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A ambientalização do currículo na Escola do Céu Azul – uma síntese interpretativa

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2. A ESCOLA DO CÉU AZUL

2.5 A ambientalização do currículo na Escola do Céu Azul – uma síntese interpretativa

Ao analisar as orientações de EA da Secretaria Municipal de Educação vimos que elas são formuladas pelas coordenações de ciências e de filosofia do cooperativismo. No entanto, são professores de ciências que também lecionam a disciplina de filosofia do cooperativismo. Isso nos faz considerar que a política curricular do município de Santa Cruz do Capibaribe associa a EA ao trabalho do professor de ciências no ensino fundamental. Ainda que haja uma parceria entre essas coordenações, é a coordenadora de ciências que faz a seleção dos temas ambientais e atividades de EA a serem sugeridas para os docentes e estas atividades em geral são destinadas aos professores de ciências.

A abordagem do currículo é a integrada por competências, que visa à aquisição de comportamentos e habilidades mensuráveis e desejados. Uma mesma competência pode ser aplicada a diferentes conteúdos, eis a razão de esta abordagem ser considerada integrada. O tempo escolar é dado em ciclos que também visam à promoção de uma integração do currículo. Entretanto essa abordagem parece não ressoar na EA, pois nas escolas ambas as perspectivas de competências e ciclos parecem imprecisas.

A EA é vista como tema transversal, contudo apenas as disciplinas de ciências e filosofia do cooperativismo apresentam competências voltadas para a relação humano e natureza e, ainda assim, estão voltadas para uma perspectiva biologizante da EA, reduzindo os problemas ambientais a aspectos da ecologia, o que dificulta a visualização de aspectos sociais, políticos, econômicos que estão no cerne dos problemas ambientais como aponta Loureiro (2006).

A Escola do Céu Azul ocupa uma posição de destaque frente a outras escolas da rede municipal no tocante à EA, devido a sua autonomia para desenvolver atividades, é uma escola que participa das atividades propostas pela Secretaria de Educação, mas que também desenvolve suas próprias ações de EA.

Para a construção e proposição de atividades a Secretaria e a Escola não se reportam a documentos oficiais do governo, nem apresentam documentações próprias que orientem as práticas de EA. Há uma legislação municipal que orienta que a EA seja inserida como disciplina na matriz curricular, mas que não é seguida devido a acordos estabelecidos entre os membros da Secretaria e os professores que discordavam do tratamento disciplinar para a EA. Muito do que é praticado na escola parte de cursos de formação que a professora

participou, livros e pesquisas sobre práticas educativas e também de sua experiência enquanto professora, que já desenvolve atividades há 12 anos.

Na escola não tivemos acesso ao Projeto Político Pedagógico, pois o mesmo tinha sido encaminhado à Secretaria para a avaliação e não tinha sido devolvido. O que nos leva a questionar a validade desse documento dentro do que Libâneo (2009) afirma ser o PPP, um guia de orientação para o planejamento de todo o processo de ensino-aprendizagem. Todavia esse documento não aparece na escola, se constitui mais como documento burocrático a ser entregue ou apresentado a Secretaria do que um documento funcional na instituição. Por isso não fazemos uma relação entre os textos produzidos na escola e os textos curriculares oficiais sobre EA, pois ao invés de conexões observamos desconexões.

Quanto a questões ambientais presentes na escola e alvos de atividades educativas destacam-se a questão da produção de lixo e seu descarte inadequado que agride a escola e a cidade. Outra questão recorrente é a situação do rio Capibaribe que no trecho que corta a cidade está bastante poluído, o Capibaribe fica próximo à escola. Há, portanto, uma relação direta entre os problemas ambientais presentes no cotidiano da cidade e as atividades de EA desenvolvidas na escola, que visam à premissa do pensar globalmente e agir localmente. Outro aspecto que merece ser destacado é o interesse pessoal da professora em tratar o tema.

A EA na escola se orienta para a formação de uma educação moral de respeito à natureza. É centralizada na professora de ciências, e por isso tem uma forte perspectiva biológica. A professora é a responsável por desenvolver as atividades e delegar tarefas aos demais professores, tarefas essas nem sempre cumpridas. Por isso ela percebe suas ações de EA como solitária embora não enfrente objeções para fazê-las.

