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Brejo da Madre de Deus e o Distrito de Barra do Rio

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1. MAPA DO CAMINHO

1.1 Escala

1.1.2 Brejo da Madre de Deus e o Distrito de Barra do Rio

O município de Brejo da Madre de Deus faz divisa com o de Santa Cruz do Capibaribe, sendo o rio Capibaribe o limite entre eles. Em sua extensão territorial o município de Brejo da Madre de Deus é maior que Santa Cruz, ele possui 762 Km2, contudo não supera esse município em relação ao crescimento populacional e econômico. São cerca de 45.000 habitantes, quase a metade dos habitantes de Santa Cruz (IBGE 2010b) e um PIB que coloca a cidade em 54º lugar no ranking do PIB dos municípios do Estado (PERNAMBUCO, 2010). Com essa dinâmica populacional e uma economia bastante voltada para a agropecuária os problemas ambientais enfrentados são outros, apesar de que, no distrito de Barra do Rio devido à proximidade de Santa Cruz os problemas entre eles se assemelham.

De acordo com os dados do último censo realizado em 2010 pelo IBGE o Distrito de Barra do Rio comporta sozinho cerca de 20 000 habitantes, praticamente metade da população municipal e tem buscado acerca de 10 anos a emancipação política. Por ser um município de grande extensão e pequena população, Brejo enfrenta problemas de infraestrutura, muitos povoados não tem saneamento básico, o acesso há alguns povoados é difícil, o que gera muitas desigualdades no município, há ilhas de crescimento em alguns distritos, e ilhas de estagnação em alguns povoados. O município administrativamente possui quatro distritos além da Sede e oito povoados (IBGE, 2010b). A FIG. 22 mostra o mapa do município.

FIGURA 22 - Mapa do município de Brejo da Madre de Deus

Fonte: Secretaria de Agricultura de Brejo da Madre de Deus (2012).

Brejo possui esse nome devido a sua localização geográfica, situa-se em uma depressão formada pelas serras da Prata, do Estrago e do Amaro. Madre de Deus advém da invocação sob a qual padres da Congregação de São Felipe Neri fundaram em 1751 um hospital. A partir da fundação do hospital e das atividades religiosas teve início o crescimento da cidade. Antes disso, o território da cidade era uma sesmaria de 21 léguas12. Em 1833 o povoado passa a ser considerado como vila e posteriormente distrito do município de Flores, em 1893 é desmembrado deste e elevado à categoria de município (IBGE, 2010b).

Em relação a problemas ambientais que a cidade apresenta, a guia Fátima elenca os problemas da poluição do rio Capibaribe e seus afluentes, o uso indiscriminado de agrotóxicos, o desmatamento para criação de animais e para a comercialização de lenha. No distrito e povoados que fazem divisa com Santa Cruz do Capibaribe observa-se a produção e o

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Sesmaria é o nome dado a um acordo estabelecido entre o governador da capitania e seus colonos, no qual era concedido um pedaço de terra para que o colono pudesse semear. Era uma forma de incentivar a prática agrícola durante o período colonial. Se a terra não se tornasse produtiva, o colono era obrigado a devolvê-la ao donatário. A extensão da terra era dada em léguas, cada légua equivalia a 6,6 Km.

descarte inadequado de resíduos da confecção, pois em muitas casas há fabricos, o desmatamento para a construção de loteamentos e a falta de saneamento básico e água.

Há iniciativas isoladas de algumas pessoas que se envolvem com os problemas ambientais, no povoado de Caldeirão, por exemplo, ela conta que o coordenador de uma escola realiza um trabalho de recolhimento dos resíduos da confecção que são entregues a uma comunidade católica denominada Kairos, que faz um trabalho de reaproveitamento desses resíduos com dependentes químicos.

Fátima é bastante engajada na solução de problemáticas ambientais e muito articulada com diversas ONG que trabalham principalmente com a agroecologia, a agricultura familiar e a apicultura, desde sua chegada a Brejo, ela realiza a Feira do Verde na Sede do município e que ano após ano vem ganhando notoriedade entre os eventos de agricultura no estado. Ela também organiza diversos cursos articulando a Secretaria de Agricultura e a associação de agricultores, com vistas a sensibilizá-los quanto ao desmatamento e uso de agrotóxicos, além de estimular alternativas de renda como a apicultura.

