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Recorda-se as assertivas de Paul Ricoeur sobre as narrativas autobiográficas Segundo este autor, na obra Temps et Récit, salienta que: [ ] nossa própria existência não pode ser separada do modo pelo qual

e 13.', 1.), assim como aparece o direito de todos à “educação e à cultura” e à “igualdade de acesso e êxito escolar, na Constituição da República Portuguesa, através dos artigos 73.' 1 “Todos têm direito à educação

36 Recorda-se as assertivas de Paul Ricoeur sobre as narrativas autobiográficas Segundo este autor, na obra Temps et Récit, salienta que: [ ] nossa própria existência não pode ser separada do modo pelo qual

nós nos podemos narrar. É contando as nossas histórias que nos damos uma identidade. [...] E não há muita diferença se essas histórias são verdadeiras ou falsas: tanto a ficção quanto a história verificável são construções identitárias. (Ricoeur, 1985, p. 213).

melhores) práticas, assentes no reconhecimento e na dinâmica da diversidade existente na sala de aula, na qual todos os seus ocupantes vivem “muitos mundos”37

.

37 Expressão de Kuno Rinke, da revista alemã “Aprendizagem Política”, em Lisboa, aquando do

Colóquio Internacional “ A Escola Intercultural, Interacção, Diversidade, Tolerância, A Escola como Palco do Diálogo Intercultural” realizado pela Fundação Friedrich Ebert e pelo Goethe-Institut Portugal, a 18-19 de Fevereiro de 2011.

1.2.2.2.O professor mediador

“Le médiateur n’est pas un intermédiaire dont on a besoin, mais un pédagogue qui s’efface.” (Annie Cardinet)

O Conselho da Europa iniciou o projeto “Mediação cultural e didática das línguas” como resposta a diversas problemáticas do mundo contemporâneo caracterizado pela globalização, pela evolução vertiginosa das tecnologias e do acesso ao saber. A finalidade deste projeto é a definição do papel e do lugar da mediação cultural no quadro do ensino-aprendizagem das línguas e da educação no contexto escolar para que os jovens compreendam e aprendam a importância da responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável.

O conceito de mediação tem múltiplas aceções. Segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR), “Aqueles que têm alguns conhecimentos, mesmo elementares, podem usá-los para ajudar a comunicar aqueles que os não têm, servindo, assim, de mediadores entre indivíduos que não têm nenhuma língua em comum. Na ausência de um mediador, esses indivíduos podem, de qualquer forma, estabelecer um certo grau de comunicação se acionarem todos os seus instrumentos linguísticos, fazendo experiências com formas alternativas de expressão em diferentes línguas ou dialetos, explorando formas paralinguísticas (...) e simplificando radicalmente o seu uso da língua” (QECR: 2001: 23-24).

A mediação pode ser considerada como a capacidade de promover uma comunicação mais eficaz entre os indivíduos numa interação, facilitando o diálogo, a ponderação de pontos de vista entre as partes, de forma a conhecerem-se melhor a si próprios e ao outro, facultando um amadurecimento dos envolvidos nas relações interpessoais (c.f. Oliveira, 2007).

O modelo de mediação intercultural é flexível, dinâmico e circular, podendo abranger:  a mediação preventiva: ocorre quando se facilita a comunicação e a compreensão

entre indivíduos de culturas diferentes;

 a mediação reabilitadora: surge quando se pretende uma resolução de conflito(s) entre diferentes grupos étnicos;

 a mediação transformadora: caracteriza-se por ser criativa e almejar a criação de novas e diferentes normas e possibilidades relacionais, que se ancoram em novos tipos de relação entre as partes.

Em sala de aula, para colmatar eventuais lacunas da mediação e/ou intercompreensão, deve-se contribuir para o desenvolvimento da comunicação não- verbal, a cinésia, a proxémia, tom de voz respeitoso e postura corporal motivadores de interação positiva, capazes de propiciar a realização de uma escuta proactiva, o estabelecimento de elos de comunicação, a valorização dos intervenientes, a fruição de jogos de sons, ritmos, significados e o questionamento dos valores e crenças face ao que se leu/ouviu/ conheceu/testemunhou/realizou.