Por não se tratar de uma disciplina, a EA oscila dentro do currículo, há momentos que a EA está mais presente, em outros, nem tanto. As semanas que antecedem datas comemorativas ditas ambientais, dia da água, semana do meio ambiente, por exemplo, são momentos que ela procura desenvolver mais práticas voltadas para EA.

Na sua trajetória formativa Roberta conta que o interesse em trabalhar com EA se deu a partir de sua atuação docente, para ela há uma relação direta em lecionar biologia e trabalhar com EA, embora considere que o interesse pela natureza sempre esteve presente na sua vida, graças ao seu pai e ao Rio, suas ações de EA só acontecem quando começa a lecionar.

A concepção ampla que tem acerca da EA possibilita que qualquer momento em que fale sobre o ambiente seja percebido como um momento em que está a tratar educação ambiental. As atividades de EA em geral são desenvolvidas para serem divulgadas dentro ou

fora do espaço escolar e podem envolver apenas uma turma ou toda a escola. Constituem-se em momentos de fuga da rotina da escola, pois fogem do usual quadro e piloto. As produções dos alunos também se diferenciam das que são usualmente pedidas pela disciplina, tendem a ser mais artísticas, desenhos, paródias, poesias. As apresentações dos alunos e as palestras são as formas encontradas para que os aspectos conceituais acerca da temática ambiental que desenvolve sejam tratados.

Nem sempre há um objetivo de ensino em relação a conteúdo científico referente a uma competência curricular previamente definida. Muitas vezes o objetivo em desenvolver atividades de EA, está em propiciar ao aluno um momento de contato com o ambiente como são as excursões e propiciar um momento de aprendizagem de outros conhecimentos que fazem parte do cotidiano escolar, mais que muitas vezes são ignorados pela valorização dos conteúdos conceituais, como por exemplo, o estabelecimento de regras de convivências que se baseiam no que é ambientalmente correto, não jogar lixo no chão, não desperdiçar papel, respeitar o colega. Outro aspecto são os momentos de afetividade e arte, essas atividades visam fomentar no aluno o prazer pela natureza, por cuidar dela, possibilitam o encantamento pela mesma, que é expresso pelas produções artísticas dessas atividades.

A professora Roberta tem um papel imprescindível para a realização de atividades de EA na escola, ela representa uma figura de autoridade sobre o tema, as atividades são iniciativas dela, que muitas vezes as conduz sozinha. Todavia, apesar de planejar as atividades sem ajuda, ela conta com a colaboração dos professores, que participam das atividades como executores de ações por ela solicitadas, sem que necessariamente exista algum interesse neste professor em tratar à temática.

Esse modo de atuação dos professores incomoda a professora, no entanto ela reconhece que é a única forma de poder desenvolver atividades dentro do tempo e espaço escolar. Apesar dos desafios, ela persiste, pois acredita no que faz e que vale a pena resgatar na escola valores principalmente o respeito a si e aos outros. Como incentivo para que ela prossiga desenvolvendo atividades, ela tem seu trabalho reconhecido pelos alunos que geralmente pedem para que ela desenvolva mais projetos e o reconhecimento junto à escola e à Secretaria de Educação, como uma professora que trabalha em prol do ambiente.

CAPÍTULO III

A Escola do Centro

“Eu digo a eles: tem que haver o discurso e esse discurso tem que estar

atrelado à prática, a postura, não adianta eu falar, falar, falar se eu não

desenvolver uma prática, porque só falar não vai resolver a questão do meio

ambiente, tem que ser praticado.”

Professora Ana falando sobre atitudes e EA.

“A educação ambiental dentro da minha função enquanto professora, enquanto

pessoa que devo estar instruindo meus alunos é conscientizá-los, fazer com que

eles sintam, percebam a importância de se viver num ambiente saudável, num

ambiente limpo, num ambiente cuidado e perceber que tudo isso vai depender

da minha ação, da minha disposição, da minha vontade de fazer sempre o

melhor.”

Professora Carla falando sobre seu papel em trabalhar com a EA.

“A cidade deu as costas para o rio, Santa Cruz deveria cuidar melhor do rio,

cada morador deve fazer sua parte”.

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