O crescimento econômico da cidade de Santa Cruz tem levado muitos moradores de Brejo a abandonarem as práticas agrícolas e aderirem à confecção de roupas. Do ponto de vista econômico, o município foi um grande produtor agrícola, mas atualmente a sua produção está estagnada, e a cidade volta suas atenções para a indústria de confecções, aderindo à informalidade dessa atividade, fabricam peças de roupas que são vendidas por comerciantes de Santa Cruz. E a costura tem modificado o fluxo migratório da população na cidade, em vez do êxodo rural, muitos têm voltado para as suas terras ou se mudam para o Distrito de Barra do Rio ou povoados próximos se mantendo através da confecção (MEKARI, 2010).

O distrito de Barra do Rio possui muitos moradores advindos de zona rurais e também de outras cidades, sua proximidade com Santa Cruz do Capibaribe a torna atraente para essas pessoas. Ele apresenta muitas características próximas a essa cidade, os fabricos e confecções de roupas são uma delas. Muitos dos que moram em Barra do Rio trabalham e estudam em Santa Cruz e optam por morar no Distrito, pois as casas e terrenos ali são relativamente mais baratos que em Santa Cruz. Como muitos que vão até a região em busca de trabalho, não têm condições financeiras para comprarem ou mesmo alugarem casas na cidade, o Distrito se apresenta como alternativa para os que querem melhorar de vida.

O guia Levi, tabelião no Distrito reuniu um acervo de informações sobre Barra do Rio, ele conta que a formação do distrito se deu em 1933, pelo fazendeiro Luiz Cecílio de Santana, este era do município de Limoeiro e viajava para comprar terras e criar animais. Ele se

estabelece às margens do Capibaribe. Em 1975 havia apenas 32 casas no Distrito, vale ressaltar que ainda não havia ponte que ligasse o distrito a cidade de Santa Cruz, o que havia eram passagens molhadas (FIG. 23) feitas pelos próprios moradores e que em épocas de cheias do Capibaribe não tinham utilidade. Durante períodos de cheia do rio a população que ali vivia fazia de barco a travessia pelo rio.

FIGURA 23 - Passagem molhada entre o distrito de Barra do Rio e Santa Cruz do Capibaribe

Fonte: Blog Rui Medeiros13 (2012).

As pessoas que residiam no povoado viviam da produção artesanal de telhas, tijolos e panelas de barro e de uma agricultura e pecuária de subsistência. Foi a partir da construção da ponte que o Distrito aumentou sua população. Não se sabe ao certo a data, mas na década de 80 o povoado de Barra do Rio é elevado à categoria de Distrito, o que coincide com a construção da ponte, a princípio de madeira, numa estrutura bem rudimentar e posteriormente de concreto. Só em 2007 a ponte é reformada e ampliada de uma para duas faixas. A FIG. 24 mostra a ponte Miguel Arraes.

FIGURA 24 - A ponte Miguel Arraes que liga Barra do Rio à Santa Cruz do Capibaribe

Fonte: SILVA (2012).

Ponte Miguel Arraes à direita e ao fundo casas de Santa Cruz do Capibaribe.

De acordo com Pedro e Levi, Barra do Rio foi por muito tempo esquecido pelo poder público, a população vivia numa situação de miséria. Fátima conta que algumas pessoas que vinham para a região trabalhar com confecção não conseguiam a prosperidade financeira esperada e sem perspectiva de melhora, até pelo próprio abandono do local onde viviam, passaram a praticar furtos no Distrito e isso contribui para formar a “fama de violento” que Barra do Rio tem.

Fátima afirma também que há cerca de cinco anos atrás era de fato muito perigoso andar pelo distrito no final da tarde ou à noite, pois não havia iluminação, o medo de assaltos era constante, bem como outros problemas, tais como falta de posto de saúde, falta de policiamento, a situação precária das ruas e uma subprefeitura que pouco administrava o Distrito.

