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Alves, M G & Azevedo, N R (2010) In “Introdução – (re)pensando a investigação em educação”

Um estudo de caso

8 Alves, M G & Azevedo, N R (2010) In “Introdução – (re)pensando a investigação em educação”

“(...) multirreferencialidade constitui, simultaneamente, uma potencialidade, no sentido em que a interligação entre diferentes perspetivas pode alargar as possibilidades de compreensão dos fenómenos educativos, mas também um constrangimento, na medida em que implica a mobilização e compreensão de uma diversidade de perspetivas. Investigar em Educação pode ser, por isso, trabalhar em permanente tensão entre a procura de uma abordagem holística dos fenómenos e a necessidade de assegurar o rigor e a fundamentação da diversidade de perspetivas presente nessa abordagem.”

(ibidem)

Desta forma, assumindo uma postura indagatória, de questionamento, de levantamento de hipóteses, de procura de um olhar amplo, multifacetado em várias áreas do saber, mas estando ciente que a questão da implicação pessoal do investigador estaria sempre presente, optou-se por uma combinação de métodos, por uma metodologia mista e por um estudo de caso único9, singular (Bogdan e Biklen, 1994), uma vez que, por um lado, “é especialmente indicado para investigadores isolados, dado que proporciona uma oportunidade para estudar de uma forma mais ou menos aprofundada, um determinado aspeto de um problema em pouco tempo” (Bell, 2004:23) e, por outro, porque permite inúmeras possibilidades de estudo, compreensão e melhoria da realidade social e profissional (c.f. Pérez Serrano, 1998).

Merriam caracteriza os estudos de caso que se incluem na metodologia qualitativa como “particularistas”, “descritivos” e, ainda, “heurísticos”. São “particularistas” pois, segundo a autora, focam a atenção numa situação, acontecimento ou fenómeno particular, sendo relevante o que é divulgado sobre esse fenómeno e sobre o que ele representa. São “descritivos” uma vez que o que se pretende é uma descrição completa e rica do fenómeno estudado. São “heurísticos” pois visam proporcionar a compreensão do fenómeno em estudo, não só para o investigador, mas também para o(s) leitor(es), podendo apenas comprovar o que já se conhece e/ou trazer novas pistas e novos significados (Merriam,

1998: 29-30).

Aquando da investigação, o investigador tem ao seu dispor, um conjunto de métodos e de instrumentos de recolha de dados. Assim, apesar de considerados qualitativos, os estudos de caso “podem combinar uma grande variedade de métodos, incluindo técnicas quantitativas” Bell, 2004: 95).

9 Segundo Bogdan e Biklen, existe o estudo de caso único, i.e. singular e o estudo de caso múltiplo ou comparativo. No primeiro, estuda-se, apenas, uma realidade, uma situação, um espaço, no segundo, estudam- se dois ou mais casos, o que possibilita serem, posteriormente, “comparados e contrastados” (1994: 97).

Para a realização deste estudo de caso, no primeiro semestre de 2013 efetuou-se um pequeno estudo exploratório que segundo Trudel, Simard e Vonarx pode assumir várias funções. A saber:

“La recherche exploratoire peut viser à clarifier un problème qui a été plus ou moins défini. Elle peut aussi aider à déterminer le devis de recherche adéquat, avant de mener une étude de plus grande envergure. (...) Elle peut être aussi un préalable à des recherches qui, pour se déployer, s’appuient sur un minimum de connaissances. La recherche exploratoire permettrait ainsi de baliser une réalité à étudier ou de choisir les méthodes de collecte des données les plus appropriées pour documenter les aspects de cette réalité ou encore de sélectionner des informateurs ou des sources de données capables d’informer sur ces aspects. ”

(Trudel, Simard e Vonarx, 2007 : 39)

Recorreu-se a pesquisa documental que enformou a pesquisa exploratória para caracterização do contexto geográfico, social e económico ao qual se reporta o nosso estudo de caso. A pesquisa documental reportou-se a diferentes fontes, nomeadamente: aos resultados definitivos do Censos 2011, a materiais cartográficos divulgados pelo Ministério da Agricultura, a livros publicados pela Câmara Municipal do Seixal, dados divulgados pelo programa MISI sobre a nacionalidade dos alunos de três das quatro escolas da freguesia de Arrentela e dados retirados do relatório da Inspeção Geral de Educação relativos à escola que não divulgou os dados pedidos.

