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A Escola

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2. A ESCOLA DO CÉU AZUL

2.2 A Escola

A escola do Céu Azul atende aos moradores do bairro e foi fundada há 12 anos para ser uma escola de educação infantil, mas com o crescimento populacional passou a atender também turmas do ensino fundamental I e II, embora o aumento do número de alunos não tenha sido acompanhado pela ampliação do prédio escolar, que continua com a mesma estrutura desde sua construção. Pela manhã, funcionam as turmas da educação infantil e fundamental I, no turno vespertino as turmas do ensino fundamental II e uma turma da educação infantil. São 435 alunos matriculados, destes cerca de 250 são alunos do ensino fundamental II.

O prédio da escola ocupa um quarteirão da rua e é totalmente independente. Cercado por um muro branco, o edifício é todo feito em tijolos aparentes, características comuns em algumas escolas do município construídas na mesma época, juntamente com o letreiro prateado e postes para hastear bandeiras na entrada do prédio como mostram a FIG. 28. Três ipês enfileirados de cada lado da grade de entrada completam a paisagem externa, além dos degraus e da rampa que dão acesso ao prédio. Muro, prédio fechado, combogós no alto da parede ao invés de janelas, dessa forma a escola se mostra distinta das demais construções.

FIGURA 28 - Muro e fachada da Escola do Céu Azul

Fonte: Autora.

A partir do momento que se entra na escola há uma perda de contato com o mundo de fora, um desligamento físico, e a ideia de escola como extensão da casa, tão comumente pensada em alguns contextos é deixada de lado, por que a forma como a escola está disposta estruturalmente dificulta tentativas de aproximações. A única maneira de ver lá fora é através da grade de entrada e das grades que ficam nas laterais do prédio, embora a visão seja de alguns telhados e o muro.

Mesmo com essa característica fechada do prédio e da falta de contato com o lado de fora, dentro dele se cria um novo cenário, com muitos elementos comuns aos encontrados externamente, só que esses apresentam agora uma nova linguagem, a linguagem escolar, com seus cartazes que informam, convidam, estabelecem normas e decoram, seu tipo de quadro, de cadeira, de mesa. Placas de formatura no pátio listam alguns alunos que já passaram por ali. Cada sala tem sua decoração: desenhos, alfabetos, palavras, esse conjunto de elementos torna o ambiente mais agradável do que aparenta ser pelo lado de fora, e dá ao prédio o jeito de escola que comumente compõem o imaginário e limita as possibilidades de pensar outro tipo de organização do espaço escolar.

No pátio interno ficam duas mesas de tênis de mesa, diversão dos alunos durante o recreio, uma das poucas atividades de lazer que eles têm além de brincar embaixo dos ipês, em dias de sol forte ou na quadra descoberta quando o dia está mais ameno. Ainda no pátio interno ficam protegidas do sol as motos e bicicletas de professores e alunos. Um conjunto de cestos para coleta seletiva e material orgânico também ocupa esse local (FIG. 29) e cada sala

tem seu cesto de lixo que serve para o descarte de papel e plástico como mostra a FIG. 30. Tanto os lixeiros do pátio quanto os das salas foram distribuídos em todas as escolas municipais através da Secretaria de Educação.

FIGURA 29 - Cestos de coleta seletiva no pátio interno da Escola do Céu Azul

Fonte: Autora.

Os lixeiros do pátio não são muito utilizados e servem mais como objeto de adorno, isso porque muitos dos materiais que viram lixo, os alunos não sabem em que tipo de cesto colocar. Jogar o lixo no cesto errado implica ser chamado à atenção pelos colegas, e parece

Fonte: Autora.

ser constrangedor não saber o que é, nesse caso, ambientalmente certo. O que costuma acontecer é que os alunos dão uma destinação outra a esse lixo, ou o jogam no cesto da sala, que é menos observado. Além do mais, trata-se de algo que existe apenas na escola e que não é cultivado fora dela.