Essa situação revoltava muitos moradores, que defendiam a emancipação do mesmo, esse desejo por emancipação dura até hoje, embora com a mudança de gestão municipal as condições do Distrito tenham melhorado, a iluminação das ruas foi feita, a avenida principal e algumas adjacentes foram pavimentadas. A policlínica foi reformada e o núcleo policial reforçado. Contudo Fátima afirma que ainda há muito por fazer.

Barra do Rio ainda possui o estigma de violento, principalmente ante a população de Santa Cruz. Os moradores afirmam que o distrito já foi bem mais violento. Os problemas ambientais que afetam Barra do Rio ajudam a alimentar a violência local, pois representam o abandono, o descaso, a injustiça. A produção de lixo e a falta de uma destinação adequada,

problemas de saneamento básico, as queimadas e desmatamentos para formação de loteamentos, a falta de áreas verdes e de áreas de lazer na cidade são problemas que incomodam os que ali vivem e são constantemente alvo de denúncias nas mídias utilizadas pela comunidade as FIG. 25, 26 e 27 exemplificam isso.

FIGURA 25 - Lixo acumulado em uma das ruas do distrito de Barra do Rio

Fonte: Blog Portal Folha de Santa Cruz14 (2012).

FIGURA 26 - Esgotos em uma das ruas de Barra do Rio

Fonte: Blog do Leno15 (2012).

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FIGURA 27 - Desmatamento na Serra do Alto - distrito de Barra do Rio

Fonte: SILVA (2012).

Em Barra do Rio há alguns movimentos sociais voltados para a questão da violência, e que realizam atividades com a juventude, um dos locais de acolhida desses jovens é o Espaço Nordeste, criado e mantido pelo Banco do Nordeste, onde são desenvolvidos cursos de capacitação profissional, pré-vestibular, são promovidas também atividades culturais como exibição de filmes, peças teatrais, de dança dentre outras atividades organizadas em parceria com ONG e entidades públicas. Outra mobilização social é o Movimento pela Paz (MovPaz) que fundamenta a construção da paz em três segmentos: paz social, paz ambiental e paz interior, unificados entre si no que o MovPaz define como pilares da paz, que são: justiça, liberdade, democracia, solidariedade e respeito às diferenças.

Como atividades esse grupo organiza quinzenalmente encontros no Distrito para discussão de problemas referentes a si e ao lugar onde vivem, promovem estudos acerca do tema, bem como outras atividades de cunho assistencialista. A escola visitada, em um primeiro momento, também se engajou em uma espécie movimento estudantil e realizou no Distrito uma série de atividades voltadas à denúncia e a cobrança acerca de questões ambientais pertinentes a Barra do Rio, o que será posteriormente apresentado. A Escola do Distrito é uma escola da rede municipal, que atende a turmas do ensino fundamental II, nos turnos da manhã, tarde e noite. Nessa escola acompanhamos as professoras Rebeca e Beatriz. A professora Rebeca tem 36 anos e é docente há dezoito anos, mora em Santa Cruz, mas trabalha em Barra do Rio. Possui magistério e lecionou por muito tempo turmas de ensino fundamental II. Há doze anos se formou em Licenciatura Plena em Biologia e

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atualmente trabalha apenas com o ensino fundamental II, ministrando aulas de ciências e artes na escola, nos horários da manhã e noite. Além dessa escola, leciona também em uma escola particular e uma da rede municipal de Santa Cruz do Capibaribe, nos horários da manhã e tarde. Em 2012 ingressou em um curso de pós-graduação em Educação ambiental e sustentabilidade.

A professora Beatriz tem 26 anos, e também reside em Santa Cruz e trabalha em Barra do Rio. É formada em Licenciatura em Geografia e leciona há quatro anos, sendo que nessa escola trabalha há dois anos, lecionando a disciplina de geografia nas turmas pela manhã. Ensina também em uma escola particular da cidade de Santa Cruz do Capibaribe no horário da tarde. Em ambas as escolas ela trabalha apenas com o ensino fundamental II.

Vejamos agora do que se trará o segundo mecanismo de distorção para a produção do mapa, que é a projeção.

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