Utilizou-se inquérito por questionário (vide anexo II), tendo sido a amostra escolhida de forma intencional e por conveniência, resultando, assim, numa técnica de amostragem não probabilística de conveniência, mesmo sabendo que a mesma não permitia “generalizar à totalidade da população os resultados obtidos com os elementos constituintes da amostra” (Carmo e Ferreira, 2008: 192), pois apresentam uma validade externa fraca. No entanto, forneceu informações relevantes para a investigação realizada. A amostra do inquérito reportou-se a vinte e um docentes profissionalizados que lecionaram Português ao 3º CEB (grupo 300), nos anos letivos 2011-20152, 2012-2013; 2013-2014 (alguns dos quais ainda lecionam esta disciplina neste ano letivo de 2014-2015), em escolas do concelho do Seixal, freguesia de Arrentela. Os inquiridos responderam ao questionário, no sentido de se conhecer as representações docentes sobre diversidade cultural, educação intercultural e as práticas desenvolvidas neste âmbito.

Ressalva-se que o processo de entrega do questionário preenchido foi um processo moroso e cheio de escolhos, tendo tido a investigadora a necessidade de se deslocar várias

vezes às escolas para salientar a relevância da investigação, apelar à ajuda das Coordenadoras Curriculares para que a resposta ao questionário acontecesse e evitasse uma taxa de retorno fraca.

Os dados relativos às representações docentes foram retirados de um inquérito por questionário, contendo perguntas dicotómicas (“sim/não), escolha múltipla, ordenação e perguntas abertas.

Após se ter apresentado sugestões de abordagens metodológicas com práticas e materiais pedagógicos possíveis de propiciar a educação intercultural, numa aula de Português a desenvolver numa escola multiétnica da freguesia de Arrentela (Seixal), escolheu-se três turmas do 3.° CEB – uma de 7.° ano, outra de 8.° ano e outra de 9.° ano.

Aquando da experiência com as turmas escolhidas, realizou-se um levantamento de dados dos respetivos PT das turmas para caracterização das mesmas e optou-se por uma observação direta, participante já que “ (...) de algum modo, o observador participa na vida do grupo por ele estudado.” (Estrela, 2008: 31), e ocasional, assumindo a professora o papel de investigadora, sujeito da observação e os alunos da turma escolhida o objeto da observação, em contexto de sala de aula. Por fim, realizou-se um relato de incidentes críticos.

1.1.Estratégia de recolha de dados

Uma vez que as quatro escolas com terceiro ciclo do Ensino Básico da freguesia de Arrentela têm como denominadores comuns o da diversidade cultural da sua população escolar e a da taxa de insucesso dos seus discentes na disciplina de Português no exame de final de ciclo, estes factos conduziram à realização de um inquérito por questionário aos docentes do grupo 300 que lecionam ou lecionaram (nos três últimos anos letivos) Português ao terceiro ciclo nessas escolas.

Para tal recorreu-se à Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC) e à Direção Geral de Educação de Lisboa e Vale do Tejo para obtenção da necessária autorização. Todavia, ambas remeteram o pedido de autorização de monitorização de dados em meio escolar para o sítio MIME do Ministério da Educação -

http://mime.gepe.min-edu.pt. Uma vez preenchida a ficha de pedido de autorização, e após análise da DGE, esta foi concedida, tendo sido gerenciado para o questionário o número: 0379700002.

Foram enviados por correio eletrónico pedidos de autorização aos diferentes Diretores das quatro escolas escolhidas para a obtenção de dados sobre a naturalidade dos alunos de 3º ciclo que as frequentavam, assim como para a autorização da realização de inquérito aos docentes do grupo 300 (anexo 3). A recetividade dos Diretores das diferentes escolas foi díspar: se uns se mostraram colaborantes, outros não, o que tornou esta fase da investigação um caminho cheio de escolhos, tendo, num caso, sido necessário recorrer a fontes exteriores à escola, como por exemplo, relatórios da Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC).

Cabe, ainda, frisar que para se obter uma triangulação de dados10, para além da pesquisa, da análise documental, da observação, o inquérito por questionário foi outro instrumento de recolha de dados escolhido, após várias tentativas para a realização de uma entrevista exploratória a docentes terem fracassado, já que os mesmos não se mostraram disponíveis para a sua realização, mesmo sendo esta realizada fora do horário letivo do(s) docente(s), tendo a investigadora contactado pessoalmente (ou via correio eletrónico) a

10 Segundo Stake, numa investigação qualitativa, necessita-se de uma triangulação de dados que corresponde

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