professor/a, posso concluir que esse exemplo foi constitutivo da formação de PS1 como professor/a. A se aceitar que o exemplo que PS1 teve, que foi motivador e que segue, a formação de PS1 não parece ser tão precária quanto o IDEB baixo da escola em que trabalha permitiria concluir. Voltarei a essa questão quando considerar a relação entre IDEB baixo e formação docente, que está no centro da existência do PIBID. Por enquanto, acredito ter apresentado em minha análise como a motivação de PS1 para seguir a carreira de docente aparece, por um lado, via circulação do tema do professor /a como exemplo, e, por outro lado, via circulação do tema do foco no uso ou na gramática como mais apropriado para a aula de língua estrangeira.