Verifica-se que, na sala de aula, a mediação constitui um alicerce metodológico para uma aprendizagem de sucesso, já que proporciona o desenvolvimento de competências de comunicação e de interação, a partilha de sentimentos e diferentes pontos de vista, o trabalho cooperativo, a assunção de uma maior responsabilidade na resolução de (eventuais) problemas e o exercício de valores de cidadania (c.f. Grave-Resendes, 2004).

Tal como Barrocas sustenta, para que o aluno se torne um ser intercultural, torna-se, assim, necessário que adquira

“(...) competências de interação e reflexão, assim como de análise relativamente a essa interação. Desta análise nasce a capacidade de se relativizarem dados (fossilizados e) estereotipados que possam impedir a comunicação. Também inclui a necessidade de mediação entre os (...) falantes intervenientes para que as [suas] identidades culturais, sociais e políticas não se imiscuam como obstáculos na comunicação. Esta mediação torna-se tanto mais necessária, quanto mais os interlocutores se identificarem com as suas culturas de origem e assumirem os seus totens como verdades absolutas”

(Barrocas, 2008: 8 -12) [itálico nosso]

Quanto ao papel de mediador intercultural, este pode ser desempenhado por todos os professores. Todavia, importa salientar que face às suas competências de mediação interlinguística, os professores de língua estrangeira podem assumir um papel preponderante.

Segundo o QECR (2001) os professores desempenham uma panóplia de tarefas: “Os professores são geralmente obrigados a respeitar as linhas de orientação oficiais, a utilizar livros de textos e materiais pedagógicos (que poderão estar ou não em posição de analisar, avaliar, selecionar ou complementar), a conceber e a fazer testes, a preparar alunos e estudantes para exames. Têm de tomar decisões, em cada instante, acerca das atividades da sala de aula, que podem ter esquematizado previamente, mas que têm de adaptar com flexibilidade em

função das reações dos alunos/estudantes. Espera-se deles que supervisionem o progresso dos alunos/estudantes e que encontrem meios para reconhecer, analisar e ultrapassar os problemas de aprendizagem, ao mesmo tempo que desenvolvem as suas capacidades individuais de aprendizagem”.

(QECR, 2001: 198)

Para tal, o QECR indica que é premente que os docentes compreendam os diversos processos de aprendizagem. Conquanto refere que esta compreensão advém mais da experiência do que de uma reflexão teórica, o que pode não ser um ponto fraco, pois potencia a parceria “sobre a aprendizagem entre os investigadores da educação e os formadores de docentes.” (ibidem)

No currículo escolar nacional, a disciplina de Português exerce uma forte influência no sucesso educativo do aluno, pois sendo uma disciplina transversal, é comum a todas as disciplinas e acompanha, diariamente, o aluno dentro e fora das salas de aulas38.

Se se entender o currículo como “um espaço-tempo de interação entre culturas” (Macedo, 2006: 106), já que “não é possível selecionar as culturas para que façam parte do currículo”, “(...) O currículo é ele mesmo um híbrido, em que as culturas negociam com-a- diferença” (idem: 105). Ora, pelo exposto, será de frisar a importância que o docente de Português assume na trajetória educativa dos seus discentes. Este docente desempenha uma tarefa hercúlea.

Cabe-lhe estar etnograficamente desperto para a diversidade cultural dos seus discentes, devendo desenvolver competências interculturais através da utilização de pedagogias diferenciadas, para que todos os alunos (cada um ao seu ritmo) atinjam os objetivos e as competências gerais de cada ciclo.

Compete-lhe organizar as diversas situações de aprendizagem, gerindo a sala de aula de forma motivante, facilitando a realização de atividades nas quais os alunos, para além de participarem sem medo de serem criticados pelas suas origens, pela sua língua/cultura, pelas suas atitudes ou valores, assumam diferentes responsabilidades, “cargos”, pois a democracia não pode ser transmitida como um conteúdo clássico a ensinar, ela emerge da prática direta, do diálogo, da argumentação, da contra- argumentação, da consideração de outros argumentos, da “arte” da negociação, da prática, do fazer do dia a dia.

38 Segundo Silva, através da disciplina de Português, “o aluno deverá aprender a usar a linguagem, a

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