A separação do lixo mesmo presente na escola através dos lixeiros, não se estende fora da instituição. Os cestos de coleta seletiva foram uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação para estimular a prática de descarte correto dos resíduos e a reciclagem. A produção de lixo e a falta de limpeza e destinação correta é um problema no município, essa seria uma alternativa para sensibilizar a população. Entretanto a ação de separar o lixo é desfeita, ainda na escola, quando o lixo é misturado, colocado do lado de fora do muro e depois levado para o aterro.

Como em muitas ações de EA, a escola é uma das primeiras instituições a serem envolvidas: campanhas, entrega de material educativo, a inserção de elementos novos no cotidiano escolar, como por exemplo, os cestos de coleta seletiva, só que outras ações que precisariam estar atreladas a essa, para garantir que as ações de EA se concretizassem em mudanças sociais, não acontecem e esses elementos com o passar do tempo caem em desuso.

Ao falar sobre a coleta seletiva de lixo na escola, Layrargues (2002) aponta que muitas vezes há uma perspectiva reducionista para o enfrentamento do problema que é o lixo, a ênfase é dada em uma mudança comportamental sobre o ato de descartar o lixo e não na necessidade de repensar o consumo exagerado e a constante produção de mais resíduos.

A escola do Céu Azul possui seis salas de aulas, biblioteca, sala dos professores, almoxarifado, sala da merenda, banheiros, entretanto faltam alguns espaços importantes, como sala de informática e laboratório de ciências, apesar da escola ter recebido equipamentos para esses locais, mas como não há onde colocá-los, eles ficam distribuídos entre a sala dos professores, a biblioteca e o almoxarifado.

Na entrada de cada uma das salas há um cartaz informando o ano e o ciclo de cada sala nos dois turnos. As salas de aula são amplas, cadeiras novas, o prédio é bem conservado, não há pichações nem sinais de vandalismo. A secretária da escola comenta que muito dessa ordem se deve à postura do diretor que administra a escola desde sua fundação, que sempre foi rígido em relação à organização e à disciplina na escola, sendo temido pelos alunos. De fato, nos horários que ele estava na escola, ela era mais silenciosa. Há alguns problemas de ordem estrutural, que requerem um reparo elétrico e hidráulico, como por exemplo, tomadas e ventiladores que não funcionam, vazamentos de água. Problemas não ocasionados pelos

alunos, mas pela falta de manutenção nas instalações do prédio e que precisam ser resolvidos pela Secretaria de Educação.

A falta de janelas contribui para um grande problema da escola: o calor. São cerca de dois ventiladores por sala, mas a maioria está quebrada, a incidência do sol sobre as paredes das salas, principalmente à tarde, aumenta a temperatura. A professora Roberta comenta que, algumas vezes, aulas precisaram ser suspensas devido ao calor, pois não havia condições de dar aula. O único espaço com temperatura mais agradável é a sala dos professores, pois é climatizada. Essa sala dá acesso à biblioteca da escola, que tanto serve para leitura e pesquisas ocasionais, como também é a sala de vídeo. Na biblioteca fica o único bebedouro refrigerado, privilégio apenas dos professores e funcionários, os alunos têm em suas salas os bebedouros com água natural.

A climatização e o bebedouro com água gelada são formas de mostrar que ali o professor é valorizado, pois a sala da diretoria não é climatizada, a sala dos professores sim, os alunos bebem água natural, o professor e funcionários têm direito a água gelada, ou seja, a escola pode oferecer à equipe pedagógica certos privilégios.

Essa equipe é formada pelo diretor, a secretária, a coordenadora pedagógica, duas técnicas administrativas, quatro zeladoras/merendeiras e catorze professores, sendo dois da educação infantil, cinco do ensino fundamental I e sete do fundamental II. Na escola acompanhamos a professora Roberta e foi ela que mediou a nossa entrada na instituição nos apresentando aos demais membros da escola.

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